Como avaliamos a qualidade do couro?
A curtimenta envolve a execução de sucessivas e interligadas operações químicas e mecânicas. Água e vários produtos químicos são usados em quantidades precisas, a temperaturas exatas. Os tempos de tratamento aplicados e as operações mecânicas têm regulações rigorosas. A qualidade do couro requer monitorização, controlo e intervenção humana. Estes processos conferem as qualidades que são desejadas ao couro acabado.
Em suma, a qualidade do couro é um conjunto de características: resistência ao esforço físico-mecânico; conforto e segurança durante o uso/desgaste; durabilidade e possibilidades de reparação; estética.
Autenticidade
O couro é único. O parecido ao couro não é couro! Para evitar ser enganado, antes de mais nada, verifique o rótulo e não confie em nenhum anúncio que use palavras contraditórias; a associação do termo couro a um nome sem sentido, como maçã, abacaxi, vinho, cacto, artificial, sintético, vegan ou similar, indica que são falsificações.
Substâncias Restritas
As substâncias restritas são produtos químicos estritamente controlados.
As restrições são estipuladas por leis e regulamentos (como a Diretiva REACh da UE) e são complementadas por listas de produtos químicos indesejados, definidas por marcas globais, rótulos ecológicos e ONGs (como por exemplo: Listas de substâncias restritas, Lista de substâncias restritas do produto ou Lista de substâncias restritas do fabricante). Em todos os casos, são especificados os valores limite e recomendados os métodos de análise.
Olhe, toque e cheire
A aparência do couro é determinada pela matéria-prima e pelo processo de curtimenta. Quando o couro é deixado o mais natural possível, a flor original, o padrão da derme (folículos pilosos, escamas de peixes ou répteis), bem como quaisquer cicatrizes da vida do animal podem ser observados a olho nu. Se é lixado com papel abrasivo, obtém-se nobuck ou camurça. Ao estampar vários padrões, pode-se imitar uma flor natural diferente ou criar um design totalmente novo. Quando coberto com filmes ou revestimentos de acabamento, obtém-se couro revestido e, se tiver uma aparência espelhada, torna-se couro envernizado.
Tato e olfato são sensações sentidas pelo utilizador. O toque pode ser seco, ceroso, oleoso. O cheiro é o vestígio de uma variedade de produtos químicos usados para processar os couros. Alguns deles conferem ao couro o seu aroma específico. É o caso dos taninos vegetais e também dos óleos. É um odor específico, peculiar, mas nada desagradável.
Resistência ao esforço físico e mecânico ou às condições de uso e ambientais
A resistência é a propriedade derivada da estrutura fibrosa original do material e que confere durabilidade ao couro. Refere-se à resistência à tração e à força de rasgamento. A superfície não fende com dobragem e estiramento, e a elasticidade dá conforto quando usada.
O couro resiste à água, luz solar, temperatura, a fricção a húmido e a seco, abrasões, flexões repetidas, conforme exigido pelo uso pretendido.
Conforto
O couro fornece isolamento térmico, elástico-plasticidade, o
que permite que o produto mantenha a sua forma e não se sinta rígido na próxima vez que for usado. O couro absorve e liberta a transpiração no intervalo entre as suas utilizações. Isto é particularmente relevante no calçado.
Para concluir:
Como o couro comunica com os seus sentidos, é melhor cumprir o prometido!
Todas as características de qualidade acima são avaliadas rotineiramente pelos curtidores e pelos seus clientes, com métodos de ensaio que a indústria do couro tem desenvolvido ao longo do tempo e que são padronizados em IULTCS, ISO e CEN.
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Fonte: COTANCE Newsletter, 7/2020
(https://www.euroleather.com/leather/newsletter)
Uma constatação da realidade
O facto de o couro ser um produto animal pode ser uma questão difícil para alguns consumidores. Existem conceitos erróneos acerca dos animais serem criados exclusivamente para o fabrico de couro, que os animais são maltratados ou que a produção de couro está a causar destruição das florestas tropicais. Estes receios fizeram com que empresas como o grupo Prada proibissem o couro de canguru e a Calvin Klein, Tommy Hilfiger e Mulberry retirassem os couros exóticos das suas coleções. As agendas de vários grupos promovem constantemente a narrativa de que, para salvar a vida dos animais, devemos parar de comprar couro.
A realidade é muito diferente. A grande maioria dos couros e peles são recuperados de animais criados e abatidos pela carne, leite e lã, dos quais o couro ou a pele é um desperdício. As peles de canguru proibidas pela Prada são recuperadas de animais abatidos para proteger pastagens e vida selvagem em perigo. Um número muito pequeno de animais, os chamados 'exóticos', são criados
pelo couro, mas mesmo aqui as coisas não são preto e branco, pois a procura por este tipo de couro impulsiona a conservação de espécies, habitats e culturas, ao mesmo tempo que cria empregos e valor para as populações locais.
A realidade é que deixar de usar couro não evitaria o abate de nenhum desses animais. O consumo de carne continuou a crescer com dois dos maiores produtores, Brasil e EUA, a reportar o seu melhor e segundo melhor ano, respetivamente, para as exportações de carne em 2019. Ao mesmo tempo, devido à queda da procura por couro, quase 20% das peles que produziram foram simplesmente deitadas fora.
Os abates de cangurus na Austrália não é motivado pela procura de couro e continuará mesmo se não houver mercado para as peles. Para algumas espécies exóticas, onde a procura por peles agregou valor à sua conservação e dos seus habitats, uma interrupção na produção de couro pode colocá-las sob ameaça, pois passam de produtos valiosos para pragas indesejáveis. Os crocodilos dos Territórios do Norte da Austrália foram quase totalmente abatidos antes que fosse agregado valor às suas peles e habitats. Retirar este valor poderia colocá-los em perigo novamente e é por isso que a IUCN se manifestou contra a Chanel, quando esta retirou o couro de pele de réptil das suas coleções.
A realidade é que evitar o couro não impediria o abate de animais, mas faria com que os fabricantes o substituíssem por outros materiais. Esses seriam inevitavelmente plásticos, derivados de combustíveis fósseis, para produtos de vida curta que, quando deitados fora, permaneceriam e poluiriam o planeta. Embora as alternativas vegetais ao couro tenham recebido grande publicidade, a verdade é que nenhuma delas está disponível nas quantidades necessárias para substituir o couro. Além disso, quase todas são mantidas juntas com plástico, tornando-as, na melhor das hipóteses, uma solução imperfeita. Em contraste, o couro é feito de uma matéria-prima renovável e sustentável e produzirá produtos duradouros que se degradarão quando descartados.
A realidade é que, numa época em que a maioria das pessoas ainda come carne, resultando assim em milhões de toneladas de couros e peles, e quando o terrível impacto de materiais alternativos está a tornar-se cada vez mais evidente, a única escolha lógica, ética e sustentável é escolher o couro.
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Fonte: COTANCE Newsletter, 8/2020