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Reuso de água para irrigação de maracujá

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Academic year: 2021

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Reuso de água para irrigação de maracujá

Josiane Augusta Gonçalves (Unesp) – josianegon@yahoo.com.br Prof. Dr. Eduardo L. de Oliveira (Unesp) - eduoliv@feb.unesp.br

Luciana do Santos (Unesp) – lusantos@fca.unesp.br

Resumo: A água é um bem vital para a sobrevivência do planeta e dos seres que nele

habitam, têm participação fundamental nos processos fisiológicos, e devido a sua má utilização e distribuição, vem se tornando escasso. Uma alternativa para amenizar este problema é dar um melhor aproveitamento a água, evitando o desperdício, e reutilizando para alguns fins específicos, como no caso de reuso de água de estações de tratamento de esgoto doméstico para irrigação de algumas culturas agrícolas. Este trabalho busca uma alternativa para potencializar a utilização da água, verificando a possibilidade de implantação de um sistema de reutilização da água de esgoto da estação de tratamento para irrigar lavouras de maracujá. A viabilidade do projeto viria amenizar dois problemas, que seria dar um destino mais adequado ao esgoto tratado, evitando assim a contaminação dos rios com esses efluentes e diminuir os gastos com adubação na produção do maracujá, já que, muitos dos nutrientes, necessários à cultura seriam fornecidos na irrigação das plantas com esse material.

Palavras – chave: Reuso de água; Estação de tratamento de esgoto; Maracujá;

1. Introdução

A água é um bem disponível, de caráter essencial à manutenção da vida em todos os seus aspectos. Com o passar dos anos a preocupação com a escassez deste recurso vem aumentando, pois o mau uso deste bem pode acarretar problemas graves que podem vir a prejudicar a sobrevivência da vida no planeta.

Com esta crescente preocupação, surgem também alternativas para minimizar o problema, o reuso da água é uma delas, sendo este um importante instrumento de gestão ambiental do recurso água e detentor de tecnologias já consagradas para sua adequada utilização (Mancuso e Santos, 2003).

Uma tendência é a reutilização da água de estações de tratamento de esgoto urbano para fins agrícolas, pois além de suprir as necessitas hídricas das plantas, é possível suprir algumas necessidades nutricionais. O esgoto doméstico é formado de águas imundas, contendo material fecal, com elevado teor de matéria orgânica instável, putrescível, podendo exalar mau cheiro, hospedam grandes quantidades de microorganismos, inclusive, eventualmente, microorganismos patogênicos, além disso, podem incluir vermes, parasitos e seus ovos expelidos com as fezes de indivíduos atacados de verminoses (Garcez, 1976). Mas não só a utilização de água de Ete é uma tendência para o uso agrícola, mas também da água utilizada na lavagem dos excrementos das instalações animais, esses efluentes, apesar de apresentarem elevado potencial poluidor, podem se tornar alternativa econômica para a propriedade rural, se manejados adequadamente, sem comprometer a qualidade ambiental (Pereira, 2006). A irrigação é o setor que mais consome água mundialmente e o menos eficiente, ficando o valor médio mundial das perdas entre 50 e 70% (FAO, 1998). Isso força a uma gestão integrada das águas, que engloba tanto a captação das chuvas, dos rios, dos aqüíferos e o reuso de água disponível de forma geral (Rebouças, 2001).

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As águas dessas estações de tratamentos são provenientes do sistema de abastecimento da população humana, que vem a atender às necessidades domésticas e públicas, do comércio e da indústria (Dacach, 1975).

Segundo Souza (pág. 2, 2004), “apenas 35% da população brasileira conta com serviço de coleta de esgoto, e desses, somente 10% recebe tratamento, acarretando no lançamento diário de 10 milhões de litros de esgoto bruto nos corpos de água, com isso contribuindo para a degradação do meio ambiente e agravando problemas de saúde pública”.

Com isso, o reuso de água na agricultura vem sanar dois problemas, primeiro o controle da poluição dos cursos d’água, evitando o despejo dos resíduos das estações de tratamento, e segundo, o fornecimento de água e nutrientes para as culturas cultivadas.

O objetivo deste trabalho é verificar através de uma revisão bibliográfica a viabilidade do reuso da água obtida no tratamento do esgoto, pra irrigação da cultura do maracujá.

2. Reuso de água na agricultura

A utilização de efluentes na agricultura já tem sido praticada por muitos séculos em várias partes do mundo. As aplicações predominantes hoje do efluente tratado incluem: irrigação agrícola, irrigação de campos (parques), reciclagem e reuso industrial e recarga de

aqüíferos, segundo Asano (apud Tosseto, 2005).

O reuso de água proveniente de estação de tratamento de esgoto para fins agrícolas é promissor, visto que, os nutrientes são absorvidos pelas plantas e incorporados pelo solo, isso proporciona uma melhora na estrutura, e no condicionamento do solo, os patógenos podem vir a serem eliminados por dessecação através da incidência de raios ultravioletas sobre a camada de terra e também pela ação de predadores biológicos (Silva, 2003).

Segundo Souza, 2004, “nas duas últimas décadas, o uso de esgotos para irrigação aumentou, de forma significativa, devido aos seguintes fatores: dificuldade em se obter fontes alternativas de águas para irrigação; certeza de que os riscos para a saúde pública e os impactos sobre o solo podem ser controlados, se precauções adequadas forem tomadas; custos elevados dos sistemas de tratamento; despesas com fertilizantes; aceitação sócio-cultural do processo; e reconhecimento, pelos órgãos gestores dos recursos hídricos, do valor intrínseco da prática”.

De acordo com Di Bernardo e Dantas (2005), a conservação da bacia hidrográfica, com a conseqüente proteção dos mananciais, é sem dúvida o melhor método para assegurar a qualidade da água destinada ao consumo humano. Para impedir os riscos de poluição e contaminação, pelo ser humano ou por animais, devem ser evitados lançamentos de líquidos que contém organismos patogênicos, e disciplinar o desenvolvimento de atividades agrícolas que exijam emprego de agroquímicos com elementos tóxicos ou de fertilizantes que possuem nutrientes, os quais são carreados para os cursos d’água para escoamento superficial ou sub superficial, causando florescimento de algas e outros inconvenientes para o sistema de tratamento. A gestão ambiental da água no Brasil tomou força a partir da criação da lei 9.433/97 que instituiu o Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

O Conselho cria políticas para a gestão integrada dos recursos hídricos em conformidade com a Lei, promovendo os usos múltiplos (incluindo o reuso), a conservação, o uso racional e a diminuição da poluição das águas (Schubart apud Pereira, 2004). A resolução do Conama 20/86 é mais antiga, e delimita os parâmetros a serem seguidos para classificação das águas e os seus níveis de qualidade, inclusive a qualidade das águas utilizadas para irrigação de plantas cultivadas e plantas localizadas em locais públicos.

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2.1. Vantagens da utilização de esgoto tratado

Os resíduos produzidos pelas atividades agrícolas dependem das práticas utilizadas em cada região e da época do ano em que se realiza a preparação do solo para o plantio, e para a aplicação de fertilizantes e agrotóxicos, isto contribui para a deposição de contaminantes como materiais suspensos, fertilizantes e agrotóxicos nos corpos d’água (Hamada, 1992).

O sistema de reuso de esgoto tratado, proporciona inúmeras melhorias das condições ambientais e de Saúde, pois evita a descarga de esgoto bruto nos corpos d’água, preserva recursos hídricos subterrâneos, proporciona a conservação do solo e aumento da resistência à erosão. Em países em desenvolvimento, vem contribuir para o aumento da produção agrícola, elevando os níveis de saúde, qualidade de vida e condições sociais das comunidades ligadas ao processo de reuso (Souza, 2004).

O uso de efluentes colabora no aumento dos teores de N, nitrogênio amoniacal, nitrato, K, Ca, Mg, Zn, e S retidos na solução do solo (Azevedo e Oliveira, 2001). Isso faz com que a utilização de adubos sintéticos seja diminuída, assim como os riscos desses serem levados com a chuva até os corpos d’água ou mesmo lixiviarem até os lençóis freáticos, além de diminuir os custos de produção.

Além disso, se acompanhado do sistema de boas práticas agrícolas, a utilização desses efluentes podem vir a maximizar as colheitas. Educação, informação e treinamento de produtores rurais podem também representar um importante papel na promoção destas práticas, pretendendo alcançar altas produções agrícolas sem impactos adversos no ambiente.

2.2. Reuso para suprir as necessidades da cultura do maracujá

É muito importante um estudo de viabilidade antes da implantação de um projeto, para que não sejam despendidos tempo e dinheiro em algo que não terá uso e retorno depois. Além de analisar se o projeto em questão é viável, o estudo possibilita adequações do sistema à realidade do local e da situação a que se destina.

A cultura do maracujá (Passiflora spp) se adapta a solos pouco declivosos, profundos, e com boa aeração, a demanda de água varia entre 800 a 1750 mm bem distribuídos durante o ano. Segundo Haag et al (1993) apud Lima e Cunha (2004), a quantidade total de nutrientes removidos pela planta inteira, incluindo os frutos de maracujá amarelo, aos 370 dias de idade, com 1500 plantas / ha, foi de 205 kg de N, 184 kg de K, 152 kg de Ca, 25 kg de S, 17 kg de P, 14 Kg de Mg, 2810 g de Mn, 779 g de Fe, 317 g de Zn, 296 g de B e 199 g de Cu por hectare. Os nutrientes mais exigidos pelo maracujazeiro são nitrogênio, potássio e cálcio (Lima e Cunha, 2004).

Adubações e irrigações, quando corretamente aplicadas, são práticas altamente recomendadas, por influenciar direta e positivamente a produtividade, mas desde que em níveis recomendados para a cultura, pois o excesso pode prejudicar seu desenvolvimento (Carvalho et al, 2000).

A irrigação além de aumentar a produtividade (de 15 para até 45 t/ha), permite uma produção de forma contínua e uniforme, com frutos de boa qualidade (Lima e Cunha, 2004). Os métodos de irrigação mais utilizados são de sistemas localizados, ou seja, microaspersão ou gotejamento, e no caso de irrigação com água de reuso, estes sistemas são os que melhor se encaixam, pois não permitem que a água entre em contato direto com o fruto, evitando assim uma possível contaminação por coliformes que ainda estejam presentes na água.

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3. Experimentos realizados com reuso de água para fins agrícolas

Encontra – se vários experimentos com reuso de água proveniente de estações de tratamento de esgoto na irrigação de diversas culturas agrícolas.

Azevedo (2005) constatou que a irrigação com efluente contribuiu significativamente para o aumento no teor de N, nitrogênio amoniacal, nitrato, K, Ca, Mg, Zn e S retidos na solução do solo.

Segundo Souza (2004), há uma boa remoção dos sólidos provenientes do efluente anaeróbio pelo solo, indicando que as concentrações de sólidos suspensos encontradas nas amostras são relativas aos sólidos presentes no solo.

Foi constatado por Henrique (2005) que o valor fertilizante dos nutrientes contidos nos esgotos domésticos vem substituir à utilização de adubo mineral no solo que são insuficientes para manter as necessidades nutricionais das plantas por muito tempo.

Silva (2003) observou que aplicando a quantidade de água demandada pela planta, o volume de líquido não absorvido por ela é mínimo, reduzindo – se assim o risco de contaminação do lençol freático.

Os trabalhos pesquisados demonstraram que são muitas as vantagens da utilização de efluentes para irrigação.

4. Conclusão

Através da pesquisa bibliográfica realizada, pode – se concluir que a reutilização de água proveniente de estação de tratamento de esgoto para irrigação é viável e apresenta inúmeras vantagens para o solo, alem de diminuir a utilização de adubos químicos e evitar o despejo desses efluentes nos rios. Verificando assim, que a aplicação desse sistema para irrigação da cultura do maracujá poderá apresentar bons resultados.

5. Referências bibliográficas

Mancuso, P. C. S.; Santos, H. F. – Reuso de água – editores. Barueri, Sp: Manole, 2003. Dacach, N. G.; - Sistemas urbanos de água – Livros técnicos e científicos editora S. A., Rio de Janeiro, 1975.

Souza, S. B. S.; - Irrigação por infiltração com efluentes de lagoa anaeróbia em solo cultivado com milho – Campinas: Unicamp, 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, arquitetura e urbanismo), Unicamp, 2004.

FAO – Água na agricultura – Roma, Relatório técnico, 1998, 18 p.

Rebouças, A. C.; - Estudos avançados: Água e o desenvolvimento rural. Vol. 15, nº 43. São Paulo. Set./Dez., 2001.

Pereira, E. R. – Qualidade da água residuária em sistemas de produção e de tratamento de efluentes de suínos e seu reuso no ambiente agrícola – Piracicaba: ESALQ, 2006. Dissertação (Doutorado em agronomia), ESALQ, 2006.

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Tosseto, M. S.; - Tratamento terciário de esgoto sanitário para fins de reuso urbano - Campinas: Unicamp, 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, arquitetura e urbanismo), Unicamp, 2005.

Silva, R. S. P.; - Reuso agrícola do efluente de um filtro anaeróbio utilizando um sistema de irrigação por sulcos - Campinas: Unicamp, 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, arquitetura e urbanismo), Unicamp, 2003.

Pereira, C. M.; - Avaliação do potencial do efluente de lagoas de estabilização para utilização na piscicultura – Florianópolis: UFSC, 2004. Dissertação (Doutorado em Engenharia de produção), UFSC, 2004.

Azevedo, L. P. e Oliveira, E. L. – Efeitos da aplicação de efluentes de tratamento de esgoto na fertilidade do solo e produtividade de pepino sob irrigação sub superficial - Eng. Agríc. vol.25 no.1 Jaboticabal Jan./Abr. 2005.

Hamada, J.; – Emprego de reatores biológicos de leito fluidificado no pré – tratamento de águas para abastecimento – São Carlos: UFSCAR, 1992. Dissertação (Doutorado em hidráulica e saneamento), UFSCAR, 1992.

Di Bernardo, L. e Dantas, A. D.; – Métodos e técnicas de tratamento de água – 2º Ed. – São Carlos: Rima, 2005.

Lima, A. A. e Cunha, M. A. P.; - Maracujá: produção e qualidade na passicultura – Cruz das Almas: Embrapa mandioca e fruticultura, 2004.

Carvalho, A. J. C., Martins, D. P., Monnerat, P. H., Bernardo, S. – Adubação nitrogenada e adubação do maracujazeiro – amarelo. I. produtividade e qualidade dos frutos - Pesq. agropec. bras. v.35. nº 6. Brasília: jun., 2000.

Lei 9433/97 – Lei dos recursos hídricos.

Resolução 20/86 do CONAMA - Resolução que dá a classificação das águas.

Henrique, I. N., Sousa, J. T., Leite, V. D., Filho, J. F., Dantas, J. P. - Utilização de esgotos tratados no desenvolvimento da cultura do pimentão (Capsicum annuum L.) - 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2005.

Garcez, L. N. – Elementos da engenharia hidráulica e sanitária – São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1976.

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