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Clipping SCA. Data de Criação: 09/05/2019. Criado por: Biblioteca. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

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Data de Criação: 09/05/2019 Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

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Sumário das

Matérias:

EUA e China vão infringir regra da OMC Valor – 09 de maio...01

Estados ampliam benefícios, mas receita cresce abaixo da renúncia

Valor – 09 de maio...03 Decreto libera porte de arma para políticos e caminhoneiros

Valor – 09 de maio...06

STF decide estender imunidade para deputados estaduais Valor – 09 de maio...09

Maior parte das transferências do Estado não atinge pobres

Valor – 09 de maio...11

Petrobras divulga em junho modelo de venda do refino Valor – 09 de maio...13

MP-AL insiste em bloqueio de R$ 6,7 bi da Braskem Valor – 09 de maio...16 Gerdau investe R$ 400 milhões em MG Valor – 09 de maio...18 STJ define prazo para cobrança de sócios e administradores

Valor – 09 de maio...20 STF libera uso de aplicativos de transporte Valor – 09 de maio...22 Fazenda não pode ajuizar rescisória

Valor – 09 de maio...24 Concessões e passivos ambientais

Valor – 09 de maio...26 Concessões e passivos ambientais

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Valor – 09 de maio...29

Bolsonaro extingue mais de 50 conselhos e colegiados criados nos governos do PT

Folha – 09 de maio...32

Supremo derruba leis municipais e libera aplicativos de transporte

Folha – 09 de maio...34

Novas normas preveem mais rigor em licenciamento e crime de ecocídio

OESP – 09 de maio...36 Barragens são alvos de processos da Aneel e ANA OESP – 09 de maio...38 Justiça paulista garante a permanência de aviões da Avianca Brasil

Globo – 09 de maio...40 Governo inclui mais 59 projetos em Programa de Parcerias de Investimentos

Globo – 09 de maio...42 Não cabe ação rescisória baseada em precedente posterior, define STJ

Conjur – 09 de maio...44

STJ exclui multa ambiental milionária contra Ipiranga por derramamento de combustível

Migalhas – 09 de maio...46 Receita tornará obrigatória a declaração de operações com criptoativos

JOTA – 09 de maio...48 STJ conclui julgamento de repetitivo sobre redirecionamento de dívida a sócios

JOTA – 09 de maio...50 TJMT: responsabilidade ambiental é objetiva, mas comprovação de dano é necessária

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página, quinta-feira 09 de maio de 2019.

EUA e China vão infringir regra

da OMC

Por Assis Moreira | De Genebra

EUA e China vão atropelar a Organização Mundial do Comércio com ou sem acordo entre eles até amanhã, o que deve manter o clima de tensão na economia global. Se não houver acordo, a sobretaxa de 25% anunciada por Trump vai superar o limite permitido para vários produtos. Se houver, um sistema de solução de controvérsias bilateral também vai ferir o sistema multilateral.

Com ou sem acordo, China e

EUA atropelam regra da OMC

Por Assis Moreira | De Genebra

Os EUA e a China vão atropelar regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) com ou sem acordo entre eles até amanhã, o que deve manter um clima de tensão na economia global. Se não houver acordo, o governo de Donald Trump ameaça impor tarifas adicionais de 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses importados pelos EUA, além de abrir investigação para sobretaxar outros US$ 325 bilhões.

Isso deve violar as regras da OMC, porque Washington tem um limite consolidado para aumentar tarifas. A média de alíquotas americanas é de

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3%, e adicionar outros 25% deve ficar na ilegalidade em vários produtos. "É uma burrice", diz Fernando de Mateo, professor de comércio internacional do Colégio do México e ex-embaixador mexicano junto à OMC.

A China, uma vez atingida pelos EUA, promete retaliar, o que também deve atropelar regras da OMC. "É outra burrice", diz Mateo.

Já se houver um acordo, um dos itens deverá ser um sistema de solução de controvérsias bilateral, do qual os outros países evidentemente ficam excluídos, e o sistema multilateral é ignorado.

"O grande problema dos americanos tem sido como obrigar a China a respeitar seus compromissos e, no caso contrário, adotar represálias. E a China quer fazer o mesmo", diz o professor.

Outra questão é como um eventual acordo será ajustado para a China se comprometer a comprar produtos americanos, em detrimento dos demais parceiros - isso fere uma regra básica da OMC, de que o tratamento dado a um país tem de ser estendido aos outros.

O desvio de comércio parece inevitável, elevando o dano que já vem ocorrendo pela violação de regras globais desde que o governo de Donald Trump impôs sobretaxa às importações de aço, com retaliação por parte de vários parceiros.

Para alguns especialistas, Washington e Pequim podem acertar regras não escritas de preferências no tratamento de questões como barreiras técnicas ou barreiras fitossanitárias, que são

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cada vez mais importantes na restrição de fluxos comerciais.

No caso da China, basta ver a recente restrição à entrada de canola do Canadá. Os canadenses exportam o produto para 27 países, mas só os chineses bloquearam agora sua entrada, num exemplo de como barrar importações.

As ameaças de Trump contra a China são vistas por negociadores como uma tática negociadora que é sustentada pelo bom estado da economia americana e pelo cenário eleitoral nos EUA.

Mas Trump, mesmo sendo famoso por dizer tudo e o contrário, pode ter dificuldade de voltar atrás em tão pouco tempo e fechar um acordo com os chineses em bases não ambiciosas. Como observa uma importante fonte, a imposição por Washington da tarifa adicional de 10% sobre importações chinesas foi compensado por Pequim com a desvalorização da moeda chinesa.

Mas aumentar a sobretaxa para 25%, e ainda ameaçar punir o resto das exportações chinesas, representará uma efetiva declaração de guerra, com impacto devastador para a economia global que já não se mostra muito sólida.

02 Se as duas maiores economias do mundo abandonarem o diálogo, um tema afetado imediatamente será a tentativa de reforma da OMC. É uma reforma considerada necessária, tanto para regular a atuação do Órgão de Apelação da entidade como para enquadrar os subsídios chineses à produção.

https://www.valor.com.br/internacional/6246655/com-ou-sem-acordo-china-e-eua-atropelam-regra-da-omc

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

Estados ampliam benefícios,

mas receita cresce abaixo da

renúncia

Por Marta Watanabe | De São Paulo

De 2012 a 2018 a renúncia fiscal dos Estados cresceu 15,3% em termos reais, enquanto a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aumentou apenas 2,2% no mesmo período. Os dados se referem ao agregado de 18 Estados mais o Distrito Federal que representam 92% da arrecadação nacional do tributo. Nesse universo, o ICMS renunciado em relação ao recolhimento total do imposto subiu de 16,5% em 2012 para 18,6% no ano passado.

Os dados constam de levantamento feito pela economista Vilma Pinto, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Os dados de renúncia, explica, foram retirados de informações fornecidas na Lei de Orçamento Anual (LOA) ou na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) dos Estados. A renúncia se refere ao ICMS e contempla o valor que deixou de ser arrecadado no ano como resultado de novos benefícios ou de incentivos concedidos anteriormente. Nos 19 entes, o valor renunciado atingiu R$ 83,1 bilhões em 2018. O levantamento foi feito a pedido da Federação Brasileira de Associação de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite).

03

Vilma salienta que as renúncias tributárias do ICMS possuem, em sua maioria, uma motivação diferente da tradicional, pois esta é dada em boa parte pela guerra fiscal. Assim, os Estados criam incentivos para aumentar a competitividade da sua região em relação às demais, mas sem avaliar os efetivos impactos de cada medida. O que surpreende, diz Vilma, é a falta de avaliação dos benefícios. "A inexistência de avaliação desses incentivos acaba por não permitir conhecer os custos versus benefícios das renúncias concedidas", diz a economista.

Os dados mostram, segundo Vilma, que os gastos tributários de ICMS possuem como motivação a atração ou a manutenção de empresas em seu território, e não uma política pública com motivação econômica justificável, transparente e com avaliação prévia de seus efeitos. "A utilização desse instrumento para a guerra fiscal provocou um aumento acelerado dos incentivos fiscais, sem igual contrapartida nos recursos efetivamente arrecadados." Vilma lembra que o período de 2012 a 2018 contempla o biênio 2015/2016, de recessão. Por isso o avanço da renúncia em alguns entes se deu também porque houve um ritmo menor de crescimento das receitas. Em alguns casos, o nível de renúncia avançou também por que a arrecadação caiu em termos reais. No Rio de Janeiro, a receita de ICMS recuou 6,7% de 2012 a 2018. Dos 19 entes analisados, em 12 houve elevação do

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valor de renúncia em relação ao total de ICMS arrecadado no período.

Goiás é um dos Estados com maior relação entre renúncia e receitas. Cristiane Schmidt, secretária da Fazenda goiana, diz que para este ano os benefícios de ICMS somam R$ 8 bilhões, o que representa 50% da arrecadação do imposto, estimada em R$ 16 bilhões. Boa parte dos incentivos é oferecida para a indústria e para o comércio atacadista. "É muita coisa", diz ela.

Segundo Cristiane, o Estado de Goiás deve fazer uma revisão dos benefícios oferecidos atualmente. A avaliação, explica, será feita em conjunto com o setor produtivo. "Não podemos rasgar contratos nem temos intenção de quebrar empresas", diz. O Estado, ressalta ela, precisa encaminhar três questões prioritárias: a despesa com ativos, com inativos e a parte tributária, dada pelos incentivos fiscais. No último item, diz ela, a mudança da tributação sobre consumo para o destino, da forma como tem sido proposta pelo projeto de emenda constitucional encaminhado pela Câmara dos Deputados, certamente é importante. George Santoro, secretário da Fazenda de Alagoas, também diz que a reforma do ICMS é o caminho para resolver o assunto. Em relação ao Estado, diz ele, os dados mostram aumento da participação dos incentivos porque ao longo do tempo o governo passou a mensurar com maior precisão a renúncia relacionada aos benefícios, o que fez elevar os valores declarados nos relatórios.

04 O economista José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), lembra que os Estados são responsáveis pela apuração da renúncia e provavelmente não seguem todos a mesma metodologia. "Na verdade, falta um manual comum para medir renúncias, que seria mais uma atribuição do Conselho de Gestão Fiscal da LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal]." O economista defende a instauração do conselho com atribuição de garantir a uniformização das contas públicas dos Estados. A mudança de critério na forma de apuração da renúncia no decorrer dos últimos anos, diz ele, pode ter afetado os resultados em alguns Estados.

Santoro lembra que a Lei Complementar 160/2017, que permitiu a convalidação dos incentivos fiscais irregulares de ICMS, amenizou um pouco o cenário de guerra fiscal, já que novos benefícios não podem mais ser concedidos. A brecha que permite aos Estados a chamada "cola", reproduzindo incentivos dados por entes da mesma região, porém, diz ele, pode levar a uma nova disputa entre os Estados com redução de alíquotas do imposto, embora desta vez relacionada a benefícios oferecidos legalmente.

Vilma avalia que a solução passa necessariamente por uma reforma tributária que resulte na eliminação dos incentivos e da guerra fiscal. Caso isso não ocorra, diz ela, continuará o esvaziamento da base de incidência do ICMS, seja por questões estruturais da economia, seja por incentivos fiscais concedidos de forma desordenada.

Juracy Soares, presidente da Febrafite, diz que a saída é mudar o modelo atual do ICMS nos moldes do que tem sido discutido, com a criação de um imposto com cobrança deslocada da produção para o destino. Dessa forma, diz Soares, seria possível estabelecer uma alíquota única e assim acabar com a guerra fiscal. Para Soares, qualquer movimento que reduza o

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custo de compliance, trazendo simplificação, transparência e segurança jurídica, é bem-vindo, mesmo que as mudanças sejam parceladas. Não é necessário, diz ele, que as mudanças sejam feitas de uma só vez, numa única reforma.

https://www.valor.com.br/brasil/6246623/estados-ampliam-beneficios-mas-receita-cresce-abaixo-da-renuncia

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

Decreto libera porte de arma

para políticos e caminhoneiros

Por Raphael Di Cunto, Isadora Peron, Carla

Araújo e Marcelo Ribeiro | De Brasília

Bolsonaro: presidente quebrou monopólio da Taurus, mas pediu a Guedes que crie proteção para indústria nacional

Publicado ontem no "Diário Oficial da União", o decreto do presidente Jair Bolsonaro para flexibilizar o porte de arma de fogo foi bem mais amplo que o inicialmente divulgado pelo governo e causou polêmica com o Congresso e especialistas. Bolsonaro autorizou que várias categorias profissionais andem armadas nas ruas, como políticos eleitos, caminhoneiros, advogados e jornalistas, liberou a compra de armamento de potência mais alta, até então restritos a policiais e o Exército, e permitiu que crianças e adolescentes pratiquem tiro em clubes sem autorização judicial - basta o aval de um dos responsáveis.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, passou a tarde

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de terça-feira no Palácio do Planalto negociando o texto, mas sinalizou ontem que foi voto vencido na versão final do decreto e que o porte de armas "não é uma política de segurança pública". "A flexibilização da posse e porte é política do

presidente da República e

corresponde a uma promessa eleitoral. O presidente falou que não é política de segurança pública, mas que visa a atender aos anseios de parte de seus eleitores de uma flexibilização da política", disse Moro, que classificou como normais "divergências" dentro do governo. O ministro disse, porém, que o decreto impõe limites à compra de armas pela população. "Acho que tem medidas extremamente relevantes, como a menção de cassar o porte e posse de quem enveredou para o caminho do crime, a questão do domínio rural parece uma questão razoável. Não é um decreto que simplesmente libera por completo, existem requisitos", disse.

O decreto ainda acaba com o monopólio da Taurus, ao permitir a importação de armas mesmos se houver modelos similares fabricados no Brasil. Apesar disso, o presidente disse que conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que a indústria nacional não seja prejudicada. "Falei com Guedes para tratarmos da questão de impostos sobre as armas importadas, para que não sejam mais baratas que as nacionais. Objetivo não é criar barreira para a importação, mas não queremos prejudicar a indústria nacional", disse.

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Partidos de oposição e até que votam junto com o governo rotineiramente, como o Cidadania, decidiram ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto, que na opinião deles é inconstitucional porque iria além da regulamentação do Estatuto do Desarmamento e confrontaria a lei, juridicamente superior ao decreto. O Psol apresentou um projeto de decreto legislativo para revogar o decreto - o que depende de votação nos plenários da Câmara e do Senado. Dentro do governo, avalia-se questionar a capacidade de o Congresso de sustar os decretos caso essa iniciativa avance.

A principal crítica é liberar o porte de armas para 18 categorias profissionais sem que precisem justificar "efetiva necessidade", o que é exigido hoje. Ainda será necessário cumprir outros requisitos: ter no mínimo 25 anos, não possuir antecedentes criminais e comprovar capacidade técnica e psicológica.

Os favoráveis defendem que a decisão dependia do humor de delegados da Polícia Federal e que havia rejeições injustificadas. Já os contrários questionaram que a liberação provocará mais mortes e cabia ao Legislativo decidir. Um dos exemplos é que os agentes de trânsito, uma das profissões que terá direito pelo decreto, teve o porte aprovado pelo Congresso, mas vetado pelo ex-presidente Michel Temer.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), evitou se posicionar antecipadamente e pediu à consultoria legislativa um estudo sobre a constitucionalidade do decreto e se ele "não avança nas prerrogativas que são do Poder Legislativo". Ele lembrou, porém, que

07 Bolsonaro foi eleito com a agenda de flexibilização das armas.

O presidente atropelou negociação com o próprio Maia e liberou a posse de arma dentro de toda a extensão da propriedade rural - projeto que Maia tinha pautado no plenário da Câmara. https://www.valor.com.br/politica/6246577/decreto-libera-porte-de-arma-para-politicos-e-caminhoneiros

Para juristas, alterações só

poderiam ser feitas por lei

Por Zínia Baeta e Laura Ignacio | De São

Paulo

O Decreto nº 9.785, que trata do registro, posse e porte de armas de fogo no Brasil, publicado hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, é considerado ilegal e inconstitucional por especialistas.

Para juristas, o decreto cria previsões que estão além do que estipula o Estatuto do Desarmamento - Lei nº 10.826, de 2003. Por esse motivo, tais alterações só poderiam ser feitas por lei.

"O presidente está alterando uma política pública e a finalidade do Estatuto do Desarmamento por meio de um decreto, quando o correto seria a discussão passar pelo Congresso", afirma o doutor em direito constitucional e professor do IDP em

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Brasília, Ademar Borges. Ele acrescenta que o Estatuto do Desarmamento, como o próprio nome indica, tem o claro objetivo de reduzir o número de armas no Brasil, e o decreto faz justamente o oposto. A mesma ideia é compartilhada pelo advogado criminalista Eduardo Reale. "Uma ampliação do que consta do estatuto teria que ser feita por meio de outra lei", afirma. "Além do mais, o governo federal estimula o uso de armas, sem prever como isso seria fiscalizado. E sabemos que a estrutura para isso é inexistente."

Para Ricardo Maffeis, do Siqueira Castro Advogados, é importante que isso fosse feito por meio de lei porque é no Congresso Nacional que são feitos os debates públicos, com a participação da sociedade. "Já tivemos até plebiscito sobre o tema, de modo que mudar via decreto, sem nenhuma discussão com a sociedade, não é o ideal."

O criminalista Renato Vieira, mestre em direito constitucional e processual penal e sócio do Kehdi e Vieira Advogados, afirma haver clara inconstitucionalidade no decreto, ao inovar em matéria que deve ser objeto de previsão específica da lei. O artigo 6º da Lei 10.826, por exemplo, estabelece situações de proibição de porte de arma de fogo no território nacional, e só admite exceção em caso de legislação própria. "O Decreto 9.785, no artigo 20, caminha na lógica da permissão para pessoas que não se enquadravam na exceção à proibição prevista na lei." Estão entre elas os oficiais de justiça, advogados, profissional de imprensa que atue em cobertura policial e agentes de trânsito.

Além disso, acrescenta, chega-se ao ponto de se alterar a política criminal

08 vigente. Para ele, se antes a área de segurança pública era a responsável por autorizar o porte de armas, pelo decreto não há qualquer vínculo entre a segurança pública e a autorização para portar arma.

O professor de criminologia da USP Mauricio Dieter entende que o decreto traz clara violação às competências do Poder Legislativo pelo Poder Executivo. "Por meio do decreto, o Executivo transforma a regulamentação em um ato arbitrário, o que significa a violação da lei para a realização de um ato de vontade". O professor ainda reflete sobre o impacto da nova norma sobre a segurança pública, provocando outras ilegalidades. "Temos um problema grave no Brasil, que são policiais militares fazendo bico de segurança. Com a permissão de porte de arma para soldados e cabos das Forças Armadas, isso pode se multiplicar." O mesmo efeito pode decorrer da ampliação da possibilidade de compra de mil cartuchos por ano para uso pessoal, segundo o especialista em direito penal. "Certamente, com o fim do atual governo, essa medida será alterada e se tornará ilegal, o que deverá despejar milhares de cartuchos no mercado negro de armas", diz Dieter.

A extensão do conceito de residência também é criticado pelo advogado. "Antes, pessoa comum podia ter porte dentro da residência, para se proteger. Agora isso vale para toda a extensão do imóvel, autorizando que a pessoa circule por toda propriedade armado", afirma.

https://www.valor.com.br/politica/6246579/para-juristas-alteracoes-so-poderiam-ser-feitas-por-lei

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Valor Econômico

Caderno: Politica, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

STF decide estender

imunidade para deputados

estaduais

Por Mariana Muniz e Cristian Klein | De

Brasília e do Rio

Por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que as Assembleias Legislativas podem revogar a prisão de deputados estaduais. Com a maioria de votos formada por uma mudança no voto do presidente da Corte, Dias Toffoli, o plenário entendeu que são aplicadas aos parlamentares estaduais as mesmas imunidades existentes para senadores e deputados federais. A Constituição diz que deputados e senadores só podem ser presos em flagrante de crime inafiançável e que a Câmara ou o Senado podem anular a prisão. O debate, que começou em 2017, girava em torno de saber se a mesma imunidade se aplicaria aos deputados estaduais.

Numa reviravolta, Toffoli alinhou-se ao posicionamento encampado pelo ministro Marco Aurélio Mello, para quem a Constituição, ao fixar mandato de quatro anos aos deputados estaduais, determina que são aplicáveis a eles as mesmas regras

sobre sistema eleitoral,

inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença e impedimentos. Antes, ele havia votado no sentido contrário.

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Também votaram a favor da extensão da imunidade parlamentar a deputados estaduais os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.

A ação analisada pelo Supremo ontem

questionava dispositivo da

Constituição do Rio Grande do Norte que estabelecem que os deputados estaduais não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nos demais casos, a Assembleia Legislativa deliberaria sobre a prisão e até determinação a sustação de denúncia.

Até o início do julgamento, havia maioria formada para definir o contrário do que acabou sendo decidido. Primeiro a votar hoje, o ministro Luís Roberto Barroso se alinhou à corrente iniciada pelo ministro Edson Fachin - segundo a qual medidas cautelares, como a prisão, não estão sujeitas à submissão das assembleias.

No Rio de Janeiro atualmente há cinco deputados estaduais presos, que não são beneficiados de forma automática pela decisão do Supremo. André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinícius Neskau (PTB) e Chiquinho da Mangueira (PSC), este último em prisão domiciliar, teriam que impetrar recurso e os casos seriam examinados individualmente pela Justiça. Um sexto deputado, Anderson Alexandre (Solidariedade), já esteve preso por suposto crime eleitoral, foi solto mas segue afastado das funções parlamentares.

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Ontem, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro divulgou nota para frisar que a Casa não votará a soltura dos deputados estaduais presos. "O presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano (PT), afirmou que não colocará em pauta eventual pedido de

suspensão da prisão dos

parlamentares afastados pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Ceciliano afirma que qualquer mudança na situação desses parlamentares deve ser buscada por seus advogados de defesa. 'O plenário não vai enfrentar essa questão dos deputados diplomados pelo TRE e afastados pela Justiça', garantiu", diz a nota.

https://www.valor.com.br/politica/6246563/stf-decide-estender-imunidade-para-deputados-estaduais

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

Maior parte das transferências

do Estado não atinge pobres

Eficiência fiscal e gasto inteligente poderiam evitar má alocação e desperdícios de 3,9% do PIB, ou US$ 68 bilhões, ou 9,1% do gasto total do Brasil, segundo estudo recém-lançado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), "Melhores gastos para melhores vidas". Não é pouco dinheiro nem se trata apenas de dinheiro. Um ajuste fiscal que devolvesse às finanças públicas seu

equilíbrio no Brasil é

aproximadamente dessa ordem, isto é, de 4 pontos percentuais do PIB. Os diagnósticos e as sugestões apresentadas pelo banco merecem ser aproveitadas e o momento é mais que propício: o governo tenta reformar a previdência e cobiça uma reforma tributária de grande ambição.

O estudo do BID aponta vários vícios das políticas econômicas e fiscais que são comuns na América Latina e Caribe. A tendência dos governos é priorizar gastos correntes em detrimento dos investimentos de longo prazo. Com isso, o investimento público despencou vis a vis as despesas correntes em toda a região. Além disso, a expansão de gastos deveria ocorrer em tempos ruins, quando, na verdade, são cortados. Uma política expansionista deveria ser posta em ação nesses casos via despesas de capital, isto é,

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investimentos, cujos efeitos multiplicadores são muito maiores que os das despesas correntes. Na região e no Brasil, faz-se o contrário. Nas épocas de bonança, como durante o boom de commodities, as despesas aumentam, em geral com salários e outras despesas que se tornam permanentes e que não são suprimidas em retrações - os investimentos são a vítima principal. No Brasil, Argentina e Uruguai as despesas com previdência social tornaram-se, segundo o BID, fortemente pro-cíclicas, "pois as reformas alteraram perversamente a forma como os benefícios são indexados, usando fatores pro-cíclicos subjacentes como crescimento do produto, receitas fiscais e salários". Os dados do estudo corroboram a necessidade inadiável da reforma previdenciária. O Brasil tem o mais alto gasto da América Latina e dispende 7 vezes mais com a população idosa do que com os mais jovens (a média da região é de 4 vezes). Com o nível atual de despesa, em 2065 a previdência consumiria 138% do orçamento.

Em geral, os gastos com previdência somam dois terços das transferências nos países da região. No Brasil 75% das transferências de recursos públicos são classificadas como "pró-ricos", isto é, não atingem seu alvo principal. O estudo dá o norte: "Gasto público não é apenas uma questão de eficiência, mas também de equidade". Nesse quesito, o país vai mal. Impostos diretos e programas de transferência de renda às famílias reduziram a desigualdade em média em 8,3%, eficiência muito menor que os 38% da média de uma amostra de países desenvolvidos, com um detalhe - o Brasil tem gastos semelhantes a

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eles em proporção do PIB. O país é o que mais realiza gastos sociais na América Latina, 25% do PIB, atrás apenas da Argentina.

A composição das receitas no Brasil também não ajuda seu uso mais eficiente. 49% do gasto dos governos subnacionais, ou 9,9% do PIB brasileiro, são financiados via transferências intergovernamentais e, segundo o BID, estudos empíricos mostraram que fatia maior de transferências - em relação à receita com impostos locais - tende a propiciar "maior nível em salários, e menores níveis de eficiência na provisão de serviços e infraestrutura básica". O Bolsa Família se sai bem na maré de desigualdade incentivada pela despesa pública - só 20% dos que recebem o benefício não deveriam recebê-lo.

O banco faz sugestões sobre os três componentes básicos de avaliação da eficiência técnica dos gastos públicos. Primeiro, é possível economizar, ganhar transparência e minimizar fraudes nas compras do governo por meio de licitações digitais, como o Comprasnet. O estudo avalia que entre 10% a 30% do dinheiro destinado a obras civis de projetos com recursos públicos somem por corrupção.

O segundo item é dos custos com salários dos servidores, que na região são 25% maiores que os pagos pela iniciativa privada (no Brasil, o dobro disso). A solução é implantar um sistema meritocrático e rever a estrutura de salários e carreiras do funcionalismo.

12 Por fim, há o custo com subsídios e transferências. O estudo nota que as isenções fiscais são as mais propensas a vazamentos, isto é, a serem capturadas pelos ricos. É necessário criar sistema de avaliação de todas as políticas públicas, mensurar seus resultados, eliminar subsídios e isenções que não favoreçam a equidade e priorizar os projetos com maior impacto social comprovado. https://www.valor.com.br/opiniao/6246611/maior-parte-das-transferencias-do-estado-nao-atinge-pobres

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

Petrobras divulga em junho

modelo de venda do refino

Por Rodrigo Polito e Juliana Schincariol | Do

Rio

Castello Branco, presidente da Petrobras, descartou a participação da BR Distribuidora no processo de venda das refinarias

A Petrobras pretende divulgar em junho a oportunidade de venda ("teaser") do modelo de desinvestimento em refino. A

companhia pretende vender

separadamente as oito refinarias previstas no plano, com capacidade de processamento de 1,1 milhão de barris diários, praticamente metade da capacidade do parque de refino brasileiro.

"A ideia é termos um 'teaser' que estará no mercado no fim de junho e nós teremos o detalhamento da venda das refinarias. A ideia é fazer a venda individualmente", afirmou a diretora Financeira e de Relações com Investidores da Petrobras, Andrea Almeida, em teleconferência com analistas sobre o resultado do primeiro trimestre.

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O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, rechaçou a possibilidade de a BR Distribuidora adquirir qualquer refinaria da petroleira. Segundo ele, a tese não faz sentido. "Seria uma operação 'Zé com Zé'", referindo-se a um jargão do mercado de capitais. A meta, completou ele, é sair 100% das refinarias anunciadas.

Na terça-feira, o presidente da BR Distribuidora, Rafael Grisolia, havia afirmado, em teleconferência com analistas, que era "dever" da empresa, como distribuidora, olhar a possibilidade de aquisição de refinarias colocadas à venda pela estatal.

Castello Branco também afirmou que, tão logo seja concluída a venda de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG) para a francesa Engie e o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ), a empresa vai anunciar a venda da participação remanescente de 10% na empresa e na Nova Transportadora Sudeste (NTS), vendida para a Brookfield.

Os desinvestimentos serão

fundamentais para os planos da Petrobras, que pretende manter sua meta de desalavancagem de 1,5 vez a dívida líquida sobre o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização),

em 2020, mesmo com a

implementação da nova norma contábil IFRS 16, que, na prática, elevou em mais de R$ 100 bilhões o endividamento líquido da empresa, para R$ 372,2 bilhões, no fim do primeiro trimestre. Dessa forma, o nível de endividamento líquido da petroleira ficou em 3,19 vezes no fim de março.

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"Nossa meta de alavancagem não muda. Estamos comprometidos em desalavancar a empresa. Então o

nosso indicador de dívida

líquida/Ebtida de 1,5 está mantido, mesmo após os ajustes do IFRS", explicou Andrea.

Castello Branco diz que estatal está alinhada com o governo em relação à abertura do mercado de gás natural

No campo operacional, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, afirmou que está mantida a meta de produção de petróleo e gás natural da empresa de 2,8 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia, em 2019, mesmo com a queda de 5% da produção no primeiro trimestre, em relação a igual período anterior, para 2,46 milhões de BOE por dia.

A expectativa do executivo é baseada no crescimento ao longo de 2019 da produção de três plataformas que entraram em operação neste ano. Segundo Oliveira, no mês de maio, a produção da Petrobras está acima de 2,8 milhões de BOE diários.

Questionado sobre a perspectiva de novas paradas para manutenção de plataformas, um dos principais motivos para a queda da produção no trimestre, o diretor disse que está prevista uma quantidade maior de paradas no início do segundo semestre. Oliveira, porém, disse que essa previsão já está considerada na meta para 2019.

14 O presidente da Petrobras também disse não lamentar a perda de produção provocada por venda de ativo. "Esse desinvestimento gera recursos para uso em ativos que vão produzir um retorno muito maior para a companhia, que é o pré-sal. É simplesmente uma gestão de portfólio", afirmou ele.

Questionado sobre o plano do governo de abrir o mercado de gás natural, Castello Branco disse não ter conhecimento sobre detalhes da iniciativa e que apenas o governo poderia responder sobre isso. Sobre a recente declaração dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que havia se arrependido de ter enviado para a Petrobras o consultor responsável pelo plano que previa a abertura do mercado de gás apenas em quatro anos, Castello Branco disse que "o ministro Paulo Guedes não

colocou ninguém aqui [na

Petrobras]".

"O ministro Paulo Guedes não colocou ninguém aqui. Até hoje, ninguém de fora colocou ninguém aqui. Todas as pessoas que trabalham aqui ou eram funcionários de longa data da Petrobras ou algumas poucas trazidas por mim. E os diretores foram escolhidos por mim sem interferência de ninguém", afirmou o executivo.

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Ele acrescentou que "não há resistência" dentro da Petrobras com relação ao plano de governo de abrir o mercado de gás natural. "Nós fomos voluntariamente ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] conversar exatamente sobre esse tema, no refino e no gás. Não há resistência nenhuma dentro da Petrobras. A Petrobras está perfeitamente alinhada com o governo para esse objetivo".

https://www.valor.com.br/empresas/6246405/petrobras-divulga-em-junho-modelo-de-venda-do-refino

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

MP-AL insiste em bloqueio de

R$ 6,7 bi da Braskem

Por Stella Fontes | De São Paulo

O Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública de Alagoas vão ratificar o pedido de bloqueio de R$ 6,7 bilhões da Braskem, feito em ação civil proposta no início de abril contra a petroquímica por causa do afundamento do solo em três bairros de Maceió. Além disso, pedirão na Justiça a paralisação da exploração de sal-gema (usado na produção de cloro e soda) pela companhia, atividade apontada em relatório divulgado ontem pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como causa dos eventos geológicos que provocaram rachaduras em imóveis e vias da capital.

"Vamos ratificar o pedido de bloqueio de R$ 6,7 bilhões e, mais do que isso, vamos agora ampliar o arco de responsabilidade, inclusive com o pedido de paralisação das atividades de mineração da Braskem, porque isso não pode continuar atingindo a toda uma população de forma indiscriminada", disse o procurador-geral de Justiça de Alagoas, Alfredo Gaspar de Mendonça, após a divulgação do laudo.

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Inicialmente, o relatório conclusivo, termo usado ontem pelo serviço geológico, seria apresentado em junho, mas a divulgação foi antecipada. O laudo aponta que há desestabilização das cavidades decorrentes da mineração, o que provoca a movimentação do sal e a "reativação de estruturas geológicas antigas, subsidência (afundamento) do terreno e deformações rúpteis na superfície (trincas no solo e nas edificações) em parte dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro". Esses danos na superfície são agravados pela infiltração de água de chuva e pelo aparecimento de novas rachaduras. Outra análise mostrou tremores de terra coincidentes com as minas de extração. "Pela presença majoritária de energia sísmica em forma de ondas de superfície, os pesquisadores constataram que a fonte sísmica está próxima à superfície e não se trata de um evento tectônico causado por uma falha geológica profunda", disse a CPRM em nota. Em março, após fortes chuvas, a Prefeitura de Maceió decretou estado de calamidade pública nos três bairros.

Em nota, a Braskem informou que vai analisar os resultados do relatório, "frente aos dados coletados por

geólogos e especialistas

independentes". Ao menos dois especialistas consultados pela petroquímica indicaram que uma sucessão incomum de tremores de terra reativou a falha geológica que passa por Maceió, levando aos eventos no bairro do Pinheiro.

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"Desde o início do agravamento das rachaduras e fissuras no bairro, em março de 2018, a Braskem vem colaborando com as autoridades na identificação das causas e informando com transparência e responsabilidade os estudos realizados por empresas de renome internacional", informou. A Braskem disse ainda que analisará junto com as autoridades a melhor orientação sobre suas operações locais. "A empresa possui laços com Alagoas há mais de quatro décadas e mantém seu compromisso inegociável com a sociedade alagoana", acrescentou.

Em resposta ao pedido inicial do MPE e da Defensoria, a Justiça limitou a até R$ 100 milhões o valor a ser bloqueado da Braskem, mas os órgãos recorreram da decisão. Por causa desse imbróglio judicial, o pagamento de cerca de R$ 2,7 bilhões em

dividendos propostos pela

petroquímica segue suspenso. Em 15 de abril, o desembargador Alcides Gusmão da Silva, do TJ-AL, determinou a suspensão da análise da proposta na assembleia geral ordinária que aconteceu no dia seguinte, até que o mérito do recurso apresentado pelo MPE e pela Defensoria fosse apreciado.

Ontem, o presidente do TJ-AL, Tutmés Airan de Albuquerque, disse que pretende intermediar a busca de uma solução entre Braskem e moradores atingidos. "Muita gente vai buscar os caminhos do Judiciário para responsabilizar a Braskem pelos danos, sejam materiais, sejam emocionais ou morais. Então, acho que seria importante a Braskem sentar com as pessoas que tiveram suas vidas afetadas no sentido de estabelecer a solução para esse conflito", afirmou, em nota disponível no site do TJ-AL.

17 Os trabalhos da CPRM tiveram início após um tremor de terra em março do ano passado, a pedido da Defesa Civil de Maceió. Após a divulgação do relatório da CPRM, o prefeito Rui Soares Palmeira (PSDB) usou as redes sociais para informar que a Prefeitura também vai mover ações na Justiça contra a Braskem. Em vídeo, disse que já está trabalhando com a Procuradoria do Município nesse sentido e a ideia é buscar ressarcimento aos moradores e "também para os cofres públicos". https://www.valor.com.br/empresas/6246381/mp-al-insiste-em-bloqueio-de-r-67-bi-da-braskem

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

Gerdau investe R$ 400 milhões

em MG

Por Ana Paula Machado | De São Paulo

A Gerdau vai investir R$ 400 milhões na parada do alto-forno 1 da Usina de Ouro Branco, em Minas Gerais. Segundo o presidente da companhia, Gustavo Werneck, a manutenção vai acontecer nos meses de julho e agosto deste ano.

Segundo o executivo, a parada vai demandar um estoque de 350 mil toneladas de placas e tarugos para atender os clientes da companhia neste período. Diferentemente da estratégia da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que formou o seu estoque para a parada do alto-forno em Volta Redonda comprando placas e bobinas de terceiros, a Gerdau está acelerando a produção.

"Estamos diminuindo as exportações neste ano para formar esse estoque. Além disso, 15% desse volume serão comprados de terceiros. Não está nos nossos planos a importação de aço para a formação de estoque. Já temos bastante coisa produzida", ressaltou o executivo. Com a reforma do alto-forno 1 em Ouro Branco, a Gerdau irá aumentar a capacidade de produção em 230 mil toneladas já a partir de 2021.

Os recursos para a reforma do equipamento estão no plano de investimentos da companhia de R$

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7,1 bilhões previstos para 2019 a 2021. Segundo o executivo, R$ 2,4 bilhões serão destinados ao aumento de capacidade, principalmente na unidade de aços especiais, no país e nos EUA.

"Já está em execução os investimentos

de R$ 532 milhões em

Pindamonhangaba (SP) que prevê aumento de 400 mil toneladas na capacidade atual", disse Werneck. Durante teleconferência sobre o balanço do primeiro trimestre, Werneck também falou sobre os planos da companhia para área de mineração. Conforme adiantou o Valor, a Gerdau entrou com pedido de licenciamento ambiental para uma nova mina na cidade de Itabirito (MG) que irá atender a usina de Ouro Branco.

"Ainda não anunciamos os aportes

necessários para esse

empreendimento, mas teremos uma capacidade anual de produção de 1,5 milhão de minério por cinco a seis anos [numa primeira fase]. É importante ressaltar que o minério dessa nova lavra será para atender à demanda de Ouro Branco."

Ele disse ainda que a companhia recebeu laudo de estabilidade favorável para a barragem de rejeitos da mina de ferro dos Alemães, em Ouro Preto (MG). A barragem foi construída usando o método a montante, o mesmo de Córrego do Feijão, em Brumadinho, e de Fundão, em Mariana, todas em Minas.

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Essa barragem tem capacidade armazenamento de 3,5 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, mas o volume ocupado hoje é de 2,5 milhões de metros cúbicos. "No dia 12 de março recebemos laudo de estabilidade favorável para a operação. Mas, já temos um projeto de descomissionamento dessa mina de ferro que será feito em 24 meses. O plano é passar a produzir pelo método totalmente a seco", disse o executivo, acrescentando que a outra barragem a montante, a de Bocaina, também em Ouro Preto, já está totalmente seca. Ontem, a empresa apresentou os resultados financeiros do primeiro trimestre deste ano. No período, a siderúrgica registrou lucro de R$ 449 milhões, crescimento de 1,8% em relação ao mesmo período de 2018. Já a receita líquida da companhia caiu 3,5% de janeiro a março deste ano, totalizando R$ 10 bilhões. No primeiro trimestre de 2018, a siderúrgica apresentou receita de R$ 10,38 bilhões.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda na sigla em inglês), foi de R$ 1,5 bilhão, alta de 5,6% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. A margem Ebitda alcançou 15,5%. A produção de aço bruto caiu 19,7% no primeiro trimestre, chegando a 3,34 milhões de toneladas. As vendas de aço recuaram de 22,9% para 2,98 milhões de toneladas. https://www.valor.com.br/empresas/6246401/gerdau-investe-r-400-milhoes-em-mg Retorne ao índice 19

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Valor Econômico

Caderno: Legislação & Tributos, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

STJ define prazo para cobrança

de sócios e administradores

Por Beatriz Olivon | De Brasília

Ministro Herman Benjamin: mudança de entendimento na sessão de ontem

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que o prazo de cinco anos para a prescrição de execução fiscal, em caso de redirecionamento da cobrança para sócios e administradores, começa a ser contado a partir do ato ilícito - quando ele ocorre após a citação da empresa. A decisão, por meio de recurso repetitivo, foi unânime. O processo julgado pela 1ª Seção trata de duas situações. A primeira, mais pacificada, sobre o prazo inicial para contagem dos cinco anos quando o ato ilícito acontece antes da citação da empresa. Para esses casos, o marco inicial é a citação.

O ponto mais polêmico era a situação em que os sócios e administradores praticaram ato que justifica o redirecionamento em data posterior à citação da empresa. A Fazenda pedia que, nesses casos, a prescrição começasse a ser contada a partir do momento em que tem

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ciência do ato. Os contribuintes pediam a data da prática ilícita.

O julgamento envolve a Casa do Sol Móveis e Decoração. Em 1990 foi realizada a citação da pessoa jurídica, seguida pela penhora de seus bens e concessão de parcelamento. Após rescisão por inadimplência, em 2001, deu-se a retomada do feito. Só que o pedido de redirecionamento da cobrança ocorreu somente em 2007.

O recurso analisado pelos ministros (REsp 1201993) foi proposto pelo governo de São Paulo, que, na prática, defendia a ampliação do prazo previsto no artigo 174 do Código Tributário Nacional (CTN). Para o Estado, a contagem deveria se dar em momento posterior ao dos atos de fraude.

Esse é um dos temas em repetitivo mais antigos na Corte. O processo chegou ao tribunal há quase dez anos e, no vai-e-vem das discussões, foram dez pedidos de vista - seis deles do relator, o ministro Herman Benjamin.

Em certo momento, havia cinco propostas de tese. Na sessão anterior, realizada em abril, restaram apenas duas. Uma, do relator, ministro Herman Benjamin, e outra, da ministra Regina Helena Costa. Pela proposta de tese inicial apresentada pelo relator, o prazo de cinco anos deveria ser contado a partir do momento em que a Fazenda Pública tem ciência do ilícito. Já para a ministra, a contagem começa na data do ato, ou seja, quando houver a dissolução irregular da empresa, por exemplo, ou a venda de bens ou outras práticas fraudulentas.

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Na sessão de ontem, porém, o relator decidiu alterar seu entendimento e foi seguido pela ministra Regina Helena Costa. Prevaleceu a tese de que o termo inicial do prazo prescricional para cobrança do crédito dos sócios gerentes infratores é a data da prática de ato que tenta inviabilizar o pagamento.

De acordo com o procurador Péricles Pereira de Sousa, da Fazenda Nacional, a decisão afeta seis milhões de execuções fiscais, que aguardavam a decisão. Quando o processo começou a ser julgado, acrescentou, havia o entendimento de que o prazo inicial poderia ser a citação - posição que seria a mais desfavorável ao Fisco. Por isso, considera a decisão de ontem uma "vitória parcial". "A decisão pode ser menos favorável para Estados e municípios, que têm menos recursos e mecanismos para identificar fraudes", disse.

A tese aprovada tem três itens. O primeiro afirma o prazo de redirecionamento da execução fiscal fixado em cinco anos contados da citação da pessoa jurídica é aplicável quando o referido ato ilícito previsto no artigo 135 do Código Tributário Nacional for precedente a esse ato processual.

O segundo trata do ponto principal. Diz que a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária por si só não provoca o início do prazo prescricional quando a dissolução irregular for a ela posterior, uma vez que em tal hipótese inexistirá na aludida data da citação pretensão contra o sócio-gerente. O termo inicial do prazo prescricional para cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores é a data da prática de ato eletivo indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte.

21 O terceiro item afirma que em qualquer hipótese a decretação de prescrição deve demonstrar a inércia da Fazenda Pública.

https://www.valor.com.br/legislacao/6246305/stj-define-prazo-para-cobranca-de-socios-e-administradores

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Valor Econômico

Caderno: Legislação & Tributos, quinta-feira 09 de maio de abril de 2019.

STF libera uso de aplicativos de

transporte

Por Joice Bacelo | De Brasília

Ministros devem definir hoje a tese sobre o uso de aplicativos de transporte

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem que municípios não podem proibir ou restringir o transporte de passageiros por meio de aplicativos. A decisão dos ministros, unânime, tem impacto no uso de plataformas como Uber, 99 e Cabify. O tribunal julgou o tema por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 449, apresentada contra lei do município de Fortaleza que proibiu esse tipo de transporte, e do Recurso Especial (RE) 1.054.110, apresentado pela Câmara de Vereadores de São Paulo contra decisão do Tribunal de Justiça

do Estado (TJ-SP). Os

desembargadores consideraram inconstitucional a legislação do município que, assim como Fortaleza, vetava o serviço por aplicativo na cidade.

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Esse julgamento teve início em dezembro do ano passado. Na ocasião votaram somente os relatores dos dois casos. O ministro Luís Roberto Barroso, do RE, e o ministro Luiz Fux, da ADPF. O posicionamento de ambos foi pela legalidade do transporte por aplicativo.

Eles entenderam que o serviço não afronta a livre iniciativa nem a livre concorrência. Afirmaram ainda que a Lei nº 13.640, que ficou conhecida como a Lei do Uber, regulamentou o transporte remunerado privado individual de passageiros e que, dessa maneira, teria colocado um ponto final nas discussões relacionadas a esse assunto.

O julgamento, na tarde de ontem, foi retomado com o voto-vista do ministro Ricardo Lewandowski. Ele seguiu o entendimento dos relatores. "Proibir o livre exercício enfraquece a livre iniciativa e a livre concorrência, prejudicando os consumidores que terão o seu direito de escolha suprimido", afirmou.

Lewandowski disse ainda, com base

em um estudo do Conselho

Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que a livre concorrência, sob a ótica do consumidor, "estimularia o melhor serviço ofertado e incitaria a diminuição dos custos do serviço de transporte individual de passageiros". Foi consenso entre os ministros que o serviço de transporte oferecido por meio dos aplicativos, apesar de utilidade pública, tem natureza privada. Por esse motivo, então, não poderia o município interferir de maneira irrestrita na atividade.

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A ministra Cármen Lúcia ponderou, no entanto, que normas básicas precisam ser observadas, como as relacionadas à garantia e à segurança dos usuários. "Precisa ser enfatizado para que o taxista, sujeito a um outro regime, não fique em desvalia. Muitas vezes ele se acha agravado por uma série de exigências que são feitas a ele e que não são feitas ao particular", disse.

Já o ministro Marco Aurélio teceu elogios ao serviço por aplicativo. "Penso que foi muito bem-vindo", afirmou. "Embora não se tenha no

cenário nacional regulação

recomendável, sob a minha ótica, o sistema é mais seguro do que o regulamentar, de táxi. Eu opto sempre. Tenho o aplicativo no meu celular. Aciono o Uber e inclusive sou examinado como transportador pelo condutor do veículo e examino também o desempenho dele", acrescentou no plenário.

A tese sobre o tema, no entanto, ainda não foi fixada. O presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, afirmou que colocaria o assunto novamente em discussão na sessão plenária de hoje. A 99, que atua como parte interessada no julgamento, afirmou, por meio de nota, que a decisão traz segurança jurídica ao reafirmar a competência da União para legislar sobre trânsito e transporte. E acrescentou: "Isso beneficia passageiros, que têm liberdade de escolher a forma como se locomovem, motoristas parceiros, que têm assegurada a liberdade de escolher; além de fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrência, resultando em melhores opções para todos."

https://www.valor.com.br/legislacao/6246299/stf-libera-uso-de-aplicativos-de-transporte

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(28)

Valor Econômico

Caderno: Legislação & Tributos, quinta-feira 09 de maio de 2019.

Fazenda não pode ajuizar

rescisória

Por Beatriz Olivon | De Brasília

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que contribuintes e Fazenda Pública não podem mover ações rescisórias para tentar reverter decisões de processos já encerrados (transitados em julgado), em caso de posterior mudança de jurisprudência. A decisão, por maioria de votos, é da 1ª Seção.

O caso envolve uma contribuição devida ao Incra, mas servirá como precedente para outras discussões - inclusive não tributárias, desde que infraconstitucionais, segundo advogados. Pode afetar, por exemplo, cerca de 40 ações rescisórias apresentadas pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) contra empresas que obtiveram na Justiça a dispensa de recolhimento de IPI na revenda de importados. Esses processos estavam suspensos à espera do resultado do julgamento de ontem. A questão foi parar no STJ em razão de uma súmula do Supremo Tribunal Federal (STF), a 343. O texto diz que não cabe rescisória quando a decisão que se pretende modificar estiver

baseada em uma lei com

interpretações divergentes nos tribunais.

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Há duas correntes diferentes de compreensão dessa súmula. Em uma delas, entende-se que fica vedada a ação rescisória nos casos em que há mudança de jurisprudência. Para a outra, porém, a súmula não poderia ser aplicada quando a alteração do entendimento envolver matéria constitucional.

No caso analisado, o contribuinte obteve a dispensa de contribuir ao Incra - 0,2% sobre a folha de salários - em 2005. O processo transitou em julgado no começo de 2008 e no fim daquele ano os ministros do STJ fixaram tese, por meio de julgamento em repetitivo, em sentido contrário, ou seja, pela obrigatoriedade da contribuição.

O relator, ministro Herman Benjamin, votou a favor da ação rescisória, no início do julgamento, em 2017. Naquela ocasião, foi seguido por Napoleão Nunes Maia Filho e Og Fernandes. Ontem, porém, os dois

ministros passaram para a

divergência.

O julgamento foi retomado com o voto-vista do ministro Gurgel de Faria. "Essa questão é muito importante para a 1ª Seção", afirmou. Ele destacou que a Súmula nº 343 já foi julgada várias vezes.

No caso concreto, o ministro aplicou a súmula e votou de forma contrária à aplicação da rescisória. "O acórdão

rescindendo se apoiava em

entendimento jurisprudencial não só controvertido, mas apoiado por esse tribunal superior", afirmou.

O ministro Gurgel de Faria considerou que, no caso em questão, a discussão sobre contribuição ao Incra tem viés infraconstitucional. "Não parece ser razoável abrir, novamente,

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discussões sobre o cabimento da rescisória", disse.

O voto foi acompanhado pelos ministros Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães, Sérgio Kukina, Regina Helena Costa, Francisco Falcão, Og Fernandes e Napoleão Nunes Maia Filho. Assim, por maioria, a ação rescisória não foi admitida.

De acordo com o advogado do caso, Daniel Corrêa Szelbracikowski, do escritório Dias de Souza Advogados, a decisão segue a jurisprudência da Corte, mas havia grande preocupação com o julgamento por causa do voto inicial do relator. Segundo o advogado, o STF considera que não é qualquer questão constitucional que afasta a súmula.

https://www.valor.com.br/legislacao/6246297/fazenda-nao-pode-ajuizar-rescisoria

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Valor Econômico

Caderno: Legislação & Tributos, quinta-feira 09 de maio de 2019.

Concessões e passivos

ambientais

Por Édis Milaré e Rita Maria Borges Franco

Com a perspectiva de retomada da economia e a divulgação recente dos governos federal e dos Estados quanto a interesse de retomar a concessão de serviços públicos ao setor privado, alguns temas em torno desse assunto merecem debate e reflexão.

Diante da complexidade dos projetos que demandam investimentos e a necessidade de modernização da

infraestrutura para o

desenvolvimento do país, é imprescindível que essa pauta seja discutida mais amplamente e que os entraves que dificultaram a viabilização de um maior número de projetos no passado possam ser minimizados.

Dentre esses pontos que devem ser lembrados e que configuram verdadeiro impasse à viabilidade das novas concessões está a discussão quanto à transferência dos passivos ambientais relacionados à operação pretérita do ativo, que podem estar relacionados tanto a pendências de licenciamento ambiental como a danos propriamente ditos.

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É preciso refletir sobre a necessidade de se ter maior clareza a respeito da existência de passivos antes da licitação

Em geral, os passivos ambientais são referidos como contingências genéricas, não havendo maior detalhamento nos editais de licitação a seu respeito, salvo a eventual previsão genérica relacionada à obrigatoriedade de obtenção ou de atendimento de exigências contidas em licença ambiental e à existência de acordos celebrados com o Ministério Público, que deverão ser assumidas como suficientes para a formulação de propostas. No mais, o que se tem é a inclusão de referência, no data room, na parte que são listadas informações sobre ações judiciais, sobre as ações civis públicas ambientais.

À mingua de maior definição em edital que permita conhecer a real dimensão desses passivos ambientais e os riscos inerentes aos processos judiciais em curso, é preciso refletir sobre a necessidade de se ter maior clareza a respeito da sua existência antes da licitação, aprimorando os editais com informações que permitam a valoração adequada das propostas. Mesmo porque nem todos os riscos relativos à prestação de serviço público podem ser atribuídos

ao novo concessionário,

especialmente quando se trata de ações judiciais que têm como origem danos ambientais causados pelo seu

(31)

antecessor quando a operação do ativo era de sua responsabilidade. É preciso também que o contrato de concessão delimite os riscos e as responsabilidades que acompanham o ativo, impedindo que o novo concessionário responda por obrigações alheias ao objeto específico do contrato, de forma a não ser surpreendido por pretensões que, pela sua natureza, acarretam, senão o dever de reequilíbrio

econômico-financeiro do contrato, a

inviabilização da proposta vencedora tal como originalmente lançada. O tema não tem passado despercebido pelos tribunais. A esse respeito,

merece destaque a decisão

monocrática proferida em 2017 pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, na Ação Cível Originária n° 2.042, em que se discutia a transferência de passivo do

Departamento Nacional de

Infraestrutura de Transportes (DNIT), por sucessão, para a nova concessionária, no âmbito da qual se decidiu que, "independentemente da roupagem jurídica adotada pelas partes para a quitação do dano ambiental, não se afigura possível a alteração da natureza jurídica da obrigação assumida pelo DNIT e, bem assim, qualquer transferência de responsabilidade pelo dano ambiental a terceiro por meio de contrato de concessão da referida rodovia."

Como se sabe, a responsabilidade civil ambiental foi disciplinada pela Lei Federal 6.938, de 31 de agosto de 1981 - a Política Nacional do Meio Ambiente -, que, em seu artigo 14, §1º, adotou a regra da responsabilidade civil objetiva, impondo ao poluidor a obrigação de reparar ou indenizar os danos causados ao meio ambiente, independentemente da existência de culpa.

27 A despeito de se prescindir de culpa, para que seja possível a imputação de responsabilidade civil ambiental faz-se necessária a prefaz-sença dos faz-seguintes pressupostos: i) a existência do dano devidamente caracterizado; e ii) do nexo de causalidade entre o dano e a atividade causadora do dano propriamente dito.

Com isso em vista, é necessário destacar que nem todos os riscos relativos à prestação de serviço público devem ser atribuídos ao novo concessionário. O contrato de concessão delimita esses riscos e a responsabilidade que os acompanha. Essa é a consequência da manutenção da titularidade pública do serviço. Em

outras palavras, o novo

concessionário, em regra, não responderá por obrigações alheias ao objeto específico da delegação produzida no contrato de concessão, nem mesmo será responsável por passivos ambientais causados pelo concessionário anterior pelo simples fato de lhe suceder na gestão do ativo. Tudo isso recomenda que eventuais riscos ambientais do negócio devem ser analisados antes da celebração do contrato de concessão, ainda na fase de análise de edital, por meio da contratação de auditorias que permitam identificar e dimensionar de forma adequada os passivos ambientais do ativo a ser licitado, inclusive para permitir aos interessados o mapeamento possível dos riscos socioambientais antes

mesmo da apresentação das

propostas.

Vale lembrar a quantidade de ativos dos mais diversos setores que, após um ciclo completo de concessão, retornarão ao poder concedente nos próximos anos e serão novamente licitados para serem explorados pela iniciativa privada. Sem levar em conta

(32)

essas circunstâncias nas próximas rodadas de concessão, certamente o país terá dificuldades de garantir sustentabilidade econômica dos contratos, em prejuízo dos desejados desenvolvimento e recuperação da economia nacional.

Édis Milaré e Rita Maria Borges Franco são, respectivamente,

procurador de Justiça

aposentado, foi o primeiro coordenador das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Um dos redatores da Lei da Ação Civil Pública. Doutor e mestre em Direitos Difusos e Coletivos,

concentração em Direito

Ambiental, pela PUC-SP;

doutora e mestre em Direitos

Difusos e Coletivos,

concentração em Direito

Ambiental, pela PUC-SP,

advogada

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser

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informações acima ou por

prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações

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Concessões e passivos

ambientais

Por Édis Milaré e Rita Maria Borges Franco

Com a perspectiva de retomada da economia e a divulgação recente dos governos federal e dos Estados quanto a interesse de retomar a concessão de serviços públicos ao setor privado, alguns temas em torno desse assunto merecem debate e reflexão.

Diante da complexidade dos projetos que demandam investimentos e a necessidade de modernização da

infraestrutura para o

desenvolvimento do país, é imprescindível que essa pauta seja discutida mais amplamente e que os entraves que dificultaram a viabilização de um maior número de projetos no passado possam ser minimizados.

Dentre esses pontos que devem ser lembrados e que configuram verdadeiro impasse à viabilidade das novas concessões está a discussão quanto à transferência dos passivos

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ambientais relacionados à operação pretérita do ativo, que podem estar relacionados tanto a pendências de licenciamento ambiental como a danos propriamente ditos.

É preciso refletir sobre a necessidade de se ter maior clareza a respeito da existência de passivos antes da licitação

Em geral, os passivos ambientais são referidos como contingências genéricas, não havendo maior detalhamento nos editais de licitação a seu respeito, salvo a eventual previsão genérica relacionada à obrigatoriedade de obtenção ou de atendimento de exigências contidas em licença ambiental e à existência de acordos celebrados com o Ministério Público, que deverão ser assumidas como suficientes para a formulação de propostas. No mais, o que se tem é a inclusão de referência, no data room, na parte que são listadas informações sobre ações judiciais, sobre as ações civis públicas ambientais.

À mingua de maior definição em edital que permita conhecer a real dimensão desses passivos ambientais e os riscos inerentes aos processos judiciais em curso, é preciso refletir sobre a necessidade de se ter maior clareza a respeito da sua existência antes da licitação, aprimorando os editais com informações que permitam a valoração adequada das propostas. Mesmo porque nem todos os riscos relativos à prestação de

Referências

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