ENSAIO SOBRE A POSSE
C A P I T U L O I
Direito p o rq u e se rege; origem da palavra; noção e differentes
accepções; elem entos; definição
§ i.°
DIREITO POR QUE SE REGE
I . — N o fu n d o , com o n a fórm a, to d a s as le g is la ç õ e s m
o-dernas se b a seia m sob re o d ire ito rom an o. (1)
E s ta verdad e tem su a con firm ação p rin cip a l n o in s titu to
da p o sse , que as le is de q uasi to d o s o s p o v o s c u lto s m o d ela ra m ,
m ais ou m en o s d irecta m en te. por a q u elle d ireito . (2)
(1) .Jhering, E s p ir ito d o D ir e ito R o m a n o , v o l . 1.*, § 1 ., p a g . 14. (2) G aldi. C o d ic e ili P r o c e d u r a C iv ile , v o l. 5 .. n . 5()5, p a g . 214.
A p rin cip a l altera çã o é a que co n sta tía se g u in te n ota do c o n se lh e ir o L afayette: «Os R om an os, dando n im ia im portan cia ao ele m e n to m aterial da p osse, a co n sid era v a m com o um estad o d e facto, extran h o aos p r in c íp io s que regulam a a cq u isiçã o e o e x e r c ic io d o s d ir e ito s.
E ’ em sen tid o con trario a ten d e n c ia do D ireito M oderno, in ic ia d a p elo Direito C anonico, con tin u ad a p elo s c iv ilista s p rá tico s e fortem en te a ccu sa d a nos c o d ig o s p ro m u lg a d o s do se cu lo p a ssa d o p ara cá.
H a m a n ifesto esfo rç o p ara sub ord in ar a p o sse, tanto qu an to o p erm itte a sua n atu reza, ao p rin cip io do d ireito .
A lei fra n ceza , por ex em p lo , só a p ro teg e com a a cçã o c o m p ete n te quando p erdura p e lo m enos um an n o, e reu n e as q u alid ad es p ara p rod u zir a usucapião. C od. do P ro c. C ivil, a rt. 23; C od. C ivil, art. 2.229 e Z acharias, § 188. V eja e g u a lm en te o Cod. C ivil do C hile, art. 918 e o P o rtu g u ez, art. 488.
E ste esp ir ito se m a n ifesta nas m o d ifica çõ es que a n o ssa ju r isp ru d ên cia tem im posto ao D ireito R om an o, com o adiante se verá.» [D ireito
das
Cousas,
v o l. l . , § 2, n ota 1, p ag. 10).1 2 4 REVISTA DA.
E n tre n ó s, ella se rege ex clu sivam en te por elle , porque as
O rd s. e leis extravagan tes são com p letam en te om m issas a
resp eito, con ten do, ap en as, alg u n s d isp o sitiv o s sobre o uso
dos in terd ictos p o ssesso rio s. (3)
D evem os, p ortan to, recorrer ao direito rom ano (4 ), ado-
ptan do-lh e os p rin cip ios que estiverem de accordo com a boa
razão (5), a qual terá com o critério o uso que do m esm o tiv
e-rem feito as n ações civ iliza d a s. (6)
2 . — Ora, s ia th e o r ia da p osse é, ta lv ez, a parte m a is s ste-
m atlca do direito rom ano, si é a que tem sid o n a is aprofundada
p elo s interpretes (7), é tam bem a que tem d a d o lo g a r a m aiores
d iscu ssõ es e d iv erg en cia s, torn and o-se, por iss o , a questão
m ais difficil e m ais ardua do direito civil m oderno. (8)
Com effeito, não se nos deparam , naqu elle direitr as
g en er a liz a çõ e s que devem form ar os princroios con stitu tivos
do in stitu to ; m as, ap en as, casos con cretos, decidid os velos
ju risco n su lto s, facto este que se filia á sua qualidade de m í
-tico s e á ten d en cia p ratica de seus escrio to s. (0)
N ó s é que an alysand o os d iversos tex to s, relativos a cada
um a das m atérias, e com parando-os, gen eralizarem os, cl. lies
destacan do o s elem en to s u niform es e co n sta n tes das d ecisõ es,
com os quaes farem os a con stru cção ju rid ica do in stitu to .
E s ta con stru cção é difficilim a, por presuppôr. alét:; de
ta len to e de in tu içã o ju rid ica (10), um a an alyse profunda sem
a qual in correrem os no erro de que fala P a u lo — non u l ex
re-(3) L afayetle cit. , nota c it (4) Ord. do L iv. 3 , Tit. 64, pr.
(5) Lei de 18 de agosto de 1709, § 0. ; A lvará de 30 de janeiro de 1802, T it. 1 ., s 3.
(6) A lv de 28 de agosto de 1772, L iv. 2., Tit 5. Gap. 3., §s 7. e 8. (7) L;ifa.yette, op . cit.. nota 1; P u g liese, P r e s c r iz u n e A c q u U ilivu , Gap. V I I. n . 95. p a g . 223.
I8J S avign y, T ra ité de la P ossessinn, !jl., p a g . 5 ; P u g liese. ibidem , Dias F erreira, 1'odigo < iv il P o r h tg u e i, nota 1 ao Ç 171. p a g s. 5 e 7 ; tlu v is H evilacqua. P ru jectu de Corfigo C ivil, O bservações p r e lim in a r e s , pag. 9 ;, W oUon, De la I ossession, vol. 1 . In tr o d . p ag. ü ; lio n fa n le, D irilto Huma-n o . Gap. X I, p ag. 319. em q u e di/., Huma-n>m razâo, que «il poxsrsso v l ca m p o di b a lta g /i i d e lia li t l c r a t u r a ro m a m s tic a e il te r re n a d i p r o v a d i m elo d i
diversi-.
(9) Van W elter, ('n n rs d e D roit R o m a in , v o l. 1.. s 2 .n, p ag. GO.
(10) J lieiin g , F.spril du L r o il Ilt m a iu , v o l. 3., L iv . 2 ., Tit. nola 32 p a g . 62.
FACULDADE LIV RE D E D IR EITO 1 2 5
g u la jn s su m a tu r, s e J e x j u r e , q u o i esl, regula f i a t — (11) erro
de que d le p r o p r io se não ex im iu . (12)
3 — E is porque, na e x e g ese dos tex to s rela tiv o s á p o sse ,
ha
v a r a sco n stru cções, dan lo lo g a r, em a lg u n s p o n to s, a tres
e s c o l a 1; —a dos g lo za lores, a de S a v ig n y e a de J h erin g , e, em
quasi
r o d o s ,ás fluas u ltim a s, d iam etralm en te o p p o sta s, com o
o verem os.
V im o s en saiar o estu d o com parativo d essa s esco la s,
es-tudo que ainda se não fez entre n ó s.
F;
u tilid ad e p ratica é m a n ifesta : a esco la dos glo za d o res,
relativam en te á tradição sy m b o lica , ainda é defen did a por
algut: escrip to res
(13)
e está
con sagrada
etn
algu m as
le g is
-lações, com o no n o sso co d ig o com m ercial (1 4 ); a de S a v ig n y ,
quer m anto ao corpus, quer quanto ao anim as da p o sse, é a
que ida
h o je
predom ina
na
gen eralid ade
da
doutrina
(15)
e
das ii isla çõ e s (16); a de J h erin g , não só porque seu s escri-
ptos alaram
profun dam en te
os
alicerces
da
con stru cção
de
Savi;_ y (17), com o porque sua doutrina, seg u id a por algu n s
escri u>res (1 8 ), já foi adoptada, quanto ao anim us, p elo Cod.
(li; Dig . L iv 50. Tit. 17. frsr. 1.
ilí U iéring, Du R ô le d e la V o lo n lé d a n s la P o sse ss io n , Cap. 13. pags. 228 e -guintes,
( lf : fro p lo .ig . De la V e n te, v o l. l.° , n . 267 e seg u in tes, p a g s. 353 e se -gu in tes,
(1 Vide Cod. C iv il F r a n c ê s , a r ts. 1.605 e 1.6C6; C o d . C iv il I ta lia n o , art. ) ;ij 5; C od. C iv il do U ru g u a y , art. 738; N osso Cod. C o m m ercia l,
art. 2<;:.
(1: E' a segu id a por P uchta, M ühleinbruck, Burchardi, W an gerow , Thiba; M acktíidey, Ziem lacU y, Arndts, U nterholzner, Baron, W in d sch eid , Bruns, Rudorff, Eek M arezoll, K untze, Randa, M aynz e m uitos outros, como f.,; vè em Dalmau, L a P ossession ns. 27 e 28, pags. 39 a 42 e R uggieri, 11 Pu - , sso, v o l. 1.“. § 2'.', p a g . 33.
(lt^ Vide Cornil, I r a tê d e la P o sse ssio n , nota 1 á pag. 28.
117) Eis o que diz M euienaere : « Je ne veux p a s déllorer ici 1'effet que
produira la le c iu ie de cet ouvrage dans les pays ou la theorie de S avign y est resíée la base de la doctrine et de IV nseignem ent du d,-oit rom ain en m atiére de p ossession . Q u il me su llise de d iie q u il a produit. en A llem a- gne, une esp e ce de stupeur, qui, pendant plusiuurs m ois, a p aralysé la critique.
Un des auteurs qui ont pris la p lu m e pour defendre 1'arche sain te de la theorie p o sses-o ire le constate.
« Les écrits d Jhering, d it-il (K untze. Z u r Iie sit:le h r e , L eipzig, 1890) ras- sem blent á des éclairs. Ils surp;'ennent; ils éb lou issen t, ils repandent une Imniére inattendue sur de v a stes e sp a c es, oú sem b lait ne regner que la nuit » (Du Ttòle de la V otan te, c it., A v a n t P ro p o s, pags. 1 e 11;.
(18i C. A ppleton, De L a P o ssessio n et des A c tio n s P o ss e s s o ir rs ; D. Wei mond, L a P o ssessio n en D r o .l R o m a in ; G. C ornil, T ra itê dc la P osses-sion ; b e govia, C o d . C iv il A r g e n tin o , n o ta 1.866, ao art. 2.351 e ou tros.
126
R E V ISTA DAA llem ão (19), pelo do Cantão de Zurick (20), pelo P rojecto do
Codig-o Hung-aro (21), pelo A nte-projecto do Cod. Civil Suis-
so (22) e,
in totum
, polo nosso Projecto de Codig-o C ivil, em
discussão no Senado. (23)
§ é* -°
O R IG EM D A P A L A V R A
1 . — E ’ das m ais discutidas a etym ologia das palavras
possidere
e
possessio
, estando ainda a questão m uito long*e de
ser definitivam ente resolvida. (1)
Quatro são as principaes opiniões a r esp eito :
I
a.), a dos que affirmam que ellas se derivam de
pedes po-
nere epedum positio
, opinião que se funda no Dig*., L iv. 41, T it.
2?, frg*. 1?, pr. : «P ossessio appellata est ut Labeo ait, a
pedibus, quasi positio, quia naturaliter tenetur ab eo qui ei
in s is tit.» ; (2)
2?), a dos que, — firmando-se no m esmo texto supra, mas
como se encontra na edição de F lorença, em que a palavra
(19) Art. 851 : La possession (rune clio^e s*acquiert par 1'obtention da pouvoir de f?it sur cette chose ». Do accordo oom as ex p licações dadas ao R eichstag, em 18%, « le Code accorde la protection p ossessoire sans distin- guer si la p ossession reposo sur un rapport jüridique réel ou ob ligatoire, n i si Von possède co m m e p r o p rié ta ir e ou n o n (Cod, C iv il A llem ãx), T ra - ducçâo de M e u le n a e r e , pag. 229).
(20) Art. 61: « L acquisition de la p ossession est subordonnée, en prín-cipe,- à deux c o n d itio n s:
1.* La m anifestation d’un pouvoir m atériel sur la ch ose ; 2.* La volonté d exercer ce pouvoir dans sou propre intérêt.
(21) § 505: « Acquiert la p ossession d’un ch ose, par un acte unilatéral, celui qui obtient le pouvoir de fait sur la chose ».
(22) Art. 961 : «C elui qui tien t une chose en sa p u issa n c c en a la pos-session • .
(23) A rts. 565 e 601 : « Como quer que seja, a noçáo de p osse contida nos arts. 565 e 601 do P ro jecto é extrahida da doutrina de Jhering. » (Clo- vis B evilacqua, P ro je cto do Código C iv il, O bservações p r e lim in a r e s , p ag. 20).
(1) Dalm au, c i t . , § 1.°, pag. 2.
(2) K' a opiniáo de quasi todos os auctores antigos, e que foi admitti- da por Dom A lfonso, o Sabio, cm suas P artidas, lei 1.*, Titulo 30, P a rtid a 3.*: P ossession tanto quiere decir com o ponim iento de piés. Segun dijeron los sabios antiguos, es tenencia derecha que h a homn cn las cosas corporales con ayuda dei cuerpo e dei entendim ento. » (Dalmau cit., n. 2, pags. 3 a 5J,
FA C U L D A D E LIVRE) D E D IR E IT O
pedibns
está substituída por
sedibus
— dizem que ellas se
origi-nam de
sedes ponere
e
sedium positio; (3)
3
?), a dos que as filiam ao verbo
posse
— poder; (4)
4?), a dos que, finalm ente, ensinam que ellas se compõem
àepos
ante-posto à
sedere
e
sessio.
(5).
Pos, pot
, ou
po
é, para uns, prefixo de reforço, que serve
para accentuar o vigor ou in sistên cia com que se pratica o
acto expresso pela palavra a que se ju nta (6); é, para outros,
uma preposição de log-ar, que sig-nifica— ju n to de, perto de,
ao lado de. (7)
2 . — E sta ultim a opinião é a que parece p refer iv el:
a
), por ser a m ais racional, visto explicar naturalm ente
a formação das palavras, sem aug-mento, dim inuição ou
mu-dança de lettra alg*uma em
possessio
, formada de
pos
-|-
sessio
.
Em
possidere o e
de
sedere
m udou-se em /, de accordo com
a le i do
abrandamento
. (8);
(3) « Muito pouco con h ecida dos antigos interpretes, adm ittiram n'a nuasi todos os m odernos. Poderíam os, sem em bargo, encontrar n elles uma d ilíeren ça ; pois si, p?.ra uns, a palavra sign ifica posição de assento, positio sedium , e, pai a outros, equivalente a positio som ente, como Brisonius , Ra-mos de Manzão, Ilein eccio e com elles V a lU — de posse sedei e » (Dalmau, cit., § 1.°, n. 4, pag. 5); W in dscheid , P a n d ecla s, § 148, nota 1, pag. 31.
(1) Dalmau c it,, n. 5, pag. 7 ; Ortolan, Machelard, Appleton e A ccarias, por eíle citados no mesmo nam ero. C. Consolo, * Trattato dei P osse o », cap.0 2.°, n. 39, pag. 102.
* * ♦
(5) Jhering, E s p r il d u D roit I ío m a in , vol. 3.°, nota 342, pag. 2G1 ; Du Rôle de la V o lo n tr, cit , pag. 23; Molitor, P ossession e n d r o it /íow iam , n. 8, pag. 18 ; R uggiere, op, cit., § 39, vol. l.°, pag. 53 ; Cornil, op. cit., § l.o, pag. 1 ; Bruns e Littré, cilad os por Dalmau, op. cit., n. í, pag. G.
(G) Escriptores citados na n o’a anterior.
(7) Giulio Gapone, A rc h iv o G m rid ico Ita lia n o , vol. 5<J, p ag. 5G3; Vani- c*ek e Grimm. citados por Dalm au, op c it., n. i , pags. 6 e 7.
*
(8) As v o g a es. como as consoantes, estAo subordinadas, nas suas muta-ções, ás leis do a b ra n d a m e n to e do r e fo r ç o , filiando-se am bas á 1* i geral da co rrvp çã n p h o n e tic a . (Darm steter, L a V ie des M ots pag. 8 ; Leoni, d e n io da L in tju a r o r ti(( ju e z a y vol. l.° , T it. l.°. Cap. 1.®, p ags. 2).
O a b ra n d a m e n to exprim e o phenom eno do enfraquecim ento dos valores phoneticos das palavras, resum indo-se no seguinte aphorism o : todo o som lorte tende a m udar-se em fraco (João R ibeiro, D icc io n a n o G ra m m a tica L Pags. 6).
Na constituição do lexico latino o a b ra n d a m en to das vogaes era frequen tissim o, tanto em vocábulos sim ples, com em com postos, dando-se quasi sempre por influencia de outras lettras liavendo uma especie de aílinidade entre certas consoantes e certas vogaes.
Assim era que as vogaes, em geral, se abrandavam em i, m orm ente, antes das dentaes — n , s, t , --d.— (Guardia et W ierzeyski, G r a m m a ir e de ia L a n g u e L a tin e pags. Gl).
128
RH VIST A DÂb
), porque esta e ty m o lo g ia se accentú a n as lin g u a s néo-
la tin a s (9), bem com o no allem ão, no flameng-D, no dinam
ar-q uês e no su eco. (10)
N ào eram raras, nos verb os, as tran sform ações de e em i, com o se v eri-fica p elo s se g u in tes e sp e cim en s :
col (cuni^ + leg o — co llig o , di (dis) -f- leg o m d ilig o ,
in ter -f- leg o = in ie llig o , ad -f- sed ere rr a ssid ere, con icum ) -f- sed ere = co n sid ere,
in ter *+* em ere =^= in terim ere, e, por co n seg u in te, pos -j- sed ére = p o ssid ere.
(9) No an tig o p o r tu g u ê s — p o sse d er, p o ssessã o : em f*ancez — p o s s ’dc p o sse ssio n ; em italian o — p o sse d e re possesso ; em h esp a n h o l p o s s e r . po- seóion : em p o v en ça l — p o s s id e r e , possessio.
(l(>) No allem ào — b ts U z e n ; no fla m e n g o — b e z itte n ; no dinam arquez - - b esid d else e no su eco — b e s ttiin in g . N estas p alavras o prefixo be tem a m esm a sig n ifica rã o de reforço de 2>òs (M olitor e R u g g ieri, citad os na n o ia 5; D alm au, o p . c ü . , n . 6, p a g s. 11 e 12 ; A . C arpentier, R é p e r t d u b r . F r . t v o l 30, pag. 880, n . 628).
D alm au (Ram on de D alm au y de O livart, M arquês de Olivart) na obra cita d a (trabalho que, no d izer de W in d sch eid , honra a ju risp ru d ên cia hes- p a n h o la ; P a n d e c la s , § 148, n o ta 6, p ags. 30-, a cc eita a 3 .a op iniáo supr; di-zendo que « con m enos ti ad icion y a n a lo g ia con la de otras len g u a s, es la m ás conform e á r a /o n , la m ás natural, y que por sua gen era lid a d no solo ès a p lica b le á todas la s c la se s de p o sesio n que reco n o ce el d erech o . sino aun á los d iferen tes co n cep to s p a ia lo s que el uso de la s len g u a s la ha ad- m iiid o » (Op. cit., g 1 °, n. 5, p ags. 7).
N ào vem os, e o auctor nào n ol-o m ostra, com o e ssa op in ião se ja a mais con form e á razão e a m ais natural, d esd e que nào p od em os ex p lica r os suf- fixos - ssio e deve. Como, de facto, e x p lic a l-o s?
D alm au lim ita-se a d izer que « n ósoutros crem os que el sessio es sólo m era term in acion » (n . 5, p ags. 8), o que nada ex p lic a .
Tanto é i>so verdad e, que el le m esm o con tinú a, d ize n d o : « p e r o aun que v in iese de s e d e r e , en v o lv eria sólo una id ea a ccid en ta l, existien d o el va lo r y fu erza determ in ante de la p alabra en el ^ o » (n. 5, p ags. 8), o que em nada en fraq uece a quarta opinião.
E ssa terceira op inião até vem a redundar na quarta, por n ós a c c e ita ; porque o verbo p osse é co m p o sto exactam en te de p o t ou p o s ou p o tis e esse} com o o ensinam todos os lex ico g ra p h o s.
R eferin do-se ainda á quarta op iniào diz D alm au :
* A e>tas etim o lo g ia s eq u iv o ca d a s d eb ese e l co u cep to errôneo dr la pose- s io n ,y a en su ex ten sio n , y a en su s cu alid ad es. A ferrados los R om anos *n la id ea de la brutal ap reh en sion m aterial, que ex ig e el s e d e re 6 p e d iu m p o si-tio , d escon ocieron Ia t.radicion sim b ó lica , la p o sesio n de d erech o s, y Iieg a - ron á dudar si era a d m issib le en las co sa s m uebles (A ccu rsio , cita d o por V a len tia (1. c .) fun dan do-se en la e t im o lo g a a p e d ib u s lo n eg ó , p o r lo que el prim ero se ocu p a m uy seria m en te en refutarle !) teo r ia quizá m uy ro- m a n ista , pero co m p leta m en te apartada de la p ura n o cio n de la filosofia dei d erech o » (§ 1.°, n. 4, nota 38, pags. 7).
N enhum a d essa s p rop osições é verdad eira :
a ), o co n ceito erron eo d a p o sse, já em su a ex ten sã o , já em su as quali- d d es, nâo proveio, de modo algu m , da ety m o lo g ia da p alavra, com a qual nenhum escrip tor argum enta, ao esta b elecer tal co n ceito , mas de g en era li-za çõ es erradas dos p rin cíp io s con tid os nas fon tes, seg u n d o o m ostrarem os no estu do dos elem en to s da p o sse, com o o fazem certo S a v ig n y , refutando
F A C U L D A D E U V R E D E D I R Ei^ Ò
129
§ « .°
NOÇÃO DA POSSE
1 . — A id eia gera l, con tid a em qualquer das e ty m o lo g ia s
do paragrapho anterior, é a de um a relação de facto entre
uma p essoa e um a cou sa, de m odo a poder u tiliza r-se da
mesm a: têl-a debaixo dos pás
(pedum positio)
ou do a s s e n to (í£-
ditim
positio
), exercer um poder sobre ella
{posse
), con serval-a
junto ou p erto de si
{pos sedere
) .
E 9 tam bem a id eia p redom inan te nas d ifferentes d efin
i-ções da p osse, por m a's d iv erg en tes que sejam n o fu n d o e na
f o r m a — tod as adm ittem que um a p esso a se ach a de p osse
de um a cou sa, quando tem a faculdade de dispor p h ysicam en -
te da m esm a e de d efen d el-a con tra as a g g ressõ es de terceiros
(1), podendo assim d elia se utilizar.
b), Si os R om anos d escon h eceram a tradição sy m b o lica (o que os g lo - sadores con testam , com o v er em o s, e com o se vê em S a v ig n y , P o sse , § 141, é
porque o sy m b o lism o é ex H u siv o do ju s c iv ile , ao p asso que a p o sse se fi-lia H o ju s natural**, v e l g e n tiu m (sa v ig n y , o p . c it., «j 12 p ags. 183);
c), N un ca o s llo m a n ò s d escon h eceram a p osse de d ireito s. ^
No direito m oderno tem os, com o d esm en tid o form al, a j u r i s possessio ou q u a si f ”'.ss'('ssio, com o é m a is.q u e cor. en te ; no d ireito a n tig o eis a liçã o de
Garsonnei: . *
m
c \
- j
« On : ait que cette a n tith èse en tre la d èten tion d u n e ch o se et 1’exercice d'un droit v ien t du d-oii. rom ain. II p arait que très a n c ie n n c m c n t les ch o - scs in c o rp o re tlc s y ê tn ie n t su sc e p tib le s d e p o ssessio n , au ssi bien que les choses corpoi e lle s , p uN que la 'oi Sei ib onia vinr, on ne sa it au ju ste à q u elle époque, m a is s a n s d o u te à la fin de la Ité p u b liq u e , p ro h ib er 1’usucapion des serv itu d es, c ’est-à -d iie , leur acq u isition par la p o ssessio n p ro lo n g ee (D ig. f g . 4, > 29, D e x isu rp . e t u s itc .. X L I, III ; U n teih o lzn er, V e r ja e h r u n g s - U-hre (Bei 1 ir», 1815- p a ^ s. 5 P lus la id la leg isla tio n ch an gea et il íu l de iè- gle qu\»n ne p o sséd c que le s clio se s c o r p o ie lle s (D ig., frg. 3 .°, p r.. D e a d q .
vel
a m . p n ss. X LI, II) Cette m axim e, en core en v ig u eu r au tem p s d ’Au- fm ste, c n la d so n to a r d e c a n l les p r o g r é s d u d ro it, et nous sa v o n s pai* Ja- vo len u s, <iui éc i ivait sou s le rég n e de T rajan, qu’on adm it pour l^s ch o ses in co -p o reP es, à d èfaut de la pos>ession p roprem ent d ite, q u e x c lu a ie n t les pri»icij»es de d ro it, une q u a s i possessio ou possessio j u r i s , qui p ro d u isa it à peu pres les inèrnes ellets ( D ig ., frg 20, De s e r v ., V l l l , I).»(Trai.té de p ro c c d a r e , v o l. l.° , § CXXX nota 5, p a g s. 535 e 536).
a), N unca foi ob jecto de d uvid a, entre os jui isco n su lto s rom anos, serem as cou sas m oveis su sc e p tív e is da p o s s e : basta ciia r os d o is tão co n h ecid o s fragm entos de Paulo e P apinian o : « N e r v a filiiis r e s m o b i l e s , e x c e p to h o - m in " , q u a te n u s su b c u s to d ia n o sti a s in t, h a c t e n u s p o s s i d e r i (D ig ., L iv. 41, Tit. 2 °. f g . :s.°, § 13); « r e r u m m o b iliu m n e g le c ta a tq n e o m issa c u s to d ia ,
q u a m v is eas n e m o a lia s la v a s e r it, v e t e r i s p o s s e s s i o n s d a m n u m a d fe r e co n -
s u e v it.» (D ig. c i t ., frg . 47).
A s d uvid as de A cursio não podem , é claro, ser attribu id as aos ju risco n - sultos rom anos, com o o faz D alm au.
130
R E V IS T A DA2 . —
Essa
faculdade,
porém,
só
constitue
a
posse,
quan
se faz abstracção de saber si a pessoa tem ou não o direito de
a exercer; pois, si o tiver, constituirá o dominio.
A posse e o dominio têm, assim, dois elementos com-
muns — a vontade da pessoa e uma cousa submettida a essa
vontade.
O dominio, porém, exige mais um elem ento: — que a
cousa tenha sido submettida á nossa vontade de uma maneira
reconhecida e garantida pela lei. (2)
E ’ esse o característico differencial entre os dois
in-stitutos : a posse é o poder de facto ; o dominio, o de
di-reito. (3)
Devido, porém, aos dois elementos communs, são
idên-ticas as apparencias da posse e do dominio, visto que, em
am-bos, só se vê a sujeição da cousa á vontade humana, não
poden-do os actos revelapoden-dores de tal sujeição manifestar a presença
ou ausência do principio jurídico. (4)
(2) Maynz,
D roit R o tn a in, vol. l.°, § 80, pags. G28, 4.a edição.
(3) Savigny, op. cit.,% 1.°, pags. 7; Jhering, Theorici Sim plificada da
Posse, cap. 1.°, pags. 93 e 9^ das Questões de Direito C ivil, traducçáo de
Adherbal de Carvalho.
(4) Ribas, Acções Possessorlas, §1.°, pag. 2; Maynz, op. cit., §80,06-
s e r v a t pags. 631 :
«Em sua manifestação exterior e appareute, a propriedade e a posse
po-dem confundir-se, pois a posse não é mais que o exercicio dos poderes que
se acham contidos no direito de propriedade.
O proprietário tem o direito de ter a posse da cousa que lhe pertence ;
póde, porem, acontecer que de facto elle o não tenha.
Attendendo a essas considerações, nunca nos exporemos a confundir os
termos ju s possessionis e o direito de possuir que se póde cliamar ju s possi-
dendi.
Por ju s x^ossessionis entendem os Romanos o simples facto da posse,
considerado sob o ponto de vista das vantagens legaes que elle procura ; o
ju s possidendi só pertence a quem tem o direito de ter a cousa.
Assim o ladrão tem o ju s possessionis, isto é, elle póde prevalecer-se
dos interdictos possessorios pelo simples facto de ter a cousa com a
inten-ção de a ter. Ao contrario, o proprietário tem o ju s possidendi, mesmo que
seja privado da cousa, salvo si em um caso dado, este direito tiver sido, por
sua vontade (por exemplo, si elle tiver concedido um direito de penhor, de
emphyteuse) ou pela auctoridade judiciaria (nos casos de immissão na
posse, de que trata o § 70, notas 12 e seguintes) concedido a outra
pessoa».
W indscheid, Raggieri e Meischeider contestam a proposição supra de
Maynz, em que elle affirma, como o fazem outros escriptores, que a posse é
o exercicio da propriedade :
«A posse, diz W indscheid, é a imagem de facto da propriedade; o
mes-mo conteúdo da vontade, que, reconhecido juridicamente, constitue a
pro-priedade, constitue a posse, emquanto se exercite de facto. Mas nem por
isso se póde, como o fazem a lgunsi denom inar a posse o exercicio da
pro-F A C U L D A D E U V R 1 Í DE) D IR E IT O 1 3 1
3 .
— Eis porque,
11
a linguagem commum, se confunde
as duas noções, que a technica juridica tão nitidamente
extre-ma : fala o homem do povo em acquisição, conservação e perda
da posse, quando, entretanto, quer se referir á propriedade e
vice-versa. (5)
O mesmo phenomeno já se observa entre os Romanos,
que empregavam
possessio
por
proprietas
e
possessor
por
domi-nas,
(6)
Essa confusão provém, alem da identidade de apparencias,
— de que, em regra, o proprietário é possuidor e, emquanto
subsiste essa relação normal, é inutil a distincção entre os
dois institutos. (7)
Desde o momento, porém, em que a posse se separe da
pro-priedade, esta distincção torna-se tão perfeita, o contraste tão
evidente, que não escapará ao proprio leigo.
O simples bom senso mostrar-lhe-á logo que a subtracção
violenta da cousa não tira ao proprietário o seu poder de
di-reito, poder que está sendo,
de Jacto,
exercido pelo subtractor :
o facto e o direito—tal a antithese a que se reduz a distincção-
entre a propriedade e a posse.
Si ambas se podem achar com o proprietário, podem
tam-bém estar separadas, ou porque elle transferiu a posse a
ou-trem, ou porque ella lhe foi tirada contra sua vontade.
priedade ; pois a propriedade póde ser exercida de qualquer outro modo,
sem gcr mediante a posse, por exemplo, com a destruição da cousa* (/*a n -
dectas, § 149, nota 5, pag 41, traducção de Fadda c Bensa), «sua venda,
con-sumo e outros actos simillmntcs» (Ruggieriy op. cit. , § 10, pags. 22, citando,
em a nota 2, Meischeider B esitz, pags. 16, n. 1).
Parece-nos que estes civilistas nào têm razão :
a) porque Maynz e os outros escriptores nào dizem que a posse seja o
unico modo pelo qual a propriedade se exerce, mas o modo normal, como—
cercar o terreno, cultival-o, cortar arvores, etc. (Lafayette, op. cit., nota 7.*,
Pags. 12) ;
b) porque, mesmo que assim nào fosse, tambem o possuidor, sem ter
a prop: iedade, póde praticar esses outros actos de que não falam Windscheid
e Ruggieri—a' destruição, consumo ou venda da cousa— e, fazendo-o,
exer-cerá, de facto, os direitos do pro p rietá rio .
(5) Jhering, Throvia Sim plíficada da Posse. citada, cap. l.°, pags. 93.
(6) Jhering, ibidem c Fondem ent des In terd its Possessoires, Gap, VII,
n. 6, pag. 76 ; Savigny, op. cit , § 8.°, pags 87 e 88.
(7) Jhering, Theoria cit., pag. 94; Pandectes Françaises, tomo 45, verb.
1 rescription C ivile, n. 122, pag. 517.
1 3 2 RÉVISTA DA
N o primeiro caso, a posse será justa (posscssio justa),
de-vendo o proprio proprietário respeital-a ; no segundo, porém,
injusta (possessio injusta), podendo elle recuperal-a pela acção
competente, faculdade essa que constitue o jus possidendi.
Salvo elle, porém, todos os mais são obrigados a
respei-tar o poder de facto do possuidor, e, si o não íizerem, poderá
elle intentar as acções tendentes á defesa de sua posse,
facul-dade essa que constitue o jus possessionis. (8)
E ’, assim, a posse, na sua accepção technica, o
fundamen-to de um direifundamen-to — o direifundamen-to que tem fundamen-todo o possuidor de se
prevalecer de sua relação possessoria, até encontrar quem delia
o remova, apresentando a prova do seu jus possidendi. (9)
4 . —
A palavra, porém, emprega-se ainda nas seguintes
accepções :
a), como objecto de um direito, o conteúdo do jus
possi-dendi, de que falamos supra,, o qual é indispensável á
utiliza-ção economica da propriedade, que, sem tal direito, não teria
valor algum .
Com effeito, essa utilização consiste no n ti,fru i et consumcre,
que o proprietário realiza, ou por si mesmo, ou por outrem, ceden-
do-lhe esse direito, já a titulo oneroso (em phyteuse,
arrendamen-to, penhor), já a titulo gratuito (em prestim o, doação).
Ora sem ter o objecto em seu poder e delle dispôr, tal
utili-zação seria im possível, como é intuitivo.
E is porque o direito romano protegeu esse direito com
a reivindicatio, que mais tarde sc extendeu, como utilis vin-
dicatio ou in rem actio, ás pessoas ás quaes o proprietário havia
cedido sim ilhante utilização, sem se despojar da propriedade
(empbyteusis e superfícies) e, como publicava in rem actio, á
pro-priedade p u tativa; (10)
b), como condição de aequisição de um direito—o de
pro-priedade: esta, no direito romano, como no nosso, não se
trans-feria, em regra, de uma a outra pessoa, sem que a posse do
ob-jecto lhe fosse transferida (traditio) ; também não se póde
ad-IS) Jlieiing, Thcoria c it,, Cap. 1.°, pags. 0 3 a í>3, (D) lbidem , Cap. 3 ", pag. 104.
£A<5ULÍ>ADE LIVRE D É DIREITO
1 3 3
quirir a propriedade de uma res nullius sem a posse dessa cousa
(ioccupalio), posse que é, egua! mente, exigida para a fnictinun
pcrceptio; (11)
r), como o e:;ercicio ou goso de um direito : assim se iliz
estar na pjsse do estado de iilho aquelle que é tido e havido
como tal ; (12)
d), como o acto pelo qual um funccionario se compromette
solemnemente a bem cumprir as funcções do cargo para que
foi eleito ou nom eado. (13)
N ote-se, porém, para evitar graves erros, que não é
nes-tas quatro ultim as accepções, mas sjm en te na primeira, que é
a techniea, que estudamos a posse.
§ *■
E L E M E N T O S D A P O SSE
1 .— Como decorre da noção da posse, ella é sempre uma
resultante de duas condições— a vontade e a cousa sobre que
esta se exerce, de modo a poder delia se utilizar. (1)
E ’ ponto este sobre o qual se acham accordes todos os ci-
vilistas : não haverá posse, ape;;ar do proprio contacto m
ate-rial com a cousa, si este não fôr um acto da vontade,
determi-nado pelo interesse de se utilizar da mesma cousa, acto este a
que os rom anistas chamam -ajjeclio tenendi, —haverá uma
sim-(11) Ididein, pags. 101 a 1<)’>.
(12) Lafayette, op. cit. § Itj, nota 7, p a g s. 52 e 53, cm q le cita D ireitos
«ç F am ília, § 103 ; Ord. do Liv. ü.0, Tit. 2 7 ,§ 3 .° e T it. 40, 56; Liv. l.«, .Tit. 43, § 13 ; Ruggie. i, op. c it., vol. 1.°, §453, pag-". 7;'.0, cilando o Dig Liv. 3 .’, Tit. 3.°, frg. 33, § 3.° : •cm-possessione tiberlatia» : Liv. 22, Tit. 3 . “, fl8 14 ; ‘ in jiossessionem libcrlalis» ; Cod., Liv. 7.", Tit. 17, const. 1.* : *s< ex possessiontj libertalis».
(13) N esse senfido é a palavra empregada na Const. Federal, art. 44; na deste Estado, art. 31, n. 7 e a ’t. 52 ;e eni nossas leis, como entre outras, 5a deste Estado, n. 375, de 10 de setembro de 1903, art. 125. e no D ec. Ke- oeral, n. 3.0i>4, de 5 <'e novembro de 1898, art. 15, lettra r .
inds-1 3 4 REVISTA DA
p ies ju stap osição local (2), ab solutam en te in differen te ao
di-reito, por não produzir con seq u en cia algu m a jurid ica.
( 3 )A essas duas con d ições cham am os in terp retes— elem en
-to s da p o sse — , e, firm ando-se no D ig-., L iv . 41, T it . 2?, írg.
3?,
§
1 ?: «Adipiscimtlr possessionem
c o r p o r e e t a n i m o ,ncqiie
per
SE c o r p o r eaut per se
a n i m o » ,d enom inam esses elem entos
corpus e anim as, d esign an d o a prim eira palavra o elem en to
ma-teria l, e a segu n d a o m oral.
A ssim , p o is, é d essas exp ressões que nos servirem os neste
en sa io , por já se acharem consagradas na m oderna tech n o lo g ia
p ossessoria.
2 .— F arem os, porém , as duas se g u in tes ob servações :
1?) A s fo n tes nunca em pregam os term os carpaspossessionis,
lig a n d o ao prim eiro a sig n ifica çã o de elem en to su bstan cial
da p o sse . Com effeito, em relação a esta, o vocábulo corpus só
se encontra em g en itiv o e ablativo : em g en itiv o , na expres-
são ccrporis possessio, que d esig n a a p osse de um a cousa cor-
porea em op posição á de um direito—possessio ju ris ; em
abla-tiv o , nas lo cu ções ccrpcre adquirere possessionem, corpore possidere,
com o no tex to supra de P a u lo , em que o ab lativo está em
pre-ga d o adverbialm ente, na accep ção de corporaliter, tratando-se,
não do ccrpas possessionis, m as do corpo do p ossuidor.
(2) Ihering, op. c i t , cap. 13. p a g s. 18 e 19 ; S a v in g n y , op. c it., a p p jn d ic e
n.
2, p a g s 508 e 5 0 9 , E ’ o que diz P aulo, no fr g . ].» , § 3." do D ig ., L iv . 41, T it. 2 .o :• F u r io sa s e t p u p i l l u s , s in e lu io ris a u c to r ila tc , in c ip e r e p o s s id e r e n o n pol- e st, q u ia a/l'eclion em le n e n d i n o n Ita b e rl, lic e t m a x im e c o rp o rc su o rcm c o n t i n g a n t ; sic u t si q m s a liq v id d o r m ie n li in m a n ib u s p o n a tt.
F irm ando-se n esse texto, en sin a D onellus que :
«N a m te n e r e et p o s s id e r e n o n csl. c o r p o rc rc m c o n iin g e r e , se d ita allin - g e r e u t a fíe c tio n c m te n e n d i h a b e a s. I n q u o h a ec a fíc c tio a p e r te n o n est, n on p o s s id e t, n o n te n e t, c lia m s i c o rp o re loto rc m c o n tin g a t•. (C o m m c n ta rii J u
-r i s C iv itis , v o l. l .° , Cap. l í , n . 4.», p ag 1 059).
E 'frisa n te o seguin te exem plo do 1’i uns : «Eis um lenheiro que, de ma-chado em punho, entra cm um a lloresta. Todas as arvores, em sum m a, se acham ex p o sia s a caliir debaixo do seus g o lp e s. D ireis, por isso, que elle adquiriu, relativam en te a todas as arvores da floresta, o co rp u s destinado a tornal-o possuidor das m esm as ?
E videntem ente não : islo só se dará em relação ás arvores que elle aba-ter com seu m achado, pois só a respeito destas é que aba-terá m anifestado a vontac e de su b m ettel-as a seu poder p h y sico . [Du d ro it de la possession cw m o y a á g e e t d a iis les te m p s m o d e rn e s, p ags. 4(57).
FA CULDADE L IV R E D E D IR E IT O 1 3 5
E ’ o que attestam claram en te as p a ssa g en s que oppõem
a p osse que é adquirida corporc nostro á que é corport alieno:
exactam ente n e sse sen tid o é que se diz que o reu, n a actio
legis aquiliae, deve ter cau sad o o dam no corpore suo. (4)
T ra ta -se , p o is, de um term o extranho á tech n ica d o s ju -
riscon su ltos rom anos. (5).
2‘?) D a d ecom p osição da p o sse em d ois elem en to s parece
resultar que elles são co m p leta m en te in d ep en d en tes, podendo
existir um sem o outro, o que não é exacto, porquanto o
corpus não póde existir sem o anintus e vice-versa.
A m b o s o s elem en to s, com effeito , nascem , ao m esm o tem
-po, com o fa cto da von tad e se incorporar exteriorm ente na
cou sa.
E m q u an to essa incorporação se não dá, a vontade não se
realiza e é, p ortanto, in ex iste n te para o inundo exterior.
O corpus tam bem n ão póde ex istir prelim inarm ente ao ani-
mtts, v isto não ser m a is que a realização d esse anim us.
N ã o são, p o is, dois elem en to s in d ep en d en tes um do outro:
o corpus é o facto da von tad e, realizan d o-se sobre o ob jecto,
não podend o, portanto, ex istir a n tes delia ; a von tad e, por sua
v e z, só ex iste , quando se realiza n esse corpus. E ’ id ên tico o
p henom en o que se dá entre a p alavra e o p en sam en to expresso
por ella : a p alavra não ex iste a n tes do p en sam en to, com ) este
tam bem n ão ex iste, para o m undo exterior, a n tes da palavra
por que se rev ela . (6)
(1) Inst. L iv . IV, T it. 13, frg . 1G.
(5) J h c iin g o p . c i t . , Cap. pags. 29 c 30 ; Cornil, o p . c it., Cap. 2 .° pag.<. 21 o 22.
.(0; Cornil, o p . c it., p a g s. 22 c 23 ; J lie iin g , o p . c it., p ags. 30 c 31, co n -cluindo r.esta : «La p o ssessio n n'est donc pa.s Ja sim p lc lé u i.io n d u co rp u s e do l'a n im u s, cc <jui. im p liq u e ia it p iu r ih a cu i.e do c t s d e tx conditions uno e.cislencc p rè a la b le , m ais lo c o rp u s e st )e íaii dc la M lo n lé ; il n existe plus dans le p a ssé que lo m ot a \a n l q u il ne soit p ion or.ee. Lo c o rp u s e la n im u s son t en tre eux com m e la p a io le e t la p c n sè e . D ans la p a ro lo s'in - corpore la p en see restée jusqu' à <e m om ent purem ent interne ; dans lo c o r-p u s s'in c o r r-p o r e la v o lo n lé r e s lé c ju sq u ’ ;i ce m om ent r-p u rem en t in te rieu re ; au eu n ed es deux n existe avant ce m om ent pour la p ercep tion . La juxtaposi- tion lo ca le n'a d ’autrc im p o ita n ce quo d'être la condition in d isp en sab lo do la io a liz a tio n d e la volon té de p osséü er, m ais elle ne d evien t le
corpus
q u a u moment ou la volon té lui im prim o lo sceau du rapport p ossessoire»10' i len lico o pensam ento de W in d sch eid : «La p o testá di fatto debe essere l esp ressio n e d elia volontá d ap propriam ento. Non basta la
coe.sis-1 3 6
KEVISTA »A
3 . — Oue são, porém, o rorpits e o animus da posse ?
Ouanto á primeira questão, divergem profundam ente as
tres e s c o la s:
Para os glosadores o corpus con siste no contacto material
com o objecto da posse, ou em actos sym bolicos,
representa-tivos desse contacto, (7), como a entrega das chaves da cr.sa
ou cai:;a em que se acha o objecto, a dos títu los de propriedade
do m esm o, a inscripção sobre elle de algum a marca ou signal
e outros actos sem elhantes ; (8)
Para a escola de S avigny, elle é a faculdade real e imme-
diata de dispôr physicam ente do objecto e de defendel-o
con-tra as agg-ressões de terceiros ; (9)
Para Jhering, é a
relação exterior que existe
normalmen-te entre o proprietário e a cousa, ou o facto que constitue a
exterioridade, a visibilidade da propriedade, quer dizer,'o facto
da pessoa procederem relação á cousa, como procederia
nor-m alnor-m ente o proprietário da nor-m esnor-m a, de sorte que a todos se
exteriorize ou se faça visivel como proprietário—-qui omnia. ut
dotninus, facit.
(
10
)
4 .
— E ssa mesma divergencia nota-se em relação
animus.
Com effeito, para m uitos dos an tigos glosadores, elle é a
intenção de ter a cousa para si— animus rem sibi babendi (11);
para m uitos outros é a intenção de dono ou proprietário da
cousa— animus domini (12), opinião essa que foi adoptada por
lenza delia poteslá di latto e delia volontá d'appropriamcnto ; é necessário un rapporto fra esse. La volontá d'appr0|>i iacne!il.0 debbe ossere rivolta alia cosa, come a quolla che si (rova nella poteslá di fatto. Cfr. specialm enlo P ininski (n o ia 2 )p a g s. 88, seguin les e 152 e seguintes.» (Op. c it.. § 153, nota 1.*, p ags. 52).
(7) Savigny, op . c it., § 1-1. p ags. 181 ; U uggieri, op. c it., vol. 1 °, § 4.°, p a g s. M e 15 ; Lafayclte, op c it., s> 10, rola 2, pags. 20.
(8) Troplong, í)e la Vcnte. n 207, pags 351 e 355 : Baudry-Lacantinerie e! A. Tissier, De La 1'r.eseription, n. 220, p ags. 131 : Cod. do Comin., art. 200.
(9i O/), cd , |§ 11, pags. 185 e 18, pags. 213.
(10) F ondem ent des I n te r d its rossessoir6*, Caps. XI e X II, pags. 150 a 107 ; t'o d .'’tm l A llem ão, ti aducçâo do Meulenacre, appendice, pags. 711 a 718;
ThC0 ' ia sim p lifica d a d a posse, cit. p ags. 137 a 117.
(11) Dalmau, op . c i t ., n. 21, p a g s. 35 e 3li; U uggieri, op. c it. § 4.°, pags.
14 o 15.
Mnr(12i Dalmau, op. c it., n. 25, pags. 37 e 3 8 ; líu ggieri, op, c iti, § 51°, pags. 15 « Hii
FACUI.DADE LIVRE DE DIREITO
1 3 7
S avigny (13), não se confundindo, porém, tal in tenção com a
convicção do possuidor de ser, na realidade, proprietário
-opinio seu cogitatio domini, que não é necessaria. (14)
E ssa é a opinião dom inante na doutrina e nas le g isla
-ções. (15)
P ara Jh erin g esse animns ê, apenas, a affectio tenendi, inhe-
rente ao corpus, isto é, a vontade de proceder, em relação á
cousa, como norm alm ente procede o proprietário, de se exte-
riorizar ou se tornar v isivel, como tal. (16)
E ’ a doutrina já seguida por alguns escriptores e poucas
le g isla çõ es. (l7
j-5 . — D e accordo com a escola de S a v ig n y , o corpus, unido
á affectio tenendi, que lh e é essen cial, apenas produz o que, na
technica possessoria, se cham a— detenção, ao p asso que a
pos-se é uma resultante desta, unida ao animns domini, q u eé o
traço de separação entre am bas.
P ara Jh ering a differença é outra : haverá p osse, sempre
que houver o corpus e a affectio tenendi ; quando, porém ,
ape-sar da co-existen cia d essa s condições, um dispositivo legal
negar a posse em algum a h ypothese, haverá a sim ples
deten-ção, que será excepcional.
P or caractéres algébricos, elle m osta claram ente a
diffe-rença entre a sua escola, que denom ina objectiva, e a de
Savi-g n y , que denom ina subjectiva.
(13) Op. cil , §3 9 ° e 20.", p ags. 91 a 122 e 221 a 231 ; Lafayelte, o p . c it., § 3.°, n. 2, p ags. 15 : Ribas, Acções / ‘ossessorias, § 3.°, pag. 12.
(14) S avigny, op. c it., 9." o 20, p a g s. 91 c 221 ; D oncllus, o p . cil .
vol. l.o, liv . 5.°| Cap. G.°. n. 5.", pags 987 : • K otandum non exig ere nns ad
possession em u t q u i s tc n e a t opini nb domini, sed xotam u t d o m in i a fíeclu , Quod eo s/.e c ta t u t d e c la r e tu r s iv e q u is \ta rc m a c c ip ia t, u l sc d o m in u tn fieri p u te t, a t bon ae fidei p o ssesso r, sin c hoc an im o cst ut, v e i t se d o m in u m esse, a u t se p r o d om in o g e r a l, q u a m v is n u lta e x cau sa, a u t c x in ju sta rcm ten ea l, u tru m q u e p a r ite r p o ssid e re » S avign y apresenta o t e m p l o (lo ladrào que
tem posse, e, entreianlo, absolutam ente nào tem e nem pode ter a convicção de ser proprietário da cousa, embora o queira ser (í 20, c it., pag. 221).
(15) V ide § l.°, notas VS e 1(1
(16) Du R òle de la V olontà, c it., \n lo lu m e especialm ente Cap. 5.°, pags. 45 a 69 ; W erniond. I)e L a Possession en D roil R om ain , secçâo II, pags.
'9 a 122 ; Cornil, o p. c it., Cap. 2." p ags. 21 a -17. (17) Vide notas
18
a 2 ld o £ 1,";1 3 8
REVISTA DA
S i chamarmos á posse — P . ao co rp u s
—C, á affectio tc-
ncndi
— A , ao animus domini
— a — , á detenção — D, e á
nega-ção legal da posse — N , terem os :
E scola de S a v ig n y :
P = C + A - f a
D = C + A
E scola de Jhering :
p =
r
+
ad
=
c
+
a
+ nr (ir
)
§ 5?
D E F IN IÇ Ã O D A P O S S E
1 . — Sendo a p osse, como o dissem os, uma resultante do
corpus e do animus, a divergencia que acabam os de mostrar
quanto á caracterização desses elem entos,necessariam ente refle-
ctirá na definição da m esm a.
2 . — A ssim é que, de accordo com algu ns dos antigos
glosadores, a definiremos — o contacto m aterial com a cousa
com a intenção de a ter para si (1) ; com m uitos outros —- o
contacto m aterial com a cousa com a intenção de dono (2);
com Savigny — a faculdade real e im m ediata de dispôr phy-
sicam ente do objecto, com a intenção de dono, e de defen-
del-o contra as aggressões de terceiros
( 3 ); finalm ente, com
Jhering — o facto da pessoa proceder, intencionalm ente, em
relação á cousa, como norm alm ente procede o proprietário, ou,
em resumo, a exterioridade ou visibilidade da propriedade. (4)
3 . —
E sta é que é a verdadeira definição, como o dem
ons-trarem os, quando, tratando da acquisição da posse, analysar-
m os os seus elem entos.
(18 D a IICl', ile la V olonlc c it ., cap . 5.°, pags. 15 e 1G.
Jhering denomina objcctiva a sua escola, poiipie oIla d;i, como traço difleroncial entre a p e ste o a detenção, uma di-posi<,Ao «lo direito positivo ; subjectiva - a de Sovigny, por assentar essa ditíorença apenas i:a vontado do possuidor. (Vido oy'. c it., cap. II. pap. 0).
(1) Vitln e scrip lo ie s citados, no § I ", notas 7 c 11 (2) V iile ih iilc v ), notas 7 a 12.
(3) V id e ib id c m , nolas í) a 13. (4) Vide ibidem , nolas 10 a lti.