• Nenhum resultado encontrado

Hipertrofia muscular intestinal idiopática em cão: relato de caso

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Hipertrofia muscular intestinal idiopática em cão: relato de caso"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Hipertrofia muscular intestinal idiopática em cão: relato de caso (Intestinal idiopathic muscular hypertrophy in a dog: a case report)

R.L. Santos, M.I.M. Coelho Escola de Veterinária da UFMG

Caixa Postal 567 30123-970 Belo Horizonte, MG

RESUMO

O presente relato tem como objetivo a descrição dos achados anátomo-patológicos em um caso de hipertrofia intestinal idiopática em cão. O animal, um cão da raça Poodle de 14 anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais com histórico de diarréia, vômito e anorexia. Ao exame clínico o animal apresentava temperatura retal de 39ºC, estado geral ruim e sinais de desidratação acentuada. À palpação abdominal detectaram-se alças intestinais espessas e as fezes apresentavam-se líquidas e com sangue. O animal permaneceu em tratamento durante 15 dias e veio a óbito ao final desse período. À necropsia, a parede do intestino delgado (duodeno e porção cranial do jejuno) apresentava-se extremamente espessa. Histologicamente, observou-se hipertrofia acentuada da camada muscular e da muscular da mucosa, além de esclerose da mucosa e submucosa.

Palavras-chave: Cão, intestino, hipertrofia muscular

ABSTRACT

This report describes the pathological findings in a case of intestinal idiopathic muscular hypertrophy in a dog. A 14 year-old male Poodle dog was presented at the Veterinary Hospital of the Federal University of Minas Gerais with history of diarrhea, anorexia and vomiting. Clinically, the body temperature was 39ºC and poor general condition and severe dehydration were observed. Thickened intestines were palpable and the feces were liquid with blood. The animal was treated during 15 days, dying after that. Groosly, the small intestine wall (duodenum and cranial portion of the jejunum) was very thickened. Histologically, severe hypertrophy of the muscular layer and muscularis mucosa, and sclerosis of the mucosa and submucosa were observed.

Key words: Dog, intestinal muscular hypethophy

Recebido para publicação em 6 de fevereiro de 1998.

INTRODUÇÃO

A hipertrofia muscular do intestino delgado tem sido um achado freqüente na espécie eqüina e ocorre principalmente no íleo (Chaffin et al., 1992). Esta alteração também tem sido descrita em suínos, sendo observada com certa freqüência

em animais saudáveis ao abate (Barker et al., 1993). A hipertrofia da musculatura lisa pode ocorrer como resposta a uma estenose, o que faz com que a atividade muscular se intensifique provocando a hipertrofia, ou pode ser idiopática. No cão não têm sido relatados casos de hipertrofia muscular intestinal idiopática.

(2)

Arrick & Kleine (1978) relataram um caso de pseudo-obstrução intestinal em um cão Yorkshire Terrier de 6 anos de idade no qual foi observada hipertrofia da muscular da mucosa e hipoplasia da camada muscular do intestino delgado. A pseudo-obstrução é uma síndrome clínica, inicialmente descrita no homem, caracterizada pela propulsão inadequada da ingesta pelo intestino, o que provoca sinais de obstrução na ausência de qualquer lesão oclusiva do lúmen intestinal (Schuffler, 1981). Posteriormente, foram relatados outros três casos de pseudo-obstrução em cães, sendo que em todos esses casos a hipotrofia muscular foi o principal achado (Moore & Carpenter, 1984). Swayne et al. (1986) relataram um caso de enteropatia esclerosante em uma cadela mestiça de Dachshund de cinco anos de idade, com histórico de anorexia e vômito, cujas principais alterações intestinais observadas foram fibrose da lâmina própria da mucosa e hipertrofia muscular no intestino delgado na ausência de estenose.

A pseudo-obstrução intestinal no homem pode envolver qualquer segmento do intestino, podendo ter curso agudo ou crônico. A forma aguda também é chamada de íleo, íleo espástico ou íleo paralítico. A forma crônica pode ser primária ou secundária. Na pseudo-obstrução primária não há uma causa definida, sendo por isso chamada de pseudo-obstrução intestinal idiopática crônica. Por outro lado, a pseudo-obstrução secundária ocorre como parte de uma doença definida, como por exemplo esclerose progressiva sistêmica, doença de Chagas, mesenterite esclerosante, amiloidose etc. Sob o ponto de vista patológico, os casos de pseudo-obstrução intestinal idiopática crônica apresentam lesões muito variáveis, sendo que alguns autores descrevem degeneração do plexo mioentérico, outros relatam alterações na musculatura lisa (alterações regressivas na maior parte dos casos, podendo ocorrer também hipertrofia em outros) e alguns outros autores não encontraram nenhuma alteração intestinal (Schuffler, 1981; Schuffler et al., 1981).

O presente relato descreve os achados anátomo-patológicos em um caso de hipertrofia intestinal idiopática em cão.

CASUÍSTICA

O animal, um cão da raça Poodle de 14 anos de idade e 4,9kg de peso, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais com histórico de diarréia, vômito e anorexia. A diarréia, que ocorrera há aproximadamente 30 dias antes do atendimento no Hospital Veterinário, havia sido tratada com sucesso com sulfametoxazol associado a trimetropim e metoclorpramida. Ao exame clínico o animal apresentava temperatura retal de 39ºC, mau estado geral, sinais de desidratação acentuada, concreções dentárias, ausência de alguns dentes e taquicardia. À palpação abdominal, observaram-se alças intestinais espessas e as fezes apresentavam-se líquidas e com sangue. O exame hematológico mostrou leucocitose discreta e a urinálise não apresentou alterações significativas. Um segundo hemograma, realizado uma semana após o primeiro, apresentou todos os parâmetros dentro dos limites considerados normais. O animal permaneceu em tratamento durante 15 dias, recebendo fluidoterapia, antibioticoterapia e metoclorpramida. Contudo, não houve reversão do quadro clínico e o animal permaneceu vomitando e com diarréia durante esse período, ao final do qual morreu.

À necropsia, as paredes do intestino delgado, duodeno e porção cranial do jejuno, apresentavam-se extremamente espessas, com aproximadamente oito milímetros de espessura, o que provocava diminuição do diâmetro da luz intestinal. A mucosa tinha coloração esbranquiçada (Fig. 1). Estas alterações eram mais acentuadas próximo à região pilórica, diminuindo de intensidade no sentido caudal, sendo que na transição jejuno-íleo as características macroscópias do intestino eram normais. Além das alterações intestinais, o pâncreas apresentava-se diminuído de volume, com superfície irregular, coloração esbranquiçada e consistência firme, características macroscópicas sugestivas de pancreatite crônica. O testículo direito tinha um nódulo de aproximadamente dois centímetros de diâmetro, de consistência moderadamente firme e de coloração esbranquiçada. Um outro achado importante foi periodontite severa.

(3)

Figura 1. Hipertrofia intestinal idiopática em cão. A: Duodeno aberto longitudinalmente apresentando parede extremamente espesssa; mucosa pregueada e esbranquiçada. B: Corte transversal do duodeno com parede espessa e oclusão parcial do lúmen intestinal.

Foram colhidos vários fragmentos do intestino e de outros órgãos, os quais foram fixados em solução de formol neutro e tamponado e processados de acordo com as técnicas usuais de inclusão em parafina (Luna, 1968). As lâminas foram coradas pela hematoxilina e eosina, pelo tricrômico de Masson e pelo picrosirius (Montes & Junqueira, 1991).

Histologicamente, a porção superficial da mucosa já mostrava sinais de autólise. Havia intensa hipertrofia da muscular da mucosa e acúmulo de tecido conjuntivo denso na lâmina própria, entre a muscular da mucosa e as porções mais profundas das criptas. Na submucosa também foi possível observar acúmulo de tecido conjuntivo denso. A camada muscular encontrava-se muito espessa, os leiomiócitos apresentavam-se aumentados de volume com núcleo vesiculoso e alongado, caracterizando hipertrofia acentuada (Fig. 2). A hipertrofia

muscular foi evidente tanto na camada circular quanto na camada longitudinal. A espessura média das camadas circular e longitudinal, obtidas de várias secções, variaram de 1300 a 2900µm e de 680 a 910µm, respectivamente. Não foram evidenciadas alterações dos neurônios do plexo mioentérico nessas secções. A coloração pelo tricrômico de Masson revelou grande quantidade de fibras colágenas na submucosa e na região da mucosa adjacente à muscular da mucosa, caracterizando esclerose intestinal. As lâminas coradas pelo picrosirius e examinadas sob microscopia de luz polarizada mostraram intensa birrefringência das fibras colágenas com coloração avermelhada, indicando o predomínio de colágeno maduro do tipo I (Fig. 2c); na camada muscular foi possível observar algumas fibras entre os leiomiócitos que apresentaram birrefringência esverdeada e de baixa intensidade, que correspondem a fibras de reticulina.

(4)

Figura 2. Hipertrofia intestinal idiopática. em cão. A: Duodeno apresentando camadas muscular longitudinal externa (ME) e circular interna (MI) extremamente espessas, camadas submucosa (SM) e mucosa (M). H.E. 6,5×. B: Detalhe da camada muscular longitudinal externa hipertrofiada. H.E. 25×. C: Submucosa do duodeno com grande quantidade de fibras colágenas birrefringentes à luz polarizada. Camadas muscular (MU), submucosa (SM), muscular da mucosa (MM) e mucosa (M). Picro sirius. 20×. Com base nas características macro e

microscópicas foi possível diagnosticar hipertrofia muscular intestinal idiopática associada a esclerose da mucosa e submucosa.

DISCUSSÃO

A pseudo-obstrução intestinal crônica no cão é caracterizada por vômito e diarréia que não respondem ao tratamento, perda de peso e evidência radiográfica de obstrução sem oclusão

do lúmen intestinal (Moore & Carpenter, 1984). Clinicamente, embora o exame radiológico não tenha sido realizado, o presente caso apresentava características de pseudo-obstrução intestinal, uma vez que o animal apresentava vômito persistente e diarréia. Estes sinais clínicos também foram observados, isoladamente ou em associação, em todos os casos de pseudo-obstrução intestinal relatados em cães (Arrick & Kleine, 1978; Moore & Carpenter, 1984), sendo também os que ocorrem com maior freqüência no homem, que geralmente apresenta vômito e

(5)

diarréia associada à esteatorréia, ou constipação, podendo ocorrer diarréia durante uma fase e constipação em outra (Schuffler et al., 1981a). No presente caso o vômito pode ser justificado pela hipertrofia muscular e conseqüente espessamento da parede duodenal, o que ocluiu parcialmente a luz intestinal, dificultando a progressão caudal da ingesta.

Os achados histopatológicos de hipertrofia muscular e esclerose da mucosa e submucosa, observados neste caso, são semelhantes aos descritos por Swayne et al. (1986), que diagnosticou enteropatia esclerosante, mas que, clinicamente, os sinais eram compatíveis com o diagnóstico de pseudo-obstrução. Contudo, em outros casos de pseudo-obstrução intestinal em cães, o achado mais importante foi o de hipotrofia da camada muscular (Arrick & Kleine, 1978; Moore & Carpenter, 1984). No homem existem alguns relatos de hipertrofia da muscular associada à pseudo-obstrução, porém, a maioria dos casos está associada a alterações regressivas da muscular (Schuffler et al., 1981b). Outro achado que tem sido relatado com freqüência no homem são as alterações degenerativas nos neurônios do plexo mioentérico, mas essas lesões não têm sido observadas em cães com pseudo-obstrução intestinal (Arrick & Kleine, 1978; Moore & Carpenter, 1984) e, no presente caso, os neurônios do plexo mioentérico não apresentaram alterações histológicas significativas.

No homem existem algumas condições em que a pseudo-obstrução é determinada geneticamente (Schuffler et al., 1981b). No caso de cães, os relatos disponíveis são pouco numerosos, não havendo nenhuma informação sobre causas hereditárias. Aparentemente, no cão, não há predisposição racial, uma vez que os relatos disponíveis envolvem raças diferentes, tanto de pequeno quanto de grande porte.

Aparentemente, a hipertrofia muscular observada no presente caso, mais acentuada no duodeno,

não tem semelhança com a hipertrofia muscular idiopática que ocorre no íleo de eqüinos e suínos e que não é acompanhada de esclerose da mucosa e da submucosa (Barker et al., 1992; Chaffin et al., 1992).

Cabe salientar que maior número de relatos são necessários para que se possam estabelecer parâmetros clínicos que auxiliem no diagnóstico da pseudo-obstrução intestinal, bem como se possa determinar quais as alterações patológicas responsáveis por esta síndrome clínica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRICK, R.H., KLEINE, L.J. Intestinal pseudo obstruction in a dog. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.172, p.1201-1205, 1978.

BARKER, I.K., VAN DREUMEL, A.A., PALMER, N. The alimentary system. In: JUBB, K.V.F., KENNEDY, P.C., PALMER, N. Pathology of domestic animals. 4.ed. San Diego: Academic, 1993, v.2, p.1-317.

CHAFINN, M.K., CARMEN FUENTEABLA, I., SCHUMACHER, J. et al. Idiopathic muscular hypertrophy of the equine small intestine: 11 cases (1980-1991). Equine Vet. J., v.24, p.372-378,1992. LUNA, L.G. Manual of histologic staining methods of the Armed Forces Institute of Pathology. 3.ed. New York: McGraw Hill, 1968.

MONTES, G.S., JUNQUEIRA, L.C.U. The use of the picrosirius-polarization method for the study of the biopathology of collagen. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v.86, p.1-11, 1991.

MOORE, R., CARPENTER, J. Intestinal sclerosis with pseudo-obstruction in three dogs. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.184, p.830-833, 1984.

SCHUFFLER, M.D. Chronic intestinal pseudo-obstruction syndrommes. Med. Clin. North Am., v.65, p.1331-1358, 1981.

SCHUFFLER, M.D., ROHRMANN, C.A., CHAFFEE, R.G. et al. Chronic intestinal pseudo-obstruction. A report of 27 cases and review of the literature. Medicine, v.60, p.173-196, 1981. SWAYNE, D.E., TYLER, D.E., FARRELL, R.L. et

al. Sclerosing enteropathy in a dog. Vet. Pathol., v.23, p.641-643, 1986.

Referências

Documentos relacionados

Therefore, the present study aimed to accomplish different but relevant goals: first, to add theoretical knowledge to the existent literature regarding virtual teams,

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa

Nesse contexto, o presente estudo foi realizado com o intuito de avaliar o crescimento e o desempenho econômico de plantios de Eucalyptus dunnii em diferentes sítios no

In what concerns to the influence of service quality on future behavioral intentions (intention of return and intention of recommend), we verified that overall

Contudo, tendo sido recentemente reconhecido pela legislação penal brasileira como forma de redução do trabalhador à condição análoga a de escravo, o

In order to investigate the participation of the opioid system in the antinociceptive effect of UT fraction, mice were pre-treated with naltrexone (1 mg/kg, i.p., a non-

O LAQVi corresponde a um ambiente de experiências biográficas, através do qual cada participante pode articular passado, presente e futuro com vistas à compreensão de si

503.. Para a resolução do problema, precisamos de determinar o m.m.c. Assim, os quatro amigos podem encontrar-se duas vezes por mês. Os carros voltam-se a encontrar novamente no