• Nenhum resultado encontrado

A MANIFESTAÇÃO DO SUJEITO COMO PARTICIPANTE 1 EM PREDICAÇÕES DERIVADAS DEVERBAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO ANALÍTICA PARA OS ESTUDOS DA GRAMÁTICA FUNCIONAL.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A MANIFESTAÇÃO DO SUJEITO COMO PARTICIPANTE 1 EM PREDICAÇÕES DERIVADAS DEVERBAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO ANALÍTICA PARA OS ESTUDOS DA GRAMÁTICA FUNCIONAL."

Copied!
136
0
0

Texto

(1)

A MANIFESTAÇÃO DO SUJEITO COMO PARTICIPANTE 1 EM PREDICAÇÕES DERIVADAS DEVERBAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO

ANALÍTICA PARA OS ESTUDOS DA GRAMÁTICA FUNCIONAL.

CARLOS SODRÉ SILVA DE ABREU

UFF 2010

(2)

A MANIFESTAÇÃO DO SUJEITO COMO PARTICIPANTE 1 EM PREDICAÇÕES DERIVADAS DEVERBAIS: UMA CONTRIBUIÇÃO

ANALÍTICA PARA OS ESTUDOS DA GRAMÁTICA FUNCIONAL.

CARLOS SODRÉ SILVA DE ABREU

Tese de doutorado em Língua Portuguesa apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Uni versidade Federal Fluminense, subárea Língua Portuguesa, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Letras.

Orientadora: Profª Drª Maria Jussara Abraçado de Almeida

Niterói, UFF 2010

(3)

AGRADECIMENTOS

A Deus pai, criador, criação e criatura. À Senhora Rocheline, minha esposa.

Aos meus filhos Yann e Yasmin. Aos meus sobrinhos Thayná e Yago.

À Jussara Abraçado, que soube reger de modo seguro e competente a execução deste trabalho.

Aos meus irmãos Lívia, Sheila e André e a todos os meus sobrinhos.

Aos mestres inspiradores, especialmente o Sr. Ubaldi, o Sr. Francisco de Assis, o Sr. Miramez, o Sr. Saint Germain e o Sr. Jesus, obviamente, e os demais, que no silêncio de suas existências iluminam o mundo com o seu amor universal.

Aos colegas do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, especialmente, Roseni, Anderson, Marcele Martins, Marcele, Gilson, Dinei, André, Ana Karla, Kátia, Thiago, Vander, Paula, Ana Beatriz, Mateus e demais funcionários e estagiários - tão importantes quanto os citados - pelo suporte oportuno nos momentos de criação, assim como aos senhores membros, especialmente, as Doutoras Mônica Cuneo e Denise Vidal, e aos Doutores Fador Sampaio e Murilo Bustamante.

Aos amigos da GEAP.

Ao meu pai, por sempre me presentear com livros.

À Professora Tânia do Jardim da Infância, que me ensinou as primeiras letrinhas. À minha mãe e à minha vó, pelas suas preces.

Aos Professores Doutores da Pós da UFF.

Aos funcionários da Secretaria da Pós da UFF, em especial às senhoras Nelma e Tânia.

(4)

O tempo passa e se torna um

cemitério de oportunidades. (Anônimo)

(5)

SINOPSE

Estudo funcional qualitativo e quantitativo da forma de manifestação do sujeito como participante 1 em predicações deverbais terminadas em –

cão a partir da análise da variável função

(6)

FOLHA DE APROVAÇÃO

ABREU, Carlos Sodré Silva de. A manifestação do sujeito como participante 1 em predicações derivadas deverbais: uma contribuição analítica para os estudos da gramática funcional. Tese de doutorado em Língua Portuguesa – Curso de Pós-graduação em Letras, Niterói: UFF, Faculdade de Letras, 2010, 136 fls. Mimeo.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________________________________

Professora Doutora Maria Jussara Abraçado de Almeida - UFF (orientadora)

______________________________________________________________________

Professora Doutora Mariângela Rios de Oliveira – UFF

______________________________________________________________________

Professora Doutora Vanda Maria Cardozo de Menezes - UFF

______________________________________________________________________

Professora Doutora Maria Maura Cezário - UFRJ

______________________________________________________________________

Professor Doutor Roberto Gomes Camacho - UNESP - São José do Rio Preto

______________________________________________________________________ Professora Doutora Nilza Barrozo Dias – UFF (suplente)

______________________________________________________________________ Professor Doutor Pierre Guisan – UFRJ (suplente)

Defendida a Tese. Conceito: ____

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...12

CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA...18

2.1 Os deverbais e a fronteira verbo e nome ...18

2.2 A anáfora e a continuidade da referência...26

2.3 A redução dos argumentos no processo de combinação de orações...29

CAPÍTULO 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...33

3.1 Funcionalismo linguístico...33

3.2 A Gramática Funcional de Dik...36

3.2.1 O conceito de predicação...37

3.2.2 A valência dos predicados...39

3.2.3 O ajuste formal do predicado verbal...40

3.2.4 Aspectos gerais da codificação do sujeito...42

(8)

3.2.4.2 A correferência do participante 1...45

3.2.4.3 A restrição do participante 1...47

3.2.5 O participante 1 e a escala da transitividade de Hopper & Thompson...53

CAPÍTULO 4 PROPOSTA DE TRABALHO E METODOLOGIA...54

4.1 Corpora...54

4.2 Objetivos...55

4.3 Hipótese...56

4.4 Procedimentos analíticos...56

4.4.1 Problemas de identificação: as predicações sem participante 1...57

4.5 Tipos de predicação...60

4.5.1 Predicação com função de sujeito...62

4.5.2 Predicação com função de objeto...62

4.5.3 Predicação com função de adjunto adnominal...64

4.5.4 Predicação com função de advérbio...64

4.5.5 Predicação com função de predicativo...65

4.5.6 Predicação com função de sujeito da passiva...66

4.5.7 Predicação com função de oração relativa...66

(9)

ANÁLISE DOS DADOS...68

5.1 As predicações com função de objeto...69

5.1.1 Predicações com função de objeto de verbos argumentais...70

5.1.1.1 A explicitação do participante 1...70

5.1.1.2 A correferência do participante 1...72

5.1.1.3 A restrição do participante 1...74

5.1.2 Predicações com função objeto de verbos impessoais...77

5.1.2.1 A explicitação do participante 1...77

5.1.2.2 A correferência do participante 1...78

5.1.2.3 A restrição do participante 1...80

5.1.3 Comparação das predicações com função de objeto...82

5.2 Predicações com função de sujeito...85

5.2.1 Predicações com função de sujeito de verbos argumentais...85

5.2.1.1 A explicitação do participante 1...86

5.2.1.2 A correferência do participante 1...87

5.2.1.3 A restrição do participante 1...89

5.2.2 Predicações com função de sujeito de verbos cópula...91

5.2.2.1 A explicitação do participante 1...91

5.2.2.2 A correferência do participante 1...92

5.2.2.3 A restrição do participante 1...93

5.2.3 Comparação das predicações com função de sujeito...94

(10)

5.3.1 A explicitação do participante 1...96

5.3.2 A correferência do participante 1...96

5.3.3 A restrição do participante 1...97

5.3.4 Resumo da seção anterior...98

5.4 Predicações com função de advérbio...99

5.4.1 Predicações locativas...99 5.4.1.1 A correferência do participante 1...100 5.4.1.2 A restrição do participante 1...101 5.4.2 Predicações modais...102 5.4.2.1 A explicitação do participante 1...102 5.4.2.2 A correferência do participante 1...102 5.4.2.3 A restrição do participante 1...103 5.4.3 Predicações temporais...104 5.4.3.1 A explicitação do participante 1...105 5.4.3.2 A correferência do participante 1...105 5.4.3.3 A restrição do participante 1...106 5.5.4 Predicações finais...107 5.5.4.1 A correferência do participante 1...108 5.5.4.2 A restrição do participante 1...109

5.5.5 Comparação das predicações com função de advérbio...110

5.6 As predicações com função de adjunto adnominal...112

5.6.1 A explicitação do participante 1...112

5.6.2 A correferência do participante 1...113

(11)

5.6.4 Resumo da seção anterior...114

5.7 Considerações sobre a análise dos dados...115

5.7.1 A explicitação do participante 1 nas predicações deverbais...115

5.7.2 A correferência do participante 1 nas predicações deverbais...117

5.7.3 A restrição do participante 1 nas predicações deverbais...118

CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...121

REFERÊNCIAS...125

RESUMO...133

ABSTRACT ...134

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS...135

ANEXO I: DADOS ANALISADOS...136

(12)

Para a gramática tradicional, os deverbais representam nomes que se originaram a partir de verbos1 (realizar>realização). Os verbos, ainda segundo a gramática tradicional, podem se classificar como transitivos e intransitivos. Os transitivos demandam uma complementação semântica por argumentos, que assumem funções sintáticas de sujeito e objeto (O governo [suj] realizou a obra [obj]). Essa demanda por argumentos também se manifesta em nomes deverbais2 (A realização da obra [obj] pelo governo [suj]).

Neste trabalho, é adotada uma noção mais abrangente de sujeito: a de participante do processo de significação, seja causando, experienciando, instrumentalizando ou executando a ação veiculada pelo evento deverbal. Considerando-se a possibilidade de haver deverbais com mais de um participante (como em função de objeto direto, por exemplo), o participante sujeito é aqui tratado como participante 1. Assim sendo, os termos ‘sujeito’ e ‘participante 1’ são rótulos intercambiáveis no presente estudo.

Os participantes de nomes deverbais, tal qual ocorre com os argumentos oracionais, podem ser explicitados, correferidos e restritos. A explicitação do participante, na maioria dos casos, está diretamente vinculada ao estatuto novo da informação, primeira menção no contexto, e, em geral, se realiza com o auxílio da preposição ‘de’, havendo, nos casos em que o sujeito é agentivo, alternância com a preposição ‘pelo’. Já a correferência do participante envolve a retomada do participante já disponibilizado no texto, que em geral ocorre por anáfora zero. A restrição, por sua vez, se relaciona a um conjunto de estratégias e operações discursivas e cognitivas que levam à omissão do participante.

Tais formas de codificação têm sido utilizadas como parâmetros relevantes para estudos funcionais que tomam por objeto de investigação o processo de redução e nominalização de orações subordinadas (Mackenzie, 1985; Lehmann, 1988; Menezes,

1

Bechara (2001, p. 358) afirma que as formas derivadas de verbo resultam em nomes de ação ou resultado de ação, estado, qualidade, semelhança, composição, instrumento e lugar, e recebem regularmente os sufixos –ame; -ção; -são; -mento; -ura; -ança; -ença; -ata; - ada; -ida; -agem; -ário. Há outras posições descritivas, entretanto, que admitem a formação do nome pela redução da camada fonética do verbo - o que tem sido chamado de derivação regressiva - como um tipo de formação deverbal (Houaiss, 2004; Buarque de Holanda, 1986; Xavier e Mira Mateus, 1990)

2

Perini (2007) lembra que os nomes também possuem argumentos o que ele chama de “transitividade nominal”(p.173).

(13)

2001), as quais se relacionam com uma oração matriz ou principal dentro do processo de combinação oracional.

Funcionando como orações reduzidas, uma ve z que não possuem variáveis morfossintáticas para número e pessoa, os deverbais podem se ajustar em posições sintáticas diversas dentro da oração, mantendo, em uma estrutura nominalizada, a representação de um evento cuja codificação dos participantes se submete ao mesmo conjunto de fenômenos discursivos e pragmáticos que interferem na codificação dos argumentos dos verbos na oração (Camacho, 2004).

Esta tese pretende demonstrar que o sujeito, como participante 1 dos eventos deverbais, tende a se tornar menos codificado à medida que a predicação deverbal se encontra menos semanticamente ligada a uma forma verbal controlada por sujeitos, isto é, que o contexto sintático e semântico em que a forma deverbal se encaixa é parâmetro definidor de seu funcionamento como verbo ou como nome. Pode-se dizer que a manifestação dos sujeitos dos deverbais está intimamente relacionada com a presença de participantes de estruturas linguísticas vizinhas em que ações verbais são veiculadas.

Um exemplo desta situação seria o caso das predicações deverbais que complementam verbos controlados por sujeitos, como: [O policial] realizou a detenção

[∅] do bandido. em que podemos admitir a recuperação do sujeito de ‘realizou’ (O

policial) como sujeito anafórico de ‘detenção’, participante 1, enquanto ‘bandido’ preenche a função de objeto de ‘detenção’, funcionando como participante 2. Temos pois assim o seguinte esquema:

Evento 1: [O policial realizou]

[Participante1 explicitado: policial; Evento verbal: realizou] Evento 2: [a detenção do bandido]

[Participante1 correferido (policial); Evento deverbal: detenção].

O evento 2 retoma o participante do primeiro evento por anáfora zero, o que cria uma relação de dependência semântica entre os dois eventos.

(14)

Como formas nominalizadas de verbos, os deverbais assumem um comportamento fronteiriço quanto à categoria que representam, tornando-se uma estrutura híbrida que desliza entre os conceitos prototípicos de nome e verbo.

A demanda pela codificação de participantes, que semanticamente remetem à demanda do verbo por argumentos com função de sujeito e objeto, tem sido tema de discussão sobre o caráter mais ou menos verbal ou nominal dos deverbais.

Assim, aprofundando a afirmação de que a presença de argumentos (Camacho, 2007) leva o deverbal à manifestação de um aspecto mais verbal, atribuímos ao contexto sintático-semântico da predicação deverbal a causa da menor ou maior aparência com uma forma verbal ou nominal prototípica, dada a percepção de um maior ou menor envolvimento sintático e semântico do evento deverbal com outros eventos no contexto, como demonstrado no exemplo anterior, em que, funcionando como objeto do verbo ‘realizou’, o evento deverbal ‘detenção’ descreve um segundo evento executado pelo sujeito ‘policial’, que é codificado morfologicamente como um nome, um substantivo feminino, mas que representa semanticamente uma ação realizada por um sujeito.

Para a análise dessa perspectiva teórica, focalizamos no presente estudo a codificação do sujeito, participante 1, de nomes deverbais. Tal escolha se justifica pela maior observação do sujeito como elo oracional, o que também é observável em alguns contextos, em que se verifica a utilização de uma forma deverbal com valor análogo ao de oração reduzida de infinitivo como em: Ele precisou estudar para obtenção da vaga.

Com base nos estudos da Gramática Funcional de Dik (1978, 1980, 1989 e 1997), especificamente, no conceito de predicação, analisamos 1000 ocorrências de predicações deverbais oriundas de textos escritos e orais do português atual, avaliando qualitativa e quantitativamente o modo como se manifesta o participante 1 de eventos veiculados pelos deverbais.

O interesse pelo estudo de formas deverbais iniciou-se a partir de trabalho anterior (Abreu, 2005), em que analisamos um tipo de coesão textual que se realiza por meio da nominalização de segmentos textuais, com base no escopo teórico da linguística textual.

Chamou- nos a atenção a alta produtividade de formas deverbais, que, segundo Francis (2003), funcionam como rótulos anafóricos de segmentos textuais.

(15)

Todavia, a ocorrência regular destas formas atreladas a uma estrutura argumental como em ‘produção do petróleo’, ‘realização do evento’, em contextos sintáticos diversos, sem função coesiva, nos levou à revisão do conceito de nominalização.

A Gramática Funcional de Dik apresenta um modelo analítico aplicável ao presente trabalho, pois conjuga a descrição de um sistema de formação de predicações com a observação dos fenômenos discursivos que interferem no modo como as expressões são construídas, justificando-se assim como base teórica para a realização do presente estudo.

Para a Gramática Funcional, deverbais são predicações derivadas de predicações verbais que se ajustam ao modelo prototípico de predicações nominais, processo também conhecido por nominalização (Mackenzie, 1985).

A análise preliminar das ocorrências demonstrou uma alta produtividade de predicações deverbais em que o participante 1 não é codificado, seguidos em ordem decrescente pelos casos em que ocorre correferência por anáfora zero e, por último, pelos casos em que o participante 1 é explicitado.

Entretanto, tomando como variável de observação a função sintática da predicação na oração, verificamos que a codificação do sujeito, como participante 1, além de refletir a ocorrência de fenômenos pragmático-discursivos, isto é, o controle da informação dada e nova, se submete também a questões sintático-semânticas condicionadas por estruturas linguísticas adjacentes, fato que nos levou à hipótese geral de que, além do fato de a codificação do argumento se submeter ao controle da informação nova ou dada, a manifestação do sujeito nas predicações deverbais se submete também a oscilações internas e regulares de acordo com a função sintática e semântica que o deverbal assume dentro da oração.

Tal perspectiva teórica se alia à investigação funcional da estrutura argumental da oração e se torna de certo modo inédita, por tratar-se de um estudo da estrutura argumental que se realiza com base na observação de uma forma verbal nominalizada dentro de uma oração.

A análise da codificação de constituintes oracionais (Du Bois, 1985) tem se pautado em restrições gramaticais e pragmáticas que ocorrem na estrutura oracional no contexto de uso, revelando o modo como a sintaxe reflete as preferências discursivas dos falantes. A existência de argumentos constituintes de predicações derivadas torna-se

(16)

pois um fenômeno propício à investigação, uma vez que é o próprio uso que leva o falante a ajustar uma forma verbal a uma forma nominal.

O método de análise dos dados se baseia na observação do modo como o participante 1 é codificado nas nominalizações, tomando como variável de comparação a função sintática que as formas deverbais desempenham dentro da oração.

A premissa de Dik (1997) de que predicações adjacentes podem funcionar como mecanismos de restrição dos argumentos de uma dada predicação nos forneceu o caminho para a observação de aspectos sintático-semânticos no entorno da ocorrência das formas deverbais.

Este trabalho encontra-se organizado em cinco capítulos, além deste, meramente introdutório.

No segundo capítulo, com base nas posições de autores como Taylor (1989) e Russo (2009), refletimos sobre a questão da fronteira categórica (verbo ou nome?) em que se encontram os deverbais. No mesmo capítulo, com base em Givón (1995), demonstramos a pertinência da associação do conceito de anáfora ao estudo do comportamento dos argumentos das orações. O processo de redução de argumentos em contextos de combinação de orações (Hopper & Traugott, 1993) é o terceiro e último tema da revisão da literatura.

No terceiro capítulo, apresentamos os conceitos teóricos que norteiam esta tese. Na primeira parte, apresentamos uma breve descrição do conceito de funcionalismo linguístico. Na segunda parte, nos dedicamos à apresentação da Gramática Funcional, que tem como seu principal fundador Samuel Dik, descrevendo os conceitos de predicação, valência do predicado e ajuste formal da predicação verbal. Ainda no segundo capítulo, descrevemos os tipos de codificação do sujeito nas predicações deverbais.

No quarto capítulo, apresentamos a metodologia, com a descrição dos

corpora, dos objetivos e das hipóteses, apresentando ainda a forma utilizada para coletar

os dados e identificar as funções sintáticas das predicações derivadas.

No quinto capítulo, analisamos os dados, buscando identificar o sujeito das predicações deverbais, demonstrando por meio de exe mplos o modo como o sujeito se manifesta em cada função sintática e registrando percentuais para ulterior comparação de dados.

(17)

No sexto e último capítulo apresentamos as nossas considerações finais.

(18)

REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo encontra-se dividido em três partes. Na primeira parte, analisamos a questão da instabilidade categorial da forma deverbal (verbo ou nome?). Na segunda parte, discutimos a importância da anáfora zero na continuidade referencial do texto. Na última parte, observamos a questão da redução dos argumentos em contextos de combinação de orações.

2.1 Os deverbais e a fronteira verbo e nome

São inúmeros os casos de expressões linguísticas que representam um tormento categórico de classificação (Pereira, 2000). Rosa (2000) chega a afirmar que a distinção mais universal de classes linguísticas se baseia na distinção entre verbo e nome (p.92). Mattoso Câmara (2002) em seu Dicionário de Linguística e Gramática é categórico quanto à distinção dessas categorias no plano semântico:

Nome – Grupo de palavras que se opõem ao verbo (v.) pelo valor estático dos seus semantemas. O nome indica as coisas, quer se trate dos objetos concretos ou de noções abstratas, de seres reais ou de espécies: Pedro, mesa, verde, verdor, bondade, cavalo, são igualmente nomes. O verbo indica os processos, quer se trate de ações, de estados ou de passagem de um estado a outro: anda, brilha, azula, são igualmente verbos. (p.177)

Com uma análise voltada exclusivamente para a forma do verbo e do nome, o autor tece a seguinte distinção no plano sintático:

(19)

(...) a oposição de forma separa, nitidamente em português (como já sucedia em Latim), o nome e o verbo. Aquele se pode objetivar por meio da partícula, ou forma dependente, que é o artigo, e é passível de plural em /S/ (além da distinção de gênero). Este apresenta as noções gramaticais, e morfemas gramaticais correspondentes, de tempo e modo, referentes a si mesmos e de pessoa referente a seu sujeito, ou ser a que ele é associado como ponto de partida do processo que designa (1970, p.78)

Considerando esses critérios de distinção, observamos que os deverbais reúnem traços das duas categorias. Como nomes, podem apresentar artigos e plural (a apresentação/as apresentações), como verbos, não apresentam formas gramaticais, mas podem apresentar sujeito (A correção da prova pelo professor), além de poderem, eventualmente, codificar tempo, uma vez associados a outros elementos linguísticos, que ajudem a construir uma referência temporal (desde a apresentação, a menina não dança mais).

Apesar da existência de traços das duas categorias, os deverbais vêm sendo descritos nas gramáticas tradicionais como uma subclasse dos nomes, formada produtivamente pela nominalização de formas verbais (Basílio, 2001), apesar de a presença de elementos com funções semânticas de sujeito e objeto imprimir nestes “nomes” um atributo normalmente observado em ve rbos.

Embora a observação de uma relação semântica entre um deverbal e esses elementos possa ser interpretada como uma herança semântica do verbo origem, as gramáticas tradicionais não relacionam a estrutura argumental na descrição dos deverbais, muito menos consideram a existência de um contínuo estrutural entre a forma verbal e a forma deverbal, o que poderia suscitar a admissão de uma mudança contínua, por meio da qual se observaria a perda de um traço de uma dada categoria, o verbo, e a aquisição do traço de uma categoria nova, o nome.

Para alguns autores, a direção em que se desenvolveu a estrutura morfológica nos casos de derivação (regressiva/progressiva) dá margem à perspectiva de que determinada estrutura se desdobrou em outra de uma forma estanque, automática, sendo esse aspecto alvo de alguns trabalhos descritivos, que,

(20)

invariavelmente, discutem se o nome deverbal surgiu da regressão de um verbo, ou, se, do contrário, o verbo resultou do nome deverbal.

Para Cunha e Cintra (1999), há uma certa dificuldade em se apontar uma direção segura quando se quer saber se o nome deriva do verbo ou se o verbo deriva do nome (p.103).

Eles apontam, todavia, duas posições quanto à percepção da origem. A primeira, uma posição distintiva, sugerida pelo Filólogo Mário Barreto3, em que pesa o critério semântico do traço “ação’. Assim, se o nome denotar ação, deriva do verbo, mas se referir objeto ou substância, o verbo deriva do nome. A segunda, uma posição genérica que postula, baseada em uma direção verbo>nome, que, para cada verbo, é previsível uma relação lexical entre verbo e um nome (op.cit.).

Para Reis (2004)4, qualquer posição sobre a direção verbo>nome ou nome>verbo deveria ser apoiada em estudos etimológicos. Por outro lado, Zanotto (1986) lembra que exis te divergência entre dicionários, além de defasagem e “vagarosa atualização” (p.20).

Oliveira (2004, p.4-5) afirma que em dicionários como o de Antônio Geraldo da Cunha, a cronologia acaba velando a origem mais exata de uma forma deverbal, segundo ela

Esse processo se dá, na medida em que, frequentemente, os dois elementos, verbo e nome, são submetidos a um mesmo período, sem especificidade daquele que primeiramente se empregou na língua. Seria a localização do vocábulo decisiva, porém, se melhor estivesse direcionada.

Essas posições revelam um cenário de descrição morfológica um pouco confuso quanto a um registro mais confiável da posição derivacional em que se deve colocar o nome e o verbo.

3

Ver em De Gramática e de Linguagem, II, Rio de Janeiro:1922 4

Trabalho integrante do projeto PROHPOR (programa para a história da língua portuguesa – UFBa), levantamento de deverbais no português arcaico.

(21)

Nem os dicionários etimológicos parecem confiáveis, em razão de um retrato impreciso do surgimento de uma dada expressão verbal ou nominal, nem os autores e pesquisadores conseguem estabelecer um critério que dê conta da percepção da verdadeira origem de um nome com a mesma base morfológica de um verbo.

Para Benveniste (1989), a fonte de ocorrência de alguns nomes pode extrapolar os horizontes da morfologia e alcançar a própria sintaxe. Segundo ele, certas orações típicas podem se transformar em sintagmas nominais, o que ele chama de composição nominal. Para este autor:

Se a composição nominal fosse, como é sempre apresentada, um processo de natureza morfológica, não se compreenderia por que ela parece se realizar em toda parte, nem como puderam surgir essas classes formais em número limitado, tão parecidos entre as línguas mais diversas. É que o impulso que produziu os compostos não veio da morfologia, onde nenhuma necessidade os solicitaria; ele provém das construções sintáticas com suas variedades de predicação.

Benveniste reconhece no processo de composição um mecanismo de produção de palavras diferenciado dos demais. Para ele, os compostos nominais, nomes que se assemelham a orações, representam o que o autor chama de “metamorfismo”, fenômeno em que uma determinada classe linguística é transformada em outra. Ainda segundo o autor

É o modelo sintático que cria a possibilidade do composto morfológico e que o produz por transformação. A oração, com seus diferentes tipos, emerge assim na zona nominal. Conseqüentemente, é preciso reconhecer nos compostos uma situação particular. (...) No momento em que a oração é transformada em composto e que os termos da oração se tornam membros do composto, a predicação é colocada em suspenso, e o enunciado atual torna-se virtual. É esta a conseqüência do

(22)

processo de transformação. Assim se define então a função do composto: transferir para o virtual a relação atual de predicação enunciada pela oração base (p.163/164).

A redução da estrutura sintática, no entanto, também segundo Benveniste, não implica empobrecimento da língua, já que a expressão nominal resultante passa a atuar nas variadas combinações na linguagem.

Voltando à questão do hibridismo, pode-se dizer que entre as características do deverbal, a existência da relação semântica com elementos que semanticamente se correlacionam com as funções sintáticas de sujeito e objeto é o principal traço fronteiriço dos deverbais, uma vez que, em geral, a existência dessa relação é condição necessária e suficiente, segundo a gramática tradicional, para a categorização de verbos transitivos.

Uma solução menos instável para a descrição do nome deverbal é admissão do conceito de protótipo (Rosch, 1978). O pensamento prototípico, na análise de Taylor (1989), inclui o caráter híbrido da categoria na visão do observador, fornecendo relevo ao problema dos traços compartilhados e das fronteiras categóricas. Para Taylor, “os limites da categoria não são claros”, o que afasta o condicionamento da categoria aos traços e vice-versa.

Na sua definição clássica, ela argumenta que

(...) contrariamente à teoria clássica, a categoria não está estruturada em termos de características (critérios) compartilhadas, mas, sim, por uma complexa rede de similaridades. Há, certamente, atributos tipicamente associados à categoria. Alguns membros compartilham alguns dos atributos, outros compartilham outros atributos. Entretanto, não há atributos que sejam comuns a todos os membros, e somente a eles. É possível que alguns membros não tenham praticamente nada em comum com outros5 (p.38).

5

(…) contrary to the expectations of the classical theory, the category is not structured in terms of shared criteral features, but rather by a cris -crossing network of similarities. There are indeed attributes typically associated with the category. Some members share some of these attributes, other members share other

(23)

No mesmo sentido, Kinberg (1991, apud Votre, 1992) assevera que

O sentido de pertencer a uma categoria é antes um sentido de grau, e nunca é de natureza absoluta, do tipo tudo ou nada. Não há rigor nas margens de uma categoria, predominando antes o caráter vago destas margens(...)

Russo (2009), baseada no estudo de Langacker (1991), afirma que as formas nominais são atreladas ao arquétipo “objetos físicos”, enquanto as formas verbais são representadas pelo arquétipo “interação energética”. Assim, qualque r anomalia entre os dois processos de conceituação resulta em uma concepção de marcação, ou afastamento da categoria prototípica.

Segundo a autora, quando uma categoria se afasta do vínculo prototípico, ela recebe codificação marcada, ou porque a codificação linguística se afastou do protótipo correspondente ou porque houve uma “falha” na representação do arquétipo correspondente (p.59). [Grifo nosso]

Russo lembra que o problema da categorização dos nomes que representam eventos pode estar ligado à instabilidade filosófica acerca do conceito disponível para a própria noção de evento, que, em geral, é o traço semântico mais comum ao nome deverbal:

As principais argumentações de uma atitude realista para com eventos têm surgido de teorias semânticas da língua natural (...). Entretanto, mesmo nestes contextos, os eventos têm sido considerados categorias questionáveis, isto é, como alguma coisa que compete com entidades de outro tipo. Uma atitude costumeira tem sido a de ajustar eventos em conformidades com entidades que pertencem a outras categorias ontológicas mais familiares. Entre estas últimas está a dos objetos. (p. 47)

attributes. Yet there are no attributes common to all the members, and to them alone. It may even be the case that some members have practically nothing in common with others.

(24)

A autora esclarece que a atitude de tratar eventos como objetos decorre não da essência do que representam, mas da possibilidade de sua individuação como entidades. Segundo a autora

(...) eventos podem ser aproximados de objetos (ambos podem ser concebidos como indivíduos; ambos parecem ser entidades concretas, localizadas temporalmente e espacialmente e organizadas em hierarquias de parte-todo; ambos podem ser contados, comparados, quantificados, referidos e descritos e redescritos de várias maneiras) (p. 48).

Em geral, os dicionários portugueses como o de Bueno (1981) descrevem as formas deverbais terminadas em -ção como substant ivos (objetos?) que referem nomes de ação e podem se flexionar no plural.

Essas marcas inerentes aos nomes são tomadas como traços centrais da categoria nominal, deixando-se à margem da categoria a existência de elementos com papéis de sujeito e objeto, característica inerente à maioria dos eventos, por serem traços mais comuns à analise dos verbos nas orações.

Tratados como nomes, eventos deverbais como participação, construção e

produção podem, em um dado contexto discursivo, demandar participantes, sujeito e

objeto, o que os torna uma espécie de nomes verbais transitivos.

Assim é que os deverbais enfileiram o rol dos casos de fronteira, por apresentar, por um lado, traços morfológicos nominais mais perceptíveis e aparentes, equivalentes aos traços próprio dos objetos, e, por outro, um comportamento sintático e semântico compatível com o dos verbos cuja depreensão exige um maior esforço e maior acuidade analítica do que a forma verbal propriamente dita.

Para Camacho (2007, p.02), a presença da estrutura argumental em construções deverbais é argumento contrário à categorização dos deverbais como nomes. Ele critica o uso de uma categorização superficial no estudo dos deverbais que não leva em conta a existência de argumentos.

(25)

Segundo Camacho, os deverbais manifestam aspectos referentes a nomes e verbos, sendo a presença dos argumentos o traço mais pertinente a uma categorização verbal:

(...) os pesquisadores que reconhecem alguma universalidade na distinção entre nomes e verbos sentem a necessidade de apoiar-se numa categorização de base prototípica, não numa categorização de base referencial. O ponto mais interessante sob esse aspecto é o de que os nomes deverbais não são nem nomes, nem verbos prototípicos e uma boa hipótese a defender é que quanto ma is ele preserva a estrutura argumental mais próximo ele está da referência a um estado de coisas e, portanto, mais distante da nominalidade prototípica (p.02).

O autor adota o critério da referência para estabelecer uma diferença entre o valor nominal e o valor verbal pertinentes ao deverbal. Segundo Camacho, quando refere o resultado de um evento como em “Aquela construção do alto da colina é muito

sólida” o deverbal apresenta positivamente o traço nome (objeto) e negativamente o

traço verbo (evento). Já, em “A construção da casa demorou dois anos”, o deverbal refere/nomeia um “estado de coisas”, um evento, apresentando positivamente os traços verbo e nome constituindo assim uma predicação encaixada (p.03).

Porém, o autor não registra o fato de que, no primeiro caso, o resultado de um evento (Aquela construção) é sujeito de um verbo de ligação, e que, no segundo, o estado de coisas (A construção) é sujeito de um verbo de caráter aspectual (demorou) que acrescenta a este o traço duração. Desse modo, pode-se dizer que a referência em ambos é construída com auxílio da relação sintático-semântica entre a predicação e o verbo que ela controla. Por outro lado, parece não ficar clara a diferença em relação ao que entende sobre ‘estado de coisas’ e resultado de um evento, já que o resultado de um evento não deixa de ser um estado de coisas.

Nos deverbais, a discussão sobre referência não parece ser fator essencial para a definição da inclinação para verbo ou nome. Mesmo na classe dos nomes,

(26)

segundo (Russo, 2009), existem nomes mais eventivos e menos ‘estado de coisas’. A delimitação da função sintática, como propomos neste estudo, não põe fim à discussão sobre a verbalidade ou nominalidade do deverbal, mas fornece um campo de visão mais rígido para a análise do problema, já que lida com a sintaxe e não puramente com a semântica da predicação.

Outro aspecto fomentador da instabilidade do deverbal é a forma de manifestação de seus argumentos, que, como veremos a seguir, podem se submeter a processos anafóricos.

2.2 A anáfora zero e a continuidade da referência

A não explicitação dos argumentos tem sido alvo de diversos estudos linguísticos e, em geral, é associada ao funcionamento de mecanismos cognitivos e textuais que promovem a continuidade da referência no texto.

Givón (1995, p. 377), a partir de dados estatísticos de línguas pidgins e Ute, assevera que a norma mais comum na codificação dos referentes obedece a uma escala de continuidade referencial, através da qual, um sintagma nominal pleno é regularmente retomado em uma dada situação comunicativa por mecanismos anafóricos na ordem SN>pronome>anáfora zero.

Analisando a distribuição gramatical de sintagmas nominais em narrativas orais do Inglês, Givón observa que há uma forte relação de continuidade entre o tópico dos textos e os sujeitos gramaticais. Ele afirma que o referente nominal zero (zero lexical) “é concomitante ao estatuto cognitivo do referente como correntemente ativo”6 (p.379).

O autor analisa o mecanismo da continuidade referencial com base na análise das operações cognitivas que envolvem o processo de ativação e reativação da referência. Para ele, a anáfora zero e a anáfora pronominal são mecanismos não marcados da referência correntemente ativa no texto (p.381).

(27)

Na mesma linha de Givón, Santana (2005) e Camacho (2004), investigando a estrutura predicativa dos deverbais, apresentam dados que podem ser interpretados como processos de recuperação da referência dos argumentos de deverbais por anáfora zero.

Os dados de Santana, que analisou a informatividade dos argumentos de deverbais com base na taxonomia de Prince (1981), registram a suscetibilidade de cada tipo de argumento ao fenômeno da economia sintagmática (Haiman, 1983) e ao processo de generalização (restrição ou supressão do argumento).

Santana analisou 220 ocorrências de nominalizações deverbais, observando o seguinte quadro:

Na análise das ocorrências, verificou-se que, do total de 220 nomes deverbais, 14% (31/220) expressam o sujeito potencial (A1) e 26% (58/220) expressam o objeto potencial (A2). Ainda, 32% (71/220) de A1 não-expressos podem ser recuperados no contexto e 54% (118/220) não podem vir expressos por se tratar de nomes genéricos; quanto ao A2, 9% (19/220) podem ser recuperados, 65% (143/220) não podem vir expressos, visto que são nomes genéricos e monovalenciais. Assim, desconsiderando-se os nomes cujos argumentos não podem vir expressos, os dados de análise constituem 102 casos de A1, dos quais 31 são expressos e 71 são recuperáveis no contexto; e 77 casos de A2, dos quais 58 são expressos e 19 recuperáveis no contexto. [Grifos nossos]

Seus dados demonstram que o objeto potencial (A2) recebe maior incidência de codificação do que o sujeito potencial (A1) nos deverbais, em razão do estatuto informacional dos objetos ser normalmente novo, enquanto o sujeito, dada a relação com o tópico do texto, apresenta um quadro menor de ocorrências, por veicular regularmente informação dada, sendo, por isso, mais correferenciado do que o objeto (p. 05).

Os dados sobre a ausência de participantes sujeitos e objetos, embora mais produtivos que os demais casos (54% dos sujeitos e 65% dos objetos não são expressos), são descritos pela autora como nomes genéricos ou monovalenciais.

(28)

Camacho (2008, p.182) alega que a disponibilidade contextua l da referência relaciona-se tanto com a expressão dos argumentos das predicações nominais (deverbais) como para predicações verbais prototípicas.

Para ilustrar o fato, o autor se vale da análise dos argumentos de “construir” e “construção”, verbo e nominalização deverbal, que, segundo ele, apresentam a mesma previsão de argumentos, que podem não ser expressos se a referência a eles já estiver disponível. Assim, segundo o autor

a diferença formal entre um predicado verbal e o predicado nominal derivado não está na estrutura argumental, mas apenas no rótulo categorial que cada um recebe (...). Nesse caso, tanto a valência do nome quanto do verbo podem estar expressas em algum lugar do enunciado, ou seja, exterior em relação ao próprio núcleo da predicação. (op. Cit, p. 183)

Para demonstrar a questão ele utiliza o seguinte exemplo7:

(a)... eles dependiam... da colheita... de frutos... raízes...que eles não plantavam.

Segundo Camacho, o pronome ‘eles’ é recuperado por anáfora zero em ‘colheita’. Have ndo aí um processo de fusão (compartilhamento) semântico de participantes com o verbo ‘dependiam’.

Ele alega que haveria redundância na explicitação do participante 1 de “colheita” (eles), uma vez que existe identidade entre os sujeitos, tornando a sequênc ia menos aceitável:

(29)

(a’)... eles dependiam... da colheita (por eles*)... de frutos... raízes...que eles não

plantavam.

Porém, ele lembra que a identidade é fator inibidor dos participantes quando os eventos se referem ao mesmo sujeito, o que não ocorre em:

(b)... elas dependiam... da colheita pelos homens... de frutos... raízes...que eles não

plantavam.

Camacho estende o caráter anafórico da manifestação do participante sujeito ao argumento objeto, admitindo ainda que a explicitação do participante pode ser um recurso de reativação da referência, uma vez que esta possa estar mais distante do texto.

2.3 A redução dos argumentos no processo de combinação de orações

Com base no fato de que orações podem se combinar e dar ensejo a um processo de compartilhamento de participantes, outros autores observam o fenômeno da não codificação dos argumentos das orações como efeito de um processo de gramaticalização de estruturas mais complexas e possível nominalização de orações subordinadas.

Hopper & Traugott (1993), revisando o conceito clássico de gramaticalização, propõem sua revisão para dar conta das chamadas orações complexas. Inicialmente o conceito de gramaticalização se restringia à observação da mudança do estatuto lexical de uma unidade linguística para um estatuto gramatical, e ou de um estatuto gramatical para mais gramatical. Mas, segundo estes autores, “o ato de combinar e sinalizar esta combinação linguisticamente” deve ser interpretado como uma estratégia de produção discursiva (p.169).

(30)

Considerando uma escala contínua de integração e encaixamento das orações (parataxe>hipotaxe>subordinação), Hopper & Traugott observam que as orações podem se combinar a partir de elos oracionais e que tais elos podem também passar por processo de gramaticalização.

Com base nos estudos de Lehmann (1988), eles lembram que, entre a oração núcleo e a subordinada, pode haver compartilhamento de informações (sujeito, tempo e modo), o que, segundo Lehmann causaria maior ligação entre uma e outra oração. Eles citam ainda Givón (1995) que, acenando com uma perspectiva cognitiva para a análise da motivação para os diversos tipos de combinação de oração, afirma que “quanto mais integrados os eventos/estados semanticamente e pragmaticamente mais as orações que os codificam estarão integradas gramaticalmente (princípio da integração)”.

Um dos elementos mais efetivos no processo de entrelaçamento oracional (clause linkage) e mais constantemente investigado é o sujeito. Segundo Hopper & Traugott, quando o sujeito de duas orações que se combinam não é o mesmo, existe uma menor integração entre as estruturas e o segundo sujeito tende a ser explicitado. Para Lehmann (1988), orações subordinadas podem se submeter a um processo de dessentencialização, situação em que ocorre redução de argumentos do verbo, podendo se instalar, nesse caso, um processo de nominalização.

Tal perspectiva é compartilhada por Mackenzie (1987), que postula para as subordinadas uma trajetória que se inicia com construções mais verbais e se aproximam das construções mais nominais, dentro de uma escala gradual de nominalização.

Para Lehmann, as subordinadas revelam, como uma das instâncias do processo de dessentencialização, uma menor suscetibilidade às pressões pragmático-discursivas, além de uma maior rigidez na relação entre a ordem de seus elementos e as regras da sintaxe.

Azevedo (2000), seguindo o modelo de dessentencialização de Lehman (1988), observa as formas gramaticais da expressão do sujeito das construções subordinadas finais formadas pela preposição ‘para’ + infinitivo verbal, afirmando, a partir de dados empíricos, que o baixo peso de ocorrências da expressão do sujeito nas subordinadas finais está relacionado com o enfraquecimento do verbo não finito da construção subordinada.

(31)

Em sua tese de doutorado (Azevedo, 2000), o autor propõe um ciclo de dessentencialização que se iniciaria na combinação de orações subordinadas desenvolvidas, passando pela redução destas orações em razão do seu encaixamento ao verbo da oração núcleo e caminhando para a nominalização com a possível mudança do encaixamento para um nome.

Para o autor, “Nas nominalizações, eliminam-se fisicamente todos os vestígios da estrutura oracional, atingindo-se o grau máximo de dessentencialização” (2003, p.03). Para ilustrar esse processo de nominalização, Azevedo se utiliza de um exemplo de construção de finalidade em que a utilização de um deverbal sinalizaria a ocorrência da nominalização de uma subordinada infinitiva:

(c )...tornara-se conhecida na Europa a bússola, inventada pelos chineses e que serve

para a orientação.

Neste exemplo, o traço finalidade, presente nas subordinadas infinitivas

iniciadas por ‘para’ permanece veiculado pelo deverbal (para orientação/para orientar). O autor afirma que os fatores combinação e encaixamento não favorecem à

distinção gradual entre construções desenvolvidas, reduzidas e nominalizações, mas permitem a visualização de fronteiras.

Menezes (2001), optando por investigar a expressão do sujeito em construções infinitivas iniciadas pela preposição ‘para’ com uma visão ma is pragmática e com base em um grupo de fatores analíticos, afirma que a observação do comportamento do sujeito em relação ao verbo infinitivo das subordinadas não é parâmetro suficiente para categorizar a prototipicidade do predicado verbal, sendo pois complemento analítico e essencial a análise do contexto funcional.

Em sua análise, Menezes utiliza a noção de valência com base em Croft (1992), tomando como fator de dessentencialização a redução dos argumentos das subordinadas. Ela se apóia também em Dik (1997), afirmando que, em alguns casos, a irrelevância da identificação do sujeito pode ser codificada pelo sujeito zero (genérico) ou por uma partícula reflexiva, podendo ser interpretada como um processo de redução de predicado; e em Mackenzie (1985), esclarecendo que o segundo argumento, o objeto,

(32)

pode ser extraído da construção subordinada, causando uma maior dessentencialização, como a autora afirma ocorrer em

(d) ...eu sou de família....de família fundadora da cidade do Rio de janeiro...então...eh...minha vó...pra você ver...minha vó tinha ...abria ...havia aquela... aquele pessoal que tinha um status...pra receber...não é?....

Ela observa que a redução, ocorrida no exemplo, reflete uma mudança sintática e semântica no verbo ‘receber’ que se torna intransitivo e assume um sentido equivalente a um modo de tratar pessoas. (p. 43/44).

Assim, os casos de redução em processos de combinação de orações parecem abrir caminho para uma modificação do estatuto categorial da oração subordinada. O fato de o sujeito ou o objeto não ser codificado parece não estar vinculado a um processo de desgaste estrutural da oração subordinada, mas a estratégias comunicativas contextuais que implicam o modo como os argumentos são codificados.

Não há, pois, aparentemente, uma relação entre a redução dos argumentos da oração subordinada, fato que tem sido também chamado de “nominalização”, com a emergência de formas deverbais. Pode-se dizer, entretanto, com certo cuidado, que formas adverbiais como ‘para orientar’ e ‘para a orientação’, conforme observado por Azevedo (2000) podem concorrer em certos contextos discursivos, assunto que não será explorado nesta tese.

Contudo, em nosso estudo, vamos aproveitar o conceito de combinação de orações na análise de predicações deverbais que se encontram sintática e semanticamente relacionadas a uma predicação matriz, ou oração principal. Tipos de predicação com função de objeto ou com função adverbial serão interpretadas como predicações subordinadas àquelas em que existe um sujeito na predicação matriz, como em “O médico fez a operação”, em que entendemos ser O médico fez a predicação matriz e a operação a predicação subordinada, do ponto de vista da combinação de orações.

(33)

CAPÍTULO 3

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, organizado em duas partes, apresentamos os conceitos e categorias analíticas que dão base para a análise do fenômeno em estudo. A primeira parte cuida de uma breve apresentação do funcionalismo linguístico. A segunda é dedicada à abordagem da Gramática Funcional de Dik (1989;1997), doravante GF, que estabelece as definições ligadas ao sistema de formação de predicados, apresentando, ainda, algumas considerações sobre o modo como o sujeito, participante 1, é codificado nas predicações: se explícito, correferido ou restrito.

3.1 Funcionalismo linguístico

Uma teoria de base funcionalista concebe a língua como instrumento de interação social (Perrot, 1960; Dik, 1978; Givón, 1979). Ela parte da premissa de que a gramática funciona como uma estrutura “maleável” (Bolinger, 1977), forjada e regularizada pelo uso, moldando-se e adequando-se às necessidades comunicativas do falante.

Votre (1991) define o funcionalismo linguístico como

a corrente de estudo do uso interativo da língua, que busca explicar as regularidades observadas nesse uso a partir da análise das condições discursivas em que o mesmo se verifica.

Essa postura estabelece uma oposição a estudos formalistas, notoriamente reconhecidos nas obras ligadas a duas correntes linguísticas: o estruturalismo, que se baseia no modelo analítico de Saussure, e o gerativismo, que concebe a língua como um

(34)

sistema lógico, baseado no modelo matemático de Chomsky. As duas correntes se concentram no estudo da forma, desvinculada do seu significado em um dado contexto de uso, restringindo a análise aos limites da frase.

Uma teoria funcionalista tem como objeto de análise o contexto discursivo. Interessa ao olhar funcional o processo da regularização e da modificação da estrutura. Segundo Cunha et alli (2002), é no uso da linguagem que se encontram as condições discursivas que instrumentam a análise da estrutura. Para estes autores

Os domínios da sintaxe, da semântica e da pragmática são relacionados e interdependentes. Ao lado da descrição sintática, cabe investigar as circunstâncias discursivas que envolvem as estruturas linguísticas e seus contextos específicos de uso. Segundo a hipótese funcionalista, a estrutura gramatical depende do uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é motivada pela situação comunicativa. (p.29)

Contudo, embora se possa afirmar que a análise da relação entre o discurso e a sintaxe dê a base geral para o funcionalismo, pode-se dizer que, sob a estampa funcionalista, várias posturas teóricas e metodológicas são adotadas (Brinton & Traugott, 2005; Croft, 1985).

A chamada corrente americana do pensamento funcional, por exemplo, tem como uma das hipóteses centrais a teoria da gramaticalização (Meillet, 1912; Kurylowicz, 1965; Heine et al., 1991; Martelotta, 2003; Abraçado, 2006). Com base em estudos diacrônicos, sincrônicos e pancrônicos, pesquisadores observam como expressões emergem na línguas, ou transitam entre as categorias, concebendo a noção de gramática como um estado transitório e dinâmico de um sistema linguístico (Hopper, 1998), que é abordado como um contínuo entre o discurso e sintaxe.

Esta corrente, entretanto, tem se ocupado da investigação de processos de regularização gramatical, baseada na premissa de que o léxico é uma das fontes de alimentação das expressões gramaticais.

(35)

Embora não seja uma posição uniforme entre os adeptos desta corrente, léxico e gramática, no contexto de estudo de fenômenos de gramaticalização, são tomados como categorias distintas, porém contíguas, que têm como pontos de contato expressões linguísticas em processo de transição.

No léxico, encontram-se as expressões que possuem carga semântica (sentido mais concreto) que, com o uso, sofrem desbotamento semântico8, abstratização de significado, passando a veicular significados mais gerais. Os fenômenos de mudança linguística e da emergência das categorias gramaticais são alguns dos principais alvos da vertente americana da linguística funcional.

Diferentemente, para a Gramática Funcional, o léxico é a fonte de formação de predicados, sendo admitido como parte fundamental da gramática. O foco da Gramática Funcional é a descrição do sistema de formação da oração. Não há uma preocupação com processos de mudança ou emergência de categorias novas, embora exista a previsão de um sistema de formação dos predicados menos categóricos derivados de predicados prototípicos. Assim, não existe um conceito de mudança propriamente dito, mas a previsão de uma adaptação sistemática de uma categoria à forma e à função de outra.

A descrição de um sistema subjacente, de base semântica, cunhado pelo uso, que se submete às regras interacionais é o modelo predominante da Gramática Funcional, que tem por ênfase a descrição da oração como um ato de fala e a caracterização dos processos intrínsecos e extrínsecos à formação de sua estrutura.

Pode-se dizer que o termo funcionalismo se caracteriza pela própria heterogeneidade metodológica que o envolve. Para Nichols (1984), o funcionalismo se segmenta em três tipos de corrente: conservadora, que se pauta na mera crítica ao formalismo; moderada, que critica o formalismo sem desconsiderar o estudo da estrutura; e extremada, que ignora a existência da estrutura e das restrições sintáticas.

O funcionalismo adotado nesta tese é predominantemente moderado, pois reconhece, com base no escopo teórico da Gramática Funcional, vertente holandesa do Funcionalismo Linguístico, a existência de uma estrutura argumental subjacente para a

8

Heine (2003) enumera quatro aspectos interrelacionados da gramaticalização, incluindo o desbotamento semântico ou dessemantização: a extensão (novos usos em contextos diferentes; a decategorização (perda de elementos morfossintáticos) e a erosão (perda de estrutura fonética).

(36)

formação de predicados (verbais, no minais, ou derivados) e o efeito do uso sobre essa estrutura.

3.2 A Gramática Funcional de Dik

O modelo da Gramática Funcional (GF) de Simon Dik é inaugurado com a publicação da obra “Functional Grammar” (1978), revisada em (1980), “Studies in Functional Grammar”, e mais recentemente reelaborada em duas partes: The Theory of Functional Grammar – Part I: The structure of the clause (1989) e The Theory of Functional Grammar – Part II: Complex and derived predications (1997). Contribuem com o desenvolvimento das bases teóricas da Gramática Funcional autores como Croft, Mackenzie e Bolkstein, entre outros9.

A arquitetura da GF é inspirada no estudo de valências de Tesniere (1976) e é fortemente influenciada pelo conceito de estrutura subjacente, herança dos estudos gerativistas, que dominaram o cenário das pesquisas linguísticas na década de 70, mas que perderam força com o advento de correntes teóricas novas e ressurgentes entre as décadas de 60 e 80 (análise do discurso, linguística textual, sociolinguística, funcionalismo, etc).

A proposta da GF, como já dissemos, é a descrição de um sistema subjacente a partir da observação do uso das expressões linguísticas. Desta proposta surgem dois tipos de níveis ligados à expressão, que são descritos como: nível representacional, sob o qual se organiza um sistema de regras que governa a formação de predicados e nível interpessoal (pragmático), sob o qual atuam as regras de expressão.

9

Nos últimos anos, a Gramática Funcional vem ampliando seu objeto de análise, se aproximando assim da vertente americana do funcionalismo linguístico, principalmente pela definição do discurso como alvo da inquirição gramatical (Souza, 2008). Destaca-se nesta ampliação de objeto, o trabalho de Hengeveld & Mackenzie (2008) que passam a denominar a GF como GDF, Gramática Discursivo Funcional, atualmente, em fase de consolidação.

(37)

3.2.1 O conceito de predicação

Uma predicação, segundo Dik (1997), é uma estrutura formada por predicados e termos. Os predicados representam o núcleo da predicação, enquanto os termos podem se classificar em argumentos e satélites. A relação entre predicados e termos é concebida como um esquema, que é atualizado no discurso por meio de um sistema de regras de expressão.

Predicados e termos se encontram armazenados no léxico e apresentam formas básicas (prototípicas) e derivadas. As formas básicas dos predicados se resumem a três tipos: verbos, nomes e adjetivos, dos quais outros predicados se formam (op. Cit., p. 07). Uma forma deverbal, por exemplo, representa um predicado nominal derivado de um predicado verbal.

Os termos são descritos segundo a relação semântica que estabelecem com os predicados. Assim, se os termos completam o significado do predicado são classificados como argumentos, mas se apenas acrescentam informação ou modificam o predicado, são classificados como satélites.

Nas predicações verbais, os termos com função de argumento apresentam características gramaticais que determinam o tipo de relação com o verbo (ordem, concordância, função semântica). Nas predicações derivadas, a relação entre o deverbal e seus argumentos se reduz ao desempenho de funções semânticas, regularmente descritas como termos ou como satélites.

Os argumentos nas predicações derivadas deverbais podem ser encontrados sob a forma de um sintagma regido pela preposição ‘de’ como demonstram alguns exemplos do corpora.

Em (01), o predicado destacado em negrito, ‘ações’, apresenta um termo explicitado, “do Fed”, que funciona como sujeito, participante 1:

(01) — Retirar os estímulos para a economia agora pode arriscar os progressos obtidos pelo governo, e não devemos fazer isso — disse Geithner, deixando claro que as ações do Fed são isoladas e devem-se à capacidade de recuperação do sistema bancário. (O Globo, ocorrência 461)

(38)

Observa-se em (01) que o participante 1 é responsável pelo

desencadeamento do evento veiculado pelo predicado deverbal ‘ações’. Em (02), o predicado destacado em negrito, ‘educação’, apresenta o

argumento ‘a um povo’ com função de objeto:

(02)...como diz... é o primeiro ponto a atingir o governo...economia... dinheiro... financeiro... se você não atingir... como você pode dar educação a um povo? (DG, ocorrência 533)

Postulamos que o verbo ‘dar’, neste caso, empresta seu esquema predicativo ao deverbal ‘educação’, formando com ele uma espécie de perífrase (‘dar educação’ = ‘educar’), já que não há um elemento concreto, prototípico, a ser dado no contexto, mas sim a representação abstrata de uma ação. Nesse sentido, o verbo ‘dar’ pode ser interpretado sob a ótica de um processo de gramaticalização, em que estaria se juntando à forma deverbal como uma espécie de verbo auxiliar.

Em (03), o predicado destacado apresenta dois participantes, sujeito e objeto, sendo o sujeito (operadoras) marcado com uma preposição que indica a função agentiva do sujeito (pelas):

(03) Um dos primeiros movimentos do fórum foi a notificação à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para que ela exija a uniformização de ofertas de pacotes pelas operadoras, de forma a facilitar a comparação pelos consumidores. (O Globo, ocorrência 302)

Predicações derivadas podem funcionar como argumentos e satélites de outras predicações (Mackenzie, 1985). Em (04), a predicação funciona como sujeito da oração, e em (05), como advérbio:

(04) No passado, o Brasil era muito dependente de petróleo importado e de insumos essenciais para a indústria. Esse quadro se alterou significativamente: em volume, a produção nacional de petróleo vem se mantendo próxima aos patamares de consumo doméstico. (O globo, ocorrência 134)

(39)

(05) BRASÍLIA. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que desembarca hoje em Caracas para visita de dois dias a base governista no Senado não poupará esforços para aprovar hoje o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. (O Globo, ocorrência 406)

3.2.2 A valência dos predicados

A noção de valência refere-se à relação qualitativa ou quantitativa que se estabelece entre o predicado e os argumentos. Segundo Dik (1989, p.77), a diferença de abordagem para os dois tipos: a análise quantitativa descreve o número de argumentos de um predicado e a qualitativa descreve a função semântica dos argumentos. A GF prevê regras de extensão e redução de valência. Para Menezes (2001)

A valência de um predicado pode ser alterada por regras de formação que caracterizam dois tipos gerais de regras: extensão e redução. Uma regra de extensão de valência pode aproximar um predicado nominal de um predicado verbal; já uma regra de redução de valência pode aproximar (com graus variados de similaridade) o predicado verbal da categoria nominal. Ocorre extensão de valência quando, por exemplo, de um predicado verbal intransitivo primitivo, é formado um predicado transitivo derivado (cf. A polícia correu (com) os assaltantes); ou ainda quando o esquema predicativo de um predicado verbal é transferido para um predicado nominal (cf. O governador exigia a realização do plano) (156/157).

Dik (1997), examinando construções encaixadas infinitivas, classifica a valência dos predicados segundo a diferença entre a previsão semântica, subjacente, dos argumentos e sua expressão.

(40)

Assim, quando um dos argumentos da construção não é expresso, a valência da construção é aberta10, e quando todos os argumentos estão presentes, a valência da construção é fechada (op.cit., p. 147/148).

3.2.3 O ajuste formal do predicado verbal

Um predicado derivado deverbal, dentro do sistema de formação de predicados da GF, representa uma nominalização resultante da adaptação de um predicado verbal a um predicado nominal, que também é concebido como processo de ajuste formal (Dik, 1985).

Segundo Dik (op. Cit.), há dois princípios gerais que governam a expressão de predicações derivadas: O princípio do ajuste formal e o princípio do ajuste semântico (p. 03).

O princípio do ajuste formal (PAF) estabelece que uma predicação derivada do tipo ‘x’ precisa ajustar a forma da sua expressão ao modelo de expressão prototípico de uma forma não derivada do tipo ‘x’11.

O princípio do ajuste semântico (PAS) decorre do efeito do primeiro princípio, levando a predicação a uma adequação semântica ao modelo de expressão prototípico em que se ajusta12.

No exemplo (06), observamos uma ocorrência em que uma predicação verbal é parafraseada pelo falante por meio de uma predicação verbal derivada. A paráfrase demonstra a ação dos dois princípios:

10 Menezes (2001), em sua tese de doutorado, propôs a revisão do conceito de valência aberta, desdobrando a noção de abertas em: abertas 1: para construções em que o sujeito é correferido e abertas 2: para construções em que o sujeito tem referência arbitrária zero.

11 Derived constructions of type ‘x’ are under pressure to adjust their formal expression to the ‘prototypical expression model’ for non-derived constructions of type ‘x’. (p. 03)

12 To the extent of the derived construction yields to the pressure of the PFA, it will also tend to adjust to the semantic properties of the prototypical expression model. (p.03)

(41)

(06) Em teoria, o acordo inicial, se aceito, privaria Teerã da quantidade de urânio necessária para construir uma bomba atômica — o maior temor do Ocidente. Segundo especialistas, uma tonelada de urânio de baixo enriquecimento é necessária para a produção de uma ogiva nuclear. (O globo, ocorrência 322)

No exemplo acima, a segunda predicação destacada (para a produção de uma ogiva nuclear) refere-se a uma paráfrase da primeira predicação (para construir uma bomba atômica). O ajuste formal (PAF) explicaria as seguintes mudanças13 conforme tabela a seguir:

Predicação para construir uma bomba atômica para a produção de uma ogiva nuclear Núcleo da predicação

Sintagma verbal Sintagma nominal Representação dos

argumentos

Sintagma nominal Sintagma preposicionado Tabela 1: Representação do processo de ajuste formal

Camacho (2007) observa que no processo de nominalização de predicados verbais “marcações tipicamente oracionais dão lugar a outros mecanismos”. Neste caso, os mecanismos que se alteram referem-se à marcação dos argumentos por preposição, à modificação por adjetivo, ao invés de advérbio, e o uso de pronomes possessivos, que normalmente acompanham um núcleo nominal (p.01).

O processo de ajuste não é relacionado à diminuição dos argumentos da predicação da qual se origina a predicação derivada. A transformação dos argumentos da predicação em sintagmas preposicionados, o que torna formalmente equivalente a expressão do sujeito e do objeto.

No caso das predicações deverbais, como já vimos, observa-se que a expressão dos dois argumentos pode determinar a alteração da preposição mais comum do sintagma preposicionado (de), para uma preposição mais eficiente em relação à

13 A utilização do sinônimo ‘produção’ ao invés de ‘construção’ não é prevista no sistema de ajuste formal.

(42)

determinação do sujeito, quando este apresenta o traço mais agentivo, como em (07), em que o sujeito é marcado com a preposição ‘pelo’:

(07) Desonerações de PIS/Cofins, transferências a entes da federação, crédito direcionado e subsidiado para investimentos e a flexibilização de compulsórios pelo Banco Central (BC) são itens que compõem a cesta temporária de estímulos e que não serão renovados em 2010. (O globo, ocorrência 466)

O ajuste formal também dá conta da representação do argumento por uma forma adjetiva, como em (08):

(08) A produção brasileira de petróleo e gás certamente dará um salto quando estiverem em operação os campos já descobertos na chamada camada do pré -sal. (O Globo, ocorrência 283)

O adjetivo ‘brasileira’ equivaleria ao sintagma ‘do Brasil’. A relação semântica do argumento em relação ao predicado assume uma posição limítrofe, em termos categóricos, no sentido de que o argumento passa a se comportar como um satélite, um modificador adjetivo do predicado ‘produção’.

3.2.4 Aspectos gerais da manifestação do sujeito

Mackenzie (1985) acredita que as nominalizações levem inevitavelmente à redução sucessiva dos argumentos da predicação verbal. Assim, uma vez nominalizada, uma predicação verbal tende a diminuir sua valência numa escala que vai de dois ou três argumentos para zero.

Neste caso, ainda que o sistema de formação de predicados possua mecanismos conversores de argumentos (sintagmas preposicionados), esses mecanismos seriam formas transitórias do processo de formação de nominalização de predicados verbais.

Referências

Documentos relacionados

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

MATRÍCULA nº 4.540 do 1º CRI de Piracicaba/SP: 01 (UMA) GLEBA DE TERRAS, situada no imóvel denominado “Algodoal”, contendo a área de 53.982,00m², desta cidade, que assim

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Foi apresentada, pelo Ademar, a documentação encaminhada pelo APL ao INMETRO, o qual argumentar sobre a PORTARIA Nº 398, DE 31 DE JULHO DE 2012 E SEU REGULAMENTO TÉCNICO

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

Verificar a efetividade da técnica do clareamento dentário caseiro com peróxido de carbamida a 10% através da avaliação da alteração da cor determinada pela comparação com

Para obter o diploma de Mestre, o aluno deve ter uma dissertação, de sua autoria exclusiva, defendida em sessão pública e aprovada por uma Comissão Examinadora