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O comportamento das firmas frente à criação um imposto sobre valor agregado

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ENEGEP 2006 ABEPRO

O comportamento das firmas frente à criação um imposto sobre valor

agregado

David Ricardo Colaço Bezerra (UFPE) drcb1@uol.com.br

Anderson Oderico de Arante (UFPE) aarante@deloitte.com

Fernando de Mendonça Dias (FBV) fmd@datametrica.com.br

Resumo

O trabalho discute as reações das firmas diante da criação de um imposto sobre o valor agregado (IVA), con]forme a Proposta de Emenda Constitucional 293/2004, enfocando o problema da evasão fiscal. Como referencial teórico utiliza-se a teoria do principal-agente, bem como os modelos de evasão fiscal. Pressupostos da teoria do principal-agente e variáveis propostas para modelos de evasão fiscal são utilizados como base para construção de um modelo de exemplificação que servirá para ilustrar a dinâmica das decisões de uma firma representativa diante de uma mudança no sistema tributário. O artigo finaliza mostrando qual o melhor cenário a ser implementado pelo governo e porque este método não é adotado no contexto brasileiro.

Palavras-chave: evasão fiscal; imposto sobre o valor agregado; teoria do principal agente.

1. Introdução

O objetivo desse artigo é identificar as prováveis reações das firmas à criação de um imposto agregado face ao problema da evasão fiscal. Considera-se a Proposta de Emenda Constitucional 293/2004 (PEC 293/2004) e apresenta reações das firmas a diferentes cenários de adoção de um Imposto sobre o Valor Agregado (IVA).

A elevada carga global combinada com a multiplicidade de impostos e alíquotas facilitam a presença de comportamento oportunista entre as firmas no que se refere tanto a evasão quanto a elisão fiscal. Busca-se representar através de modelos teóricos as principais questões fiscais envolvidas na PEC 293/2004 e seus impactos no comportamento das firmas, sob o prisma de uma empresa representativa, nas questões relacionadas ao pagamento de impostos e evasão fiscal.

Assim, esse artigo está organizado da seguinte forma: na seção 2 discute-se a metodologia de pesquisa adotada. Em seguida, apresentam-se os problemas relativos à tributação sobre o consumo no Brasil. Na quarta seção discutem-se alguns aspectos relativos à tributação sobre o valor agregado e na quinta seção sintetizam-se as principais proposições da PEC 293/2004. A seção 5 desse artigo apresenta o referencial teórico, que é a teoria do principal-agente, em seguida, na sexta seção, são apresentados os modelos de exemplificação. Nas duas últimas seções, são realizadas as análises de cenários e considerações finais.

2. Metodologia

Utilizou-se o levantamento bibliográfico em conjunto com análise documental (para análise da legislação e propostas de reforma tributária) com o objetivo de elaborar o ensaio teórico sobre o tema em estudo. Os documentos coletados foram obtidos no portal da Câmara dos

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Deputados, bem como no portal da Fenafisco.

Após a síntese e elaboração do referencial teórico, foram selecionadas as variáveis relevantes para a modelagem do problema da evasão fiscal no contexto brasileiro. Tais variáveis tiveram por base os modelos de evasão fiscal que utilizam o arcabouço da teoria do principal-agente, tais como as que estão presentes nos modelos de Allingham e Sandmo (1972), Marrelli (1984, apud Sandmo, 2005), Cowell e Gordon (1988), Yaniv (1995) e Cowell (2003).

Em seguida, formularam-se modelos de exemplificação a fim de retratarem as situações suscitadas no problema de pesquisa relacionadas à sonegação. Os modelos foram analisados conforme a abordagem utilizada na teoria dos jogos por Rasmunsen (2002, p. 2-6) e Camerer (1991, p. 137-152).

3. Aspectos da Tributação sobre Valor Agregado

O IVA é a forma mais difundida de tributação sobre o consumo em países desenvolvidos. O Brasil foi pioneiro na adoção deste tipo de tributo na ocasião da reforma tributária de 1967, com a criação do antigo ICM (que foi sucedido pelo ICMS em 1988).

Podem-se citar dois problemas em relação ao ICMS como um verdadeiro IVA. O primeiro problema se refere a dois fatos: inicialmente há a questão da existência de outro imposto relevante sobre o consumo, o IPI; o segundo fato é o de que o ICMS pode incidir sobre o IPI, o que implica em cumulatividade; assim, pode-se afirmar que o ICMS não é um IVA em sentido estrito.

O segundo problema é que um IVA precisa, conceitualmente, ser um imposto de alíquotas centralizadas, caso se opte pelo método do crédito fiscal e que é o usado no Brasil e em todos os impostos deste tipo no mundo, exceto no Japão. Neste método, a concessão de isenção a algum membro intermediário no ciclo do produto leva a ocorrência de “efeito-cascata”. Como no Brasil as alíquotas e suas isenções são fixadas pelas unidades da federação, tais ocorrências não são raras.

Dentre os métodos de cálculo do IVA encontram-se (1º.) método da adição: o imposto a pagar é calculado a partir da soma dos valores que remuneram os fatores de produção utilizados na etapa do processo (incluindo salários, juros e lucros); (2º.) método da subtração: computa-se o valor adicionado através da dedução do valor de compra e (3º.) método do crédito fiscal: a empresa se credita de um valor pela compra de produtos e deduz esse montante por ocasião do pagamento do imposto devido pela venda, que é o mesmo adotado na arrecadação do ICMS.

O método da adição proporciona um incentivo para a firma modificar os valores de remuneração dos fatores de produção (que incluem o lucro) a fim de pagar menos imposto, diminuindo assim a arrecadação do governo. Por outro lado, pelo método do crédito fiscal, poderia haver incentivos para a formação de conluios com o fornecedor para sonegação de impostos. Por estes motivos, dos métodos possíveis de apuração do IVA, o da subtração é considerado o mais recomendado (Rezende, 2001, p. 223). Visto que a PEC 293/2004, que será discutida na próxima seção, não deixa claro o método a ser adotado, esse artigo analisará os cenários possíveis com a adoção destes três métodos apresentados.

4. A Proposta de Emenda Constitucional 293/2004

A PEC 293/2004 tem sido considerada de escopo amplo, delineando algumas transformações de grande impacto sobre o sistema tributário e dentre as quais se incluem: estabelecimento de

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limites e mecanismos de controle para a carga tributária nacional; criação, em regime de urgência, de uma política de desenvolvimento industrial que vise reduzir as desigualdades entre regiões da federação; promoção de transformações no Sistema Tributário Nacional que incluam as alterações do ICMS, IPI, ISS e contribuições destinadas à seguridade social, visando a consolidação destes em um imposto incidente sobre o valor adicionado (IVA); criação de um novo sistema de partilha de tributos entre as esferas do governo.

Para a formulação dos cenários se utiliza a possibilidade de criação de um imposto sobre o valor agregado, conforme proposto na PEC 293/2004, tendo-se como premissa a vedação de concessão de novos incentivos fiscais pelos estados. A premissa de vedação aos incentivos fiscais tem por objetivo a simplificação do modelo, visto que este considera a relação entre um governo e uma firma representativa e não reflete a existência de competições tributárias entre unidades federativas. Cada cenário será investigado tomando-se em consideração as contribuições da teoria do principal-agente, que será abordada na próxima seção.

5. Referencial Teórico: Teoria do Principal-Agente

A teoria do principal-agente trata de situações em que há uma “relação de agência” que existe “sempre que o bem-estar de um dos participantes (principal) depende daquilo que é feito por uma outra pessoa (agente), também participante” (Pindyck e Rubinfeld, 2002, p. 617). A informação - definida aqui como um conjunto de dados que os indivíduos possuem em um dado momento numa interação – também exerce um papel essencial para o entendimento dos resultados obtidos pelos participantes.

O primeiro desafio do principal é fazer o agente participar de um arranjo ou contrato que beneficie o agente tanto quanto a sua alternativa fora deste contrato, o benefício mínimo que o principal tem que dar ao agente para que este participe do jogo é definido como utilidade de reserva. Tal desafio é conhecido como restrição de participação. Outro desafio é oferecer um contrato que incentive o agente a, após entrar no jogo, desempenhar a ação desejada pelo principal, isto é, a ação capaz de maximizar o resultado obtido pelo principal. Este desafio é conhecido como restrição de compatibilidade de incentivos (Rasmunsen, 2002, p. 172) Portanto, o objetivo do principal consiste em otimizar a sua utilidade, levando em consideração que o agente poderia rejeitar o contrato livremente e que, mesmo que aceite o contrato, este poderá executar ações (ou “esforço”, Rasmunsen, 2002, p. 180) não desejáveis. Sob o arcabouço da teoria do principal-agente, o artigo clássico sobre evasão fiscal de Allingham e Sandmo (1972) focaliza as recompensas obtidas pelos agentes. Naquele trabalho, os autores desenvolveram um modelo (doravante, modelo A-S) no qual os pagadores de impostos se deparariam com duas estratégias básicas: (1) declarar rendimentos totais; (2) declarar menos do que os rendimentos totais.

Se o agente escolhesse a opção “declarar menos do que a renda atual”, isto é, sonegar, sua recompensa total dependeria de ser ou não auditado pelas autoridades e, caso não fosse, sua recompensa seria maior do que a estratégia “declarar renda total. Sandmo (2005) utiliza uma notação mais moderna do modelo, que destaca valor evadido e não valor reportado e as recompensas do sonegador não descoberto.

6. O Modelo de Exemplificação

Os passos do jogo de evasão fiscal ocorrem na seguinte ordem: (1º.) O governo oferece um “contrato”; (2º.) A firma aceita ou rejeita o “contrato”; (3º.) Caso a firma aceite, escolhe nível de esforço de arrecadação; (4º.) A natureza joga, adicionando incerteza, ao escolher o “estado do mundo”; (5º.) O governo configura incentivos para que a firma envie declaração correta.

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Neste jogo, o contrato do governo que regulamenta a relação com a firma tem o formato:

) , (

B q m . Onde Β é o benefício concedido para as firmas na forma de bens públicos, que é função de q, vendas realizadas e m, a declaração realizada pela firma acerca dessas vendas.

A natureza escolhe o “estado do mundo”, ϕ, que determina a ocorrência de qL (vendas baixas) ou qH (vendas altas), o que acrescenta incerteza às vendas. O volume de vendas é observado pela firma, porém não pelo governo. Assim, o estado do mundo é:

(1) , com probabilidade ; , com probabilidade (1 ). L H q q q ϕ ϕ = −  , tal que qH > qL.

A declaração das vendas, m, pela firma, por sua vez, é representada por:

(2) H L m q m m q = = ≠  

Ou seja, a firma pode relatar corretamente suas vendas, mH, através da declaração enviada para o governo, ou ocultar esta informação, mL, sonegando impostos. Por conseguinte, as funções de utilidade da firma descritas em (1) e (2), a seguir, são dadas por Β(q(ϕ), m) e pela margem bruta sem o pagamento de impostos, π, que é função da quantidade vendida, e esta, por sua vez, decorre do “estado de mundo”, π(q(ϕ)). Deve-se também subtrair a desutilidade do esforço de arrecadar impostos, t, que é função da declaração enviada para o governo mH ou mL, de modo que mH - mL = total evadido (e).

No caso das firmas que sonegam, são acrescentadas as variáveis “custo de ocultação” do valor devido de impostos, que é função do montante evadido (c(e)), bem como a multa esperada, representada pela ponderação entre probabilidade de detecção (p), e a multa aplicada (θ). Por conseguinte, as funções de utilidade da firma podem ser descritas da seguinte forma:

(3) U([(B( ( ), ), ( ( ))] [ (qϕ m π ϕqt mH)]), se a firma paga os impostos.

(4) U([(B( ( ), ), ( ( ))] [ (qϕ m π ϕqt mL)+c e( )+ pθ]), se a firma sonega.

Destacando os sinais das equações (3) e (4) tem-se que o incremento da utilidade da firma (U) em relação ao benefício concedido (Β) e ao lucro sem o pagamento de imposto (π) é positivo (U’(ΒΒΒΒ) > 0; U’(ππππ) > 0). Enquanto que o incremento desta utilidade em relação a t, c e pθ é negativo (U’(t) < 0; U’(c) < 0; U’(pθθθθ) < 0).

A partir de (3) e (4), pode-se afirmar que, a fim de que a utilidade da firma ao pagar o imposto seja maior do que a de sonegar, então, a desutilidade do imposto arrecadado, dado que as empresa relatou corretamente suas vendas ao governo, deve ser maior do que a soma do imposto pago com sonegação com o custo de ocultação e a multa esperada (t(mH)<t(mL)+c(e)+ pθ ). Caso contrário, as empresas seriam motivadas a sonegar. A utilidade do governo, V, obtida pela receita de arrecadação (R) é representada por:

(5) V R t m q( [( ( , ( )),ϕ pθ δ( ( ))] [B( ( ), )eqϕ m +δ( )])e

Onde, pθ representa a multa esperada, que é função dos custos do governo para detectar a sonegação, que por sua vez é função do total evadido δ(e). De forma que a utilidade do governo depende do imposto arrecadado, cuja exatidão depende do relatório recebido e do valor esperado da multa, subtraídos pelos benefícios concedidos às empresas e o custo de detecção de fraudes ao fisco.

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Explicando os sinais da equação (5) tem-se que o incremento da utilidade da firma em relação à receita do governo (R) é positivo (V’(R) > 0). Por outro lado, a utilidade do governo em relação à Β e δ é negativa (V’(ΒΒΒΒ) < 0; U’(δδδδ) < 0). Desta forma quanto maior for o nível de esforço de arrecadação pela firma (dados por mH e mL), maior a receita do governo, cuja representação é dada por:

(6) 1 2 ( ) 1 ( ) H H q q p R R p R = − 

 , se a firma paga os impostos (ocorre m

H). (7) 1 2 ( ) 1 ( ) L L q q p R R p R = − 

 , se a firma sonega (ocorre m

L).

Onde R, a receita do governo pode assumir dois valores R1 e R2, tal que R1> R2. Ao passo que pH e pL representam, respectivamente, a probabilidade da receita esperada caso a firma pague os impostos e a probabilidade caso a esta sonegue.

Nesse jogo, o problema do governo é configurar um contrato que induza às firmas a enviar a “mensagem” correta acerca de suas vendas, visto que as ações desempenhadas pela firma não podem são observadas. Observe que o governo não observa nem se as vendas foram altas ou baixas, nem se a firma declarou corretamente ou não. Os benefícios concedidos pelo governo para a firma, dado o resultado de sua arrecadação, são configurados da seguinte forma:

(8) 1 1 2 2 B (B ) B (B ) R R = =   , tal que Β 1 > Β2

Seja B1 = (B1H, B1L) e B2 = (B2H, B2L), onde B1H e B2H representam os benefícios concedidos à firma que paga imposto, ao passo que B1L B2L se aplicam aos benefícios concedidos às firmas quando estas sonegam. Deste modo, a restrição de participação individual é dada por:

(9) 2 1 H H ([B ( ( , ), ( ( ))] [ ( )]) (1 ) ([B ( ( ), ), ( ( ))] [ ( )]) (B(0), (0), (0)) H H H H p U q m q t m p U q m q t m U t ϕ π ϕ ϕ π ϕ π − + − − ≥

Onde U(B(0),π(0),t(0)) representa a utilidade de reserva da firma. A fim de motivar a firma a pagar imposto, o governo deverá formular incentivos que atenda a compatibilidade de incentivos, que é dada por:

(10) 2 1 2 1 H H L L ([B ( ( ), ), ( ( ))] [ ( )]) (1 ) ([B ( ( ), ), ( ( ))] [ ( )]) ([(B ( ( ), ), ( ( ))] [ ( ) ( ) )] (1 ) ([(B ( ( ), ), ( ( ))] [ ( ) ( ) ] H H H H L L L L p U q m q t m p U q m q t m p U q m q t m c e p p U q m q t m c e p ϕ π ϕ ϕ π ϕ ϕ π ϕ θ ϕ π ϕ θ − + − − ≥ − + + + − − + +

Ou seja, a utilidade esperada da firma, quando esta informar o valor exato da declaração e paga o imposto, deverá ser maior ou igual do que a utilidade esperada quando a firma não informar os valores corretos na declaração, sonegando imposto. Novamente, considerando-se que a firma é avessa ao risco, se a utilidade da firma para pagar imposto for maior ou igual do que a utilidade obtida em sonegar, então a empresa pagará todos os impostos. A fim de encontrar a forma ótima de induzir a firma a escolher a ação de pagar imposto, mH, o principal deve resolver o problema:

(11) ) 10 ( ) 9 .( . ))]) ( ) ), ( ( [ ))] ( ( ), ( ( ( ([ max e a s e m q b e p q t R VE ϕ θ δ − ϕ +δ

Dada a concavidade da função objetivo em (16) e o fato de VE ser diretamente proporcional a R e inversamente relacionada com B, existe solução para o problema do principal, que

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consiste em maximizar a utilidade esperada de sua receita de arrecadação, ou seja:

(12) ∃B* tal que V'(R*)=0

Recompensas: Recompensa do governo: VE = VE([R(t(m,q(ϕ), pθ(δ(e))]-[Β(q(ϕ), m) + δ(e)]); Recompensa da firma caso rejeite o contrato = U(Β(0),π(0),t(0)) ; Recompensa da firma que paga imposto = U([(Β(q(ϕ), m), π(q(ϕ))) – [t(mH)]); Recompensa da firma que sonega = U([(Β (q(ϕ), m), π(q(ϕ))]– [t(mL) – c(e) – pθ)])

7. As Reações das Firmas à PEC 293/2004

Os cenários a serem estudados são compostos pela combinação dos seguintes fatores: os métodos de tributação possíveis pela PEC 293/2004 e o comportamento da carga tributária após a aprovação de uma das propostas.Esses fatores são mostrados no quadro 1. No cenário 1b, por exemplo, tem-se a criação do IVA, arrecadado pelo método do crédito fiscal com o aumento de carga tributária para a firma representativa.

Quadro 1 – Cenários da PEC 293/2004

Método de Arrecadação Carga Tributária

1. Crédito Tributário (a) Permanece Igual 2. Adição (b) Aumenta 3. Subtração (c) Diminui Fonte: Elaboração dos Autores

Nos cenários sob a criação de um IVA, os métodos de arrecadação influenciam as recompensas obtidas pelo governo e pela firma. Considerando-se os casos do método do crédito tributário, uma firma sonegadora se defrontaria com oportunidades de evasão muito semelhantes às que existem no cenário atual (e.g. formação de conluios com fornecedores ou clientes finais, entre outras). No entanto, a recompensas potenciais da sonegação seriam maiores, visto que o IVA, conforme proposto pela PEC 293/2004, substituiria quatro tributos (IPI, ICMS, PIS e Confins). Assim, uma das estratégias do governo nos cenários que incluem este método seria o reforço dos parâmetros de incentivo de arrecadação visando coibir o aumento da sonegação.

Caso a carga tributária permanecesse a mesma (i.e. igual à carga existente com os diferentes tributos substituídos pelo IVA, conforme o cenário 1a), então a adoção do IVA reduziria as opções da firma de buscar redução de carga tributária em estados com diferencial de alíquota. Nestes cenários, caso houvesse a manutenção de incentivos fiscais, a firma tenderia a se instalar na unidade federativa que oferece maiores vantagens. O quadro 2, a seguir, exibe os diferentes efeitos das reações das firmas aos cenários do método do crédito tributário.

Quadro 2 – Resultados da PEC 293/2004 (Crédito Tributário)

CENÁRIO Sonegação Fiscal Receita do Governo 1a Aumenta/ estabiliza Estabiliza/ aumenta

1b Estabiliza / aumenta muito

Estabiliza / diminui muito

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Fonte: Elaboração dos Autores

Os efeitos na receita do governo e na evasão fiscal dependem do ajuste da compatibilidade de incentivos, ilustrado em (10), cuja efetividade tende a ser maior com a vedação dos incentivos fiscais, dado que a firma não procuraria barganhar benefícios em outras unidades federativas. Se o ajuste não for adequado, a variação da carga tributária é que determinaria a reação das firmas. Entretanto, assumindo-se a racionalidade do principal, então é razoável que este ajuste sempre ocorra, logo, a reação das firmas em relação à evasão fiscal permaneceria no mesmo patamar existente antes da aprovação da PEC 293/2004. A ambigüidade exibida nos cenários do quadro 2, assim como nas figuras posteriores, reflete a capacidade de ajuste da compatibilidade de incentivos.

Considerando que o aumento da sonegação pressionaria a receita do governo para baixo ao passo que a diminuição das alíquotas aumentaria os incentivos das firmas para pagarem imposto, então é razoável supor que a diminuição da carga tributária sob o método do crédito tributário (cenário 1c) poderia contribuir para a diminuição da sonegação e aumento da receita do governo, desde que ajustados os mecanismos de incentivo. Por outro lado, no caso dos cenários da PEC 293/ 2004, com a adoção do método da adição, uma das reações possíveis das firmas estaria associada não ao aumento da evasão fiscal e sim da tentativa de pagar menos imposto de forma legal, a chamada elisão fiscal, conforme resultados exibidos no quadro 3.

Quadro 3 – Resultados da PEC 293/2004 (método da adição)

CENÁRIO Sonegação Fiscal Receita do Governo

2a Diminui Diminui

2b Diminui Diminui

2c Diminui Diminui

Fonte: Elaboração dos Autores

Conforme discutido anteriormente, neste método a firma pode deduzir os custos dos fatores de produção (e.g. salários, preço dos insumos e lucro). Assim, caso não existam patamares estipulados para dedução, a firma tentaria apropriar o máximo possível de custos de fatores de forma a reduzir o imposto devido, o que influenciaria negativamente na receita do governo. Finalmente, tem-se no quadro 4 os resultados das prováveis reações das firmas e seus possíveis efeitos na receita do governo sob o método da subtração, que é o mais recomendado no regime de tributação sobre valor agregado.

Quadro 4 – Resultados da PEC 293/2004 (método da subtração)

CENÁRIO Sonegação fiscal Receita do governo 3a Estabiliza/ diminui Aumenta/ aumenta muito

3b Aumenta / diminui Diminui/ Aumenta

3c Diminui/ diminui

muito Aumenta/ Aumenta Muito Fonte: Elaboração dos Autores

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viés positivo para governo em termos de arrecadação quando comparado aos resultados do cenário do crédito tributário.

A razão disto é que no método da subtração, as opções para evadir seriam menores em virtude dos interesses distintos de cada firma numa cadeia produtiva em relação ao valor arrecadado, conforme ilustrado no modelo de Marrelli (1984 apud Sandmo 2005), o que implicaria em aumento do custo de ocultação (c(e)) cujo significado foi discutido anteriormente.

8. Conclusão

A reforma pela PEC 293/2004 somente produzirá os efeitos de eqüidade e eficiência almejados pelo governo, se este for capaz de adequar seus parâmetros de incentivos de forma a motivar os agentes para o comportamento de arrecadação desejado. Deste modo, as firmas reagirão de acordo com a capacidade do governo de ajustar os mecanismos de incentivo, isto é, realizar os ajustes na compatibilidade de incentivo e restrição de participação individual. Estes parâmetros de incentivo, conforme os modelos sintetizados na fundamentação teórica, podem ir além das recomendações básicas de Allingham e Sandmo (1972), a saber, o aumento da probabilidade de detecção de sonegação e/ou aumento da multa aplicada.

A principal contribuição deste artigo é a de que, assumindo-se a capacidade do governo de ajustar a compatibilidade de incentivos por meio de qualquer um dos parâmetros mostrados no jogo de evasão fiscal, a melhor situação nos cenários possíveis na PEC 293/2004 é a criação do IVA com a diminuição da carga tributária, adotando-se o método da subtração. Contudo, o método de crédito fiscal não deve ser substituído no Brasil pelo método da subtração, ao menos no médio prazo, dada a incompatibilidade deste último com alíquotas múltiplas, como também questões políticas e o desejo de reduzir a regressividade do sistema. Assim, as observações referentes ao quadro 2 são as mais prováveis de prevalecer. Elas sugerem que o caminho mais efetivo para elevar a arrecadação é reduzir a carga tributária total. Entrementes, os demais elementos da PEC 293/2004 parecem apontar em direção ao aumento de carga tributária, o que sugere que ajustes nos mecanismos terminarão por servir a manutenção da arrecadação no patamar atual, mas com os efeitos adicionais de elevar os custos totais de administração do sistema e aumentar o papel coercitivo do aparato fiscalizador.

Referências

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