• Nenhum resultado encontrado

A importância da cor nos infográficos de divulgação científica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A importância da cor nos infográficos de divulgação científica"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

científica

The importance of color in scientific divulgation infographics.

Quattrer, Milena; Licenciada em Educação Artística; Instituto de Artes - UNICAMP milena.q@iar.unicamp.br

Gouveia, Anna Paula Silva; Professora Doutora; Instituto de Artes - UNICAMP annagouveia@iar.unicamp.br

Resumo

O artigo apresenta resultados de pesquisa que se propõe a identificar a participação do elemento de sintaxe visual cor na construção da informação em infográficos de divulgação científica, especificamente aos que se referem ao debate sobre as células-tronco. Questionários foram aplicados ao público e os resultados da análise, ainda que parciais, demonstram como o uso de determinadas cores pode atrair o leitor, informar e também influenciar subliminarmente na tomada de posição frente a um debate polêmico e que envolve interesses conflitantes.

Palavras-chave: cor; infografia; jornalismo visual.

Abstract:

The paper presents results of research that aims to identify color participation in building informations in scientific divulgation infographics, which refer specifically to the debate on stem cells. Questionnaires have been applied to the public and the results, even partial, demonstrate how the use of certain colours can attract the reader's attention. Colours also inform and may influence on a controversial debate that involves conflicting interests.

(2)

Introdução

“Somos envolvidos por cores dotadas de significados; somos programados por cores, que são um aspecto do mundo codificado em que vivemos”. (Flusser, 2007, p.128)

A cor é um dos elementos de sintaxe visual mais importantes e a sua utilização exige, além de criatividade, conhecimento. O contexto em que é aplicada e o acorde cromático em que está inserida podem definir como a cor atuará na informação, inclusive com a possibilidade de aumentar ou diminuir a credibilidade do leitor no que lhe é apresentado.

A relação entre cor e significado não é arbitrária ou acidental, ao contrário, é parte de um contexto cultural que, segundo Heller (2004) pode ser compreendido a partir da tradição histórica e do simbolismo psicológico. A associação entre uma cor e um sentimento como, por exemplo, vermelho e paixão é parte de “experiências universais profundamente enraizadas em nossa linguagem e pensamento” 1

. A fim de discutir e analisar como a cor estrutura e otimiza a transmissão da informação nos infográficos sobre células-tronco, utilizaremos o conceito de cor-informação de Luciano Guimarães:

(...) Considera-se a cor como informação todas as vezes em que sua aplicação desempenhar uma dessas funções2

responsáveis por organizar e hierarquizar informações ou lhes atribuir significado, seja sua atuação individual e autônoma ou integrada e dependente de outros elementos do texto visual em que foi aplicada (formas, figuras, texturas, textos, ou até mesmo sons e movimentos, como em produtos multimídia). (Guimarães, 2003, p.31)

Infografia

Levando-se em conta as características da nova cultura de imagens3 e os avanços da internet, a infografia se tornou uma importante ferramenta para a mídia impressa pelo seu potencial de tornar a estrutura da matéria mais dinâmica e atrativa, facilitar a compreensão da informação e permitir que a idéia principal seja captada em poucos minutos.

Sua presença em textos científicos e manuais técnicos remonta à incunabula4. Na imprensa, o aparecimento da infografia está ligado aos avanços tecnológicos que se sucederam durante os últimos três séculos, principalmente com a difusão da gravura. A primeira „mensagem visual‟ publicada na imprensa foi o diagrama de Benjamin Frankin, Join or Die5, no Pennsylvania Gazette em 1754 (Peltzer, 1991, p.109).

Figura 1: Diagrama de Benjamin Franklin “Join or Die”.

Mais de duzentos anos separariam a publicação do diagrama de Benjamin Franklin da grande revolução dos infográficos: o lançamento do jornal USA Today na década de 1980. Baseado em um grande estudo de mercado realizado em 1982 nos Estados Unidos, o diário apostou em cores, gráficos, imagens e pouca leitura. Sucesso entre os leitores, o USA Today se tornou referência e passou a ser copiado por jornais e revistas do mundo todo.

(3)

Em 1984, com a chegada do computador Macintosh, a infografia ganhou um novo impulso. Mas foi mesmo durante a Guerra do Golfo (1990-1991), com a intensa cobertura jornalística, que ela conquistou definitivamente o seu lugar na imprensa: diariamente eram publicados infográficos descrevendo os locais onde ocorriam os confrontos.

Após a Guerra do Golfo, o Prémio Malofiej foi criado pela seção espanhola da Society for News Design (SND-E) em homenagem ao infografista Alejandro Malofiej, falecido em 1987. É o mais importante prêmio na área e segue para a sua 18ª edição. O Brasil já se destacou com medalhas ganhas pelas revistas da Editora Abril e por jornais como O Globo e Folha de São Paulo.

Lei sobre biossegurança e as células-tronco

As células-tronco geraram polêmica e ganharam grande espaço na mídia brasileira a partir de 2003, quando o Projeto de Lei sobre Biossegurança (Projeto de Lei nº 2.401/2003) foi encaminhado ao Congresso Nacional com a proposta de substituir e revogar a Lei n° 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória 2.191-9, de 23 de agosto de 2001.6

Os debates e protestos se estenderam até 2008 – ano em que o Supremo Tribunal Federal indeferiu a Ação Direta de Inconstitucionalidade encaminhada em 2005 pelo ex-procurador da República, Claudio Fonteles, com o objetivo de proibir as pesquisas com células-tronco embrionárias, com base no artigo 5º da Constituição Federal.

As três revistas de maior circulação nacional, Veja (editora Abril), Isto É (editora Três) e Época (editora Globo), acompanharam a discussão e publicaram em suas páginas diversas matérias a respeito do assunto, principalmente sobre utilização terapêutica de células-tronco embrionárias. Pelo fato de serem reconhecidamente formadoras de opinião, foram escolhidos como objeto de estudo os infográficos sobre células-tronco publicados em suas páginas.

2 - Procedimentos metodológicos

2.1 - Levantamento dos infográficos publicados pelas revistas selecionadas

As imagens analisadas foram escolhidas de acordo com alguns critérios pré-estabelecidos: infográficos em formato de diagramas7, que apresentassem um maior grau de complexidade, e publicados em momentos considerados importantes no debate em torno das células-tronco e a Lei de Biossegurança (período que compreende os anos de 2002 a 2008).

Nas tabelas a seguir estão identificados os infográficos selecionados, divididos por revista.

Revista Veja – Editora Abril

Edição: 1734 Edição: 2036

Data: 16/01/2002 Data: 28/11/2007

Sessão: Saúde Sessão: Medicina

Título: A célula que pode salvar sua vida Título: Façanha microscópica

Edição: 1841 Edição: 2047

Data: 18/02/2004 Data: 13/02/2008

Sessão: Genética Sessão: Genética

Título: Agora é para valer Título: Um embrião e três pais

Edição: 1846 Edição: 2063

(4)

Sessão: Especial Sessão: Brasil

Título: Células da esperança Título: Nem ciência, nem religião

Edição: 1971 Edição: 2081

Data: 30/08/2006 Data: 08/10/2008

Sessão: Ciência Sessão: Genética

Título: Fim da polêmica Título: A célula da esperança

Edição: 2004 Edição: 2063

Data: 18/04/2007 Data: 04/06/2008

Sessão: Medicina Sessão: Brasil

Título: Elas chegaram ao esporte Título: Nem ciência, nem religião

Edição: 2007

Data: 09/05/2007

Sessão: Beleza

Título: Injeção de juventude

Revista Época – Editora Globo

Edição: 287 Edição: 496

Data: 14/11/2003 Data: 20/11/2007

Sessão: Capa - Sociedade Sessão: Saúde & Bem-estar

Título: Promessas da genética Título: Macacos em série

Edição: 335 Edição: 497

Data: 15/10/2004 Data: 23/11/2007*

Sessão: Capa - Sociedade Sessão: Ciência e tecnologia

Título: A guerra das células tronco Título: Trégua para os embriões

Edição: 399 Edição: 512

Data: 06/01/2006 Data: 07/03/2008

Sessão: Ciência - Sociedade Sessão: Saúde & Bem-estar

Título: As células-tronco sobrevivem Título: E Gabriela ainda espera

Edição: 475

Data: 02/07/2007

Sessão: Saúde & Bem-estar

Título: Por dentro dos novos tratamentos

com células-tronco

Revista Isto É – Editora Três

Edição: 1701 Edição: 1876

Data: 03/05/2002 Data: 09/03/2005

Sessão: Ciência e tecnologia Sessão: Medicina & Bem-estar

Título: Na primeira fila Título: Panacéia da célula-tronco

Edição: 1828 Edição: 1883

Data: 20/10/2004 Data: 31/10/2007

Sessão: Capa – Medicina & Bem-estar Sessão: Medicina & Bem-estar

Título: A vida em ação Título: Avanço na pesquisa com

célula-tronco

Edição: 1844 Edição: 1954

Data: 16/02/2005 Data: 11/04/2007

(5)

Bem-Meio Ambiente estar

Título: Licença para clonar Título: Nova chance para o coração

Edição: 1847 Edição: 1969

Data: 09/03/2005 Data:

Sessão: Brasil Sessão: Medicina & Bem-estar

Título: A vitória da razão Título: Nova válvula para o coração

Edição: 1848 Edição: 1986

Data: 16/03/2005 Data: 21/11/2007

Sessão: Medicina & Bem-estar Sessão: Medicina & Bem-estar

Título: Em um novo compasso Título: Clone de macaco

Edição: 1859 Edição: 497

Data: 01/06/2005 Data: 23/11/2007*

Sessão: Medicina & Bem-estar Sessão: Ciência e tecnologia Título: As nossas células tronco Título: Trégua para os embriões

Edição: 1871

Data: 24/08/2005

Sessão: Medicina & Bem-estar

Título: Coringas para o fígado

2.2 - Comparação entre os infográficos

A partir da comparação entre os infográficos selecionados percebemos alguns pontos em comum. As três revistas utilizam imagens geradas em computador para representar o corpo humano e simular três dimensões, aplicam zoom nas imagens, ampliando os detalhes e interpretações microscópicas do corpo humano.

O excesso de texto nos infográficos é um ponto a ser destacado. Segundo Ferreres (1995, p. 7), a informação textual deve ser mínima e suficiente para posicionar o leitor no assunto abordado. Nos últimos anos, infográficos com textos cada vez mais curtos e objetivos ganharam espaço nos mais importantes veículos de mídia impressa internacionais.

Quanto ao uso da cor, nota-se a recorrência do verde e azul nos infográficos publicados pelas revistas Veja e Isto É. Naqueles publicados pela Época percebe-se uma unidade na aplicação das cores, que seguem o padrão do resto da revista: o vermelho, azul e cinza são presenças constantes.

Os infográficos apresentados nas figuras 2, 3 e 4 se destacaram durante o processo de seleção e comparação das imagens por ilustrarem as principais características relacionadas nos parágrafos anteriores. Sendo assim, optamos por utilizá-los na elaboração e aplicação dos questionários.

(6)

Figura 2: Infográfico publicado na matéria “Por dentro dos novos tratamentos com células-tronco”, revista Época, edição 475.

Figura 3: Infográfico publicado na matéria “Nova chance para o coração”, revista Isto É, edição 1954.

Figura 4: Infográfico publicado na matéria “Façanha microscópica”, revista Veja, edição 2036.

2.3 - Questionários

Com o objetivo de analisar como a cor auxilia os infográficos selecionados na transmissão da informação e utilizando-se como base o conceito de cor-informação de Luciano Guimarães, foi criado um modelo de questionário que permitisse a apresentação dos infográficos em quatro maneiras distintas: a primeira em tons de cinza, a segunda e terceira em cores alteradas intencionalmente e a quarta como publicado no original.

(7)

Figura 5: Primeira página do questionário sobre infográfico retirado da revista Isto É, edição 1954.

Figuras 6 e 7: Questionário: versão do infográfico em tons de cinza e questões a respeito da imagem apresentada.

(8)

Figuras 10 e 11: Questionário: versão do infográfico em verde e questões a respeito da imagem apresentada.

Figuras 12 e 13: Questionário: versão do infográfico nas cores originais (com predominância do azul) e questões a respeito da imagem apresentada.

(9)

Figura 14: Questionário: perguntas a respeito de todas as imagens apresentadas.

Foram aplicados 45 questionários a 17 pessoas com idade entre 20 e 75 anos. Desse total, 13 questionários eram sobre o infográfico retirado de “Por dentro dos novos tratamentos com células tronco”, publicado pela revista Época – edição 475; 16 sobre “Nova chance para o coração”, revista Isto É – edição 1954; e 16 sobre “Façanha microscópica”, revista Veja – edição 2036.

Durante a aplicação dos questionários, o entrevistado recebeu orientação para registrar as primeiras impressões e sentimentos que os infográficos lhe provocaram, e selecionar dentre uma lista pré-determinada de palavras aquelas que melhor se aproximaram da imagem – sem considerar o conteúdo dos textos presentes. Em nenhum momento o entrevistado foi informado sobre qual das quatro versões seria a original.

Por fim, foi convidado a eleger dentre as imagens apresentadas, aquela que mais lhe agradou e a que menos gostou, sempre justificando suas escolhas. Os dados obtidos foram comparados e analisados de forma a identificar de que maneira a cor atuou na transmissão da informação.

3 - Análise dos questionários

Após o cruzamento de dados dos questionários, ficaram evidentes os problemas de compreensão que o infográfico de Veja apresenta e o impacto que as imagens do corpo humano de Época e Isto É causou nos entrevistados.

Para facilitar a análise dos dados, optamos pela sua divisão em dois blocos:

 infográficos com representações do corpo humano (revistas Época e Isto É);  infográfico sem representações do corpo humano (revista Veja).

Dessa forma será possível observar como a cor atuou na transmissão da informação e o quanto a sua relação com os outros elementos do infográfico interferiu nesse processo. 3.1 - A cor nos infográficos sobre células-tronco

Entre as versões dos infográficos de Época e Isto É que mais agradaram os entrevistados se destacam aquelas apresentadas nas cores vermelha e azul que, respectivamente, conquistaram 48% e 38% da preferência do público (gráfico 1).

(10)

Gráfico 1: Versões que mais agradaram os entrevistados – infográficos com representações do corpo humano, revistas Época e Isto É.

No caso de Veja, em que não há a presença do corpo humano, a preferência se divide entre as cores azul, com 31% dos entrevistados, verde, com 25%, e vermelho, 19% (gráfico 2).

Gráfico 2: Versões que mais agradaram os entrevistados – infográfico sem representações do corpo humano, revista Veja.

Já as versões em tons de cinza foram as campeãs de rejeição em ambos os grupos. Nos infográficos de Época e Isto É 48% dos entrevistados as indicaram como menos agradáveis, seguidas pelas versões em verde, rejeitadas por 24% (gráfico 3). Em Veja a versão em tons de cinza desagradou 69% dos entrevistados (gráfico 4).

Gráfico 3: Versões que menos agradaram os entrevistados – infográficos com representações do corpo humano, revistas Época e Isto É

Gráfico 4: Versões que menos agradaram os entrevistados – infográfico sem representações do corpo humano, revista Veja.

“Em primeiro lugar, é preciso aprender que uma mesma cor evoca inúmeras leituras.” (Albers, 2009, p.3) Para entendermos melhor o que os gráficos 1, 2, 3 e 4 representam é preciso lembrar que os sentimentos e sensações relacionados à cor dependem de seu contexto e das outras cores que a acompanham. Por exemplo, o vermelho pode ser muitas vezes associado a sentimentos totalmente opostos como amor e ódio. Porém, quando aplicado em infográficos ligados à medicina e, principalmente, ao corpo humano (figuras 15 e 16) o

(11)

vermelho assumiu “o efeito psicológico e simbólico do sangue”8

, adquirindo “sentimentos vitalmente positivos”9

(gráfico 5), o que poderia explicar a preferência dos entrevistados.

Gráfico 5: Palavras associadas aos infográficos nas versões em vermelho – revistas Época, Isto É e Veja.

Figura 15: Versão original de “Por dentro dos novos tratamentos com células-tronco”, revista Época – edição 475.

Na figura 16 o vermelho está associado ao preto e, apesar de ser um acorde cromático comumente ligado a valores virtualmente negativos como proibido e perigoso, 57% dos entrevistados relacionaram o infográfico a valores e sentimentos positivos e justificaram utilizando palavras como “sangue”, “vida”, “humano” e “atenção”. Apenas 13% dos entrevistados ligaram a imagem ao “perigo” e à “repugnância”.

De maneira geral, a cor vermelha despertou a atenção de grande parte dos entrevistados, facilitou a leitura e compreensão do infográfico. “A imagem me passou mais objetividade. Com as cores ficou mais fácil entender a legenda” relatou um dos entrevistados após observar a versão em vermelho do infográfico de Veja (figura 17).

(12)

Figura 16: Versão em vermelho de “Nova chance para o coração”, revista Isto É – edição 1954

Figura 17: Versão em vermelho de “Façanha microscópica”, revista Veja, edição 2036.

Azul é a cor principal das qualidades intelectuais (Heller, 2004, p32)10 e é muitas vezes relacionado à inteligência, ciência e concentração. É também a cor da simpatia, da confiança, e de tudo o que deve ser permanente.

Os 38% dos entrevistados que escolheram o infográfico em azul como o que mais agrada (gráfico 1) o relacionaram à palavras como “neutralidade”, “positivo”, “paz”, “tranquilidade”, “inovação” e “saudável” (gráfico 6). “(...) me passa uma sensação de calma, de que não há perigo”, escreveu um dos entrevistados ao ser perguntado sobre a figura 18.

(13)

Figura 18: Versão original de “Nova chance para o coração”, revista Isto É – edição 1954

Porém, o azul não se comportou da mesma forma em todas as imagens, principalmente na figura 19, que apresenta quase todo o corpo humano. Frases como “excesso de neutralidade”, “desânimo visual e desinteresse” “ar de tristeza” e as palavras “distanciamento”, “artificialidade” e “melancolia” foram citadas durante a aplicação dos questionários sobre a versão em azul. “Eu não sei, apesar da tranqüilidade que o azul traz, não sei me colocar sobre como recebo essa cor. Não sei se gosto, fico indecisa, talvez o destaque não aconteça.”, comentou uma das entrevistadas. Apesar de o acorde azul-branco-cinza ser comumente relacionado à ciência e à objetividade, ao ser aplicado em uma imagem muito próxima do corpo humano agrega a ela valores e sentimentos desde o neutro até o negativo (gráfico 6).

Figura 19: Versão em azul de “Por dentro dos novos tratamentos com células-tronco”, revista Época – edição 475.

Na imagem 20, o azul se manteve entre a neutralidade e a positividade (gráfico 6), agradou o olhar e iluminou a imagem. “(...) me parece mais nítido o seu conteúdo e transmite-me a sensação de conhecitransmite-mento a ser informado”, escreveu um dos entrevistados. O

(14)

infográfico de Veja foi associado a palavras como “segurança”, “neutralidade”, “conhecimento” e “permissão”.

Figura 20: Versão original de “Façanha microscópica”, revista Veja, edição 2036.

Cinza, a cor da reflexão e da teoria, é muitas vezes relacionada à neutralidade, mas também ao insensível e àquilo que destrói as cores e sentimentos (Heller, 2004, p. 271-272).

A de neutralidade dos infográficos em tons de cinza assumiu um caráter negativo (gráfico 7). Palavras como “melancolia”, “tristeza” e “doença” foram muito citadas. Um dos entrevistados escreveu sobre a sensação de “informação antiquada, não atualizada” e outro reclamou da falta de legibilidade das imagens, que em alguns momentos “cansava o olho”. Um dos entrevistados comentou que “somente quem conhecesse ou estivesse procurando por informações a respeito das células-tronco se interessaria pelo infográfico”.

Gráfico 7: Palavras associadas aos infográficos nas versões em tons de cinza – revistas Época, Isto É e Veja. O acorde cinza e preto somado a imagem do corpo humano conferiu aos infográficos valores negativos e antipáticos, como a insensibilidade a insegurança e o sombrio. Na figura 21 há certo desconforto pela tamanha proximidade da imagem com o real, e o infográfico foi relacionado a palavras como “neutralidade”, “velhice”, “apatia”, “tristeza” e “morte”.

(15)

Figura 21: Versão em tons de cinza de “Por dentro dos novos tratamentos com células-tronco”, revista Época – edição 475.

A legibilidade é mais um dos problemas apresentados pelos infográficos em tons de cinza. Ao se deparar com a figura 22, um dos entrevistados comentou sobre a “impressão de caos visual. As informações não ficam claras e nem atraentes ao olhar”. O mesmo problema se repete na figura 23 e com um agravante: as pessoas não conseguiram identificar de imediato do que se tratava a imagem. Frases como “Faltou informação”, “Não identifiquei nada por não ter cor” e até “Fiquei curiosa em identificar o que é apresentado pela fotografia. A imagem me parece um xerox de algum livro” foram escritas pelos entrevistados após olharem a versão em tons de cinza pela primeira vez.

(16)

Figura 23: Versão em tons de cinza de “Façanha microscópica”, revista Veja, edição 2036.

Verde é considerada em muitos momentos uma cor neutra. No entanto, como podemos observar, não há regras para as cores, tudo depende do contexto e das outras cores que a acompanham. Nas figuras 24 e 25, o verde poderia assumir conotação positiva por ser comumente associado à vida, medicina, esperança e permissão. Porém, não é isso que ocorre. Ao ser aplicado a imagens ligadas a órgãos do corpo humano, o verde oscilou entre o saudável e o artificial (gráfico 8).

Gráfico 8: Palavras associadas aos infográficos nas versões em verde – revistas Época, Isto É e Veja. Apesar de os depoimentos sobre a figura 24 se alternarem entre a sensação de saúde, de vida, e a impressão de estranheza, apatia e artificialidade: “(...) me parece uma imagem artificial, é estranha”, “(...) a cor verde transmite positividade e descoberta”. Nos infográficos em que a figura do corpo humano é evidente, o verde agregou caráter inumano às imagens. Principalmente no caso da figura 25, em que o acorde verde e preto causou desconforto e trouxe um caráter tóxico e venenoso à imagem. “Não sei explicar a mudança, talvez a palavra fosse: estranhamento. O coração é universalmente conhecido e assimilado visualmente pela cor vermelha, o verde traz desconforto. Não é normal...”, escreveu uma das pessoas entrevistadas.

(17)

Figura 24: Versão em verde de “Por dentro dos novos tratamentos com células-tronco”, revista Época – edição 475.

Figura 25: Versão em verde de “Nova chance para o coração”, revista Isto É – edição 1954

O infográfico de Veja (figura 26) exige maior atenção dos leitores para que seja compreendido e, diferentemente das figuras 24 e 25, não apresenta a forma do corpo humano. Ao ser associado à cor verde, o infográfico gerou algumas confusões, um dos entrevistados disse que “(...) a imagem da caixa transmite uma sensação que não é confirmada pelo texto. Relacionada com a agricultura ou ecologia”. Apesar disso, imagem foi relacionada a sentimentos positivos e neutros (gráfico8): “Parece algo processual, evolutivo, ainda não concluído, mas o sentimento pode ser definido como calma”, comentou um dos entrevistados.

(18)

Figura 26: Versão em verde de “Façanha microscópica”, revista Veja, edição 2036.

4 - Conclusões

A partir da análise dos questionários aplicados foi possível perceber que as cores auxiliam na transmissão da informação e contribuem na sua organização e hierarquização, e que o contrário também é verdadeiro. Os resultados demonstram como o uso de determinadas cores pode atrair o leitor, informar e também influenciar subliminarmente na tomada de posição frente a um debate polêmico e que envolve interesses conflitantes.

A cor incorpora significados às informações e o autor dos infográficos tem total responsabilidade por suas escolhas, pois “a utilização da informação cromática pela cultura pode determinar sistemas de agrupamento, identificação, armazenamento e transmissão diferentes.” (Guimarães, 2004, p. 110). Por estarem inseridos em uma situação em que a sociedade se divide entre apoiar ou não a permissão das pesquisas com células-tronco embrionárias, os infográficos podem ser relacionados a um dos lados do debate. Nos três casos apresentados, verifica-se que a influência é de apoio à permissão das pesquisas. No contexto em que estão aplicadas (figuras 2, 3 e 4), as cores assumem conotações positivas, relacionadas à medicina e ao conhecimento (gráficos 5 e 6).

Notas

1Heller, 2004, p.17

2 “Nos textos visuais, particularmente os do jornalismo, as cores desempenham funções

específicas que podem ser separadas em dois grupos: um que compreende as sintaxes e as relações taxionômicas, cujos princípios de organização são paradigmáticos, como organizar, chamar a atenção, destacar, criar planos de percepção, hierarquizar informações, direcionar a leitura e etc., e outro que compreende as relações semânticas, como ambientar, simbolizar, conotar ou denotar.” (GUIMARÃES, 2003, p: 29).

3

Flusser, 2007, p.145

4 Refere-se às obras impressas entre 1455, data aproximada da publicação da Bíblia de

Gutenberg, até 1500.

5

Imagem de uma serpente cortada em oito partes, cada uma representando um dos oito primeiros estados americanos

(19)

6

A Lei de 1995 proibia a clonagem e pesquisas com embriões humanos, o que impossibilitava a manipulação de células-tronco e a clonagem terapêutica, elementos fundamentais no desenvolvimento de novos tratamentos para inúmeras doenças.

7

Os diagramas são infográficos que mostram diferentes situações como o funcionamento de uma máquina, um órgão do corpo, um acidente, o desfecho de uma situação. Ao contrário dos outros infográficos, o diagrama pode necessitar de maiores habilidades artísticas dependendo de sua complexidade. (QUATTRER, 2009)

8

Heller, 2004, p.55

9Idem.

10 Para sua pesquisa, Heller consultou 2000 pessoas na Alemanha. Durante a entrevista, as

pessoas responderam questões sobre sua cor favorita, a que menos gostava, que impressões cada cor lhes causava e as cores que normalmente associavam a sentimentos distintos.

Referências

ALBERS, J. A interação da cor. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. ANER. Maiores circulações – revistas semanais. Diaponível em:

<http://www.aner.org.br/Conteudo/1/artigo143130-1.asp> Acesso em: 28 de jan. 2010. CAIXETA, R. A arte de informar, 2005. Disponível em:

<http:c//www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=556> Acesso em: 10 de jan. 2009. FERRERES, G. La infografía periodística, 1995. Disponível em:

<www.tintachina.com/docs/infografia_periodistica_1995.pdf> Acesso em 15 de jul. 2008. FLUSSER, V. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação: Vilém

Flusser; organizado por Rafael Cardoso. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

GUIMARÃES, L. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 2004. GUIMARÃES, L. As cores na mídia. São Paulo: Annablume, 2003.

HELLER, E. Psicologia del color - Como actuan los colores sobre los sentimientos y la

razon. Barcelona: Gustavo Gili, 2004.

PELTZER, G. Periodismo iconográfico. Madrid: Ediciones Rialp, 1991.

QUATTRER, M. , GOUVEIA, A. P. S. A infografia nos meios de comunicação impressos. In: Anais do 4º Congresso Internacional de Design da Informação, Rio de Janeiro: SBDI, 2009.

(20)

Veja OnLine. Perguntas e Respostas - Lei de Biossegurança, 2008. Disponível em:

<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/biosseguranca/index.shtml> Acesso em: 28 de set. 2009.

ZATZ, M. Clonagem e células-tronco, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000200016&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 9 de set. 2008.

Referências

Documentos relacionados

É obtido por meio de informações fornecidas pela empresa em um formulário eletrônico sobre seus processos de gestão de pessoas, pela análise das descrições das práticas

Dentre as principais conclusões tiradas deste trabalho, destacam-se: a seqüência de mobilidade obtida para os metais pesados estudados: Mn2+>Zn2+>Cd2+>Cu2+>Pb2+>Cr3+; apesar dos

Preliminarmente na tentativa de responder aos questionamentos expostos, buscou-se, identificar a materialização de políticas públicas de Educação Ambiental nas escolas

No que se refere aos profissionais que ainda atuam apenas com normal médio, ou seja, formação de nível médio, a estratégia 15.9 propõe implementar cursos e programas

Se você permanecer em silêncio e não der nenhuma informação, o Serviço de Imigração talvez não tenha nenhuma prova que você esteja aqui ilegalmente, eles talvez não

que guiam a reabilitação neuropsicológica, sendo alguns deles: o terapeuta precisa conhecer a experiência subjetiva do paciente em relação a sua patologia; o quadro

[r]

Caixa de entrada da IFU Conjunto das lentes fixas Flange de montagem Mecanismo de Intercâmbio de Filtros e Sistema de Foco de Referência Mecanismo de Intercâmbio de Lentes