• Nenhum resultado encontrado

Sessão I: A crise da unidade europeia, o que devemos fazer?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sessão I: A crise da unidade europeia, o que devemos fazer?"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

Discurso de S. EXA a PAR na Conferência de Presidentes de Parlamentos da União Europeia

Sessão I: “A crise da unidade europeia, o que devemos fazer?”

Varsóvia, Polónia, 20 de abril de 2012

Senhora Presidente da Dieta Polaca, Senhor Presidente do Senado Polaco, Senhor Primeiro-Ministro Donald Tusk,

Senhores Presidentes dos Parlamentos da União Europeia,

As minhas saudações a todos. E os meus agradecimentos por uma recepção tão amável, nesta cidade de Varsóvia.

1. Encontramo-nos num momento difícil, um momento de crise da União.

A capacidade das nossas instituições democráticas nacionais e a estrutura do nosso longo projecto europeu, no sentido de uma unidade política e económica, estão a ser submetidas a um duro teste.

A crise atinge, mesmo, momentos de tal incerteza sobre o futuro, que já fez erguer o fantasma da não sobrevivência da zona euro e, mesmo, da não sobrevivência da União Europeia.

(2)

Uma coisa é certa. O nosso destino, a paz e o sucesso de cada um de nós, só se pode construir sobre uma União Europeia forte e dinâmica, assente numa visão de mundo de longo alcance, numa estratégia política e moral coerente. As memórias dolorosas da história do país que nos acolhe fazem-nos compreender isso mesmo. Trago, assim, para o debate de hoje, vários temas, suscitando a urgência de uma profunda reflexão:

2. Primeiro, a verdadeira natureza da crise que enfrentamos não pode ser simplesmente traduzida como a “crise da dívida soberana". A crise é sistémica. Precisa, por isso, de um olhar crítico e sistémico.

2. 1. A razão da crise não está só na má gestão orçamental e fiscal de alguns Estados Membros, nem pode ser imputada apenas a um grupo de governos. A crise é o resultado de várias causas complexas e intrincadas:

a. A arquitectura incompleta da União Económica e Monetária (UEM), desde o seu nascimento no Tratado de Maastricht;

b. A falta de uma base política coerente para essa arquitectura;

c. A estratégia separada dos governos da União em matérias centrais como a energia;

d. A falta de unidade da política externa;

e. A incapacidade de a Europa olhar o mundo pela janela do seu soft power, fazendo valer os direitos fundamentais na Organização Mundial do Comércio;

f. A ausência de uma vinculação virtuosa do comércio livre aos direitos sociais e à sustentabilidade ambiental.

(3)

Tantos problemas que nos ameaçam o futuro. Que nos desafiam para uma acção como “algo de verdadeiramente novo”, para citar H. Arendt. Um desafio que é um desafio de coerência também. Cito Helmut Kohl que, uma vez, em 1991, disse no Bundestag que construir uma união económica e monetária sem uma união política que pudesse servir de base e apoio, seria um esforço arriscado com sérias ameaças para o futuro.

2.2. A crise deve-se também ao colapso de uma responsabilidade partilhada, no que deveria ser a regulação e supervisão financeiras pelas instituições nacionais e europeias. A crise deve-se ainda ao não cumprimento – logo nos primeiros anos da entrada em vigor do Euro como moeda comum - pela maioria dos governos europeus do “Pacto de Estabilidade e Crescimento” (1997).

2. 3. O novo “Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária” não resolverá definitivamente a crise. É verdade que a disciplina financeira é parte de uma estratégia de sucesso.

Mas limitar a crise a este domínio é um mau diagnóstico. A Europa precisa de ambição em todas as frentes. Precisa de empregos e de políticas de desenvolvimento sustentável. Precisa de estabelecer políticas contra cíclicas à escala europeia, orientadas contra o impacto sócio-económico negativo da austeridade. Porque a austeridade tem um incontornável impacto social e económico negativo. Precisamos, por isso, de reformas políticas económicas urgentes que restabeleçam a confiança dos mercados e dos cidadãos.

2. 4. A política como poder programante tem esta virtualidade de multiplicação do bem e do mal. Se não nos dermos conta das razões que nos ligam, se não pusermos em marcha o exercício de uma vontade moral de unidade, as consequências serão devastadoras para todos.

(4)

passou a uma crise de confiança nas instituições e, em particular, nas instituições europeias, mergulhando-nos numa curva crescente para um sentimento de anemia democrática.

É aqui que se reenquadra o papel dos Parlamentos Nacionais. No plano formal da comunicação política, de acordo com as regras dos Tratados. Mas também no plano republicano e informal da comunicação política, como receptores e produtores de uma opinião política verdadeiramente europeia. A crise transporta, na verdade, sempre o elemento de emoção e de confiança em que tudo se faz ou se desfaz. Como muito bem lembrou o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Senhor Radek Sikorski, no seu discurso de Novembro de 2011, em Berlim:

“A conclusão inevitável é que esta crise não tem somente a ver com a dívida, mas em primeiro lugar tem a ver com confiança e, mais precisamente, com credibilidade”.

3. O preço em termos de sofrimento humano, derivado de perturbações económicas e sociais, será tremendo. Nenhum Estado está em condições de enfrentar sozinho os desafios que são colocados para o futuro. Das alterações climáticas à escassez de recursos energéticos, da degradação ambiental à defesa militar, ou ao desenvolvimento sustentável das empresas e do emprego. Só uma Europa forte, integrada e orientada para uma intensa integração política poderá encontrar a medida certa para uma existência digna.

Gostaria, ainda, de relembrar as recentes propostas do Conselho de Peritos Económicos Alemão (Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung), com a sugestão de uma estratégia integrada para enfrentar o problema da dívida soberana. Através de um pacto de resgate – “Redemption Pact” (Schuldentilgungspakt), curiosamente baseado na experiência do federalismo americano do tempo de George Washington.

(5)

4. Nós, os representantes dos povos da Europa, temos a obrigação política e moral de dar consequência aos poderes que nos atribui o Tratado de Lisboa – mas, também, em tempos de crise, devemos ainda assumir os poderes implícitos que nos vêm da nossa legitimidade e que poderão dar sentido a normas como o Artigo 13.º do Tratado Orçamental (participação no debate sobre políticas orçamentais).

Neste momento, exige-se-nos uma interpretação desenvolvida dos papéis dos Parlamentos Nacionais. Os Parlamentos Nacionais não são apenas os guardiões da subsidiariedade, eles são em primeira linha os guardiões dos valores europeus. O que se pede à sua legitimidade fundamental é um empenho para uma Europa humana, progressiva e integrada. Os Parlamentos nacionais deveriam criar mais oportunidades para produzir opiniões institucionais dirigidas ao centro político europeu e ao grande público.

Faço aqui a recepção das perguntas deixadas pelo texto de base que a Presidência Polaca ofereceu a este tema. E gostaria de acrescentar outras mais:

1. As recentes medidas para a crise devem ser ligadas a uma perspectiva de revisão dos tratados? Devemos ou não dar um horizonte às medidas ocasionais?

2. Quais deveriam ser as principais prioridades num processo a longo prazo que vise uma revisão dos Tratados? Estaremos perante um risco de fragmentação dos tratados existentes, e até, o risco de conflito entre os novos tratados (o Tratado Orçamental e o Mecanismo Europeu de Estabilidade) e o Tratado de Lisboa?

3. Precisa a Europa de se dotar de uma nova arquitectura institucional europeia?

(6)

4. Como enfrentaremos os problemas da capacidade funcional da nossa democracia de larga escala? Como tirar partido das novas tecnologias, como ensaiar formas de descentralização?

5. Como podemos melhorar a qualidade da governação democrática nas instituições europeias e nos procedimentos europeus?

6. Como intensificar o escrutínio parlamentar do conselho europeu e do conselho de ministros?

7. Como podemos nós, os parlamentos nacionais, contribuir para preservar o papel de liderança da UE como força de paz, como potência democrática, capaz de responder (nos princípios do rule of law) aos desafios globais, tais como as alterações climáticas e a vinculação virtuosa do livre comércio à defesa dos direitos humanos e de sustentabilidade ambiental?

8. Como podemos nós desenvolver uma estratégia unitária de defesa de recursos comuns no quadro de uma relação externa, com o mundo, nomeadamente em relação com as potências económicas emergentes? Também este tema nos devolve para a crise da unidade da união.

Quero deixar, em jeito de conclusão, algumas reflexões mais.

- Devemos tentar uma harmonia de normas e uma economia de meios. Evitar a confusão ptolomaica de um sistema normativo de círculos sobrepostos. Devemos dar lugar à esperança no lugar do medo. Mesmo quando isso implica modificar as nossas Constituições. A melhor maneira de resolver os problemas é não os ignorar. Devemos fazer aqui uma aproximação pragmática. A legitimidade fundamental dos parlamentos nacionais dá-lhes possibilidades para um amplo papel.

(7)

cumprirmos bem as nossas tarefas, os governos não serão deixados sozinhos no centro europeu a decidir por nós.

- O nosso poder constitucional. A Europa é fundada sobre uma convergência constitucional. A Europa pode ser trazida a uma maior integração, se necessário, através de uma acção constitucional dos parlamentos nacionais.

- Nós somos os primeiros fazedores de opinião. Devemos produzir posições institucionais, em reuniões como esta, relacionadas com os desafios europeus mais fortes. O impulso para um salto em frente da Europa cabe, em primeira linha às suas lideranças. Antes dos soldados, são os generais quem ganha as batalhas. Os parlamentos nacionais têm de ultrapassar uma limitada perspectiva nacional e ganhar uma ampla perspectiva europeia.

Às vezes, a soberania bem parece ser uma forma de expressão colectiva do egoísmo. Mas o egoísmo não nos leva a nada.

O caminho para uma união de povos é condição de realização da nossa humanidade transversal, caminho que nos abriu o pensamento iluminista, recebido nos nossos valores.

Referências

Documentos relacionados

O mesmo pode ser relatado por Luz & Portela (2002), que testaram nauplio de Artemia salina nos 15 pri- meiros dias de alimentação exógena para trairão alcançando

Ao se comparar tentativa e suicídio segundo sexo, verifi- cou-se significância estatística (p = 0,008), conforme tabela 1, para o fato de as mulheres terem cometido mais tentativas

Não existem dados clínicos disponíveis para pacientes com alteração hepática grave (Child Pugh C) (ver itens “Contra-indicações” e “Características Farmacológicas”). -

AMU Análise Musical MTOB Música de Tradição Oral Brasileira. AMUA Análise Musical Avançada MUSITEC Música

Box-plot dos valores de nitrogênio orgânico, íon amônio, nitrito e nitrato obtidos para os pontos P1(cinquenta metros a montante do ponto de descarga), P2 (descarga do

No entanto, quando se eliminou o efeito da soja (TABELA 3), foi possível distinguir os efeitos da urease presentes no grão de soja sobre a conversão da uréia em amônia no bagaço

o34eto es'ec-9ico de estdo, elas ser/o reto0adas na discss/o do contedo da Didática descrito 'or 'ro9essores

Outros alunos não atribuíram importância a Química, não apresentando exemplos do seu cotidiano, o que gera preocupação, pois os sujeitos da pesquisa não