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A sociologia da política sob o prisma da etnografia e do empirismo: interlocuções, perspectivas e realidades

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Academic year: 2021

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ISSN: 2526-3013

A SOCIOLOGIA DA POLÍTICA SOB O PRISMA DA ETNOGRAFIA E DO EMPIRISMO: INTERLOCUÇÕES, PERSPECTIVAS E REALIDADES

Larissa Cavalcante Mendes1

Resumo

O presente trabalho faz uma análise sobre as relações estabelecidas entre a Etnografia e sua aplicabilidade nas pesquisas de campo, evidenciando os contextos práticos, os dilemas, as realidades encontradas e as perspectivas concretas no universo empírico. Sob a égide do enfoque da Sociologia da Política, encontra-se alicerce para as análises e construções conceituais que decorrem da interlocução entre a Etnografia e o Empirismo, denotando os aspectos mais representativos da pesquisa de campo numa visão ampla, frontal e clara.

Palavras-chave: Sociologia da Política. Etnografia. Empirismo.

Abstract

This paper analyzes the relationships established between ethnography and its applicability in field research, highlighting the practical contexts, the dilemmas, the realities encountered and the concrete perspectives in the empirical universe. Under the aegis of the Sociology of Politics approach, the conceptual analyzes and constructions arising from the interplay between ethnography and empiricism are found, denoting the most representative aspects of field research in a broad, frontal and clear view.

Keywords: Sociology of Politics. Ethnography. Empiricism.

1Mestranda em Direito Público pela Universidade Federal de Alagoas (2017), Ex-aluna Especial do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (2016), Membro do Núcleo de Estudos sobre a Violência em Alagoas – NEVIAL e do Núcleo de Estudos e Políticas Penitenciárias – NEPP, vinculados à Universidade Federal de Alagoas (2015), Integrante do Laboratório de Direitos Humanos da Universidade Federal de Alagoas (2017), Publicação de Livro na Área de Violência e Violação dos Direitos Humanos: Violência, Violação dos Direitos Humanos e seus efeitos na construção de uma sociedade democrática. Org. Ruth Vasconcelos. Maceió: Edufal, 2015. E-mail para contato: larissacmendes@gmail.com.

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Larissa Mendes | 2 Introdução

A Sociologia da Política traz em seu bojo a proposta de análise dos aspectos políticos, das relações sociais estabelecidas nesse cenário, das gramáticas nativas, das estruturas, das lógicas de ação e todo um rol de elementos característicos próprios da vertente sociológica que ajudam a compreender e explicar a política em sua forma mais abrangente.

Partimos dos pressupostos mais básicos que dominam o conhecimento comum para adentrar num estudo mais analítico e que vai muito além do aspecto semântico da palavra política. A abordagem da Sociologia da Política ultrapassa o entendimento meramente vernáculo da palavra, dando uma acepção de cunho sociológico, interacional, por que não dizer, comportamental sob o ponto de vista da Sociologia com suas nuances e sua riqueza avaliativa.

Como bem coloca (RIVIÈRE, 2004), a sociabilidade é simplesmente o conjunto de relações que indivíduos tem com os outros e as formas dessa relação. Daí, cabe o entendimento de que na Sociologia da Política, as relações estabelecidas entre os indivíduos vão explicar as lógicas de ação e todo o aparelho dinâmico das consequências dessas relações.

Assim como em tantas relações estabelecidas entre os indivíduos em sociedade, na Política, há peculiaridades que não são esquecidas pela Sociologia, posto que a política é um meio de construção da sociedade. E indissociável é a ideia de que essa construção é constante e de que múltiplos conhecimentos se somam para a plenitude dessa construção. Nessa seara, tem-se a Etnografia, que vem dar grande contribuição à Antropologia, mas também a tantas outras ciências como a Sociologia.

A Etnografia ainda encontra divergências disciplinares e conceituais, no modo como é entendida, aplicada e relacionada às tantas ciências com as quais se comunica. Nesse sentido, coloca (OLIVEIRA, 2010) que quando são exploradas as definições de etnografia subjacentes a tais utilizações, somos quase sempre

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remetidos a princípios e fundamentos disciplinares e institucionais muito diferentes e, algumas vezes, até mesmo incompatíveis.

Nessa intersecção entre etnografia e política, muito se há a avançar. Há nitidamente uma exploração ainda muito tímida acerca das práticas políticas e sua visão segundo a etnografia. Nessa linha de pensamento, diz (AUYERO, 2006) que a renovação, o crescimento e o aumento do interesse dos cientistas sociais (principalmente, cientistas políticos e sociólogos) pelo trabalho etnográfico não se faz acompanhar de estudos etnográficos sobre instituições, protagonistas e práticas políticas.

Para além das bifurcações teóricas que permeiam a etnografia, está o empirismo, que evidencia de fato o funcionamento, as lógicas de ação, traz um olhar aguçado do objeto, levanta dados e informações com acuidade inigualável, analisa, interpreta, disseca o campo em suas mais diversas faces. Decorre então, a riqueza das interlocuções daquilo que está entre o que é visto e estudado, com as perspectivas da pesquisa de campo e as realidades encontradas.

1. Etnografia, Política e suas intersecções

A etnografia se revela não só por suas propostas de análise qualitativa dos dados e informações, mas também por seu olhar mais subjetivo diante do objeto. É o penetrar no modo, na organização, no sentir das realidades sociais e políticas com as quais o pesquisador se depara.

É enxergar o campo de modo mais detalhado, mais envolto por suas questões emocionais e mais descentralizado sob o ponto de vista intrinsecamente racional e quantitativo dos métodos geralmente adotados. É bem verdade que no seio da política ainda há um certo entrave quanto ao uso da etnografia e dos métodos mais qualitativos de pesquisa. Mas, há que se considerar que algumas mudanças nesses paradigmas precisam ocorrer e talvez até já haja esse movimento, que embora incipiente, já sugere passos para transformações nesse cenário.

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Nesse contexto, (SCHATZ, 2009, p.10-12) diz que:

Por isso, muito mais do que uma simples técnica da família “qualitativa”, a etnografia tem um valor inestimável na medida em que remete tanto a questões teóricas e epistemológicas quanto às dimensões empíricas e até mesmo normativas. Isso porque ela possibilita a revelação de “dados novos”: a) evidências detalhadas que trazem robustez para as generalizações ou significados associados a outras tradições teóricas; b) investigações teoricamente estimulantes e empiricamente sólidas que possibilitem a expansão de como compreendemos os próprios limites ou fronteiras da “política”, ao invés das análises “triviais” que se contentem em perguntar sempre as mesmas questões, seguindo os mesmos paradigmas e utilizando os mesmos procedimentos de pesquisa; c) inovações epistemológicas que permitem a ruptura com amplas categorias e subtipos utilizados, dando conta de complexas configurações de fatores, teorias e processos constitutivos que capturam seu dinamismo.

Segue (OLIVEIRA, 2010) dizendo que ela envolve o conjunto da prática científica na medida em que implica tomar como objeto de análise as próprias concepções de ciência, de sociedade e de política utilizadas pelo investigador. Vale entender a etnografia fundamentada não só na observação direta ou participante do objeto, mas muito além, como um método de acuidade ampla, voltado para a utilização de dados, informações, questionários, arquivos, documentos, produções, elementos qualitativos e quantitativos que convergem para um método associativo de grande valor para as realidades sociais e políticas estudadas.

Como bem coloca mais uma vez (OLIVEIRA, 2010), pode-se falar em etnografia política como uma área de estudos que emergiu de pesquisas realizadas a partir de várias filiações disciplinares, deixando de ser diretamente associada à Antropologia e se definindo como uma discussão das concepções e pressupostos associados a tal forma ou método de trabalho no estudo dos fenômenos políticos. Ela difere de simplesmente “fazer trabalho de campo” e da própria “observação participante” como técnica de pesquisa, na medida em que se trata mais propriamente de um método baseado na proximidade e na observação da temporalidade própria dos atores envolvidos em processos políticos. Segue o autor dizendo que diferentemente da abordagem puramente “metodológica”, as discussões sobre reflexividade e a implicação do pesquisador na realização da pesquisa constitui um bom ponto de partida para a ruptura com a dicotomia “qualitativa” versus “quantitativo”, na medida em que implica toda a prática da pesquisa.

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Desse modo, vê-se a importância da compreensão ampla do significado da etnografia, arraigando em seu escopo metodológico o “ouvir” o objeto, “sentir” o objeto, deixando que ele se revele tal qual é em todas as suas peculiaridades, sem estigmas e sem preconcepções que obscureçam a visão do investigador, posto que o trabalho investigativo estará liberto de noções preestabelecidas sobre a pesquisa, seus atores e objetos.

Nessa vertente, prossegue (OLIVEIRA, 2010) ao abordar a “reflexividade”, quando diz que falar em “reflexividade” remete necessariamente à ideia, geralmente deixada de lado, de “auto-reflexividade”: o controle das pré-noções comuns e eruditas que nos conduzem ao objeto e que, muitas vezes, “falam por nós” durante a pesquisa; a constante autoanálise tanto do seu próprio “interesse” de pesquisa quanto do conjunto de interações desenvolvidas no decorrer da investigação (teorias, problemas, procedimentos utilizados, etc); a constante indagação a respeito dos efeitos sociais que certas escolhas e posições assumidas durante o processo de investigação têm em relação à pertinência e qualidade das informações obtidas.

2. Etnografia e Política em suas realidades e perspectivas

As realidades encontradas são as mais diversas, por isso, a eminente necessidade de deixar o objeto dizer tudo sobre si, revelando o que é óbvio e superficial, assim como o que é profundo e está no âmago do seu existir. Penso naquilo que denominei de Relatividade Observacional do Campo. Neste caso, no campo político e na própria política em todas as suas acepções.

Daí a falar-se nos seguintes aspectos da chamada Relatividade Observacional do Campo: a) quem o integra; b) Quais os interesses e necessidades envolvidos; c) Quais suas dinâmicas de ação; d) Quais as relações estabelecidas com o meio externo (órgãos, instituições, sociedade, Estado, etc). Porque todas as realidades existentes têm seu modo operacional, seu perfil, sua dinâmica, o explícito e o implícito que estão à prova para os questionamentos.

Bem verdade que muitos são os desafios para o investigador que imersa em um campo e em um objeto, nem sempre tendo a exatidão daquilo que vai encontrar,

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porém, sendo constantemente instigado a sair do estado linear da teoria para a cinética do empirismo, que de fato revelará a concretude do que se quer investigar.

Como preleciona Bennani-Chraib (2010/4):

Tais escolhas dependem dos próprios contextos de investigação e do trabalho, por vezes longo e paciente, de confecção das redes de confiança. O olhar reflexivo sobre tais negociações e a inserção das diferentes técnicas utilizadas numa abordagem etnográfica, possibilita ter acesso a um conjunto de informações pertinentes sobre objeto em questão: formas de interação entre diferentes atores, dinâmicas de funcionamento organizacionais, redes de inter-reconhecimento, grau de homogeneidade entre seus membros, modalidades de decisão, etc. Tais informações não podem ser negligenciadas como matéria bruta ou anedótica, mas levadas a sério na medida em que são formas de deixar falar o objeto que nos oferecem a possibilidade de constituir, sob o concreto, os atores, os lugares e as temporalidades próprias do objeto.

O olhar reflexivo emanado da etnografia deve nortear as investigações, o acesso, a abordagem e a condução das pesquisas, viabilizando o contato com o objeto de forma a permitir ser ele visto em todas as suas dimensões, assim como, estar diante dos atores, vislumbrando suas interações, suas dinâmicas, seu funcionamento, num grande circuito que se descobrirá o mais autônomo possível, o mais vivo, real, próprio e verdadeiramente característico do objeto. O seu “eu” será visto na sua maior plenitude, sem interferências de outros anseios que não os seus.

Conclusões

A Sociologia da política vem concebendo a etnografia como método aplicável às suas análises, embora ainda de forma tímida. Os fenômenos do poder e da política progressivamente têm sido alvo investigativo no seio etnográfico, permitindo novos diálogos com as realidades estudadas. Muito ainda há de se introduzir quanto às questões institucionais e disciplinares que arraigaram a etnografia de concepções pouco mutáveis ao longo de muito tempo.

Apesar das divergências disciplinares perante às ciências, parece a etnografia sair um pouco da antiga hegemonia antropológica para alçar novos voos nas ciências sociais. A etnografia passa, portanto, ao olhar da Sociologia da Política como um

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grande campo a desbravar, posto ser de enorme riqueza metodológica e científica. A necessária evasão do mundo eminentemente “qualitativo” passa a assumir as formas mais universais em que dados, informações, realidades observadas, dinâmicas instaladas, objeto tomam suas conformações cada vez mais reflexivas e amplas. Assume a etnografia um papel atento no “ouvir” o objeto, deixando-o livre em suas falas e abrindo margem para um olhar mais reflexivo, real e próximo ao objeto.

A etnografia política abraça múltiplas disciplinas e abre pauta para novas observações e novas formas de se ver os fenômenos políticos. Apartamo-nos de ideologias petrificadas, de concepções homogêneas, de dados imutáveis, de informações congeladas, de questionamentos meramente reproduzidos e amarrados para uma postura de fato reflexiva, que mostra as realidades como elas são, que permitem dar vida à política. Que deixam a política respirar seus próprios ares e ser vista em suas essencialidades, mais liberta das concepções contaminadas, das formulações deturpadas, fazendo surgir uma nova visão etnográfica, bem como dando novas perspectivas à realidade política, sobretudo no Brasil e no cenário acadêmico brasileiro.

Por certo, muitas transformações estão por vir nas ciências sociais, como já podemos vislumbrar e indubitavelmente, tem a etnografia um existir muito próprio no âmbito do empirismo, dando a Sociologia da política enorme aporte para as transformações sociais tão desejadas advindas dessa nova face da etnografia que nos revelará o rico universo das pesquisas na percepção mais palpável da política.

REFERÊNCIAS

AUYERO, Javier. Introductory Note to Politics under the Microscope: Special

Issue on Political Ethnography, Qualitative Sociology, vol.29, nº3, 2006, p.257-259.

BENNANI-CHRAIBI, Mounia. Quand négocier l’ouverture Du terrain c’est d’éjà

enquêter. Obtenir La passation de questionnaires aux congressistes de partis marocains. Revue internationale de politique comparée, 2010/4. Vol. 17, p.93-108.

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Larissa Mendes | 8 Etnografia: entre fronteiras disciplinares e problemas empíricos. 2010, p.14.

OLIVEIRA, Wilson José F. Antropologia, Política e Etnografia: entre fronteiras

disciplinares e problemas empíricos. 2010, p.01.

RIVIÈRE. In: La socioLogie des réseaux sociaux. Nouvelle EDITION. Ed.La Découverte, Paris, 2004.

SCHATZ, Edward. (Ed.).Political Ethnography.What immersion contributes to the

study of Power.Chicago, University of Chicago Press, 2009.In: OLIVEIRA, Wilson

José F. Antropologia, Política e Etnografia: entre fronteiras disciplinares e problemas empíricos. 2010, p.08.

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