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6. A Trindade no Novo Testamento

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Academic year: 2021

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6. A Trindade no Novo Testamento

Pr Luciano R. Peterlevitz

Tema e assunto

Nessa aula, estudaremos acerca da Trindade no Novo Testamento. Os seguintes tópicos serão abordados:

 A revelação da Trindade no Novo Testamento.

 Uma formulação da doutrina da Trindade.

Objetivos

Após estudar essa lição você será capaz de:

 Reconhecer a Trindade no Novo Testamento.

 Definir (de forma limitada) a doutrina da Trindade de acordo com a Escritura.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo no Novo Testamento

De acordo com o Novo Testamento, as três pessoas da Trindade apresentam igualmente qualidades divinas:1

1

Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica: teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2013), p. 71.

Nomes divinos Atributos divinos Obras de Deus Atribuição de louvor Pai Mt 5.45; 6.6-15; Mc 14.36; Jo 5.19-22 Mt 11.25; Mc 14.36; Jo 17.11 Jo 5.37; 1Co 8.6; 1Pe 1.3 Jo 4.23 Filho Mt 1.23; 12.8; Mc 2.28; Jo 1.1; 20.28; Rm 9.5; 14.9; Tt 1.3; 2.13; 1Jo 5.20; Ap 1.8 Mt 18.20; 28.18-20; Jo 1.48; 5.26; 8.46; 16.30; 1Co 1.24; Ef 1.22; Cl 1.17; Hb 1.3,8; 13.8; 1Pe 1.19 Mt 1.21; Mc 2.7; Jo 1.3; 5.17; 6.39; Cl 1.16; Hb 1.3,10 Mt 14.33; Jo 5.23 Espírito Santo At 1.8; Jo 15.26; Rm 8.14 Lc 1.35,37; 11.20; Jo 14.26; 16.13; Rm 8.2; 1Co 2.10-12; Hb 9.14 Mt 12.28; Jo 3.5; At 28.25; 2Te 2.13; 1Pe 1.2; 2Pe 1.21 Mt 28.19; 1Co 3.16; Jo 4.24

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Duas afirmações importantes

O Novo Testamento faz duas afirmações muito importantes sobre Deus:

Primeira afirmação: Deus é um. O Senhor Deus é o único Deus. Em Mr 12.29, Jesus

cita Dt 6.4, reiterando que “o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Em 1Co 8.4, Paulo afirma que “não há outro Deus, senão um só”.

Segunda afirmação: Deus se revela em três Pessoas. Em 1Co 8.4-6, onde Paulo afirma

que há um só Deus (v.4), ele também diz que “há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também” (v.6). “Quando descreveu o Deus verdadeiro, empregou a palavra theos em referência ao Pai, e kyrios em referência à pessoa de Jesus Cristo. Evidentemente ele cria que ambas as pessoas são divinas, mesmo que seja um.”2 Paulo diz que em Cristo “existem todas as coisas”, significando assim que ele não é criatura, mas Criador de todas as coisas. De fato, Cristo é Deus, à semelhança do Pai. A diversidade das Pessoas pode ser observada em outros textos do Novo Testamento. É o que passaremos analisar, a partir de agora.

A Trindade no batismo de Jesus Mt 3.16,17; Mc 1.10-11; Lc 3.21-22

As três Pessoas da Trindade são mencionadas no batismo de Jesus: “Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”. (Mt 3.16,17).

Conforme está escrito, o Espírito desceu como uma pomba sobre o Filho, e a voz do Pai foi ouvida dos céus. Portanto, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apresentados na narrativa do batismo de Jesus.

A Trindade na Grande Comissão de Mateus 28.19

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).

É notável que a palavra “nome” está no singular, e ocorre uma única vez no texto, em referência ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. O texto não diz “batizando-os no nome do Pai, no nome do Filho e no nome do Espírito Santo”. Antes, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apresentados sob um só “nome”. “Há apenas um nome para o Deus que subsiste em três pessoas.”3

Erroneamente muitos acreditam que as palavras “em nome do Pai, do Filho e do

Espírito Santo” são uma fórmula batismal trinitariana inventada pela Igreja por volta do 4º século d.C., depois que o Concílio de Constantinopla (381) definiu a doutrina da Trindade. Eles argumentam que nem Eusébio e nenhum dos pais da igreja primitiva citaram essa fórmula trinitariana. Afirmam ainda que a igreja primitiva do livro de Atos batizava “em nome de Jesus Cristo” (2.38; 8.16; 10.48; 19.5), e, portanto, não há

2 Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologética para

o contexto atual (São Paulo: Vida Nova, 2007), p. 176.

3

Leandro Lima, A Trindade: da teoria à prática. Disponível em

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nenhuma menção da fórmula batismal trinitariana em outros textos do Novo Testamento. Ou seja, as palavras “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” teriam sido inseridas pela Igreja no Evangelho de Mateus, com o suposto objetivo de provar a doutrina da Trindade. Nos dias de hoje, muitos usam esse argumento para dizer que a Trindade não é ensinada nas Escrituras, antes, é fruto de uma elaboração da igreja do 4º século.

Respondemos isso da seguinte maneira:

1. A doutrina da Trindade é amplamente evidenciada nas Escrituras, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Expressões trinitarianas que se referem ao Pai, ao Filho e ao Espírito Espirito aparecem em vários outros textos (1Co 12.4-6; 2Co 13.14; Ef 4.4-6; 2Ts 2.13,14; 1Pe 1.2).

2. A ausência da fórmula batismal trinitariana no livro de Atos dos Apóstolos demonstra que as palavras “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” não são uma instrução acerca das palavras que devem ser usadas no momento do batismo, antes, Jesus simplesmente “estava indicando que, pelo batismo, a pessoa batizada passaria a ser possessão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.4 Desde cedo a igreja compreendeu que a instrução de Jesus em Mt 28.19 não era uma fórmula obrigatória a ser usada no batismo.5 Por essa razão, a igreja de Atos batizava “em nome de Jesus Cristo”. Mas, dizer que a fórmula batismal trinitariana não é obrigatória não significa dizer que ela é errada, pois não há nenhum problema teológico no uso das palavras “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” no momento do batismo.

Portanto, a expressão “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” deve ser considerada como palavras do próprio Jesus, e não como uma inserção posterior do século 4º. As palavras de Jesus apontam claramente a existência das três pessoas da Trindade.

A Trindade no Evangelho de João

O Evangelho de João apresenta Jesus no primeiro verso: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1).

O “Verbo” é a tradução do termo grego logos, que também pode ser traduzido como “palavra”. Jesus é a Palavra encarnada de Deus (Jo 1.14).

Jo 1.1 faz duas afirmações sobre o Jesus:

 Jesus “era Deus”, no princípio da criação. Ou seja, ele participou da criação, como dizem os v.2 e 3. Desde o princípio, o Verbo já existia. O texto não diz que ele passou a existir com a criação, mas sim, que ele já existia antes da criação. No princípio, ele já estava lá. Quando todas as coisas tiveram um início, o Verbo já existia. Portanto, ele não foi criado. Ele é Criador.

 Jesus “estava com Deus”. Identificamos aqui a diversidade das Pessoas. Ou seja, Cristo não somente “era Deus” (no sentido de que ele possuí a mesma essência de Deus antes da criação), mas também “estava com Deus”. A partícula “com”

4 R. V. G. Tasker, Mateus: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, 1980[Reimpressão de

2011]), p. 218.

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4 demonstra que o Filho é alguém distinto do Pai. Então, o Verbo é Deus, é igual ao Pai (tem a mesma a essência), e ao mesmo está com Deus, sendo distinto do Pai (o Filho é outra Pessoa).

As testemunhas de Jeová afirmam erroneamente que a melhor tradução para o final do verso é “o Verbo era um deus”. Isso porque no texto original grego não há artigo

definido antes do termo theos (“Deus”). Se essa tradução de Jo 1.1 for sustentada, então Jesus simplesmente tem uma natureza divina doada pelo Pai, mas não possui a mesma essência de Deus, e, portanto, não pode ser considerado como “Deus”, mas como “um deus”. Mas a tradução das Testemunhas de Jeová está errada. Primeiro, porque a gramática grega não exige o artigo definido antes da palavra “Deus”6

. Em segundo lugar, conforme já temos observado, vários outros textos do NT claramente ensinam que Jesus é Deus (Hb 1.6, 8). Em terceiro lugar, Jesus não pode ser um deus menor, criado pelo Pai, porque no v.3, o próprio texto afirma que “todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Ou seja, todas as coisas foram criadas por intermédio do filho, e sem ele não que existe poderia existir. Isso significa que o Filho não é criatura, mas Criador.

Outros trechos do Evangelho de João demonstram claramente que Jesus é Deus:  Em Jo 8.24, 58, Jesus se apresenta como “eu sou”. Muito antes de Abraão

existir, o Filho já se manifestava como “eu sou” (v.58). Jesus emprega para si mesmo o nome de Javé revelado para Moisés (Êx 3.14). Claramente Jesus está se identificando com o Deus de Israel. Isso é tão claro, que os judeus acusaram-no de blasfêmia, e, tendo seus corações endurecidos, e em gesto de rejeição a ele, pegaram pedras para apedrejá-lo (Jo 8.59).

 O Pai e o Filho estão um “no” outro, e eles são “um” (Jo 10.30,38; 14.10,11). Mais uma vez, os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus (Jo 10.31), pois entenderam de forma correta que, quando Jesus diz “eu e o Pai somos um”, estava reivindicando sua divindade (veja Jo 5.18).

 Em Jo 20.28, Tomé reconhece que Jesus é “Senhor meu e Deus meu”.

O Evangelho de João também apresenta a Pessoa do Espírito Santo. Em João 14 – 16, Jesus promete enviar o Espírito Santo aos seus discípulos. O Espírito é o “Espírito da Verdade” (14.17; 15.26; 16.13), o “Espírito Santo” (14.26; 20.22), o “Consolador” (14.16,26; 15.26; 16.7). Podemos observar duas afirmações importantes a respeito do Espírito Santo:

 O Espírito Santo é distinto do Pai e do Filho: o Espírito é o “outro Consolador” (14.16); o Espírito é enviado pelo Pai e pelo Filho (14.16,26; 15.26; 16.7); o Espírito testemunha acerca de Jesus (15.26). “O Espírito Santo também ora ou

6

“...em geral, o artigo torna definido, identifica um certo substantivo, enquanto que a sua ausência enfatiza mais a essência, qualidade ou natureza do mesmo”. Lourenço Stelio Rega; Johannes Bergmann,

Noções do grego bíblico: gramática fundamental (3.ed. rev., São Paulo: Vida Nova, 2014), p. 342.

Portanto, como explicam Rega e Bergmann, a ausência do artigo definido em Jo 1.1 não significa que

(5)

‘intercede’ por nós (Rm 8.27), indicando uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a quem se faz a intercessão.”7

 O Espírito Santo é plenamente Deus, igual ao Pai e ao Filho. Pois: 1. Jesus afirma que a regeneração é obra do Espírito: “Jesus respondeu: Em

verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é

nascido do Espírito é espírito.” (Jo 3.5-7). De fato, é “o Espírito é o que vivifica” (Jo 6.63). “Mas o ato de dar nova vida espiritual às pessoas quando se tornam cristãs é algo que só Deus pode fazer (cf. 1Jo 3.9, ‘nascido de Deus’). Essa passagem portanto dá nova indicação de que o Espírito Santo é plenamente Deus.”8

2. Jesus diz que rogaria ao Pai, e ele enviaria o “Consolador”, o Espírito Santo (Jo 14.16), “porque ele habita convosco, e estará em vós” (Jo 14.17). O Espírito Santo substituiria a presença pessoal de Jesus entre os discípulos. Na verdade, Jesus estaria com seus discípulos através do Espírito Santo (“Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós” – Jo 14.18). O que Jesus está dizendo é que Deus está presente nos discípulos e habita neles. O apóstolo Paulo também afirma: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16). Os crentes são “santuário do Espírito Santo” (1Co 6.19), e isso significa dizer que eles são “santuário de Deus” (1Co 3.16). O Espírito Santo é Deus.

Portanto, é possível notar que o Evangelho de João apresenta o Filho como Deus, à semelhança do Pai, e, ao mesmo tempo, distinto dele. Também apresenta o Espírito Santo como Deus, semelhante ao Pai e ao Filho, e, ao mesmo tempo, distinto deles.

A Trindade em 1Jo 4.7-19

O texto afirma que “Deus é amor” (1Jo 4.8). Deus manifestou o seu amor ao enviar “seu Filho unigênito ao mundo” (1Jo 4.9). Deus enviou o seu Espírito para nos manter em comunhão com ele: “Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito” (1Jo 4.13).

Essa passagem bíblica apresenta a natureza pessoal e amorosa de Deus. Deus

manifestou o seu amor através do seu Filho, e agora, considerando que fomos amados por Deus, nós também precisamos amar uns aos outros. No entanto, é importante notar que muito antes de Deus manifestar seu amor para conosco, o seu amor é eternamente manifestado entre as Pessoas da Trindade. Pois, como diz o texto, “Deus é amor”. O amor faz parte da natureza de Deus. O amor sempre existiu em Deus. O antigo monge Ricardo de São Vitor, que viveu no início do 2ª milênio d.C. (?-1173), dizia que a afirmação “Deus é amor” evidencia a existência das três Pessoas da Trindade, pois, se Deus é amor, ele não pode existir solitariamente.9 Se Deus é amor, e se ele ama muito antes de existir qualquer coisa criada, segue-se que o amor de Deus é eternamente manifesto entre as Pessoas da Trindade. Como diz Franklin Ferreira: “Nunca houve um tempo em que o Pai não tivesse amado seu amado Filho. O Pai e o Filho se amam tão

7 Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 170. 8

Wayne Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 174.

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6 intensamente, um amor eterno, que se revela na pessoa do Espírito, o vínculo eterno de amor entre o Pai e o Filho.”10

O próprio Jesus reconhece que o Pai o ama, da mesma forma como ele ama seus discípulos (Jo 17.23). “Porque o Pai ama ao Filho” (Jo 5.20).

A Trindade em outros textos do Novo Testamento

Vários outros textos do Novo Testamento apresentam claramente as três Pessoas da Trindade. Vejamos.

2Coríntios 13.14:

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.”

Efésios 4.4-6:

“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.”

Observação: o “Senhor” (grego kyrios) obviamente é uma referência a Jesus, pois ele é designado com este termo no Novo Testamento (Jo 20.28; At 2.36; Ap 22.20). Portanto, o Deus único que se revela em três Pessoas é claramente mencionado: “um só Espírito”, “um só Senhor” e “um só Deus e Pai”.

2Tessalonicensses 2.13,14:

“Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do Espírito e a fé na verdade, para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.”

1Pedro 1.2:

“eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo...”

Uma formulação da doutrina da Trindade

À luz dos textos bíblicos analisados até aqui, nós podemos formular a Trindade da seguinte maneira:

Há um só Deus, que subsiste eternamente em três Pessoas. Afirmar a existência do

Deus Trino não é afirmar a existência de três Deuses. Como dizia Agostinho, “o Deus único e verdadeiro não é somente o Pai, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo”11. “Através da revelação divina, entendemos que Deus existe como três Pessoas em uma

10

Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica, p. 72.

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essência, ou três pessoas da mesma só natureza em relacionamento dinâmico e profundo.”12

A Trindade apresenta tanto a unidade de Deus como a diversidade de Deus13:  Unidade de Deus: O Pai é o Deus único. O Filho é o Deus único. E o Espírito

Santo é o Deus único. Portanto, não existem três deuses, mas somente o Deus único.

 Diversidade de Deus: O Pai não é o Filho. O Filho não é o Espírito Santo. E o Espírito Santo não é o Pai.

Não há subordinação entre as Pessoas da Trindade. O Pai não é maior do que o Filho,

e o Filho não é maior do que Espírito. As três Pessoas da Trindade possuem igualmente os mesmos atributos. O Pai, o Filho e o Espírito são igualmente eternos, onipotentes, oniscientes, onipresentes, e possuem os mesmos atributos morais (como por exemplo: amor, justiça, santidade). Além disto, as três Pessoas da Trindade possuem igualmente a mesma vontade. “A submissão do Filho ao Pai, por exemplo, é a submissão do Filho à sua própria vontade, porque a vontade divina é uma, mesmo tento o Pai e o Filho consciência de uma vontade distinta e pessoal. A essência da vontade de Deus é uma. O Filho sempre deseja o que o Pai deseja e o Pai sempre deseja o que o Filho deseja. Os dois são iguais. E o Espírito Santo é igual também.”14

Cada uma das Pessoas da Trindade teve uma participação distinta na obra da redenção. É o que os teólogos chamam de Trindade econômica. É a Trindade

considerada do ponto de vista da revelação do plano de salvação na história. As Pessoas da Trindade são iguais e possuem cada qual a mesma substância, não havendo, portanto, diferenças ontológicas entre elas (ou seja, existe absoluta igualdade de essência entre as Pessoas da Trindade). Mas ao que diz respeito à intervenção da Trindade na história da salvação, é possível verificar que:

 O Pai escolhe a igreja antes da fundação do mundo, e envia seu Filho para salvação do seu povo.

 O Filho torna-se homem, morre na cruz, e ressuscita para trazer justificação aos salvos.

 O Espírito Santo aplica a salvação aos salvos. Isso pode ser verificado em Ef 1.3-14:

 v.3-6: Fomos abençoados e eleitos pelo Pai.  v.7-12: Fomos redimidos pelo Filho.

 v.13-14: Fomos selados pelo Espírito Santo.

12 J. Scott Horrell, Uma Cosmovisão Trinitária, in Vox Scripturae. 4 (março de 1994). Disponível em

http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/trindade/uma-cosmovisao-trinitaria.html. Acessado em 02.03.2016.

13 Franklin Ferreira, Curso Vida Nova de Teologia Básica: teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova,

2013), p. 76.

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8 Como afirma Lloyd-Jones, “essa é uma ideia atordoante, ou seja, que estas três bem-aventuradas Pessoas, na bem-aventurada santíssima Trindade, para minha salvação, quiseram dividir assim o trabalho.”15

Lições para a vida

Seguem duas aplicações para nossas vidas, considerando o que estudamos:

A doutrina da Trindade apresenta o modelo de comunidade

João 17 descreve a oração de Jesus a favor dos seus discípulos. É notável que Jesus apresenta a relação entre ele e o Pai como modelo do relacionamento entre os

discípulos: “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.22-23). A mesma unidade que existe entre o Pai e o Filho deve existir na comunidade dos discípulos.

Como declara J. Scott Horrell, “...o amor infinito já existe entre cada pessoa da

Trindade. Por causa de seu amor e sua unidade-diversidade, a Trindade torna-se nosso modelo de comunidade. Seja na família, na igreja local ou em qualquer nível

sociológico, o ser humano pode seguir o exemplo do seu próprio Deus.”16

Jesus afirma que os discípulos precisam estar Nele para que a unidade seja aperfeiçoada: “eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade” (Jo 17.23 – ênfase acrescentada). Os discípulos precisam estar ligados à videira verdadeira, para que venham produzir o fruto do amor (Jo 15). Se não houver comunhão entre os discípulos e Cristo, dificilmente haverá comunhão entre os discípulos. Talvez isso explique porquê há tanta desunião na igreja. As pessoas querem mais os eventos e as programações sociais da igreja do que a Cristo.

Leandro Lima afirma corretamente: “É fácil de entender porque a comunhão é tão difícil na igreja. As pessoas buscam comunhão através de eventos sociais, trabalhos comunitários, músicas que incentivam cumprimentos mútuos, etc. Mas a verdadeira base da comunhão da igreja é a Trindade. Precisamos entender que fomos chamados para refletir o mesmo amor que existe na Trindade.”17

A doutrina da Trindade apresenta o paradigma da missão da igreja

A unidade entre o Pai e o Filho é base na unidade entre os discípulos, e a unidade entre os discípulos tem por objetivo levar o mundo a conhecer o amor de Deus: “...a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.22-23).

15 D. M. Lhoyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: PES/Publicações Evangélicas Selecionadas,

1997) p. 122-123 [Grandes Doutrinas Bíblicas, volume 1].

16

J. Scott Horrell, “Uma Cosmovisão Trinitária”, em Vox Scripturae. 4 (março de 1994). Disponível em http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/trindade/uma-cosmovisao-trinitaria.html. Acessado em 02.03.2016.

17

Leandro Lima, A Trindade: da teoria à prática. Disponível em

(9)

O Senhor Jesus disse para os seus discípulos: “...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.21). Somos enviados ao mundo por Jesus, da mesma forma como Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai. E recebemos o poder do Espírito Santo para testemunhar o amor de Deus a todas as nações (At 1.8).

O Deus Trino certamente quer e pode usar nossas vidas para a realização de sua obra no mundo. Só precisamos nos disponibilizar para a obra.

Referências

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