CAESP - Artes
Aula 10 - 18/05/2017
GÓTICO TARDIO: O CAMINHO PARA O RENASCIMENTO NOS PAÍSES Origens do Pré-Renascimento Europeu e o Gótico Tardio: É comum pensarmos o Renascimento como um todo
estruturado e bem conhecido, porém, quando
analisamos a produção artística europeia após 1400, a verdade é bem outra.
Há consenso de que a arquitetura renascentista
começa no início do século XV em Florença. Mas a pintura e a escultura oferecem um desafio muito
maior para o estabelecimento do início de seu Renascimento.
Origens do Pré-Renascimento Europeu e o Gótico Tardio: Mesmo se pensarmos as obras de Giotto (1266 – 1337)
como renascentistas, devemos lembrar que foi
necessário mais um século e uma outra revolução
artística em Florença e nos Países Baixos para trazer a pintura e a escultura para o Renascimento.
Desta forma, Giotto e a pintura florentina após 1420,
com o seu “novo realismo” fazem parte do chamado Pré-Renascimento.
Porém, para a parte setentrional da Europa, a pintura
O Gótico Tardio: a incorporação do realismo
O Gótico Tardio, assim como o Pré-Renascimento,
busca trazer para a arte o mundo do tangível. Essa busca também é chamada de “incorporação do
realismo”. Porém, ambos os estilos, apesar de serem revoluções artísticas “gêmeas”, inclusive no tempo, são profundamente diferentes entre si.
O artistas dos Países Baixos não fazem uma rejeição
do Gótico Internacional, como a que ocorreu com os florentinos do Pré-Renascimento, mas tomam esse
estilo como ponto de partida e elaboram a sua
própria incorporação do mundo tangível na obra de arte, porém, de forma mais suave e contínua (com o estilo anterior) do que os artistas italianos.
O Gótico Tardio: um estilo próprio
Por isso, a arte produzida nos Países Baixos após 1420,
é conhecido como Gótico Tardio e não em Pré-Renascimento.
A arquitetura setentrional continuou firme no Gótico
Internacional até o domínio do Renascimento no século XVI.
O Gótico Tardio, não é um Gótico moribundo, uma
fase final do Gótico, mas um estilo em si mesmo, pois:
O realismo empregado pelos mestres flamengos, além
– e por causa - da sua riqueza de detalhes e força expressiva, tiveram grande influência na produção artística da Itália Pré-Renascentista.
Gótico Tardio (características):
Esse “realismo flamengo” tinha um grande virtuosismo
e cuidado na representação do mundo tangível como ele “é”.
Os corpos não são mais representados
“esquematicamente”, tal como na pintura gótica,
mas são reproduzidos com todo o cuidado e esmero para parecerem o mais possível com os corpos reais.
O ambiente apresentado nas telas também é
cuidadosamente construído para se parecer o
máximo possível com o real. Inclusive a inclusão das primeiras EXPERIÊNCIAS de perspectiva.
Gótico Tardio:
Vemos nas obras de Champin, ou Mestre Flémalle, o
início de um momento em que se pode olhar para as obras de arte e ver nelas não apenas a mensagem
religiosa, mas também o mundo “real”, as pessoas do cotidiano.
As obras trazem aquilo que é essencial do mundo
natural, a profundidade ilimitada, a estabilidade
(equilíbrio de composição), a continuidade e inteireza da obra.
Gótico Tardio:
A representação de cada objeto na pintura tem o
cuidado de se ater ao objeto real. Ele é reproduzido em sua forma, textura, material, reflexo e sombra.
Inclusive, nesse momento, surgem as representações
dos espelhos e do reflexo nesses. Eles “falam” sobre aquilo que está “na frente” da pintura e não é
representado diretamente nela. São elementos que exigem um olhar atento para a obra em si mesma, não apenas para a mensagem dela.
Gótico Tardio: “simbolismo dissimulado”
Como os autores do Gótico Tardio poderiam
representar em uma pintura, que deseja estar ligada ao mundo real, um evento sobrenatural como são as estórias catequéticas?
A solução foi o uso do “SIMBOLISMO DISSIMULADO”,
ou seja, trazer para a obra certos ELEMENTOS QUE REPRESENTEM UMA IDEIA.
Cada relação entre objeto e significado está
encerrada em um contexto histórico e cultural específico. Assim, por exemplo, para o mundo
Gótico Tardio: “simbolismo dissimulado”
Daqui em diante, o “simbolismo dissimulado” será
constantemente utilizado na arte. E, inclusive, a sua própria utilização será um elemento de avaliação e crítica das obras de arte.
Outra questão importante é o uso de matizes mais
suaves de cores. O que é mais próximo à realidade cotidiana.
Gótico Tardio: pintura a óleo
No Medievo, as pinturas eram produzidas pela técnica da
têmpera. Nessa, os pigmentos eram moídos e aglutinados
(“temperados”) em uma emulsão de ovos. Essa técnica produz uma camada fina de tinta, que é bem resistente, tem secagem
rápida e preenche muito bem as superfícies lisas dando bastante intensidade de cores e nitidez na separação das formas.
A pintura a óleo, por ser mais viscosa, permite uma variedade
muito maior de preenchimentos, é possível fazer de camadas finas e translúcidas a grossas camadas que revelam cada
pincelada. Também é possível realizar a mistura de cores sobre
o próprio suporte da pintura, o que permitia um efeito de continuidade dos matizes de cores.
Isso possibilitou aos artistas da época a criação de sombras
aveludadas mais reais e dégradé, dando maior impressão de tridimensionalidade.
Gótico Tardio: Hugo van der Goes
A pintura de Hugo van der Goes é o primeiro claro
exemplo da influência da psique do artista na obra de arte. Essa é mais uma importante característica do
Renascimento, a possibilidade de expressão do “eu”, de libertação do artista do cânone.
Ele sofria de muita depressão. Mesmo após seu
estrondoso sucesso em Bruges, com apenas 44 anos de idade, ele se suicida.
Gótico Tardio: Hugo van der Goes
Em suas obras vemos pistas da sua psique tensa,
agitada e explosiva. Ele apresenta as figuras em contrastes violentos de tamanhos e movimentos.
As personagens divinas e santas são gigantescas se
comparadas com as mundanas.
As personagens divinas estão em posturas ritualistas
solenes, em contraste com as mundanas que se agitam freneticamente.
Hieronymus Bosch: um rompante surreal no Gótico
Enquanto os demais autores flamengos trazem o real
para as suas obras, Bosch irá mesclar as formas do
real com o mundo onírico, como se ele fosse um Orfeu da pintura.
Seus quadros são profundamente enigmáticos e de
uma originalidade tão profunda e revolucionária que teremos que esperar até o século XX com Dalí e o
Surrealismo para termos esse tipo de criação novamente disponível.
Hieronymus Bosch: um rompante surreal no Gótico
Poucos elementos das obras de Bosch são claros e
indiscutivelmente identificáveis. Parece-nos que a
própria intenção do autor era de colocar fortemente a fantasia onírica justamente para representar de
forma fantástica o mundo do divino.
As vastas paisagens de suas obras estão repletas de
seres fantásticos de todas as formas. Híbridos de vários animais. Anjos, demônios, humanos deformados, etc.
Geertgen tot Sint Jans: anunciação do Barroco?
Será que podemos ver nas obras de Geertgen um prenúncio do
Caravagismo e do Barroco?
Em suas obras veremos claramente o abrupto contraste entre
aquilo que é iluminado, que está em destaque, e aquilo que está na penumbra e na escuridão.
Também vemos a existência de uma ou duas fontes de luz que
são não apenas os focos significativos das obras, mas, além disso, as origens do próprio simbolismo místico representado
nas obras.
Ele faz uma “iluminação diferenciada” dos elementos
representados na obra. Em uma mesma cena, alguns seres são
iluminados pela fonte, outros não. É um recurso estilístico de representar a importância de cada um.
Prof. Heleno Licurgo do Amaral <heleno@dr.com>