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SER OU NÃO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA: EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DE BOLSISTAS DO PIBID BIOLOGIA

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Academic year: 2021

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SER OU NÃO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA: EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS DE BOLSISTAS DO PIBID BIOLOGIA

Resumo

Este texto apresenta um recorte de uma pesquisa em andamento que tem como objetivo avaliar a contribuição do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência na formação inicial dos licenciandos de uma universidade mineira. A pesquisa pretende compreender a visão que os pibidianos têm sobre a docência, sobre sua formação nos cursos de licenciatura, seu processo formativo no PIBID e o processo de inserção nas escolas públicas de um município do Sul de Minas. Neste texto é analisada a relação entre a vivência de bolsistas do PIBID da área de Biologia e suas expectativas profissionais. Em questionário aplicado a doze licenciandos deste Programa foi possível perceber que, muito embora tenham uma avaliação positiva sobre os impactos do PIBID em sua formação profissional e pessoal, a maioria tem o desejo de serem professores no ensino superior, frustrando em parte o objetivo principal do Programa, qual seja, o de incentivar os licenciandos à docência na educação básica. Os bolsistas também avaliaram criticamente sua formação no curso de licenciatura e apontaram uma desarticulação entre disciplinas pedagógicas e específicas, o que contribui para uma fragilidade na construção de uma identidade docente fortalecida. Os dados apontam para a necessidade de articular políticas públicas de formação inicial às políticas públicas que garantam melhores condições de atuação aos profissionais da Educação, de modo a tornar a docência uma profissão de fato atrativa para os licenciandos. Em paralelo, o curso de licenciatura precisa assumir a formação de professores como uma responsabilidade de todas as disciplinas do curso, de modo a forjar nos licenciandos o perfil profissional que se espera para a licenciatura.

Palavras-chave: formação inicial, PIBID, políticas públicas.

Introdução

Muito embora tenhamos assistido nos últimos anos a iniciativas dos gestores públicos no sentido de implementar políticas educacionais específicas para a formação docente, pode-se considerar que estas políticas ainda são demasiadamente tímidas e incipientes para levar a cabo os projetos sociais de grande envergadura que o país tem como expectativa realizar. Afinal, para se alcançar uma posição de destaque no cenário político-econômico mundial, há que se contar com pessoas que tenham uma escolarização básica minimamente satisfatória.

A despeito disto, os professores ainda recebem pouca atenção no que diz respeito a políticas públicas que lhes garantam uma remuneração justa, a melhoria de suas condições de trabalho e de uma formação/qualificação adequadas, sofrendo com isso grande desprestígio social.

Neste contexto, vivemos um cenário preocupante: embora o país tenha grande demanda por professores que atuem em escolas públicas de Educação Básica, esta não é uma Luciana Resende Allain

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carreira que se mostra interessante para os jovens, em especial para aqueles que ingressam em cursos superiores de graduação.

Especificamente em relação ao curso de Ciências Biológicas, nossa experiência de atuação junto a alunos que optam pela modalidade Licenciatura vem sendo extremamente desafiadora, no sentido de despertar o interesse pela docência, buscando superar conceitos assentados no senso-comum e desconstruir estereótipos sobre a profissão de professor.

Tomando este como um desafio profissional, em nossa experiência atual como formadora de professores de Ciências e Biologia estamos à frente de um grupo de trabalho colaborativo que tem como foco o fortalecimento da identidade docente. Este grupo é formado por professores do Ensino Médio e licenciandos de Ciências Biológicas, integrantes do Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência (PIBID/CAPES/MEC). Este programa surgiu com a finalidade de antecipar o vínculo entre os futuros professores e as salas de aula da rede pública, proporcionando aos licenciandos a participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar e que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, pretende promover uma articulação entre a educação superior, a escola e os sistemas estaduais e municipais, visando aumentar o baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que o ensino público vem apresentando.

Recentemente regulamentada como uma política de formação docente, por meio do decreto nº6.755, de 29 de janeiro de 2009, que institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, o PIBID se constitui em um programa de formação inicial financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Com a instituição deste decreto, a CAPES, que tradicionalmente financia ações de pesquisa, passa a ser responsável pelo gerenciamento das questões relacionadas à formação de professores, tanto inicial quanto continuada. A nosso ver, o gerenciamento pela CAPES dos recursos destinados às políticas de formação de professores representa um avanço significativo para se efetivar a implementação do Plano Nacional de Educação, uma vez que muitas das metas planejadas pelo PNE de 2000 não tiveram o êxito esperado no que tange ao desenvolvimento docente. Por esses motivos há uma grande expectativa depositada em

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programas como o PIBID, que tem se configurado como uma aposta ambiciosa no estímulo a graduandos para ingressarem no magistério.

A nossa universidade aderiu ao PIBID em 2009, quando abrigava subprojetos das seguintes licenciaturas: Física, Matemática, Química, Letras, Ciências Biológicas e Pedagogia. Em 2011, o PIBID foi estendido a todas as licenciaturas da instituição, a saber: Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Física, Geografia, História, Letras – Espanhol, Matemática, Pedagogia e Química. Os subprojetos dessas áreas estão sendo desenvolvidos por 174 licenciandos bolsistas e atendem, em média, 6506 alunos da Educação Básica, distribuídos em oito escolas públicas de um município sulmineiro. Ao nos aproximarmos do término do projeto iniciado em 2009 (PIBID/2009) assim como o início de uma nova etapa de trabalho lançada pelos projetos PIBID/2011, um grupo de professores elaborou um projeto de pesquisai com o objetivo de avaliar a contribuição do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência na formação inicial dos licenciandos da nossa universidade, a fim de compreender a visão que esses graduandos têm sobre a docência, sobre sua formação nos cursos de licenciatura, seu processo formativo no PIBID e o processo de inserção nas escolas públicas do município.

Neste texto exploraremos especificamente os dados relativos aos licenciandos de Ciências Biológicas, por estarmos à frente da coordenação de área deste sub-projeto na instituição.

Licenciandos bolsistas do PIBID Biologia: em busca de uma identidade com a profissão de professor

A participação dos licenciandos no grupo colaborativo PIBID Biologia foi pensada em torno de um eixo de trabalho que envolve a investigação da prática docente, portanto, o desenvolvimento de uma postura de pesquisa sobre a escola marcou os trabalhos do grupo desde o início de suas atividades.

A dinâmica das atividades formativas deste grupo é dividida em três diferentes momentos. Parte do trabalho é realizada dentro da escola, onde os bolsistas acompanham as aulas de Biologia das professoras supervisoras, realizam atividades de regência compartilhada, interagem com outros professores e com os estudantes do Ensino Médio durante as aulas e nos intervalos. Nesse momento os graduandos registram em diários de campo as observações das situações que vivenciam na escola. Uma segunda atividade acontece na universidade e/ou na escola, em reuniões realizadas

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semanalmente entre os bolsistas e a respectiva professora supervisora, com o objetivo de analisarem os fatos ocorridos em sala de aula. Nesse momento, a professora experiente e os futuros professores são convidados a expor suas visões sobre um mesmo processo, promovendo uma rica interlocução entre saberes. Há uma troca interessante de percepções, uma vez que, na maioria das vezes, os bolsistas vivenciam os contextos na condição de colaboradores das ações pedagógicas, enquanto as professoras assumem a linha de frente destas ações. Cabe ressaltar que cada professora supervisora fica responsável por um grupo de seis graduandos. Por fim, na universidade ainda existem as reuniões onde todos os integrantes do PIBID Biologia se encontram, também semanalmente, para monitorar as experiências em sala de aula, debatê-las à luz de referenciais teóricos do campo da educação, elaborar instrumentos de coleta de dados, analisar os dados já coletados, realizar estudos de textos relacionados às temáticas levantadas e propor novas estratégias de intervenção.

A adoção deste eixo de trabalho não foi despropositada. Sabendo do maior interesse comumente manifestado pelos graduandos em Biologia pelas atividades de pesquisa, nossa intenção foi mostrar as possibilidades de fazer da escola um campo de investigação, e desta forma tornar o trabalho do professor um pouco mais atraente para estes licenciandos.

Explicando melhor: para nós já não se apresenta como novidade o fato de que o baixo prestígio da licenciatura em relação ao bacharelado e da docência em relação às atividades de pesquisa, no interior da academia, acabam por contribuir para a baixa auto-estima dos licenciandos, dificultando o processo de profissionalização da docência. No caso do curso de Ciências Biológicas esta dicotomia parece se acentuar ainda mais, visto que a expectativa de muitos ingressantes neste curso é a realização de pesquisas em campo ou laboratório, em função do estereótipo que circula no imaginário social quanto ao status dos “cientistas”. A imagem ingênua do biólogo como alguém que trabalha em constante contato com a natureza, cercado por plantas e animais, ou do cientista de jaleco, cercado de tubos de ensaio fumegantes ainda é sustentada pelo senso comum e mesmo pelos ingressantes dos cursos de Biologia. A despeito da grande variedade de possibilidades de atuação profissional oferecidas aos biólogos, muitos graduandos, ao fazerem a opção por este curso universitário, desconhecem o campo de trabalho deste profissional, campo este que também contempla o magistério.

Soma-se a isso o fato de que à docência está ligada uma idéia estigmatizada de uma atividade muito penosa e pouco gratificante, porém de entrada mais “fácil” que os

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cursos de bacharelado. Para muitos, a licenciatura mostra-se como um mero ajuntamento de disciplinas do conteúdo biológico e disciplinas da área pedagógica, sem qualquer articulação entre si. Não é raro encontrarmos estas concepções até mesmo entre colegas professores que atuam nos cursos de licenciatura, que costumam atribuir exclusivamente às disciplinas de Prática e Ensino, Estágios Supervisionados e Didática, a responsabilidade pela formação de professores de Biologia.

Essas concepções estão relacionadas à perspectiva tradicionalmente praticada pelas instituições de formação de professores, que ainda vem sendo pautada na Racionalidade Técnica (Schön,1992). Nesse modelo, cabe aos professores aplicar a teoria produzida nas universidades à sua prática na escola. Essa é uma perspectiva dicotômica de formação, na qual as disciplinas pedagógicas são encaradas como um apêndice da formação científica. Essa separação provavelmente está vinculada à idéia de que os pesquisadores são os intelectuais e os professores são os práticos, cabendo aos últimos a aplicação do conhecimento produzido pelos primeiros.

Nesta relação se acha implícita uma postura de domínio, de apropriação dos que detém o poder das idéias em relação aos "práticos”. Devido ao enorme abismo que separa as disciplinas ditas pedagógicas (consideradas práticas) daquelas referentes aos conteúdos específicos (as teóricas), a formação inicial do professor torna-se fragmentária e, portanto, inadequada.

Neste cenário, o PIBID apresenta-se como uma proposta desafiadora, ao buscar a interlocução entre os conhecimentos específicos e pedagógicos, vivida nas situações reais em que se opera o trabalho do professor. Como nos alerta Canário (2001), a formação docente não deve ser realizada de forma isolada. As situações reais de trabalho precisam estar presentes, conduzindo, por assim dizer, o processo da formação inicial dos professores. Também as Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores (Parecer CNE/CP 009/2001) enfatizam a necessidade da experimentação do cotidiano escolar, no processo de formação inicial dos professores e a valorização de tal cotidiano como espaço formador. Neste sentido, o PIBID permite a implementação de projetos e ações que respondam a essa demanda.

Cabe então perguntarmos: O PIBID tem concretizado seu objetivo de incentivar os licenciandos a ingressar na docência? Quais as expectativas profissionais dos licenciandos em Biologia, bolsistas do PIBID? A vivência desta experiência formativa contribuiu para a construção de uma identidade com a docência? Como os bolsistas percebem o seu curso de licenciatura a partir da participação neste programa?

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Metodologia

Para a coleta de dados junto à amostra de licenciandos foi aplicado um questionário com questões objetivas e dissertativas abertas, mistas e fechadas, anônimo. No total, o instrumento é composto por 32 questões, divididas em 5 módulos, como descrito no quadro a seguir:

Quadro 1. Descrição das Variáveis Investigadas da Pesquisa

Variáveis Questões

Módulo 1 - Variáveis demográficas 1 a 3

Módulo 2 - Caracterização acadêmica 4 à 11

Módulo 3 - Vinculação ao PIBID 12 a 15

Módulo 4 - Avaliação do PIBID 16 à 31

Módulo 5 - Produções científicas 32

Neste trabalho apresentaremos os resultados dos 4 primeiros módulos. Em anexo ao instrumento foi distribuído aos licenciandos um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual os sujeitos foram informados sobre o teor da pesquisa, tiveram esclarecimentos sobre o respeito à autonomia, liberdade e privacidade dos indivíduos pesquisados e autorizaram o uso dos dados agrupados para fins de divulgação acadêmica. Ressalta-se ainda, que o projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição em que atuamos.

Por se tratar de um recorte da pesquisa original, e portanto de uma pequena amostra de licenciandos de Biologia (n=12), neste texto não procederemos análises estatísticas, como previsto no projeto.

A expectativa profissional dos Pibidianos licenciandos em Biologia

O primeiro módulo do questionário buscou identificar as variáveis demográficas da amostra. O perfil geral dos bolsistas do PIBID Biologia indica que os sujeitos pesquisados são em sua maioria mulheres (10 dos 12 bolsistas) com faixa etária entre 19 e 25 anos. Quanto à renda familiar, 4 declararam possuir renda familiar até 3 Salários Mínimos (S.M.), 5 declararam ter renda familiar entre 3 e 6 S.M., 2 disseram auferir renda familiar acima de 10 S.M. e 1 declarou possuir renda familiar entre 6 a 10 S.M..

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O segundo módulo do questionário objetivou realizar a caracterização acadêmica dos sujeitos. Dos 12 licenciandos, 9 tinham previsão de conclusão da graduação em dezembro de 2011. Os demais em 2013 e 2014.

Quanto à formação no Ensino Médio, 8 deles cursaram escolas particulares, 2 estudaram em escolas públicas e particulares e 2 estudaram somente em escolas públicas.

Para 6 deles, a escolha pelo curso de Licenciatura foi a 1ª opção no vestibular. Estes mesmos licenciandos declararam ter conhecimento pleno do foco do curso: formação de professores. Os 6 demais licenciandos não tinham a licenciatura como 1ª opção no vestibular e disseram desconhecer o foco do curso para a formação de professores.

A pergunta seguinte, aberta, indagava ao sujeito o que pensava sobre a profissão de professor ao ingressar no curso de licenciatura. Dos 12 licenciandos, observamos que, ao ingressarem no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, 7 tinham uma visão pessimista da profissão de professor. Alguns extratos dos questionários ilustram essa percepção:

“Não me interessava a profissão de professor, achava que esta profissão seria um ‘quebra-galho’ até trabalhar onde gostaria.”

“Pensava somente na desvalorização da profissão, mas ao mesmo tempo considerava-os corajosos em encarar essa profissão”.

“Temia (e ainda temo) a péssima remuneração”.

“Uma profissão maçante, difícil e com pouco reconhecimento”.

Uma outra licencianda assim colocou:

“Acreditava que se tratava de uma profissão totalmente prática: que o curso contemplava apenas o ensino de biologia e a parte pedagógica ficaria por minha conta, de acordo com o que aprendesse nos estágios”.

Dois deles declararam “gostar da idéia de serem professores”, mas a docência na Educação Básica não era seu foco prioritário:

“Gostava da idéia de ser professor, mas não era meu objetivo principal”.

“Sempre gostei da idéia de ser professor, só não pensava em ser professor de escola pública (fundamental e médio)”.

Os dados sugerem que os ingressantes no curso, à época, sustentavam concepções muito próximas do senso comum, ligadas ora a uma atividade missionária, ora a uma atividade não profissional, um ‘bico’, ou a uma atividade meramente prática, pouco prestigiada e muito mal remunerada. A docência no ensino superior, no entanto, por ser dotada de maior prestígio social, era almejada por alguns. Apenas uma licencianda demonstrou grande interesse pela docência ao ingressar no curso:

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Curiosamente, a maioria dos sujeitos declarou ter alto ou excelente nível de satisfação com o curso de licenciatura: formação de professores. Apenas 2 deles julgaram seu nível de satisfação como mediano – oscilando entre dentro e fora de suas expectativas, e um avaliou como baixo – abaixo de suas expectativas.

Sobre a atuação profissional pretendida após a conclusão do curso, 7 dos sujeitos pesquisados assinalaram que o magistério será sua primeira opção profissional, três afirmaram que atuarão como docentes para complementar a atividade profissional, um deles assinalou que o magistério será sua opção profissional caso não tenha sucesso em outra escolha e um não pretende atuar como docente.

Embora os dados acima pareçam positivos, uma vez que mais da metade dos sujeitos tem a docência como primeira opção em seu horizonte profissional, quando perguntados onde pretendem exercer o magistério, apenas um dos sujeitos afirmou pretender atuar na Educação Básica em escolas públicas e/ou particulares. Os demais assinalaram que pretendem atuar no ensino superior, sendo que três deles marcaram as duas opções: na Educação Básica em escolas públicas e/ou particulares, além do ensino superior. Este dado nos pareceu extremamente preocupante, pois revela que o objetivo principal do PIBID, qual seja, o incentivo à docência na escola básica, não foi plenamente atingido no grupo PIBID Biologia Unifal-MG, mesmo após completar quase dois anos de trabalho. Importante ressaltar que 9 dos 12 integrantes estavam em fase de conclusão do curso no momento em que estes dados foram coletados, portanto, suas expectativas profissionais já se aproximavam de uma concretização.

O terceiro módulo teve o objetivo de investigar a vinculação ao PIBID.

Quando analisamos as principais motivações dos licenciandos em participar do PIBID, encontramos, em ordem de importância: 1) o recebimento da bolsa; 2) experimentar a docência para certificar-se de sua opção profissional; 3) conhecer a realidade da escola pública ou ainda, contabilizar horas formativas.

Estes dados também nos parecem ser preocupantes, uma vez que explicitam algumas motivações pouco relacionadas com o objetivo principal do programa, sugerindo que esta pode ser apenas mais uma oportunidade de remuneração, entre as demais possibilidades ofertadas pela universidade. Sobre isso é importante ressaltar que, da amostra de licenciandos analisada, apenas 3 deles são residentes e domiciliados em Alfenas. Os demais residem em repúblicas estudantis durante o período do curso. Quando perguntados sobre como é utilizada a maior parte do valor recebido com a

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bolsa, observamos que a maioria deles usa o recurso para cobrir despesas com moradia, alimentação e despesas acadêmicas.

Solicitamos que os bolsistas marcassem até 5 opções de atividades que esperavam realizar ao ingressarem no PIBID. As alternativas selecionadas, em ordem decrescente, foram: aplicar metodologias inovadoras na escola (n=9); planejar, executar e avaliar atividades junto com o professor (n=8); dar aulas de reforço (n=6); ajudar o professor em sala de aula (n=6); substituir o professor de vez em quando (n=4).

O módulo 4 objetivou perceber como os bolsistas avaliam o PIBID na sua área específica. Inicialmente os licenciandos deveriam listar 3 atividades mais significativas desenvolvidas no PIBID Biologia, justificando a escolha. Todos os licenciandos citaram a possibilidade de investigação da prática educativa como uma das atividades mais significativas do PIBID Biologia. Assim registraram: “fazer pesquisa em educação”, “elaborar artigos e apresentar em congressos”, “perceber a escola como campo de pesquisa”, “elaborar, aplicar e tabular questionários”, “a investigação do perfil do aluno”. A realização de atividades inovadoras também foi elencada pelos bolsistas: feiras de ciências; visita ao laboratório da universidade; saída de campo ao Museu de História Natural; intervenções diferenciadas, com uso de Power Point, tecnologias digitais, dentre outras. As reuniões semanais com todo o grupo foram também lembradas como uma das atividades mais significativas. Alguns dos registros foram: “discussões com o grupo”, “reuniões onde aprendemos coisas realmente significativas”, “reuniões para estudar sobre o que ensinar”.

As cinco próximas perguntas deste módulo referem-se à relação dos bolsistas com os atores envolvidos no PIBID. As opções foram: excelente (além de suas expectativas); alta (de acordo com suas expectativas); mediana (oscilando entre dentro e fora de suas expectativas); baixa (abaixo das suas expectativas). Todos os licenciandos declararam ter uma relação excelente ou alta com a coordenadora de área e a respectiva professora supervisora na escola. No entanto, a relação com o diretor da escola parceira foi avaliada entre mediana (n=5) e baixa (n=4). Outros 3 bolsistas declararam não ter contato com a diretora da escola. A relação com os demais professores da escola foi avaliada como alta (n=6) e mediana (n=4). Outros 2 bolsistas afirmaram não ter contato com os demais professores da escola. A relação com os demais integrantes do PIBID Biologia variou entre alta (n=8) e mediana (n=4).

Quanto ao compromisso da escola em apoiar as atividades do PIBID, 7 sujeitos declararam que o mesmo era mediano e outros 5 disseram ser alto.

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Da mesma forma, o acolhimento do bolsista pelos atores envolvidos no PIBID também foi avaliado. Para 9 dos licenciados o acolhimento pelo diretor foi mediano ou baixo. Para 6 dos bolsistas, o acolhimento pelos demais professores foi mediano, e para os demais foi alto. Os dados apontam que o Programa não foi totalmente acolhido pela escola parceira. Em conversas informais, as professoras supervisoras declararam que alguns colegas professores criaram um “clima” de resistência às atividades do PIBID, por apresentarem um entendimento equivocado de que este seria “um projeto da Unifal”, ou que beneficia apenas os professores diretamente envolvidos, que “recebem bolsa”. Os dados indicam ainda que a integração entre universidade e escola básica não foi plenamente atingida, embora este seja também um dos objetivos do PIBID.

A próxima pergunta questionou se a vivência do PIBID fortaleceu a escolha dos bolsistas pela docência. Dentre os doze licenciandos, 11 deles assinalaram que sim. Também perguntamos se a vivência do PIBID desmotivou a escolha pela docência. Todos os bolsistas marcaram não.

As próximas questões, abertas, requisitavam aos licenciandos que listassem aspectos positivos e negativos no desenvolvimento das atividades do PIBID Biologia. Como aspectos positivos os bolsistas destacaram, dentre outros: a fundamentação teórico-metodológica para a realização das atividades na escola, o incentivo à pesquisa na área da educação, a boa receptividade dos estudantes quanto a práticas inovadoras, a troca de experiências em um grupo colaborativo, o desenvolvimento da criticidade dos licenciandos e dos estudantes, o aprendizado ou revisão de conceitos da Biologia. Os aspectos negativos destacados foram, dentre outros: a falta de apoio/reconhecimento da escola quanto aos pibidianos, em especial da diretora e de outros professores; o descompromisso de alguns licenciandos integrantes do PIBID; a dificuldade/falta de interesse dos estudantes pela Biologia; a falta de interdisciplinaridade entre as áreas do programa; o descaso do governo em relação aos professores; a ausência de um espaço físico do PIBID na universidade e na escola, para abrigar trabalhos e realizar reuniões/atividades.

Em seguida, os licenciandos foram convidados a analisar o seu curso de licenciatura a partir da experiência do PIBID. De modo geral, os licenciandos fizeram críticas ao curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, conforme se observa nos seguintes trechos:

“É um curso de Bacharel ‘mascarado’ de Licenciatura. Falta saber sobre o ensino e aprendizagem dos conteúdos, falta uma comunicação entre as disciplinas”.

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“Esse curso ainda não assumiu sua identidade (de formador de professores) nem na grade curricular, pois as disciplinas pedagógicas estão dissociadas das demais disciplinas da biologia”. “O quadro de professores da licenciatura não é privilegiado, uma vez que poucos são licenciados e não fazem muita relação entre matérias específicas e a prática do licenciado”.

“Minha participação no PIBID arrematou inúmeras dúvidas e inseguranças que eu teria apenas com as disciplinas e estágios, pois estes não são suficientes”.

“O PIBID tornou a licenciatura mais interessante para mim”.

“O PIBID fez com que eu percebesse a possibilidade de pesquisa dentro da escola, que antes não conhecia”.

Uma última questão refere-se às contribuições do PIBID para o desenvolvimento pessoal e/ou profissional do bolsista. Nesta questão os bolsistas destacaram que aprimoraram sua capacidade crítica e reflexiva, consideram-se mais maduros e responsáveis, sentem-se mais confiantes e seguros para o enfrentamento de obstáculos e imprevistos, e, por fim, declaram-se melhor preparados para a atuação profissional, mesmo que esta atuação não se dê na docência.

Entre a formação e a atuação profissional: interesses em conflito

Neste artigo buscamos apontar a relação entre as expectativas profissionais de licenciandos em Ciências Biológicas e sua vinculação ao PIBID Biologia Unifal-MG. Embora nossa amostra seja reduzida, os dados apontam que, muito embora este Programa seja louvado pelos licenciandos como válido e muito importante, a maioria deles não manifestou interesse em ingressar na docência em escolas públicas de educação básica, o que frustra o objetivo principal do Programa. Sobre este fato, gostaria de pontuar duas análises relativas ao binômio formação- atuação profissional. Embora seja fundamental investir em políticas de formação inicial de professores, é imprescindível investir também em políticas públicas que garantam condições de trabalho minimamente adequadas para os professores atuantes. Sem isso, dificilmente a carreira docente se mostrará atraente para os graduandos. A nosso ver, este é um desafio que, em paralelo aos programas de formação inicial, deve ser tomado como prioridade pelos tomadores de decisão.

Um outro ponto diz respeito à regulação do campo de atuação dos profissionais. Como formadora de professores nas licenciaturas notamos que, sem conhecimento sobre a especificidade do trabalho docente, muitos candidatos a exames de cursos superiores optam pela licenciatura por serem cursos noturnos, muitas vezes com maior oferta de vagas, e portanto, menos concorridos que o bacharelado. No caso específico dos biólogos licenciados, ainda há o reconhecimento, pelo conselho profissional, da

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possibilidade de atuação deste público na execução de outros trabalhos técnicos, como “em pesquisa, projetos, análises, perícias, fiscalização, emissão de laudos, pareceres e

outros serviços” (Resolução 213/10, disponível no site do CFBio). O resultado é que o

curso de licenciatura, que oferece (ou deveria oferecer) a formação específica para professores de Ciências e/ou Biologia é comumente utilizado como “atalho”, ou “trampolim” para a execução de atividades técnicas específicas dos bacharelados.

Por outro lado, nas universidades os licenciandos são atraídos para as atividades de pesquisa desenvolvida no bacharelado por terem mais tempo disponível que os bacharelandos, que estudam em período integral.

Diante deste cenário, reforçamos o papel da universidade no estabelecimento de uma política institucional de formação de professores, para que a licenciatura não esteja ‘a reboque’ dos cursos de bacharelado. Acrescentamos ainda, a necessidade de o corpo docente da licenciatura se comprometer ativamente com a formação de professores, tomando esta como uma responsabilidade de todas as disciplinas do curso, e não somente das disciplinas pedagógicas, estágios e práticas de ensino. Desta forma temos esperança de forjar, entre os licenciandos, um perfil profissional coerente com o esperado para o egresso deste curso.

Referências Bibliográficas

- CANÁRIO, Rui. A prática profissional na formação de professores. IN: DIONNE,

Hugues. A Pesquisa-Ação para o Desenvolvimento Local. Brasília: Líber Livro Editora, 2007.

- SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA. Antonio. (org.) Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992b, pp. 77-92. - BRASIL, MEC/CNE. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Resolução CNE/CP 2/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de

2002a. Seção 1, p. 9. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf

- BRASIL, MEC/CNE. Decreto 6755/09, que Institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, disciplina a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -CAPES no fomento a programas de formação inicial e continuada.

- CFBio.

RESOLUÇÃO Nº 213, DE 20 DE MARÇO DE 2010. Disponível em: http://www.cfbio.gov.br/

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Trata-se da pesquisa em andamento: “Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência: Análise do impacto na formação dos licenciandos”.

Referências

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