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O ponto da questão. São ou não viáveis as mudanças no registro eletrônico da jornada de trabalho?

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Academic year: 2021

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O ponto da questão

São ou não viáveis as mudanças

no registro eletrônico da

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Ao publicar a Instrução Normativa 1.510, que estabelece mudanças no registro

eletrônico de ponto das empresas com mais de 10 funcionários em todo o País, o

ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, colocou do mesmo lado entidades

representativas de empregadores e empregados. O consenso está nas difi culdades

que as novas regras geram – compra do equipamento em tempo hábil, fi las nas

entradas e saídas das empresas, acúmulo de papel nas mãos dos funcionários,

possibilidade de fraude. Liminares são concedidas pela Justiça contra a regra.

O comércio se mobiliza em diversas frentes sobre o assunto. Até agora, o que se

tem de fato é um ponto – o de interrogação.

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Ponto eletrônico:

empresariado

se mobiliza

para

sustar

novas regras do MTE

N

o Brasil, por vezes, parece que

para se resolver um problema cria-se outro. Exemplos como as mudanças no cálculo do Seguro de Aci-dente do Trabalho (SAT) e no modelo e padrão brasileiro de tomadas e plugues mostram que o ônus das novidades re-cai, em muitos casos, sobre aquele que é peça importante no desenvolvimento do País - o empresário.

O caso mais recente são as novas re-gras para o Registro Eletrônico de Ponto (REP) das empresas, consubstanciadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na Portaria 1.510, de 21 de agosto de 2009, que passa a vigorar a partir de 26 de agosto de 2010.

Confederações patronais e Centrais Sindicais se posicionam de forma análo-ga sobre o assunto, já que as alterações identifi cadas por empresários e trabalha-dores não trazem benefícios para nenhu-ma das partes. Pelo contrário, prejudi-cam tratativas consensadas por meio do diálogo e da razoabilidade.

De acordo com a nova regra, as em-presas devem adquirir o REP para que a entrada e a saída dos funcionários sejam registradas, e para que o

tra-balhador tenha a

com-provação, via emissão de boletos, da sua jornada de trabalho. Atualmente, todas as empresas com mais de 10 funcionários devem fazer o registro de horário dos tra-balhadores, seja de forma manual (livros de ponto), mecânica (cartões de ponto) ou eletrônica (várias formas).

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) está mobilizada, junto ao Congresso Nacional, para sustar qualquer mudança que prejudi-que um setor prejudi-que agrega mais de 4 milhões de empreendedores e que emprega cerca de 25 milhões de pessoas. Ações coorde-nadas acontecem para resolver um proble-ma - e não para criar outro.

A mais recente medida foi a produção de minutas, pela Divisão Sindical da CNC, de Mandado de Segurança Preventivo (co-letivo ou individual), a fi m de fornecer subsídios, caso haja interesse na medida judicial, aos sindicatos do setor, que por sua vez poderão repassar às empresas re-presentadas. O presidente da CNC, Anto-nio Oliveira Santos, assinou circular enca-minhada a todas as federações de comércio dando ciência da iniciativa.

No dia 13 de julho, representantes da CNC estiveram na Secretaria de Inspeção

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do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, em Brasília, para tratar do assun-to. A secretária de Inspeção do Trabalho do MTE, Ruth Vilela, participou do encontro com os empresários que representam os maiores conglomerados do ramo de super-mercados, eletrodomésticos e eletrônicos do País, e recebeu todas as informações sobre incongruências que inviabilizam o cumprimento da portaria. Na oportunida-de, foi solicitado um período maior para que as empresas pudessem se adequar às exigências do Ministério.

Após o encontro na Secretaria, a co-mitiva de empresários se dirigiu à sede da CNC no Distrito Federal, onde se reuniu com o vice-presidente da entidade, Gil Siuffo, para traçar novas estratégias a se-rem adotadas sobre o assunto.

Em 27 de julho, foi publicada a Instru-ção Normativa (IN) nº 85, do MTE, que disciplina a fi scalização do novo registro de ponto eletrônico nas empresas. A instru-ção mantém o prazo de 26 de agosto para a entrada da Portaria 1.510, mas destaca que os auditores fi scais do trabalho terão de 30 a 90 dias para realizar duas visitas antes de autuar os empregadores - ou seja, o prazo para instalar o ponto eletrônico pode se es-tender até meados de novembro.

Em 5 de agosto, foi lançada na inter-net uma campanha para promover uma mobilização contra o novo ponto. Em 10 de agosto, a enquete indicava no site (http://www.passoudoponto.com.br/) que, com 500 votos já computados, 89,8% dos votantes são contra as mudanças e apenas 8,8% são a favor.

Além dos impactos fi nanceiros com a compra dos novos equipamentos, os quais têm um custo elevado (de R$ 2,5 mil a R$ 4 mil, aproximadamente), as empresas terão que dispor ainda de custos mensais em virtude dos gastos com bobinas de papel, tinta para impressão e manutenção do relógio de ponto. Além disso, o novo sistema difi culta a operacionalização do registro, já que cada empresa tem a sua forma de efetuar o registro de ponto, de acordo com a natureza de sua atividade. “Temos, por exemplo, o caso das empre-sas que fazem parte de um determinado grupo econômico, e que, por conta dessa peculiaridade, remanejam seus emprega-dos de acordo com as necessidades do estabelecimento, sendo certo que, nesse caso, por terem CNPJ distintos, não será possível, como é hoje, o controle de jor-nada, através do ponto eletrônico, de al-gum funcionário que tenha sido enviado para suprir demanda temporária em ou-tro estabelecimento do grupo”, analisa Alain Mac Gregor, advogado da Divisão Sindical da CNC.

Isso é apenas uma questão que não foi observada pela Portaria 1.510/09. A roti-na de qualquer empresa será afetada con-sideravelmente, já que, com a implemen-tação do novo sistema, dependendo da quantidade de empregados, o empregador terá que administrar fi las no local de tra-balho. Segundo determinação da Portaria, o equipamento tem que imprimir cada re-gistro do empregado, e o tempo mínimo que leva esse registro, segundo informa-ção dos fabricantes, é de 20% de um

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mi-nuto, ou seja, 12 segundos. Numa empresa com 500 empregados, esse tempo acaba sen-do mais elevasen-do. Tal situação fará com que o empregador tenha que fi scalizar o registro de saída para agilizar ao máximo a marca-ção, pois correrá o risco de se ver obrigado a pagar horas extras ao trabalhador que ul-trapassar o horário da jornada em função da fi la para utilização do equipamento. “Com isso o empregador pagará sem, no entanto, estar fazendo uso dessa mão-de-obra”, diz Mac Gregor.

Para os trabalhadores, a questão também acarreta prejuízos, uma vez que, na entrada, a demora para a marcação, em virtude das fi las, garantirá o registro inicial da jornada com atraso, o que será passível de dedução de seu salário.

Outro aspecto que deve ser observado é que os custos para adquirir os equipamen-tos são fi xos, mas sua manutenção é cons-tante. Dependendo da quantidade de em-pregados de uma empresa, o dinheiro gasto com a compra mensal de papel e tinta para impressão será muito alto. Além disso, os valores gastos com o pagamento de horas extraordinárias, advindas das fi las que se-rão geradas, impedem a criação de inúmeros postos de trabalho.

Segurança

A Portaria determina que o equipamento tenha uma “entrada” USB para que, quando da fi scalização, o auditor-fi scal possa inserir um pen drive e baixar todas as informações

de entrada e saída dos empregados daquela empresa. Porém, nada impede que um ter-ceiro, agindo de má-fé, baixe as mesmas informações e tenha todos os dados de ho-rários em que a segurança da empresa es-teja mais fragilizada, por exemplo. “Ima-ginemos o caso de uma empresa que cuida de armazenamento de valores. Ela estaria exposta a possíveis tentativas de roubo em virtude de um detalhe imposto pela Portaria 1510/09”, exemplifi ca Alain Mac Gregor. O advogado destaca ainda que não é a adoção do novo ponto eletrônico que reduzirá as fraudes, pois nada impede que o trabalhador registre a sua saída e volte a laborar. O que reduz a fraude é uma fi sca-lização efetiva. “Na Justiça do Trabalho, o empregado já é protegido contra todo tipo de fraude de marcação de ponto através do Princípio da Primazia da Realidade. Com isso, basta que o trabalhador demonstre, através de depoimento de testemunha, que a marcação de sua jornada era fraudulenta, que essa prova testemunhal se sobreporá à prova documental trazida pelo novo ponto eletrônico.” Ou seja, o novo sistema não trará segurança nem para uma parte nem para outra, sendo um investimento desne-cessário e sem qualquer benefício concreto para quem se utiliza dele.

A situação na Justiça

Enquanto não surge uma defi nição por parte do Ministério do Trabalho, entidades e empresas recorrem à Justiça. A 23ª Vara

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do Trabalho de Porto Alegre decidiu a fa-vor do sindicato dos lojistas (Sindilojas) do município, blindando de autuações os cerca de 16 mil estabelecimentos fi liados. O Sindilojas alegou que o tempo determi-nado pela Portaria não é o sufi ciente para que todas as empresas pudessem começar a utilizar o Registro Eletrônico de Ponto (REP). O sindicato argumentou que as empresas não tiveram respeitado o pra-zo estabelecido, pois o MTE só aprovou o cadastro do REP a partir de 12 de mar-ço. Até o fechamento desta edição, havia apenas 17 empresas cadastradas no site do MTE para fornecer o novo equipamento de ponto eletrônico.

A Companhia Brasileira de Sandálias (CBS) também conseguiu liminar na Jus-tiça do Trabalho da Comarca de Carpina, em Pernambuco.

Em São Paulo, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel SP), que compreende em média 700 bares e restau-rantes, também obteve decisão provisória para suspender a obrigatoriedade do uso dos pontos eletrônicos. A decisão é da juí-za Regina Celi Vieira Ferro, titular da 48ª Vara do Trabalho de São Paulo.

Por outro lado, os trabalhadores de empresas de vigilância e segurança de-verão usar o novo sistema em seus locais de trabalho. A determinação, em liminar, é do juiz Eurico Zecchin Maiolino, da 21ª Vara Cível Federal do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Ele analisou o pe-dido da Associação Brasileira das

Empre-sas de Vigilância e Segurança (Abrevis) para suspender a marcação eletrônica. A associação pediu também que a União se abstenha de autuar ou punir quem des-cumprir a medida. Já no Superior Tribu-nal de Justiça, o ministro Cesar Asfor Ro-cha também negou pedido de liminar em Mandado de Segurança no qual a Funda-ção Faculdade de Medicina pedia para se isentar da obrigação de implantar um novo registro eletrônico. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu rever a Portaria 1.510/09. A informação foi dada ao presidente em exercício da Confe-deração Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.

Uma luz no fi m do...ponto

O deputado federal Arnaldo Madei-ra apresentou, na CâmaMadei-ra dos Deputa-dos, um projeto de Decreto Legislativo nº. 2839/2010, que objetiva sustar a Por-taria nº. 1.510. Segundo o projeto, a nova regra passou a exigir uma série de Obriga-ções e Direitos cuja criação é reservada à lei específi ca - no caso, a Constituição Fe-deral. É esta mesma Constituição que diz, em seu artigo 49, que é da competência exclusiva do Congresso Nacional “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.

A CNC continua acompanhando os desdobramentos do assunto, mobilizada para contribuir em sua solução.

Referências

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