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A ESCOLA E OS CONSTANTES DESAFIOS DA SOCIEDADE

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Academic year: 2021

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Simone Arenhardt1 Márcia Lenir Gerhardt2 Elisane Scapin Cargnin3 Resumo

Diante das inúmeras e crescentes modificações que se apresentam na sociedade globalizada, surgem novas possibilidades e necessidades para a educação. O avanço desenfreado da informação através da informática e das novas tecnologias fez surgir a sociedade da informação. Com essas transformações, surge uma múltipla tarefa para a educação: de um lado atender às exigências do mercado globalizado que prioriza cada vez mais o domínio de variados conhecimentos e, de outro, a formação humana. Dessa forma, a escola precisa se organizar de maneira a atender os objetivos dos alunos/sociedade, superando apenas os objetivos traçados por Leis e Políticas. A gestão democrática é uma possibilidade de organização administrativa que, se bem entendida, estimula a participação de todos os segmentos da comunidade escolar – professores, alunos, comunidades, funcionários – de forma que esses possam contribuir no planejamento dos objetivos a serem atingidos pelas atividades desenvolvidas em cada instituição de ensino. Essas novas configurações caracterizam um grande desafio para a educação sobre o qual refletimos neste texto.

Palavras-chave: Educação – globalização – processos de gestão - conhecimento

1Aluna do curso de Especialização em Gestão Educacional/CE/UFSM. Licenciada em Matemática/UFSM

simonearenhardt@mail.ufsm.br

2Aluna do curso de Especialização em Gestão Educacional/CE/UFSM. Mestre em Educação/CE/UFSM.

Licenciada e Bacharel em Artes Visuais/UFSM. marciagerhardt@mail.ufsm.br

3Aluna do curso de Especialização em Gestão Educacional/CE/UFSM. Licenciada em Letras/UNIFRA.

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A ESCOLA E OS CONSTANTES DESAFIOS DA SOCIEDADE

Entender as relações que se estabelecem na sociedade atual remete-nos à análise de um dos espaços onde elas se desenvolvem: a escola. Essa, por sua vez, não deve ser vista isoladamente, precisamos considerar a influência das diferentes instâncias sociais, como a igreja, as políticas, as culturas, a economia, a mídia.

Compreender o desenvolvimento da sociedade e da educação como fatores interligados nos leva a apontar que o desenvolvimento de um país está condicionado à qualidade de sua educação. Através dela, existem diferentes possibilidades a serem trabalhadas, desde a socialização, o desenvolvimento mental, a preparação para o trabalho à construção de conhecimentos especializados.

Nesse sentido, Marques (2006, p.60) destaca que:

Os grupos humanos completos e distintos constroem a si mesmos no processo da educação, seja como socialização ou incorporação das novas gerações ao processo sociocultural de seu meio, seja como desenvolvimento mental ativado pelo processo de produção/distribuição de conhecimentos explicitados no ato de ensinar, seja como preparação para o trabalho com suas exigências de saberes e habilidades específicas.

A escola pode desempenhar, assim, tarefas múltiplas, no sentido de promover o desenvolvimento humano e, conseqüentemente, da sociedade. Entretanto, essa variedade de dimensões nem sempre é considerada pelas instituições educacionais que, na maioria das vezes, atendem a padrões pré-estabelecidos por interesses de ordem econômica e política, desconsiderando os reais interesses da sociedade que freqüenta os bancos escolares.

Nos últimos anos, a sociedade mundial sofreu profundas transformações, principalmente no plano econômico e nas relações de mercado. Passou a exigir do homem capacidades de aprender novas habilidades, de assimilar novos conceitos, de avaliar novas situações, de lidar com o inesperado, de propor mudanças e de adaptar-se às condições em transformação. Conseqüentemente, caracteriza-se como função da escola atender a estas questões.

O Desenvolvimento da sociedade e os Reflexos na Escola

A mundialização do mercado, dos investimentos, da indústria, da informação e da produção do conhecimento sobre os processos locais, regionais e nacionais caracterizou a

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globalização. A nova economia sustenta-se na utilização eficiente do conhecimento e na perpetuação de políticas de interesses de potências internacionais.

Estabeleceu-se uma crise de paradigmas de relacionamento pelo avanço desenfreado da informação através da informática e das tecnologias desenvolvidas, surgindo a sociedade da informação, caracterizada pela capacidade de gerar, gerir, manusear, armazenar e distribuir informações. Essas transformações resultaram e ainda resultam na mudança de valores, na reorganização da política mundial e na educação. Nesse sentido, Sander (2005) destaca que as relações antes voltadas para o trabalho, agora se sustentam pelo mundo do conhecimento.

Observamos que o padrão de relacionamento autocrático, hierárquico e formalista, característico do taylorismo, vem sendo substituído pela flexibilidade, pela tolerância com as diferenças, por relações mais igualitárias. Mudanças culturais questionam o comportamento individual, a estrutura familiar, a sociedade, as instituições, surgindo a idéia da participação como alternativa administrativa.

Diversos teóricos procuram compreender e classificar este fenômeno. No ponto de vista do marxismo, poderemos entender a participação como uma seqüência definida que começaria por lutas sindicais, passaria pelas comissões de fábricas, conselhos, cogestão chegando à autogestão generalizada. Na linha de pensamento mais conservadora, a preocupação é classificar o fenômeno, mas não chegamos a um consenso da definição de participação no trabalho, sua intensidade e abrangência.

De acordo com Gutiérrez & Catani, a valorização da aparência e a intrancendentabilidade dos valores confunde a participação com todas as formas de organizações possíveis, característica da pós-modernidade (In: FERREIRA, 2001).

Nesse cenário, a preocupação da educação deve se voltar para o pensar, ou seja, desenvolver cidadãos criativos, críticos, conscientes e que dominem grande parte do conhecimento ou que sejam capazes de interagir com ele, ao mesmo tempo em que precisa acompanhar o constante avanço tecnológico, adaptando-o às condições que surgem no meio escolar.

Diante disso, atribuímos à educação uma tarefa de extrema importância, como destaca Coraggio (2000 apud GERHARDT, 2006, p.38) “a qualidade da educação é condição para a eficiência econômica e social, e a reforma social, uma precondição para o desenvolvimento”. Sendo assim, é preciso que governos, professores e alunos se conscientizem de que

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essa condição é a estrutura que está faltando para construirmos uma educação que prepare o aluno para essa evolução desenfreada, não acompanhada ainda pela escola.

Transformações Econômicas e Processos de Gestão

Historicamente, a gestão administrativa está vinculada aos interesses econômicos/sociais e estruturada de forma a garantir que o desenvolvimento previsto realmente aconteça. A gestão de pessoas vem assumindo diferentes concepções que tendem à flexibilização e à participação, rompendo com a prática convencional da administração da mão-de-obra.

Libâneo (2005) e diversos outros autores abordam que o avançado aprimoramento da produção e conseqüentemente da geração de bens materiais, através do desenvolvimento tecnológico, começa a destacar-se a partir do século XVII na Inglaterra, recebendo o nome de Primeira Revolução Científica e Tecnológica. Esse período caracterizou-se pela substituição da produção artesanal pela fabril e da força de trabalho humana pelas máquinas a vapor.

Surgiram então novas relações de trabalho, rompendo com as estruturas feudais. Essas relações passaram de servo e senhor para proletário e capitalista, favorecendo a ascensão da burguesia e o surgimento de conflitos entre capital e trabalho.

Nesse contexto, a educação surge como um instrumento de reprodução do sistema capitalista de produção. A ela cabe a tarefa de transformar os servos em cidadãos e prepará-los para atender às necessidades da indústria.

Na metade do século XIX, o surgimento da energia elétrica proporcionou o desenvolvimento de várias tecnologias, entre outras, dos meios de transporte e de comunicação. Este período caracterizou-se, segundo Cardoso (2001), pela Segunda Revolução Científica e Tecnológica.

A partir de então, intensificou-se a luta pela acumulação de capital. Nas fábricas, foram surgindo novas formas de organização do trabalho a fim de aumentar o ritmo de produção. Surge o fordismo e o taylorismo como “ciências” de gerenciamento das indústrias, caracterizados pelo aumento da produção num espaço de tempo cada vez menor e pelas especificidades.

O grande desenvolvimento das fábricas e a lógica de organização fordista/taylorista exigiam operários em grande escala. Para atender a esta demanda, foram criadas as escolas

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técnicas. Utilizado principalmente a partir de 1914, pode-se afirmar que o taylorismo constituiu o modelo de organização do trabalho fabril e escolar hegemonicamente até meados do século XX, quando a exigência pela ampliação da capacidade de concorrência inter-capitalista novamente provocou reestruturações nos modelos de gestão empresarial.

Assim, a partir da segunda metade do século XX, ocorreram diversas transformações, surgindo tecnologias avançadas como a microeletrônica, a robótica, a fim de aumentar a produção com qualidade e velocidade e com custos reduzidos. Estabelecem-se novas metodologias de gestão, como a gestão de qualidade total e o toyotismo (CARDOSO, 2001).

Essas transformações marcaram um novo estágio no desenvolvimento do capitalismo. O excesso de produção gerou quebras em muitos países, surgindo, então, as intervenções de países estrangeiros. Ocorre a ascensão do neoliberalismo, caracterizado pelas privatizações, levando o afastamento do Estado de suas obrigações.

Nesta nova lógica de organização mundial, defende-se uma gestão participativa, denominada de gestão democrática. Ou seja, o Estado delega às organizações o direito de se estruturarem de acordo com os interesses dos diferentes segmentos envolvidos, concedendo-lhes autonomia administrativa e financeira, e no caso das escolas, pedagógica.

Perspectivas para a Gestão Escolar

No nosso contexto de transformações, a escola precisa redefinir suas estruturas organizacionais e os objetivos traçados para o fazer pedagógico. A gestão democrática, se bem entendida, pode ser uma possibilidade para a escola ressignificar seu papel através da participação de todos os segmentos envolvidos no processo, a fim de estabelecerem metas e traçarem objetivos que realmente atendam às expectativas dos alunos, considerando as diferentes culturas e realidades.

Ferreira (2001, p.306) enfatiza que “a gestão democrática, participação dos profissionais e da comunidade escolar, elaboração do projeto pedagógico da escola, autonomia pedagógica e administrativa são, portanto, os elementos fundamentais na construção da gestão da escola”.

Para que esta administração aconteça, a gestão deve ser entendida como ato de gerir, administração e gerência. Ou seja, gestão “relaciona-se com a atividade de impulsionar uma

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organização a atingir seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel” (FERREIRA, 2001, p.306).

Essa perspectiva de gestão só se efetivará como democrática na medida em que for desenvolvida como construção coletiva da organização da educação, ou seja, quando houver a participação efetiva de todos os segmentos direta ou indiretamente ligados à escola. Habermas (1975 apud FERREIRA 2001) definia participação como forma de encaminhar o debate num sentido promissor e original. Para ele “participar significa que todos podem contribuir, com igualdade de oportunidades, nos processos de formação discursiva da vontade” (p.159).

Assim, o que se espera nas escolas é que exista uma união desta visão de Gestão com a participação, caracterizada, também, pelo que se chama de Gestão Democrática definida por Dourado (In: FERREIRA, 2001. p.79):

(...) um processo de aprendizado e de luta política que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do “jogo” democrático e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas.

Nesse contexto, existem as políticas públicas educacionais, criadas pelo governo, como forma de padronizar e direcionar o trabalho desenvolvido nas escolas e centros educacionais. Cabe ressaltar que as instituições de ensino devem tratar as políticas como eixo norteador, porém não devem limitar seu trabalho ao que essas propõem, ou seja, as políticas devem ser encaradas como possibilidades e não como normas impostas, favorecendo a construção de um novo modelo de gestão educacional capaz de assegurar, para todos, uma educação de qualidade, vista como uma das condições essenciais do desenvolvimento humano e social.

A Escola Hoje

Tendo como base a sociedade do conhecimento e da informação em que vivemos, a educação hoje tomou estranhos caminhos, pensamos em competitividade, em mercado de trabalho voltado às exigências da globalização, produzindo simultaneamente fenômenos de mais igualdade e mais desigualdade, de maior homogeneidade e maior diferenciação.

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Nesse contexto de aceleradas mudanças, constatamso a predominância da difusão de dados e informações e não de conhecimentos, pois as tecnologias apresentam grandes capacidades de apresentar e guardar informações, possibilitando fácil acesso/pesquisa. A sociedade passa, então, a se organizar em função desse constante fluxo de informações que deixam de ser “especialidades” para se tornarem uma dimensão do todo. Essas informações precisam ser trabalhadas de forma a constituírem conhecimentos, seja no setor escolar, social, visual e no próprio capital.

Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar e adaptar-se adequadamente ao impacto da comunicação audiovisual e da informática. São necessárias mudanças nos métodos de ensino, priorizando a capacidade de pensar e refletir sobre as informações. Dessa forma, a função da escola deve ser a de desenvolver o pensamento crítico a partir de diferentes metodologias e linguagens, inclusive a eletrônica.

Da mesma forma, a partir da proposta da gestão democrática, existe a possibilidade da escola organizar-se de forma a atender as exigências e necessidades de sua comunidade local, uma vez que é dado a ela este poder de transformação. A gestão participativa permite que os diferentes segmentos possam contribuir no planejamento dos objetivos a serem atingidos pelas atividades escolares.

Portanto, a educação precisa definir objetivos claros e que considerem todas essas transformações e novas exigências que a sociedade impõe, buscando possibilitar a seus alunos o acesso ao maior número possível de informações que possam ser analisadas consciente e criticamente por eles, de forma a serem transformadas em conhecimentos que possam ser utilizados no seu dia-a-dia. Cabe destacar que, ao mesmo tempo, em que a escola deve preocupar-se com essas questões, precisa também considerar os objetivos de seus alunos, para, assim, tentar desenvolver um trabalho que seja significativo.

Acreditamos que o primeiro passo para esse trabalho deva ser o de a escola se preocupar com a sua estrutura organizacional e sua gestão administrativa, pois são estas as instâncias responsáveis pelo planejamento escolar. A proposta da gestão democrática deve ser encarada, então, como uma possibilidade de a escola “chegar mais perto” de seus alunos, pois ela permite uma maior participação de todos os segmentos escolares - comunidade, pais, alunos, professores, funcionários.

Assim, como educadores, precisamos estar conscientes de que a educação ainda precisa avançar muito e que não existem fórmulas que nos garantem a sua maior ou menor

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eficiência. Assim, é necessário aproveitarmos todas as possibilidades que permitem mudanças na tentativa de melhorá-la cada vez mais.

Referências Bibliográficas

DICIONÁRIO AURÉLIO ELETRÔNICO Versão 3.0 para PC baseada no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 28a edição, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 3ed. São Paulo: Cortez, 2001.

GERHARDT, Márcia Lenir. A descontextualização do material – elemento industrializado e das técnicas de construção mecânica para a cognição em arte. Santa Maria / RS. 204 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, 2006.

GUTIERREZ, Gustavo Luis; CATANI, Afrânio Mendes. Participação e gestão escolar: conceitos e potencialidades In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 3ed. São Paulo: Cortez, 2001.

MARQUES, Mario Osório. Pedagogia: a ciência do educador. 3ed. Ijuí: Unijuí, 2006.

SANDER, Benno. Políticas Públicas e Gestão Democrática da Educação. Brasília: Líber Livro Editora, 2005.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e modernidade: presente e futuro da escola. In: GHIRALDELLI Jr. Paulo. (Org.). Infância, escola e modernidade. São Paulo: Cortez, 1997.

Referências

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