• Nenhum resultado encontrado

A construção do discurso na aula. José Artur B. Fernandes

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A construção do discurso na aula. José Artur B. Fernandes"

Copied!
46
0
0

Texto

(1)

A construção do discurso na aula

José Artur B. Fernandes

(2)

Vygotsky e a Perspectiva Sócio-cultural

Aprender é um fenômeno social.

A origem social dos signos usados na

. comunicação.

• Internalização

• Referencialidade

• A construção das narrativas

• O controle do discurso

• Multimodalidade

(3)

“O conhecimento e a comunicação são dois processos inseparáveis com um

funcionamento interdependente e, portanto, conhecer é construir significados

compartilhados”

Ignasi Vila

(4)

"As

crianças

não

escolhem

o

significado de uma palavra, já lhes vem

dado no processo de interação verbal

com os adultos. As crianças não

constroem seus próprios complexos

livremente.“

(VYGOTSKY, 1934: 133 apud WERTSCH, 1988) Aprender é um fenômeno social.

(5)

“Os significados são construídos. É um

engano dizer, como as pessoas

freqüentemente dizem, que alguma coisa

tem

significado

, como se significado fosse

uma coisa inerente. Uma palavra, um

diagrama, um gesto,

não

têm significado.

Um significado tem que ser construído

para isso, por alguém, de acordo com um

conjunto de convenções para dar sentido a

palavras, diagramas ou gestos"

(LEMKE, 1990: 186)

(6)

E o que isso tem a ver com educação?

"Na perspectiva sócio-cultural, a educação em sala de aula é um processo discursivo sócio-histórico no qual os resultados, do ponto de vista da aprendizagem, são

determinados conjuntamente pelos esforços de professores e alunos.

A contextualização contínua e cumulativa de eventos e a criação de um conhecimento comum através do discurso são, portanto, a própria essência da educação como

processo psicológico e cultural.”

Mercer, 1998:14

(7)

“A aprendizagem escolar pode ser

interpretada como um

processo de

construção progressiva de sistemas

de significados compartilhados

em

relação a tarefas, situações ou

conteúdos em torno dos quais se

organiza a atividade conjunta dos

participantes”

Coll et al.(1992: 196)

(8)

Vygotsky usa um exemplo para a origem dos gestos:

Uma criança pequena vê um copo de água ao lado do berço e estende a mão para tentar

alcançá-lo.

Um adulto, ao seu lado, pega a água para a criança, ao perceber o gesto.

A reação do adulto transforma a tentativa de alcançar a água, feita pela criança, em um gesto que será utilizado nas próximas

ocasiões.

(9)

LEI GENÉTICA GERAL DE DESENVOLVIMENTO CULTURAL

"Qualquer função no desenvolvimento cultural da criança aparece duas vezes, ou em dois planos.

Primeiro ela aparece no plano social, e depois no plano psicológico. Primeiro ela aparece entre pessoas como uma categoria interpsicológica, e depois dentro da criança como uma categoria intrapsicológica.

Isto é igualmente verdadeiro para a atenção voluntária, memória lógica, a formação de conceitos e o desenvolvimento da vontade"

(10)

interpsicológico = social

A origem social dos signos usados na comunicação.

(11)

No exemplo, o significado comunicativo do comportamento não existe até que seja criado na interação adulto-criança.

A combinação do comportamento da criança com a resposta do adulto transforma um comportamento não comunicativo em um signo do plano interpsicológico.

A forma do signo se transforma de um movimento que consistia em uma tentativa de alcançar um objeto em um gesto de indicação.

(12)

Mais adiante, a criança irá adquirir controle voluntário no plano intrapsicológico sobre o que anteriormente só havia existido na interação social.

Vygotsky

(13)

Internalização:

Como ocorre a passagem das funções psicológicas desde o plano da interação social (interpsicológico) para o plano individual, interno da criança (intrapsicológico)?

Internalização:

Processo em que certos aspectos da estrutura da atividade que se realiza no plano externo passam a ser executados em um plano interno

(14)

Vygotsky afirmava que as estruturas da atividade interna não seriam simples cópias da atividade externa, mas

defendia

"uma relação inerente entre a atividade externa e interna,

em forma de uma relação genética na qual o ponto principal seria como são criados os processos psicológicos internos como resultado da exposição da criança ao que ele chamava 'formas culturais maduras de comportamento„”

(15)

Internalização

é um processo implicado na

transformação dos fenômenos sociais em

fenômenos psicológicos.

Portanto, Vygotsky concebia a realidade

social como determinante fundamental da

natureza do funcionamento

intrapsicológico"

(WERTSCH, 1998: 80)

(16)

(1) as funções psicológicas externas não são simplesmente copiadas transformando-se em processos internos, mas re-trabalhadas pela criança que irá adquirir controle sobre estes;

(2) tal controle depende da capacidade da criança de manejar as formas de comunicação que estão envolvidas na interação social.

(17)

A Construção do

Discurso

• Referencialidade

• Explicação: A narrativa científica

(18)

Referencialidade

:

"

Educação é melhor entendida como um

processo comunicativo que consiste

largamente no desenvolvimento de

contextos mentais e termos de referência

compartilhados, por meio dos quais os

vários discursos da educação (os vários

'conteúdos' e suas habilidades acadêmicas

associadas) se tornam inteligíveis para

aqueles que deles se utilizam"

(EDWARDS; MERCER, 1993: 63).

(19)

Como criamos esses contextos referenciais?

Na sala de aula, o professor terá que criar uma contextualização entre signos que só

existem no plano abstrato, conectando os sentidos que ele atribui a uma palavra,

por exemplo, aos sentidos que sua audiência poderá atribuir-lhe.

Para criar essa intersubjetividade, poderá utilizar diferentes formas de

referencialidade:

(20)

Para criar tais contextos, precisamos criar relações entre os signos que

utilizamos e outros signos cujo

significado seja compartilhado com as pessoas com quem dialogamos.

Podemos, também, criar relações entre um signo novo que lançamos no diálogo

e outros signos que já foram utilizados anteriormente.

(21)

O marco referencial específico inclui

referências a conteúdos que o professor dá por suposto que seus interlocutores já os compartilham porque foram

trabalhados em momentos anteriores

COLL et al., 1992

O marco de referência específico se refere a intersubjetividades que já foram construídas em momentos anteriores, se refere a itens

temáticos da interação que já têm seus significados compartilhados.

(22)

O marco referencial social inclui referências ao mundo extra-escolar. A hipótese aqui é de que professor e alunos compartilham

vivências e aprendizagens prévias não por terem passado por elas juntos, mas por

viverem em um mesmo grupo social e que, por isso, devem ter referências parecidas. COLL et al., 1992

O marco de referência social diz respeito aos

significados compartilhados porque os caras são do mesmo grupo social; não se refere diretamente a um conteúdo já presente na atividade conjunta (item temático) mas atua como ferramenta para criar intersubjetividades.

(23)

A narrativa científica

Uma característica fundamental da

maneira como o professor desenvolve

a narrativa científica é que ela tem que

ser de caráter

„persuasivo‟ na medida

em que o professor tenta convencer

os alunos de que a narrativa científica

que está sendo representada no plano

social da classe é razoável"

(24)

Coll e Onrubia caracterizam os

processos escolares de ensino e de

aprendizagem como “processos

interativos e comunicativos nos quais

um dos participantes o professor

-ajuda de maneira sistemática e

planejada os outros - os alunos - a

elaborar uma série de conhecimentos

relativos a determinadas parcelas da

realidade física e social, ...

(25)

... envolvendo-se para isso em um

processo de construção de sistemas

de significados progressivamente

compartilhados cada vez mais ricos,

complexos e adequados sobre a

realidade em questão“

(COLL; ONRUBIA, 1998: 80)

(26)

"... ficamos surpresos com a extensão

em que as relativamente

'progressivas' formas de ensino que

estudamos são caracterizadas pela

avassaladora dominância do professor

sobre tudo que é feito, dito e

considerado correto"

(EDWARDS; MERCER, 1993: 2).

(27)

A explicação científica é muito próxima

de um relato. características do relato:

• tem um elenco em que cada um dos

atores tem suas aptidões que o definem

• os membros desse elenco interpretam

as numerosas séries de acontecimentos

para os quais estão capacitados

• esses

acontecimentos

têm

uma

conseqüência, que deriva da natureza

dos protagonistas e dos fenômenos que

têm a casualidade de representar.

OGBORN J., KRESS, G., MARTINS, I. & McGILLICUDDY, K. (1996).

(28)

Explicações

científicas

diferem

de

histórias porque precisam ter uma

coerência com o mundo externo ao relato,

não são fechadas em si mesmas como as

histórias ficcionais.

OGBORN J., KRESS, G., MARTINS, I. & McGILLICUDDY, K. (1996).

(29)

Um relato nos mostra o modo como os acontecimentos ocorrem de forma que os resultados não sejam arbitrários; de maneira que faça sentido, visto que o que acontece aparece porque as coisas fazem o que fazem por sua própria natureza.

A “natureza das coisas”, seus significados, para nós consistem simplesmente no que fazem, para que servem e de que são feitos.

OGBORN J., KRESS, G., MARTINS, I. & McGILLICUDDY, K. (1996).

(30)

KRESS et al (2001), apesar de destacar o

papel central do professor nesse processo,

ressaltam

o papel ativo que têm os alunos

tanto no processo de aprendizagem como

no de ensino: na condição de audiência

para o professor eles têm seu impacto na

atividade de ensino enquanto retórica, além

de terem um papel transformador na

construção de conhecimento.

(31)

Vale lembrar que na perspectiva

sócio-cultural o conhecimento construído no

discurso público não é especular ao

conhecimento que será construído no plano

intrapsicológico: ele se modifica ao ser

internalizado.

(32)

Para exercer um controle em estabelecer a

pauta, determinar com antecedência que

conhecimentos serão resultantes da

atividade e, em geral, expressar o papel

social de autoridade o professor lança mão

de uma série de estratégias, as táticas

temáticas (LEMKE, 1990) ou regras

básicas1 (Edwards; Mercer, 1993).

(33)

Marcar a relevância

ou a irrelevância de

contribuições dos alunos, por exemplo, é

uma dessas estratégias:

usar entonação

especial, dar importância e

chamar a

atenção

para que todos ouçam a

contribuição,

criar chavões

ou alertar que o

assunto em andamento é

especialmente

importante

são exemplos de como o

professor pode marcar a relevância de

temas ou contribuições.

(34)

Já a

irrelevância de um tema

é mais

freqüentemente marcada pelo simples ato

de

ignorar a contribuição do aluno

, ou por

rotular a resposta do aluno como “

isso não

é uma resposta

”.

(35)

Parafrasear

a contribuição dos alunos, ou

reformular a pergunta que o aluno lançou,

modificando-a para adequá-la ao tópico

,

juntamente com as

recapitulações

em que

se reconstróem os diálogos, são algumas

das estratégias para

dirigir o tema da

interação

e criar a sensação de

consensualidade em relação ao tema

discutido.

(36)

Da mesma forma, dar “deixas”

para

estimular a contribuição dos alunos, fazer

perguntas

diretas ou controlar o tempo

de

espera necessário para as respostas, são

estratégias para regular a participação dos

alunos na construção do discurso.

(37)

A estrutura de atividade conjunta de diálogo

mais comum nas aulas de ciências,

segundo Lemke (1990) é o

Diálogo Triádico

,

também chamado de

padrão IRF

.

Esse padrão funciona como uma poderosa

ferramenta para a construção da retórica da

aula, como apontam Edward e Mercer:

(38)

. "Pelo fato das pessoas suporem que o

professor sabe a resposta para a maioria

das questões que faz, o status de qualquer

resposta oferecida por um aluno é também

afetado pela natureza da relação.

O professor é visto como em posição de

avaliar qualquer resposta (a parte feedback

da IRF), e, portanto, o próximo ato do

professor vai ser tomado por avaliativo...

(39)

... Então, se o professor coloca a mesma

questão novamente, fica implícito que qualquer

que tenha sido a resposta, esta foi recebida

como incorreta, e uma resposta alternativa está

sendo agora requisitada.

Silêncio por parte do

professor implica na mesma coisa; a questão

anterior continua em aberto.

Se o professor

ignora uma questão colocada por um aluno,

podemos esperar a interpretação contrária - a

questão não foi colocada na pauta...

(40)

a. Interativo/dialógico:

professor e estudantes exploram idéias, formularam perguntas autênticas e oferecem, consideram e trabalham diferentes pontos de vista .

b. Não-interativo/dialógico:

professor reconsidera, na sua fala, vários pontos de vista, destacando similaridades e diferenças.

c. Interativo/de autoridade:

professor geralmente conduz os estudantes por meio de uma seqüência de perguntas e respostas, com o objetivo de chegar a um ponto de vista específico.

d. Não-interativo/ de autoridade:

professor apresenta um ponto de vista específico.

(41)

O controle do discurso

(42)

. Mortimer e Scott apontam questões institucionais que, no nosso entender,

contribuem para que o modelo de construção de discurso baseado na orquestração retórica pelo professor acabe sendo privilegiado:

O controle do discurso

"O fato de que um determinado programa curricular

tem que ser ensinado, ou, pelo menos, de que um

conjunto de conceitos e atividades tem que ser

cumprido, leva a um tipo de „dilema do professor‟

(...): como fazer com que o aluno aprenda por si

próprio o que já está planejado para ele com

antecedência.

(43)

.

Esses dilemas e essas possibilidades restritas

podem ter um efeito destrutivo na educação, por

colocar a perder a razão essencial do processo

Vygotskyano: ou seja, o processo fica, com

freqüência, incompleto, sem a transmissão final do

controle e do conhecimento para os alunos. Os

alunos ficam, freqüentemente, presos em rituais e

procedimentos, falhando em alcançar o objetivo

principal do que estiveram fazendo, incluindo os

conceitos gerais e princípios que a atividade havia

sido planejada para ensinar"

(MORTIMER; SCOTT, 2003: 130 tradução nossa).

(44)

Multimodalidade:

abordagem em que é

igualmente dada séria atenção a uma

multiplicidade de modos de

comunicação que atuam em classe.

Como consequência, a linguagem

-tanto falada como escrita - torna-se

simplesmente um dos vários modos por

meio dos quais alunos e professores

trabalham a ciência."

(45)

"Várias questões surgem a partir destas premissas (de multimodalidade): se há um número de distintos modos em operação ao mesmo tempo (em nossa descrição e

análise focamos fala, imagem, gestos, ação com modelos, escrita, etc.), então a primeira questão é:

'Será que eles oferecem distintas possibilidades de representação?'

Para nós, tal questão se coloca da seguinte forma:

'Quais são as possibilidades de cada modo utilizado em uma aula de ciências; quais são os potenciais e as

limitações de cada modo em relação à representação?' e, 'Serão as modalidades especializadas para certas

funções em particular? A fala é, vamos dizer, melhor para isso e a imagem é melhor para aquilo?'."

(46)

O uso da linguagem visual, na sala de aula, está concentrado no espaço semiótico temático, em que três modos agem em uma relação de especialização: a palavra introduz ou identifica as entidades da natureza; o gesto as localiza, lhes dá sentido e as dinamiza; e a linguagem visual apresenta um cenário em que é possível mostrar espacialmente aquelas entidades e as relações que entre elas se formam (MÁRQUEZ, 2002).

A grande diferença entre a sala de aula e a aula de campo está no cenário: enquanto na sala ele é construído com o uso da linguagem visual, no campo ele é recortado do próprio mundo material, a partir da experiência empírica da observação.

Referências

Documentos relacionados

O feijão-caupi (Vigna unguiculata L., Walp .) é amplamente cultivado pelos pequenos produtores na região Nordeste, e constitui um dos principais componentes da

Revogado pelo/a Artigo 8.º do/a Lei n.º 98/2015 - Diário da República n.º 160/2015, Série I de 2015-08-18, em vigor a partir de 2015-11-16 Alterado pelo/a Artigo 1.º do/a

Os prováveis resultados desta experiência são: na amostra de solo arenoso ou areia, a água irá se infiltrar mais rapidamente e terá maior gotejamento que na amostra de solo

O presente texto, baseado em revisão da literatura, objetiva relacionar diversos estudos que enfatizam a utilização do dinamômetro Jamar para avaliar a variação da

Coeficiente de partição (n-octanol/água): N.D./N.A. Temperatura de auto-ignição: N.D./N.A. Temperatura de decomposição: N.D./N.A. Propriedades comburentes: N.D./N.A. N.D./N.A.=

Fazendo uso das suas competências como responsável máximo da Protecção Civil no âmbito municipal, consequentemente como director do Plano Municipal de Emergência de Protecção

Teoria das emoções de James-Lange: uma emoção é uma espécie de percepção cognitiva sobre o que acontece no corpo durante um impacto. Catatimia: É a importante influência que a

O objetivo desse trabalho foi realizar o levantamento e identificação das ordens de cupins arborícolas que ocorrem no Parque Natural Municipal do Curió, colaborando assim