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OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.2 Jul/ Dez de 2002
o
J'ornal
Como
Lugar de Memoria: Um Debate So
bre a Memoria Coletiva e a Acelera<;ao do Tempo
Regma Maria dos Santos
1Resumo: Resume:
Propomos neste texto apresentar al Nous proponsons dans ce text
gumas reflex6es sobre 0 jornal como presenter quelques reflexions sur Ie
Lugar
de memoria, a partir das ana journal comme Lieu de memoire ,a
lises de autores como Halbwachs e partir de las analises de auteursPierre Nora. comme Halbwachs et Pierre Nora.
Atualmente, aideia de memoria, soma-se ou acrescenta-se a de preservar,:ao, conservar,:ao. Nada mais pertinente que essa ideia apa rer,:a com tanta forr,:a e seja 0 principio norteador da noyao de durayao diante da instabilidade de uma epoca em que 0 solido se dilui, esfumaya se, dissolve-se.
Q seculo XX, com sua rapidez e brevidade, foi 0 exemplo melhor acabado dessas preocupa<;oes. Nunca destruiu-se tanto em nome do progresso, nunca foram construidas tantas coisas para nao durar.
No entanto, essa preocupar,:ao com a possibilidade de preser var a memoria, implica em uma nova concepyao do tempo e da histo ria. Exemplificando essa questao, encontramos no jornal
Diario de
Minas
de 26/05/1916 a seguinte descrir,:ao do tempo:o dia de ontem rompeu Umpido, cantando festivo no azul sem nuvens da esphera. Durante 0 dia, houve um instante de transformafao em que 0 ceu apareceu nublado e triste. A tarde linda e a noite lindissima. Essa era a forma como se descreviam as condir,:oes climaticas do temoo na imnrt'nsa do inicio do seculo XX, revel an do, de forma
litedria, como se comportaram os elementos da atmosfera do dia ante rior.
Se hoje, ao abrirmos 0 jornal enos depararmos com previ soes meteoro16gicas para 0 tempo de amanha, ou de toda a semana em graus Celsius, distribuidos por diferentes espas:os do pais, isto nao sera .
apenas 0 resultado de uma simples mudans:a, mas algo que resulta da
chamada
acelerafao do tempo.
It
claro que poder se fazer previsoes sobre 0 tempo, ou sobreas condis:oes meteorol6gicas num futuro breve, e resultado de um so
fisticado desenvolvimento tecmco e cientifico. Mas as alteras:oes dai decorrentes alcam;:am dimensoes culturais e sociais de ampla ressonancia.
o
livro de Halbwachs MemoriaColetiva,
sera utilizado comoponto de partida para esta reflexao que contempla os conceitos de tempo e hist6ria.
Escrevendo ainda no inicio do seculo XX, a ideia de
acelera
faO
do tempo
naoe
uma problematica central na obra de Halbwachs, mas aparece evidenciada na rela<;ao entre campo e cidade. Em suas· palavras:Ora, no campo, 0 tempo se divide conforme uma ordem de OCUPtlfoes que se regulam segundo 0 curso da natureza animal e vegetal.
t
preciso aguardar que 0 trigo brote, que os animais tenham posto seus avos ou nascido seus /ilhotes, que as tetas das vacas estejam cheias. Nao hd mecanismo que possa apressar essas operaroes.(...J
Mas a cidade e a cidade, quer dizer um meio onde 0 mecanismo se introduziunao
somente nos trabalhosprodutivos, mas regula tambem os deslocamentos, as distraroes e 0 jogo do espirito. 0 tempo estd dividido como deve ser, ele eo que deve ser, nem muito rapido, nem muito lento, ja que estd em conformidade com as necessidades da vida urbana. (Halbwachs, 1990:119-120)Dialogando com Halbwachs, podemos perceber que, atualmen te, no inicio de urn novo milemo, nao apenas inicio de seculo, e possi vel situ, acelerar sob condis:oes tecnicas espedficas, 0 trabalho da natu
reza. 0 gada e criado em confinamento, as galinhas chocam em incu
badoras e 0 campo e irrigado, produzindo durante todo ano. Tambem na cidade esse tempo por ele considerado nem muito rapido, nem mui
to lento, e hoje acelerado.
Isso significa que existem tempos mUltipl e se conjugam, de maneira a permitir que ativida( em no resultado de a<;oes coletivas.
Ourro aspecro relativo
a
esta questa.presentificas:ao do tempo, de ac?rdo co~Norv
<;3.0 do tempo traduz ainda a ansle~ade sofrega ~ sabe lidar com seu presente, supnme-o, e por 1
objeto de cuho e adora<;3.o."(Baitello Jr., 1996: 1:
o
passado torna-se as situ irrelevante e • jeto dos historiadores, nUID sentido em que a hist< a ordenadora das cronologias, dos fatos e dos a( Halbwachsja
formulara suas criticasa
e t6ria e nela se baseia para contrapor seu conce relas:aoa
hist6ria nos diz este autor que:parece que ela precisa esperar,
sapare~am, que seus pensamel nham des'Vanecido, para que I imagem e a ordem de sucess.i unica capaz de conservar. (H
Em outro momento, nos diz Halbwacl se apoia na hist6ria vivida, e
n~o ~6. n~,
hi:t6riatao que se deve entender por histona: nao ~
de acontecimentos e de datas, mas tuclo aquil periodo se distinga dos outros".
(Halbw~ch~'.1
Halbwachs chega a comparar a ruston: espa<;o
e
medido para que novas s~pul~as s imobilidade da hist6riae
urn concelto delinea< por referencia as critic as feitas por historiadot2citaltao da apresentaltao do Iivro de Malena Segur Neste livro encontramos urn interessante e~emplO pretendida, quando a autora se refere ao ntmo VI
antecipando 0 jomal de domingo, como acontece 0
Estado de Sao Paulo, que ja circulam no 5abado, ~ t
~nlp()r~lraJm os elementos da atmosfera do dia ante jornal enos depararmos com previ abrirmos 0
do tempo.
, .
.
para 0 tempo de amanha, ou de toda a semana em por diferentes espa~os do pais, isto nao sera . de uma simples mudan~a, mas algo que resulta da poder se fazer previsoes sobre 0 tempo, ou sobre num futuro breve, e resultado de urn so
"'".UlU tecnico e cientifico. Mas as a1tera~oes dai dimensOes culturais e sociais de ampla ressoruincia.
J.lUl}WiI.l:U:-;
Memoria Coletiva,
sera utilizado comoesta reflexao que contempla os conceitos de tempo ainda no inicio do seculo XX, a ideia de
acelera
uma problemitica central na obra de Halbwachs,na te\a~ao entre campo e cidade. Em SUItS
no campo, 0 tempo se divide conforme uma ordem
II'IE~ OOtfJfM~Oesquese ~egulamsegundo 0 curso da natureza .,umat e vegetal. E preciso aguardar que 0 trigo brote,
os animais tenham posto seus ovos ou nascido seus
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Mas a e acidade,
quer dizer um meio onde 0 mecanismo introduziu nao somente nos trabalhosprodutivos, mas os deslocamentos, as distraroes e 0 jogo esp{rtto. 0 tempo estd dividido como deve ser, ele eo dev,e ser, nem m~ito rdpido, nem muito lento, jd estd em conformtddde com as necessidades da vida(Halbwachs, 1990:119-120)
Halbwachs, podemos perceber que, atualmen milenio, nao apenas inicio de seculo, e possi bOI:!1cl:>es tecnicas espedficas, 0 trabalho da natu em coofinameoto, as galinhas chocam em incu produzindo durante todo ano. Tambem de considerado nem muito nipido, nem mui
OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.2 Jul/ Dez de 2002
to lento, e hoje acelerado.
Isso significa que existem tempos multiplos, que se sobrepoem e se conjugam, de maneira a permirir que atividades isoladas influenci em no resultado de a~oes coletivas.
Outto aspecto relativo
a
esta questao se ligaa
chamada presentifica~ao do tempo, de acordo com Norval Baitello: "a acelera ~ao do tempo traduz ainda a ansiedade sofrega de uma epoca que nao sabe lidar com seu presente, suprime-o, e por isso 0 transforma em objeto de cuIto e adora~ao."(BaitelloJr., 1996: 12)2o
passado torna-se assim irrelevante e constitui-se como ob jeto dos historiadores, num sentido em que a historia e vista ainda como a ordenadora das cronologias, dos fatos e dos acontecimentos.Halbwachs
ja
formulara suas criticasa
essa concep~ao de his toria e nela se baseia para contrapor seu conceito de memoria. Com rela~aoa
historia nos diz este autor que:parece que ela precisa esperar que os antigos grupos de sapareram, que seus pensamentos e sua memoria se te nham desvanecido, para que ela se preocupe em fixar a imagem e a ordem de sucessiio dos Jatos que agora
e
a unica capaz de conservar. (Halbwachs, 1990: 109) Em outro momento, nos diz Halbwachs que a nos sa memoria se apoia na historia vivida, e nao so na historia aprendida, citando en tao que se deve entender por historia: " nao uma sucessao cronologica de acontecimentos e de datas, mas tudo aquilo que faz com que urn periodo se distinga dos outros". (Halbwachs, 1990: 109)Halbwachs chega a comparar a historia a urn cemiterio, onde 0 espa<;o e medido para que novas sepulturas seja feitas. Essa visao de irnobilidade da historia e urn conceito delineado por Halbwachs tendo por referencia as criticas feitas por historiadores franceses como Marc
2 Cit~ao da apresen~ao do livro de Malena Segura Contrera, 0 ~jto 00_Midia:
Neste livro encontramos urn interessante exemplo que ilustra a dlscussao aqUl
pretendida, quando a autora se refere ao ritmo veloz imposto pe~a imprensa, antecipando 0 jornal de domingo, como acontece com a Folha de S~o Paulo ~.o
Estado de Silo Paulo, que ja circulam no sabado, 0 que a leva a conslderar que 0
Bloch ao tipo de historia praticado ate entao. 3
Ainda nos esbarrando nas formula<;oes de Halbwachs sobre 0 conceito de historia 0 vemos defmir que: "ao lado de uma historia escrita, hi uma historia viva que se perpetua ou se renova atraves do tempo e onde epossive! encontrar urn grande numero dessas corren
tes antigas que haviam desaparecido somente na aparencia." (Halbwachs,
1990: 67)
Isso significa que a historia nao e tudo 0 que resta do passado, pois a historia escrita nao consegue atingir as dimensoes do vivido. Em seu entendimento, a historia nao con segue captar os tra<;os do pass ado, que se revdam nas expressoes dos rostos, nos aspectos dos lugares e nos modos de pensar e sentir que foram inconscientemente preserva dos. E enfatiza Halbwachs: "Mas, basta que a aten<;ao se volte para esse lado, para que nos apercebamos que os costumes modernos re pousam sobre antigas camadas que afloram em mais de urn lugar." (Halbwachs, 1990: 68) 4
Partindo dessa concep<;ao de historia, Halbwachs sentencia a dissocia<;ao entre historia e cotidiano, deixando de referenciar as arti cula<;oes e rela<;oes possiveis entre estas. Nesse sentido, 0 jornal apare ce
a
de apenas como lugar de memoria da na<;ao, como podemos ob servar neste trecho: "em nossas sociedades nacionais tao vastas, muitas das existencias se desenrolam sem contato com os interesses comuns do maior numero daqueles que leem os jornais e prestam alguma aten <;ao nos negocios publicos." (Halbwachs, 1990: 55-6)Em outro momento quando trata da percep<;io da crian<;a com re\a<;ao ao munao externo Halbwachs coloca que esta: "quando se en volvet em cmwerSi\S se.tias com adultos, quando ler os )ornais, teri 0 sentimento de descobrir uma terra desconhecida." (Halbwachs, 1990: 64)
3 Eimportante destacar que Halbwachs realiza urn diiilogo importante e pertinente com seus contemporaneos, no sentido sustentar suas formula90es teoricas. Explicitamente influenciado por Durkheim e sua ideia de razao da sociedade, dialoga com Bergson ao criticar 0 subjetivismo indi vidualista de seu conceito de memoria.
Ao citar Marc Bloch podemos inferir que se vale de suas criticas
a
historia-aconte cimento.4 Nesse sentido sao interessantes as referencias ao texto de Carlo Guinzburg Sinais no livro Mitos, Emblemas e Sinais, Sao Paulo, Companhia das Letras, 1989 . E em seu livro 0 Queijo e as Vermes: 0 cotidiano e as ideias de urn moleiro perseguido
pela Inquisi9iiD." Sao Paulo, Companhia das Letras, 1987.
Ainda com rela<;ao ao jornal, Halbwachs enquanto documento para os historiadores, mas estes esperam que 0 grupo desapare<;a para que quem referencias ou rastros que subsistem em tt nais da epoca e na memoria escrita no periodo. E a escolha que deles faz, na importancia que lhes se deixa guiar por razoes que nao tern nada a ' entio, porque esta opiniao nao existe mais; ni leva-la em conta." (Halbwachs. 1990: 109)
No sentido de entender outras &menso o discurso jornalistico,
e
fundamental citar 0Braudel. que ao falar do tempo breve 0 considel a medida das individuas, da v sas rdpidas tamadas de COM tencia do cranista, do jornal~ em canta que a cronica ou 0
com as grandes aconteciment(J mediocres acidentes da vida c urna catdstrofe ferrovidria, 0
presentaf/io teatral, uma inu1l4 Nada disso escapa ao historiador. Partindo dessas considera<;oes, pc Halbwachs contrapoem Ii memoria urn tipo d
substituida por uma historia problema, que
ru
de quadros, mas assume-se como represepta<;a guntas feitas ao passado sao !~su\tad~ de :eflJ movimento dialetico que permae ao histonad( "verdades" inquestionaveis, mas construir inti5 As pesquisas sobre historia oral, tern provocru; discussao sobre a memoria coletiva. Antonio Torr proferida sobre 0 tema considera que a historia
e
UIlU passado aponta para fOfmas de explic~ao do preS€ operar pr6prio do fazer hist6rico na socledade, enco processo interior semelhante (presente/p~sad~f Diferentemente de Halbwachs, veriamos a hist6na Ipraticado ate entao. 3
~lalJ:UU nas formulac;oes de Halbwachs sobre 0
vemos definir que: "ao lado de uma hist6ria viva que se perpetua ou se renova atraves do encontrar urn grande numero dessas corren ~saplare:ddlo somente na aparencia." (Halbwachs, a historia nao etudo 0 que resta do passado, consegue atingir as dimensoes do vivido. Em nao consegue captar os trac;os do passado, .Iess6es dos rostos, nos aspectos dos lugares e sentir que foram inconscientemente preserva
"Mas, basta que a atenc;ao se volte para apercebamos que os costumes modernos re .'(:amlad:as que afloram em mais de urn lugar."
concepc;ao de historia, Halbwachs sentencia a e cotidiano, deixando de referenciar as arti
entre estas. Nesse sentido, 0 jornal apare de memoria da naC;ao, como podemos ob nossas sociedades nacionais tao vastas, muitas .rolam sem contato com os interesses comuns que leem os jornais e prestam alguma aten
(Halbwachs, 1990: 55-6)
quando trata da percepc;ao da crianc;a com Halbwachs coloca que esta: "quando se en
com adultos, quando ler os jornais, tera 0 terra desconhecida." (Halbwachs, 1990: 64)
Halbwachs realiza urn dialogo importante e pertinente no sentido sustentar suas formula~5es teoricas.
poeDurkheim e sua ideia de razao da sociedade, dialoga indi vidualista de seu conceito de memoria. inferir que se vale de suas criticas
a
historia-aconteas referencias ao texto de Carlo Guinzburg Sioois
"lllUllS, Sao Paulo, Companhia das Letras, 1989 . E em
o cotidiano e as ideias de urn moleiro perseguido Companhla das Letras, 1987.
OPSIS Revista do Niese, V.2, N.2 Jul/ Dez de 2002
Ainda com relaC;ao ao jornal, Halbwachs nao deixa de situa-Io enquanto documento para os historiadores, mas critica 0 fato de que estes esperam que 0 grupo desaparec;a para que posteriormente bus quem referencias ou rastros que subsistem em textos oficiais, nos jor nais da epoca e na memoria escrita no periodo. E complementa: "Mas, a escolha que deles faz, na importancia que lhes atribui, 0 historiador se deixa guiar por razoes que nao tern nada a ver com a opiniao de entao, porque esta opiniao nao existe mais; nao somos obrigados a leva-la em conta." (Halbwachs, 1990: 109)
No sentido de entender outras dimensoes que possam conter o discurso jornalistico, e fundamental citar 0 historiador Fernand Braudel, que ao falar do tempo breve 0 considera:
a medida dos individuos, da vida quotidiana, das nos sas rdpidas tomadas de consciencia; 0 tempo por exce·
lencia do cronista, do jornalista. Ora bem, tenhamos em conta que a cronica ou 0 jomal, oferecem, junto
com os grandes acontecimentos chamados hist6ricos, os mediocres acidentes da vida ordinaria: um incendio, uma catastrofe ferrovidria, 0 prero do trigo, uma re presentarao teatral, uma inundarao. (Braudel, 1972: 14) Nada disso escapa ao historiador.
Partindo dessas considerac;oes, podemos insinuar que Halbwachs contrapoem a memoria urn tipo de historia que hoje foi substituida por uma hist6ria problema, que nao se pretende flXadora de quadros, mas assume-se como representac;ao do real, ja que as per guntas fdtas ao passado sao resultado de reflexoes do presente, num movimento dialetico que permite ao historiador nao somente formular "verdades" inquestionaveis, mas construir interpretac;oes.5
5 As pesquisas sobre his tori a oral, tern provocado recentemente uma ampla discussao sobre a mem6ria coletiva. Antonio Torres Montenegro, em palestra proferida sobre 0 tema considera que a hist6ria e uma construiiao que ao resgatar 0
passado aponta para formas de explica~ao do presente e projeta 0 futuro. "Este operar pr6prio do fazer historico na sociedade, encontraria em cada individuo urn processo interior semelhante (presente/passado/futuro) atraves da mem6ria. Diferentemente de Halbwachs, veriamos a hist6ria e a mem6ria como, apesar de distintas mantendo significativas intercessoes." (Anais do Encontro de Hist6ria e
,
A tradi<;3.o intelectual francesa
a
qual se liga a sociologia de Durkheim e as teorias sobre a memoria coletiva em Halbwachs, ira presenciar uma nova concep<;ao de historia eiaborada a partir dos estu dos da chamada Escola dos Analles, aqual se ligam Marc Bloch, Lucien Febvre e posteriormente outros historiadores que se preocuparam com a questao do tempo, da dura<;ao e da memoria como Braudel,Jacques Le Goff e Pierre Nora. 6Portanto, temos em Halbwachs ja acentuada a diferen<;a entre memoria e historia; considerando-se que a memoria social
e
sempre vivida fisica ou afetivamente; e a historia escrita e impessoal.Podemos considerar entao, que a contribui<;ao da sociologia de Halbwachs e seus estudos da memoria, para a historia esta no fato de chamar aten<;ao para 0 tempo longo, 0 tempo da memoria, que
e
visto como lugar do con junto e nao se confunde com a sucessao de acontecimentos que ocorrem em seu interior. 7o
historiador Pierre Nora, adentra-se nessa discus sao da dife ren<;a entre memoria e historia, historicizando este debate a partir do conceito de aceiera<;ao da historia possibilitada peio fenomeno da mundializa<;ao ( as guerras totais, as revolu<;oes modernas, a rapidez dos meios de comunica<;ao, etc.).Documentaf;ao Oral, Brasfiia. 25/26/1111993, p.14).No texto de Michael Pollak
Memoria, Esquecimento e Silencio, 0 autor situa no pensamento de Halbwachs que a ideia mais acabada de grupo para ele e a na~ao, sendo a memoria nacional a forma mais acabada de memoria coletiva. Com essa afirm~ao, sugere que a hist6ria oral resulta pelo contnirio , a ideia de "mem6rias subterraneas" que justamente se opOe
a
memoria nacional, uniformizadora e opressora.6 Braudel, em urn texto classico sobre a "longa dura~ao", chama aten~ao para 0 tempo breve e propOe que 0 historiador deve realizar uma dialetica dos tempos, nao se prendendo ao acontecimento. Jacques Le Goff propoe a rela~ao entre memoria e historia e realiza estudos sobre a passagem e a mudan~a de concep~ao
do tempo ao final da idade media, na qual se passa de urn tempo da igreja, mediado pelos sinos, pelo movimento da natureza, peJo tempo do mercador. 0 relogio assumini a fun~lio do sol, regularizando todas as atividades do homem.
7 Esta analise
e
desenvolvida a partir de urn paralelo feito por Marcia Mansor D' Alessio no artigo Memorias, leituras de M. Halbwachs e P.Nora na RevistaBrasileira de Historia, S.P., v.13., p.97.De acordo com a autora parece ser esta a questao historica colocada por Nora: "0 movimento no qual os homens vivem esta tensao entre a intimidade da tradi~ao vivida e 0 abandono pelos grupos desfeitos, dos quais a historia desritualizada se empenha em guardar marcas, os 'Iugares de memoria' cumprem esta fun~ao". (p.102).
OPSIS - Reuista do Nies(
Segundo Nora, esta acelera<;ao da hi
incessantes e a amea<;a do esquecimento
e
m~ leva a uma obsessao peio registro, pelos tra<;os, pela historia, impelindoa
cria<;ao do que ele,
.
mona.
Nora distingue
hist6ria-objeto
dehi
conhecendo que esta ultima se contrapoem ; urn processo vivido, conduzido por gtupOS . mentoe
a partir do distanciamento, 0 regis critica e a reflexao.Por outro lado, com a ideia de acelen na-se mais ripida, "a dura<;ao do fato e a dt produzido incessantemente - conduz as vid: hegemonia do efemero. A memoria contemporanea."(D'Alessio, 1993: 97)
Essas reflex6es permitem a Nora ass nalista, nos possibilitando entender 0 jornal Mas urn lugar hibrido, misto e mutante, on morte, 0 tempo e a eternidade, numa espiral c individual, 0 sagrado e 0 profano, 0 m6vel autor:
Porque se
e
verdade que a1um Lugar de mem6ria
e
p trabalho do esquecimenUJ imortalizar a morte, mate: prender 0 maximo de sentIf claro, e
e
isso que os tom res de mem6ria 56 vivem morfose, no incessante res no silvado imprevislv(Nora,1993: 23)
Partindo des sa deflOi<;ao Nora consi o calendario da revolu<;ao francesa e lugar ( um acontecimento, mas por ter sido derrotal se adequou ao que quiseram seus fundadore se sido adotado ele teria se tornado tao fami sua virtude como lugar de mem6ria, pois s~
'-::"-lU4U francesa
a
qual se liga a sociologia de a memoria coletiva em Halbwachs, ira .:enidio de historia elaborada a partir dos estuAnalles,
a
qual se ligam Marc Bloch, Lucien .iDutros historiadores que se preocuparam com.Iura!;alo e da memoria como Braudel, Jacques
em Halbwachs ja acentuada a diferen<;a entre .&ldlerando-~ie que a memoria social e sempre
e a historia escrita e impessoal.
entao, que a contribui<;ao da sociologia da memoria, para a historia esta no fato tempo longo, 0 tempo da memoria, que e e nao se confunde com a sucessao de em seu interior. 7
Nora, adentra-se nessa discussao da dife historicizando este debate a partir do da historia possibilitada peIo fenomeno da totais, as revolu<;oes modernas, a rapidez etc.).
2512611l11993. p.14).No texto de Michael Pollak
o autor situa no pensamento de Halbwachs para de e a na~ao. sendo a memoria nacional a Com essa afirma~iio, sugere que a hist6ria de "memorias subterraneas" que justamente se
e opressora.
sobre a "longa dura~ao". chama aten~ao para 0
bistoriador deve realizar uma dialetica dos tempos, leCimento. Jacques Le Goff prop6e a rela~ao entre sobre a passagem e a mudan~ade conce~ao
na qual se passa de urn tempo da igreja, mediado da natureza. pelo tempo do mercador. 0 relogio
~arizando todas as atividades do homem.
a partir de um paralelo feito por Marcia Mansor
leituras de M. Halbwachs e P.Nora na Revista p.97.De acordo com a autora parece ser esta a "0 movimento no qual os homens vivem esta vivida e 0 abandono pelos gropos desfeitos, se empenha em guardar marcas, os 'lugares de . (p.102).
OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.2 Jul/ Dez de 2002
Segundo Nora, esta acelera<;ao da historia provoca mudan<;as incessantes e a amea<;a do esquecimento e mais evidente. Esta situa<;ao leva a uma obsessao pelo registro, pelos tra<;os, pelos arquivos, em suma, pela historia, irnpelindo acria<;ao do que ele chama de lugares
da
me moria.Nora distingue historia-objeto de historia-conhecimento, re
conhecendo que esta ultima se contrapoem a memoria. A memoria e urn processo vivido, conduzido por grupos vivos; a historia-conheci mento e a partir do distanciamento, 0 registro, a problematiza<;ao, a critica e a reflexao.
Por outro lado, com a ideia de acelera<;ao, a historia-objeto tor
na-se mais rapida, "a dura<;ao do fato e a dura<;ao da noticia, 0 novo produzido incessantemente - conduz as vidas, criando a sensa<;ao de hegemonia do eH:mero. A memoria torna-se eternamente contemporanea."(D'Alessio, 1993: 97)
Essas reflexoes permitem a Nora associar 0 historiador ao jor nalista, nos possibilitando entender 0 jornal como lugar de memoria. Mas urn lugar hibrido, misto e mutante, onde se enla<;am a vida e a morte, 0 tempo e a eternidade, numa espiral que envolve 0 coletivo e 0 individual, 0 sagrado e 0 profano, 0 move! e 0 imovel. Nos diz este autor:
Porque se
e
verdade que a razao fundamental de ser de um lugar de memoriae
parar 0 tempo,e
bloquear 0 trabalho do esquecimento, fixar um estado de coisas, imortafizar a morte, materiafizar 0 imaterial para (...) prender 0 maximo de sentido num mfnimo de sinais,e
claro, ee
isso que os torna apaixonantes: que os fuga res de memoria so vivem de sua aptidao para a meta morfose, no incessante ressaftar de seus significados e no sifvado imprevisfvel de suas ramificar;oes.(Nora,1993: 23)
Partindo dessa defini<;ao Nora considera, como exemplo, que o calendario da revolu<;ao francesa e lugar de memoria, na~ por fixar urn acontecimento, mas por tet sido derrotado, no sentido em que nao se adequou ao que quiseram seus fundadores. Se este calendario tives se sido adotado ele teria se tornado tao familiar a ponto de ter perdido sua virtude como lugar de memoria, pois se fundiria
a
uma paisagerrmemorial, como 0 calendario gregoriano. Nesse sentido, sua derrota
nao e total, pois "nenhum lugar de memoria escapa a seus arabescos fundadores". (Nora, 1993: 22)
E
nesse sentido que 0 jornal serve ao historiador. Nao apenascomo cristalizador de uma memoria nacional, mas onde se pode perce ber as dimens6es do vivido, que se manifestam a partir de sua forma e de seu conteudo. Seja atraves dos textos, como as cronic as, ou roman ces-folhetins; ou das fotos (cuja impressao passou dos antigos e pesa dos negativos de vidro, as leves imagens enviadas por satelites). Seu suporte e hoje desmaterializado, permitindo se compactar em urn sim ples CD-Rom os 365 exemplares do ano.
Adam Schaff, chama aten<;:ao para esse novo tipo de memoria que se produz e se permite arquivar, com uma extensao gigantesca e com urn tempo de acesso incrivelmente curto. A supermemoria artifi cial possibilitada pelos computadores e uma realidade. Isso nos leva a
crer que tambem 0 conceito de grupo e coletivo impressos na teoria de
Halbwachs, tenha en6io, outra dimensao.
A
ideia de na<;:ao se sobrepo ria a de globaliza<;:ao, num tempo em que as fronteiras se diluem. Ainda de acordo com Schaff:
os computadores possuem 'memoria', mas mesmo os
maiores tem limitarao a esse respeito. Nao obstante, tal memoria pode tornar-se praticamente ilimitada quan do conectada a bancos de dados nos diversos campos. Isto nos leva aos outros elementos da revolurao no for necimento e na armazenagem de informaroes: bancos de dados, satelites artificiais e comunicarao por meio de fibras oticas. (Schaff, 1995: 74)
Ou seja, assim se criam outros lugares de memoria.
Em outro tempo historico, outros problemas se colocam e novos conceitos se formulam.
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,
3: 22)
nlam.
'0 gregoriano. Ne5se sentido, sua derrota lugar de memoria escapa a seus arabescos que
°
jornal serve ao historiador. Nao apenas memoria nacional, mas onde se pode perce 0, que se manifestam a partir de sua forma e ves dos textos, como as cronicas, ou roman s (cuja impressao passou dos antigos e pesa ~leyes imagens enviadas por satelites). Seu . . ado, permitindo se compactar em urn simplares do ano.
ama atenc;ao para esse novo tipo de memoria 'te arquivar, com uma extensao gigantesca e inerivelmente curto. A super memoria artifi mputadores e uma realidade. IS50 nos leva a
'to de grupo e coletivo impressos na teoria de outra dimensao.
A
ideia de nac;ao se sobrepotempo em que as fronteiras se diluem. Ain
mputacWres possuem 'memoria ~ mas mesmo os tem limita~aoa esse respeito. Nao obstante, tal
'ria pode tornar·se praticamente ilimitada quan·
nectada a bancos de dados nos diversos campos. nos leva aos outros elementos da revolu~ao no for • ento e na armazenagem de informafoes: bancos
satelites artificiais e comunicafao por meio 'aSoticas. (Schaff, 1995: 74)
eriam outros lugares de memoria.
hist6rico, outros problemas se colocam e
OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.2 JullDez de 2002
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