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O ocaso da memória : a história do engenho Oitocentas no baixo Continguiba em Sergipe

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO

OITOCENTAS NO BAIXO COTINGUIBA EM SERGIPE

JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

São Cristóvão

Sergipe- Brasil

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JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO

OITOCENTAS NO BAIXO CONTINGUIBA EM SERGIPE

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos.

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S237o

Santos, Josineide Luciano Almeida

O ocaso da memória: a história do Engenho Oitocentas no baixo Cotinguiba em Sergipe / Josineide Luciano Almeida Santos; orientador Claudefranklin Monteiro Santos. – São Cristóvão, SE, 2019.

123 f. : il.

Dissertação (mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, 2019.

1. História – Sergipe. 2. Engenho Oitocentas (Rosário do Catete, SE). 3. Engenhos - Sergipe. 4. Memória. 5. Recordação (Psicologia). I. Santos, Claudefranklin Monteiro, orient. II. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedico ao senhor José Paes de Azevedo Sá (In Memoriam), Graziela Vieira de Azevedo (In Memoriam), com gratidão pela trajetória de vida dos Vieira de Azevedo que tive o privilégio de apreciar através história e das memórias de suas filhas Gilca, Gulnar Vieira de Azevedo, Nilza Vieira de Brito.

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“Os grandes homens não morrem, permanecem vivos no coração e memória dos que o amam e admiram. ”

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AGRADECIMENTOS

Como é difícil utilizar as palavras certas para expressar a gratidão que sinto. Porém, ouso agradecer a Deus o criador pela dádiva da vida e nos concedeu o dom da vida, um dom inestimável, Ele é meu refúgio nas horas de angústia. Agradeço por permitir-me vencer mais uma etapa, ultrapassar barreiras, limitações sejam eles quais forem vencer sempre e nunca esmorecer.

Elencar pessoa que colaborou à sua maneira de forma intensa direta ou indiretamente, com pequenos gestos de boa vontade, constitui-se tarefa árdua e injusta, diante do quantitativo de pessoas envolvidas para que eu galgasse bom êxito desta pesquisa.

Meus agradecimentos à banca examinadora tanto da qualificação quanto na defesa ao presidente da banca o professor doutor Claudefranklin Monteiro Santos, externo minha gratidão e satisfação em tê-lo como meu orientador sempre atento e humano, seu auxílio, indicações de leituras jamais serão esquecidas. Não mediu esforços para entender meus anseios e dificuldades quando solicitado.

Muito obrigada pelas correções necessárias sem nunca me desmotivar, pois é um homem de profundo conhecimento e não desistiu dessa mestranda, cheia de limitações, o senhor tira o melhor de cada pessoa sem perder a ética, o respeito e a responsabilidade de uma tarefa, minha gratidão é infinita, vai além da academia obrigada pelas orientações, contribuições e puxões de orelhas quando foi pertinente fazê-lo quando acabei quebrando alguns prazos estabelecidos para entrega de atividades solicitadas, saiba que tenho sua pessoa na conta de um mano e grande amigo.

Estendo também agradecimentos ao professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, por fazer parte da banca de qualificação e defesa. Agradeço pelos esclarecimentos, empréstimos do seu acervo pessoal e do acervo do Banco de dados do projeto Massapê.

Minha gratidão ao professor Dr. Milton Araújo Moura por ter participado também da banca examinadora como membro externo, agradeço por seus questionamentos, que foram de grande valia para o desenvolvimento desta pesquisa, suas inquietações foram pertinentes, pois

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abriram novas expectativas e olhares. Agradeço pelas indicações de caminhos a serem percorrido, suas palavras ecoaram como estimuladores para que pudesse terminar esse trabalho, agradeço pela forma humana, sensata e tratável que conduziu suas palavras, sem perder o rigor necessário para esse mundo acadêmico.

A proprietária do Engenho Oitocentas a senhora Graziela Vieira de Azevedo e a sua irmã Gulnar Vieira de Azevedo as quais agradecemos, pois autorizou nossa ida in loco sempre que solicitamos para fotografar e fazer levantamento de dados no acervo pessoal dos Vieira de Azevedo. Aos grandes contribuintes deste trabalho Gulnar Vieira de Azevedo, Solange Bastos de Azevedo, Nilza Azevedo de Brito, Luiz Ferreira Gomes, Maria Ivanice de Oliveira que me acolheram e corresponderam as nossas indagações. Sem estes não seria possível a concretização desta pesquisa.

Agradeço aos funcionários da biblioteca Pública Epifânio Doria nas pessoas de seu Tito Nunes de Brito e seu Pedrinho Santos (In memoriam) e senhor Francisco dos Santos por auxiliar na busca das fontes do acervo da biblioteca Epifânio Doria e todos os demais funcionários, que foram sempre prestativos. Bem como aos funcionários do arquivo público do Judiciário na pessoa de Assunção e Anderson. O arquivo Público de Sergipe nas pessoas de Milton Barbosa, Arquivo público municipal de Rosário do Catete na pessoa de Flávio Gomes.

Agradeço ao PROHIS (Programa de Pós-Graduação em História) nas pessoas do professor Doutor Bruno Álvaro na época coordenador, também agradeço a atual coordenação professora Doutora Edna Maria Antônio Matos e ao professor doutor Carlos de Oliveira Malaquias por todas as contribuições na disciplina obrigatória de Teoria. A professora Célia Costa e a professora Lourival Santana estiveram na banca de seleção, agradeço também a todos que fazem o Programa de pós-graduação em História meus sinceros agradecimentos.

Aos amigos da saúde quando tudo começou grata pelas palavras de apoio quando estava na produção do projeto para seleção do mestrado a todos Clésio, Rita, Acássia, Ana, Dessiré, Meire, e Samarone vulgo chimarrão. Aos Padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos Lopes pela identificação dos santos do oratório da casa grande das Oitocentas. Grata à amiga Rosineire Teles pela indicação do nome dos padres já mencionados.

Ao amigo João Vieira dos Santos por ter conseguindo o contato para chegarmos até a proprietária Graziela Vieira de Azevedo nossos sinceros agradecimentos.

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Ao meu pai Antônio Evangelista de Almeida e a Lúcia Luciano Almeida e a minha vovó Elienal conhecida como Liá, por sempre incentivar meus sonhos. Aos meus tios Pedro Ribeiro e Josefa Augusta Luciano Ribeiro por sempre está presente nesses momentos em minha trajetória acadêmica, grata a todos demais tios, e a prima Joeny Ribeiro.

Agradeço a Carlos Costa companheiro, amigo, pela paciência e disponibilidade em levar aos arquivos públicos para garimpar os acervos para adquirir fontes necessárias para a realização desta pesquisa, aos meus manos André, Joás, Jasiel, Sheila, Joseane, Lucivania, Elen, Sadraque, e a minha irmã do coração Ivanilde Santos pelo apoio e suporte em todos os momentos da minha vida sempre grata amada, aos meus sobrinhos Davi, Mariane, Jonatas, Andreza, Roseane, Joab, Pedro Lucas, Pietro, Alana, Antônio, Rodrigo, Patrick, Nice, Talita Zeller a todos e todas da família Almeida pelas ausências, inquietudes, stress, mau humor, minhas desculpas por tantas ausências.

Aos docentes que perpassaram a caminhada acadêmica às (aos) minhas (meus) companheiras (os) pesquisadores do Projeto Imprensa Cristã, Tatiane jamais esquecerei seu auxílio quando encontrava alguma fonte relacionada à minha pesquisa e encaminhava para minha pessoa pelas palavras de incentivo e apoio de todos do Projeto Imprensa Cristã: Suelayne, Nerita, Rosa, Gicélia, Mayra, Márcio e a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que esse trabalho tivesse êxito. Aos amigos de longas datas a Dora, Lúcia Rollemberg, Maritania, Angélica Freire, Leda, Arleide, Victor, César Mandarino sempre agradeço pela consideração estímulo em relação à trajetória acadêmica.

Aos arquitetos José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro por redimensionar a planta baixa da casa grande das Oitocentas facilitando a anexação nesse trabalho.

Agradecemos a gestão municipal na pessoa do gestor Otávio Sobral por permitir, ausentar-me do setor de trabalho nos dias solicitados para estudo e pesquisa com anuência do secretário municipal de Educação de Itaporanga D’ Ajuda na pessoa de Ronaldo de Oliveira Santos serei sempre grata pelo apoio quando necessitei ausentar-me para realizar as pesquisas sendo sempre solícito. Aos demais funcionários Isis pelo incentivo e por sempre indagar sobre o andamento da pesquisa sempre grata, aos colegas de trabalho Osvaldo, Lasaro, Rivanda, Ana, Custódio, Márcio, Márcia, Nide, Heloisa, Carla, Analú, Flávia, Lúcia, Julice, Janaina, Alexandre, Sandra, Marcos, Edmilson, Paulo, Tonho, José do Carmo, Bruno, Rafaela, Iris,

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Luís, Rosimeiry, Bete, Valdireia e Renata por emprestarem os ouvidos para escutar sobre as “Oitocentas” como um lugar de memória.

Não poderia deixar de agradecer a Carlos Henrique Nascimento meu sobrinho por recuperar documentação em notebook que apresentou defeito, o que causou um grande stress aborrecimentos, mas ao final grande alívio e satisfação após recuperação dos dados necessários à está pesquisa.

A cada um dos mestrandos da turma com quem dividir momentos e discursões nas aulas das disciplinas obrigatórias e optativas, com muito desempenho e determinação chegamos ao objetivo final parabéns a todas e todos meus sinceros agradecimentos em nome das mestrandas Andreia Rocha Santos Figueiras, Rayane Pereira de Oliveira e Amanda Marques dos Santos.

Agradeço porque chegou o desfecho da pesquisa, sei que no amanhã, lembrarei de todos esses momentos de investigação, sufoco e angústias, bem como dos momentos in loco da alegria, satisfação da descoberta das histórias e memórias para realização desse trabalho.

Agradecimentos especiais a você leitor, que teve a coragem de adentrar neste mundo de ideias que não é o de Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho nem o seu, e sim as minhas ideias e meu olhar sobre esse lugar de memória chamado Oitocentas.

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RESUMO

O presente trabalho busca verificar o lugar de memória de uma determinada unidade açucareira de Sergipe, chamada Oitocentas, sua trajetória e a transição ao longo de décadas. Trata-se um engenho bangue, usina de pequeno porte, depois engenho de fogo morto. Nosso objetivo, portanto, é tratar sobre O Ocaso da Memória: História e as memórias do Engenho Oitocentas, partindo da análise e levantamento historiográfico das obras que versam sobre a cultura do açúcar em Sergipe. Para tanto, contamos com o uso da metodologia da história oral, com depoimentos de várias pessoas ligadas aquele passado da família Vieira de Azevedo. Para o desenvolvimento deste considera-se relevante o significado da memória, implicados no ato de lembrar; falar, também trabalhamos alguns conceitos de Espaço de recordação onde utilizaremos o texto de Aleida Assmann que nos levou pensar sobre o engenho oitocentas como um lugar de memória. Nesse ocaso da memória temos um lugar memorável, que exporemos através das guardiãs, testemunhas vivas de um passado inesquecível, como já as mencionamos as depoentes a senhora Gulgar Vieira de Azevedo, senhora Nilza Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

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RESUMEN

El presente trabajo busca verificar el lugar de memoria de una determinada unidad azucarera de Sergipe, llamada ochocientas, su trayectoria y la transición a lo largo de décadas. Se trata de un ingenio bangue, una pequeña máquina, después de un fuego de fuego muerto. Nuestro objetivo, por lo tanto, es tratar sobre el Ocaso de la Memoria: Historia y las memorias del Engenho Octava, partiendo del análisis y levantamiento historiográfico de las obras que versan sobre la cultura del azúcar en Sergipe. Para ello, contamos con el uso de la metodología de la historia oral, con testimonios de varias personas ligadas a aquel pasado de la familia Vieira de Azevedo. Para el desarrollo de éste se considera relevante el significado de la memoria, implicados en el acto de recordar; y en el caso de que se trate de una obra de arte o de una obra de arte o de una obra de arte o de una obra de arte. el pasado inolvidable, como ya las mencionamos las depoentes a la señora Gulgar Vieira de Azevedo, señora Nilza Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UFS - Universidade Federal de Sergipe

AGJES - Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe

BPED - Biblioteca Pública Epifânio Dória

IHGSE - Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

BICEN - Arquivo Biblioteca Central da UFS – SE. IAA - Instituto do Açúcar e do álcool

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01...59

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LISTA DE FIGURAS

Imagem 1 - Baú de Graziela Vieira de Azevedo...63

Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da usina Oitocentas...68

Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal...70

Imagem 4 - Vista da casa grande do engenho Oitocentas...71

Imagem 5 – Planta Baixa do Engenho Oitocentas...:...72

Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um riacho...73

Imagem - 7 - Ângulo Frontal da Casa Grande das Oitocentas...77

Imagem 8 - Representação e disposição da mobília, quadros...77

Imagem 9 - Cristaleira e pilão e mão de pilão...77

Imagem 10- Conjunto de cadeira comprada em Leilão no Palácio do Governo...78

Imagem 11 - Representação da Usina Oitocentas...80

Imagem 12 - Senhor José Paes de Azevedo Sá...82

Imagem 13 - Alguns dos filhos de Juca das Oitocentas...84

Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo...85

Imagem 15 - Temístocles Vieira de Azevedo...89

Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo...92

Imagem 17 - Capitão Agliberto Vieira de Azevedo e a esposa Maria da Glória Oliveira de Moura Castro...96

Imagem 18 - Oswaldina Vieira de Azevedo- Enfermeira...97

Imagem 19 - Ibelza e Lygia Vieira de Azevedo...99

Imagem 20 - Graziela Vieira de Azevedo...99

Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal...102

Imagem 22 - Walter Vieira de Azevedo e a esposa Creuza Dantas da Silva...103

Imagem 23 - Gulnar Vieira de Azevedo...105

Imagem 24 - Oratório do Engenho Oitocentas...107

Imagem 25 - Nilza Vieira de Azevedo – Odontóloga- Empresária...109

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...16

I Capítulo – Tempos de Açúcar...26

II Capítulo – Rosário do Catete: O lugar do lugar...44

III Capítulo – O lugar, as coisas e as pessoas – o ocaso da memória...76

CONSIDERAÇÕES FINAIS...114

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16 INTRODUÇÃO

Na manhã de segunda feira, 30 de julho de 2014, tivemos nosso primeiro contato, dos muitos que fizemos, in loco, com a casa grande do Engenho Oitocentas1. Adentramos as portas do lugar e nos deparamos com uma realidade que até então parecia surreal, pois tivemos dificuldades em encontrar os responsáveis por aquele lugar de memória.

Retornamos por diversas vezes neste itinerário quando foi necessário fazê-lo, para fotografar o acervo iconográfico e toda parte interna e externa, com imagens panorâmicas e frontais. Inicialmente, com a equipe do projeto Massapê, acompanhado do seu coordenador, o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, depois por fotógrafos contratados que nos acompanhou a fim de fotografar in loco e munir a presente pesquisa de imagens e informações que compõem parte de seu conteúdo.

Sempre que voltávamos àquele cenário e ambiente rural, ficávamos imaginando e vislumbrando a grandeza daqueles canaviais no passado histórico, o descampado verde e formoso rio Cotinguiba, que fertilizava as terras do Rosário e regiões circunvizinhas, lugar de riquezas, zona do açúcar de Sergipe; terras dos engenhos, terras da cana do açúcar, e também do rio Siriri, que servia de hidrovia para o transporte do produto final o açúcar.

Rosário do Catete se tornou terra dos senhores de engenhos, que com o passar dos anos foram se transformando em usineiros por força das circunstâncias socioeconômicas e a crise que cada época foi declinada em relação a acompanhamento do processo de modernidade com máquinas a vapor, turbinas e moedas voltadas ao mundo industrial e alguns proprietários não acompanhou as mudanças em relação à modernidade tanto no fazer como no maquinário, pois eram onerosos compra-los e mantê-los.

O Engenho Oitocentas é um dos sobreviventes do patrimônio cultural sergipano, notadamente rural, que foi de pequeno porte, passou por transição sendo a vapor, usina e

1 O Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá. Após o falecimento do filho José Paes

de Azevedo Sá, atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo. Está localizado as margens da BR 101, no Município de Rosário do Catete-SE, sob administração da irmã da proprietária, Gulnar Vieira Azevedo, com auxílio de um Sobrinho o senhor Nelson Tavares Azevedo de Brito.

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17 engenho de fogo morto2. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século XX, restando uma casa grande que possui diversas peças mobiliárias e acervo iconográfico, com diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.

Esse acervo pertenceu aos antigos donos: José Paes de Azevedo Sá e sua esposa, Cecília Vieira de Melo. A casa grande encontra-se em bom estado de conservação, com algumas casas de moradores3 e a antiga usina, que atualmente funciona um curral. Situa-se numa baixa de terreno, quase em frente da Casa Grande, que fica em local mais elevado. Há, também, nas proximidades um tanque de água: um pequeno rio margeia a propriedade. Esse conjunto de construção do final século XIX possui valor histórico, memorável e afetivo, é uma das referências do passado da sociedade açucareira sergipana e do Brasil.

A casa grande do Engenho Oitocentos tornou-se referencial de lugar de memória, com suas representações diversas, inclusive afetivas, pois faz parte do convívio dos familiares e remanescentes. Teve valor funcional, proveito, sua utilidade como unidade produtora de açúcar cristal, conforme depoimento da depoente Gulnar Vieira de Azevedo, de que trataremos mais adiante. Em relação à representação de memórias cumulativas, destaque para as lembranças, as recordações, sentimentos de alegria, melancolia sem falar nos costumes do cotidiano como afirma Michel de Certeau4: “O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia ou que nos cabe em partilha, nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou viver nesta ou noutra condição, com fadiga, com este desejo...o cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É a história a meio caminho de nós mesmos, quase em retirada, ás vezes velada. Não se deve esquecer este mundo memória”.

2 REGO, José Lins do, 1901-1957. p.21. O exemplo do livro Fogo Morto de José Lins do Rego, que retrata a

situação dos engenhos o autor, com efeito, retoma o ciclo de açúcar, nos descreve, nos dá mesmo um exemplo singularmente provocante, de uma sociedade que, boa ou má, estava perfeitamente assentada e sedimentada no seu jeito de ser, em uma cultura da aristocracia açucareira.

3 DABAT, Christine Rufino. Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores

rurais na zona canavieira de Pernambuco, Christine Rufino Dabat – 2. ed. Ver. – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012. Um traço relevante em relação aos moradores de engenho vem como uma forte tradição e como uma representação da cultura regional das elites canavieira em diversos locais do Nordeste e não foi diferente em Sergipe em Rosário do Catete que segue o modelo elabora e descrito por José Lins do Rego e Gilberto Freire quando descreve de maneira bucólica, a vida do plantador e a vida do senhor de engenho e de seus dependentes agregados a casa grande esse modelo foi denominada a civilização do açúcar.

4 CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce

Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2013.

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18 De certo modo, foi o interesse pessoal que nos moveu no estudo deste objeto de pesquisa e nos despertou para estudo da microrregião da Cotinguiba Sergipe, onde se encontra a cidade de Rosário do Catete, uma das localidades que mais produziu açúcar em Sergipe, do final do século XVIII ao início do século XX. Parte da equipe do Projeto Massapê:

Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/Se, coordenado pelo

professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, estivemos in loco, como já frisamos, para visitarmos por diversas vezes e percebemos que existem as Casas Grandes dos engenhos Paty, Oitocentas, Jordão em bom estado de conservação, outros em ruínas a exemplo o engenho Santa Bárbara ou o que restou dele, bem como de outras unidades da época da cultura do açúcar nessa região.

Durante as atividades do referido projeto, tivemos também a oportunidade de vislumbrar de perto o legado deixado pelos tempos da econômica canavieira como a casa de veraneio do engenho Jordão, em bom estado de conservação, da mesma forma a casa grande do antigo engenho Paty, que foi restaurada pela empresa Vale do Rio Doce. Quando esta empresa veio instalar-se em Sergipe com as perfurações em busca de minerais, causou danos a muitas casas na região de Rosário de modo que foi responsabilizada para fazer os reparos necessários. Outro modelo, ainda que em ruínas, do que restou dos engenhos pedras, casa grande do engenho Caraíba e de Santa Bárbara são testemunhos de um tempo de opulência e grandeza nos tempos da aristocracia açucareira.

Tudo isto nos aguçou a necessidade de refletir sobre a importância e o desenvolvimento que a indústria do açúcar alcançou, seja por meio dos engenhos ou das usinas a vapor. Como também a levar adiante uma análise de referências historiográficas acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais.

Esta pesquisa baseia-se, portanto na construção de fatos observados através da revisão historiográfica sergipana, e do testemunho vivo das guardiãs das memórias das Oitocentas as depoentes Gulnar Vieira de Azevedo5, Nilza de Azevedo Brito6, Solange Azevedo Bastos7, e

5 Contadora aposentada da Fazenda Federal uma das filhas do senhor José Paes de Azevedo Sá, ela quem

administra as propriedades com auxílio de um Subrinho, pois sua irmã atual proprietária encontra-se acamada. Dona Gulnar Vieira de Azevedo nascida no engenho oitocentas é uma das memórias viva da família.

6 Odontóloga é afilha mais nova do senhor José Paes de Azevedo Sá, atualmente com 89 anos de idade e

proprietárias da rede de sapatos infantis Pimpolho, em Vitória do Espirito Santo e franquias em Portugal e outros países da Europa.

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19 o senhor Luiz Ferreira Gomes8. É importante destacar que a família vem preservando sua história e a memória do Engenho Oitocentas. Um espaço de recordação, quem tem tido os cuidados nos reparos necessários, para que a cultura material da casa grande e seus pertences estejam sendo perpetuados ao longo dos anos. Este acervo está com a família há dois séculos e meio, pois pertenceu aos seus avós paternos, Manoel Paes de Azevedo Sá e Dona Ernestina Teles de Menezes. A proprietária mantém o Engenho Oitocentas em bom estado de conservação e para isso faz questão de preservar o padrão e a estrutura da propriedade como veremos mais adiante.

Metodologicamente, nos valemos do acervo da família Azevedo buscando estabelecer relações com diversas formas de manifestação da memória, por meio de entrevistas em que foram relatadas as memórias do lugar, a partir do convívio, do vivido no engenho, no contato com as gerações anteriores. Para tanto, utilizamos um questionário padrão relacionado ao engenho e aos seus proprietários e realizamos em datas diferentes e gravadas em nosso telefone celular e depois foram feitas à transcrição.

Contamos com as fotos do banco de dados do projeto Massapê e com o auxílio do fotógrafo Augusto Gentil9, que fez as imagens aéreas, panorâmicas e frontais do Engenho Oitocentas, com o uso de drone; bem como algumas fotos externas e internas, feitas por José Aquino, as quais foram utilizadas para compreender a representação do cenário e do espaço das Oitocentas.

Alguns autores que compõem a historiografia sergipana foram importantes para nossa pesquisa, dado que apontam para a singularidade do engenho enquanto lugar de memória e sua relação com a cultura açucareira, tais como: Orlando Dantas10, Katia Afonso Silva Loureiro11.

7 Hoje, com 83 anos de idade, residente e domiciliada em Belo Horizonte-MG, neta do senhor José Paes de

Azevedo Sá. Viveu também no Engenho Oitocentas e como uma das netas mais velhas, conheceu o lugar e descreveu um pouco do cotidiano.

8 O Sr. Luiz Ferreira Gomes antigo morador da localidade, foi um dos personagens do documentário Massapê

ele relata sobre o Oitocentas e sobre a personalidade do antigo proprietário.

9Augusto Gentil (In Memoriam) fotografou o Engenho Oitocentas em 20 de abril de 2018 e veio a óbito em 11

novembros de 2018.

10 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

1980. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.

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20 Ainda como aporte referencial, fizemos um levantamento historiográfico que nos ajudou na compreensão da construção do conhecimento da cultura do açúcar através de obras nacionais tais como: Casa grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e O Nordeste, de Gilberto Freyre; Arquitetura e Engenho, de Geraldo Gomes; e da historiografia sergipana:

Sergipe: fundamentos de uma economia dependente e Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho Pedras, de Maria da Gloria Santana de Almeida; Arquitetura do Açúcar, Katia

Loureiro; Memórias de Família, de Ibarê Dantas; Um Pé Calçado e outro no Chão, Sharise Piroupo do Amaral; História de Sergipe, Felisbelo Freire; Sergipe Patriarcal e O Problema

do açucareiro em Sergipe, de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia, Memórias de Dona Sinhá e A carta da condessa, Samuel Albuquerque; e Doce Província, de Sura Souza Carmo.

Desse conjunto, destacamos o livro Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho

Pedras, de Maria da Glória Santana Almeida, 1975. A autora trata das características da

produção do açúcar, enveredando pelo viés econômico, descrevendo o funcionamento do engenho Pedras, localizado na região do Cotinguiba.

Outra obra dessa mesma autora é Sergipe: Fundamentos de uma economia

dependente, publicada em 1984. Em trechos da obra, é visível a influencia de Gilberto Freyre,

notadamente de Sobrados e Mucambos. A autora faz discute a transição do trabalho escravo para o livre. É notória a presença do êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os deslocamentos de grupos humanos dos campos para cidade. Outra semelhança é a relação entre comerciantes, senhores de engenhos, a busca pela ostentação, opulência e luxo demostrada através de suas casas grandes além da importância dada á educação dos filhos nos grandes centros urbanos do país.

A obra de Josué Modesto dos Passos Subrinho, Reordenamento do Trabalho:

Trabalho Escravo e trabalho livre no Nordeste Açucareiro. Sergipe – 1850 -1930, a nosso ver

constitui-se numa obra de referência pela eficaz reconstrução histórica econômica de Sergipe e suas mudanças estruturais, além de apresentar dados da produção canavieira daquele período.

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21 Outra obra de relevância na historiografia sergipana é a de Orlando Dantas12, de cunho memorialista, onde se nota uma forte influência de Gilberto Freyre, no que pese a descrição da casa grande e de todo o conjunto estrutural do engenho, a questão da miscigenação e questão da genealogia.

Também fizemos uso de alguns impressos que consideramos significativos para nossa pesquisa. Essas fontes possibilitaram a nossa compreensão acerca das modificações ocorridas na propriedade Oitocentas ao logo da sua existência e as adaptações de ordem material sendo que nesse período aconteceram fenômenos de amplas transformações como mudanças no tipo deixou de ser engenho e passando a ser usina devido às transformações ocorridas no setor açucareiro nos idos do século XIX e as primeiras décadas do século XX quando as oitocentas deixa ser engenho e passa a ser usina de pequeno porte logo não tardando a ser usina cooperada, ou seja, fazia parte de uma cooperativa que funcionava no engenho Jurema.

Inicialmente, da revista Brasil Açucareiro, datada de 1935 a 1943, 1949. Alguns de seus números encontram-se no acervo da Biblioteca Pública Estadual Epifânio Doria e nos forneceram dados acerca da cultura do açúcar, principalmente sobre a existência e importância da economia e da exportação para toda a Europa até o surgimento do açúcar de beterraba nas Antilhas.

A Revista Brasil açucareiro, aborda a legislação vigente da época, modificada naquele contexto histórico de produção açucareira, controlando assim a produção das unidades produtoras; também informa sobre a produção nacional dos engenhos mostrando as causas e consequências de problemas nas safras repercutindo na economia das elites rurais. Nela, pudemos encontrar dados sobre cotação e produção do açúcar do Engenho Oitocentas, sobre seu funcionamento e de seus proprietários.

Trabalhamos, também, com os jornais O Rosário13 exemplares do acervo da hemeroteca da Biblioteca Epifânio Doria. Trata-se de um periódico que foi editado na cidade

12 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

1980.

13 Esse impresso circulou por muitos anos sobre várias direções e redação, entre eles: Pedro Silvino de Andrade,

Francisco Polito, Antônio Calazans de Resende (1933) e diversos redatores sob direção de J. Eduardo e tendo como redator o senhor Saturnino V. Dantas (1935). Contudo, segundo informações do próprio periódico, ele foi o segundo jornal que surgiu na cidade de Rosário do Catete, pois o primeiro tinha por nome O Rosarense que havia surgido no ano de 1893. Os Exemplares foram cedidos pela própria direção e redação do Jornal o Rosário a pedido do Senhor Epifânio Doria que em 17 de setembro de 1933 sendo atendido pela direção do jornal,

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22 que lhe empresta o nome, de cunho político, critico popular, humorístico, noticioso e independente. Encontra-se em bom estado de conservação, são 88 edições completas contendo quatro páginas. Estas edições datadas dos anos de 1933 a 1936 tendo como fundador o coronel João Machado Subrinho14. Em alguns exemplares aparecem nome de personalidades da sociedade Rosarense, principalmente os padres com as celebrações religiosas, comerciantes da cidade e os senhores de engenhos Salústio Vieira de Melo proprietário do engenho Santa Bárbara, José Paes de Azevedo Sá senhor das oitocentas, José Soltero Vieira dono do engenho Sítios Novos entre outros.

Outro jornal, O Comércio que informava sobre o cotidiano da sociedade Mauriense e das cidades circunvizinhas, a exemplo de Rosário, Santo Amaro. Traz anúncios de atividades econômicas, dos estabelecimentos comerciais e das festividades religiosas, festival de literaturas e rodas de leituras no gabinete de leitura de Maruim e de personalidades de cidades vizinhas que participavam dessas atividades, além de citar os nomes de seus colaboradores descreve sobre os filhos dos senhores de engenhos dentre eles analisamos o Rosário edição de número 4, p. 2 datado de 1 de setembro de 1933 vejamos como se refere ao filho do Juca das Oitocentas “ Pizou ligeiramente em seu torrão natal em dias desta semana o distinto e competente aviador da nossa esquadra o Capitão Agliberto Paes de Azevedo estimado filho do nosso assignante e amigo coronel José Paes de Azevedo Sá.”

A escolha por um ou mais referenciais teórico-metodológicos nem sempre é uma tarefa das mais confortáveis numa pesquisa. Nesse sentido, nos valemos de alguns que procuram não somente nos apontar nortes em nossas análises, mas também de aportes, tais como questões relativas à história oral, à memória, ao lugar de memória e aos espaços de recordação, presentes neste trabalho, com o auxílio de pesquisadores, como Pierre Nora e a problemática dos lugares de Memória: “(...) a memória é um fenômeno sempre atual, um elo

vivido no eterno presente: a história, uma representação do passado15”.

concedendo todos os exemplares que já haviam sido editados até então, afirma a edição de número 8 datado de 1 de outubro do mesmo ano do Jornal o Rosário esses foram doados a Biblioteca Pública Epifânio Dória no ano de 1933. Hoje esse jornal e outros já se encontram digitalizado na biblioteca através do projeto da universidade Federal de Sergipe. O projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes históricas...: Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos.

14 Ex-prefeito da cidade de Rosário do Catete e um dos editores do periódico O Rosário e seu fundador.

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23 No que se refere à relação entre a história oral e a memória, Jacques Le Goff16 aponta-nos que se apresentam ora em paralelo, ora em concordância com a própria história. A memória estaria atuando como um documento na medida em que é capaz de reelaborar as recordações que são vestígios mnemônicos do indivíduo sendo delimitada através do tempo e espaço histórico específico. Essas memórias são como pistas para reafirmá-las recorrendo às recordações dos indivíduos fazendo com que o tempo e o espaço estejam inseridos dentro de um determinado contexto social seja individual ou coletivo.

Essas memórias tem a propriedade de conservar certas informações, remete-nos em números, e liga a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas ou que considera como passadas.

O autor Le Goff17 afirma que: “a memória é aquela que cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a servidão”.

Já os estudos feitos por Halbwachs18 contribuíram para a compreensão dos quadros sociais que compõe a memória. Está memória coletiva tem relevância, pois tem a finalidade de contribuir para construir o sentimento de pertencimento a um grupo de passado comum, vale salientar que outro aspecto da memória tem intima relação com o lugar, ou seja, tem nos lugares uma referência para a sua construção, contudo isso não é condição para a sua preservação.

Também utilizamos os conceitos de recordação de Aleida Assmann19 que afirma que as recordações não podem apreender por nós mesmos nem pode ninguém. Ensina-nos que as recordações procedem basicamente de forma reconstrutiva; sempre começa no presente e avança inevitavelmente para um deslocamento, uma deformação, uma distorção, uma revaloração e uma renovação do que foi lembrado até o momento da sua recuperação.

16 Le Goff (apud Reis). Na introdução da monografia de Aoron Reis Sena Cerqueira: História Memória e

Sentimento na trajetória de Josefina Cardoso Braz.

17 LE Goff, Jacques, 1924-2014. História e Memória/ Jacques Le Goff: tradução Bernardo Leitão... 7º ed.

Revista- Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2013.

18 HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

19 ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:

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24 Nesse sentido podemos observar o Engenho Oitocentas como um espaço de recordação, um lugar memorial e ao mesmo tempo em que passou por um processo de transformação e revaloração por parte de diversas memórias, sejam coletivas ou individuais.

O processo estende-se do presente quando acusado pela recordação para o passado, pois não são apenas as pessoas, indivíduos que constituem uma memória, para si mesmas, mas um local, um lugar de memória um espaço de recordação pode sim estabelecer identidade, conquistar, confrontar e legitimar sua história e memória quando são fixadas metas, sejam elas em relação a memórias, recordação cultural sejam através de testemunhos, imagens iconográficas, ou escritas. No processo de transformação, as formas de cultivo do saber são diversas e acumuladas, representadas ou mesmo silenciadas.

A questão que nos impulsionou rumo a uma delimitação do tema está relacionada à exiguidade de trabalhos dentro do nosso período que se refiram e se detenham, de maneira específica, em propriedades que tenham sido unidades produtoras de cana de açúcar e tendo como produto final o açúcar isso nos idos do século XX. A presente pesquisa constitui-se de três capítulos.

O primeiro capítulo, cujo título: Tempos do Açúcar, dedica-se á revisão da historiografia sergipana, situando a história do açúcar em Sergipe a partir de um diálogo com a que fora escritor a respeito. Fizemos uma retrospectiva, a nosso ver necessária, de um corpo significativo de autores e obras que tratam sobre a cultura açucareira, seu contexto sócio, político e econômico.

No segundo capítulo – Rosário do Catete: o lugar do lugar, fizemos um apanhado histórico do município de Rosário do Catete, sua origem, sua emancipação política e suas festividades religiosas, do desenvolvimento da lavoura da cana de açúcar, bem como acerca dos bens patrimoniais móveis, e os eclesiásticos as igrejas e as capelas dos engenhos e casa grandes, e a distribuição dos principais engenhos em seus territórios, a exemplo de: Paty, Caraíbas, Jurema, Serra Negra, Santa Bárbara e o Engenho Oitocentas.

Por fim, no terceiro capítulo denominado Os lugares, as coisas e as pessoas - Ocaso da memória, nossa atenção está voltada para a família Vieira de Azevedo, as pessoas do Engenho Oitocentas, notadamente Seu Juca das Oitocentas, e, a partir da narrativa e descrição

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25 de suas memórias familiares, lançar novas luzes sobre a história do lugar, sem se escurar dos elementos da chamada cultura material, como fotos e cartas.

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26 I

TEMPOS DE AÇÚCAR

A presença temática da cultura do açúcar na escrita da historiografia nacional e sergipana é muito significativa, com seus contextos e suas peculiaridades, de sorte que para este trabalho não temos como não fazer uma análise geral de boa parte das que tratam sobre o assunto, por entendermos que a presente pesquisa trabalha com delimitações específicas com engenhos que existiram no final do século XIX e XX.

Em vista disso, também aqui se faz necessário, para uma melhor compreensão, um recuo no tempo, uma verificação de como ocorreu o processo de ocupação do espaço das unidades açucareira em Sergipe e a formação do processo econômico. Tornou-se indispensável compreendermos as alterações ocorridas ao longo das décadas bem como as ações desse processo histórico da economia açucareira e o processo de produção da monocultura da cana de açúcar, sendo o meio mais viável para a Coroa Portuguesa ocupar as terras brasileiras e sergipanas e assim facilitar o comércio e escoamento dessa produção no período do Brasil Colônia, Brasil Império ou até mesmo nos anos da República. Cada época com seu contexto, com seus investimentos, mudanças, problemas, dificuldades que em época distinta levaram muitos senhores de engenho ao declínio econômico financeiro.

Nossa intenção foi a de compreender o cenário que nos permitiu fazer uma reflexão sobre a importância e o desenvolvimento que a engenharia20 do açúcar alcançou, seja por meio dos engenhos banguês, engenho a vapor ou usinas, e como estes vivenciaram seu apogeu e seu declínio.

Assim, no caminho percorrido em nossa pesquisa, utilizamos do método do paradigma indiciário formulado para compreender o silêncio das fontes que são referências para conceituar, legitimar a história dos nossos engenhos da aristocracia açucareira. Conforme, nos

20 O sentido da palavra engenharia no texto supracitado deve ser analisado do ponto de vista da produção

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27 aponta Carlo Ginzburg: “(...) se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais,

indícios – que permitem decifrá-la21”.

Para tratarmos sobre historiografia tomamos o conceito de Charles Oliver Coronel22, que certifica ser o termo nada mais que a história de um discurso escrito e que se afirma como sendo verdadeiro que os homens têm sustentado acerca do seu passado. Ele considera ser a historiografia o melhor testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas ou que tende a desaparecer, inclusive a nossa.

Nesse sentido, estamos convictos que o fazer historiográfico requer e envolve vários itens a serem investigados. Sabemos que no campo da história, há diversas correntes historiográficas, com seus recortes temáticos, objetos, fontes e o diálogo com áreas afins, sabemos que não encontramos como receitas prontas.

Dessa maneira, entendemos ser possível enfrentar as necessidades e lacunas impostas no âmbito da escrita da historiografia sergipana. As fontes que foram exploradas já estão publicadas com exceção de uma que se encontra no prelo, obra organizada pelo professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, como um dos produtos do projeto Massapê23.

Para fundamentar esse capítulo trataremos de obras que não devem ser esquecidas, ainda que não haja engenhos em funcionamento, mas, temos a demonstração de alguns que resistiram ao tempo, tais como as casas grandes do Engenho Paty, Engenho Oitocentas, Engenho Jordão fazem parte de um passado memorável; outros existem nas memórias de testemunhas que estiveram in loco naqueles ambientes.

Mesmo que essas obras tenham sido escritas em contextos e séculos diferenciados são de grande importância para a escrita da história, tais obras trazem conteúdos sobre quem eram os proprietários, onde se localizavam e quais foram às unidades produtoras mais bem sucedidas e opulentas na doce Cotinguiba parafraseando Sharise Piroupo24 que em seu livro pontua no primeiro capítulo sobre o Cotinguiba.

21 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e

História. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.177.

22 CARBONELL, Charles- Oliver. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1981, p.6.

23 Projeto Massapê: Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/SE Do GPCIR (Grupo

de Pesquisa Identidades e Religiosidades) sob coordenação do Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.

24AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

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28 Foram analisadas respectivamente: História de Sergipe (1891), de Felisbelo Freire; os trabalhos de Maria da Glória Santana Almeida: Uma unidade açucareira em Sergipe - o

engenho Pedras (1976), Sergipe: fundamentos de uma economia dependente (1984), Nordeste açucareiro: desafios de um processo do vir a ser capitalista (1993) e Nota prévia sobre propriedade canavieira em Sergipe (Século XIX); Arquitetura do Açúcar (1999), de

Kátia Loureiro; Sergipe República (2004); A História de Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel:

O Patriarca do Serra Negra e a política Oitocentista em Sergipe (2009); Memórias de Família (2013); Imprensa Operária em Sergipe (2016), todas estas de Ibarê Dantas; Um Pé Calçado e outro no Chão (2012), de Sharise Piroupo do Amaral; Sergipe e a política (1986),

de Ariosvado Figueiredo;

Temos ainda as seguintes obras: Sergipe Patriarcal (1980), O problema açucareiro de

Sergipe (1944) de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia (2015), Memórias de Dona Sinhá

(2005) e A Carta da Condessa (2016), uma tríade do professor Samuel Albuquerque; História

econômica de Sergipe (1987) e Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro

(2000), de Josué Modesto dos Passos Subrinho; alguns trabalhos de Maria Thetis Nunes:

Sergipe Provincial I (2000) e Sergipe Provincial II (2006); Capítulos de história da historiografia sergipana (2013), de Antônio Fernando de Araújo Sá; Álbum de Sergipe,

Clodomir Silva (1920), Revista Brasil Açucareiro (1935 a 1970). Em A república das usinas:

Um estudo da história social econômica do Nordeste, de Gadiel Perucci, Doce Província? O cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista, de Sura Souza Carmo (2007),

entre outras que citadas no corpo do texto.

O critério de seleção dessas obras foi o fato de serem elas destaquem na historiografia sergipana nas áreas da cultura do açúcar, economia e formação das unidades produtoras da monocultura da cana de açúcar e da sociedade aristocrata patriarcal.

Vale salientar que, concomitantemente, estaremos dialogando com as obras da historiografia nacional inseridas no corpo do texto ao decorrer da escrita deste trabalho à medida que for pertinente faremos o contraponto entre as obras observando as concordâncias e críticas entre os autores. Não poderíamos deixar de dialogar quando pertinente com as obras: Casa grande e Senzala (1987), Sobrados e Mocambos (2013), Nordeste (1937), de

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29 Gilberto Freire; Arquitetura e Engenho (2013) e Antigos Engenhos (1994), de Geraldo Gomes; Engenhos do Recôncavo Baiano (2009), de Esterzilda Berenstein de Azevedo;

Segredos Internos (1985), de Stuart Schwartz; Engenho e Memória (2002), de Luciano Trigo, Moradores de Engenho (2012), de Christine Rufino Dabat. Após essa seleção das obras

retomaremos para as fontes da revisão historiográfica de Sergipe e quando necessário interagimos com as da historiografia nacional.

Em História de Sergipe25, obra referencial organizada pelo intelectual sergipano Felisbelo Freire, além de tratar de aspectos gerais do processo histórico sergipano, seu estudo foi composto por cartas e representações, ofícios, requerimentos, muitos transcritos na íntegra, intitulada um marco inaugural da historiografia sergipana, ainda que tenham sido publicadas no final do século XIX, suas características teóricas reforçam os valores de seu tempo. O livro analisa documentos inéditos bem como as cartas de sesmarias, e por isso é considerando como uma primeira tentativa de interpretação cientifica para a escrita historiográfica. O autor, também faz reflexões e questionamentos no campo político, cultural e social no contexto do início do Brasil República.

Segundo Sura Souza Carmo (2017), outra questão a ser analisada de imediato foi a “(...) exclusão de análise da obra de Felisbelo Freire, História de Sergipe, obra está

publicada em (1891), nesse período, o Freire pernambucano não havia nascido26”.

Em sua obra, Felisbelo Feire analisa a concepção de história geral, em especial a história de Sergipe com suas características voltadas para a história política, pois era defensor da república e buscava documentar os feitos de seu contexto.

Analisar a obra História de Sergipe de Felisbelo Freire é pensar o contexto em que foi escrito logo percebemos questões políticas, sociais e culturas de seu contexto onde vivenciava o início da republica onde partidos políticos se massacravam por causa de suas divergências. A obra dele está inserida na concepção da história geral, em especial de Sergipe que é diferenciada pela investigação documental marcando assim o término século XIX que estava sob a influência do positivismo27.

25FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do

estado de Sergipe 1977.

26CARMO, Sura Souza. Doce Província? O cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista. / Sura

Souza Carmo – Aracaju: IHGSE, 2007. p.71.

27 GALLO, Silvio. Filosofia: experiência do pensamento. 2014.p.242-243. Positivismo – corrente filosófica

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30 Ainda para Sura Souza Carmo, (2017), “(...) no processo historiográfico de Sergipe há

um salto grande pulando do final do século XIX para a década de 1970 para o século XX28”.

Passamos a seguir à análise de uma importante pesquisadora da historiográfica em Sergipe, Maria da Glória Santana de Almeida, que notabilizou junto à organização dos arquivos públicos e do judiciário do Estado, mas também por sua contribuição foi sua produção intelectual sobre a cultura do açúcar em Sergipe29. Glorinha, como carinhosamente conhecida, com suas reflexões comprovou que houve o processo de fragmentação dos engenhos no século XIX.

Podemos então confirmar essas concepções da historiadora sergipana, baseado também nas reflexões de Suely Robles Reis de Queiroz, que afirma:

“Para evitar a transformação dos engenhos em simples fornecedores de cana, utilizou-se o sistema parental mantendo assim os bens móveis como padrão social na aristocracia rural, ou seja, os bens e a propriedade ficavam entre a própria família30 (1979, p.66).”

Já em seu artigo Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho Pedras31, publicada em 1976, ela faz a partir de fontes primárias, uma narrativa dessa unidade açucareira, tratando acerca das características da produção enveredando pelo viés econômico, tem um valor no âmbito da história econômica de Sergipe, onde a abordagem descreve o funcionamento do engenho Pedras no atual município de Maruim, localizada na região do Cotinguiba32, sendo uma obra de relevância aos que se dedicam a esse campo de pesquisa.

Maria da Glória Santana de Almeida publicou alguns livros relevantes para a história econômica. Entre eles, Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente publicada em

198433. Em nossa análise, podemos perceber que a obra não tem viés culturista, mas um viés

28 CARMO, Sura Souza. Op. Cit. p.110.

29 SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de

Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013, p.100.

30 QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Historiografia do Nordeste. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo,

1979. p.66.

31 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Uma unidade açucareira em Sergipe – o engenho Pedras. Separata

dos Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Aracaju – setembro de 1975). São Paulo, 1975.

32 AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012. Cotinguiba região de maior produção açucareira de Sergipe de solo massapê, argilosos, escuros e pesados que retivessem bem a umidade e eram preferidos para o cultivo da cana-de-açúcar.

33 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente; Petrópolis:

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31 econômico com características relacionadas com a monocultura da cana de açúcar, mão de obra escrava e dependência da Bahia para o escoamento da produção. E nos informa acerca da importância do comércio do açúcar e do algodão com o exterior e por meio das diversas nacionalidades e representantes europeus como os existentes nos centros comerciais34 do Vale do Cotinguiba.

Maria da Glória Santana de Almeida (1993), Em Nordeste Açucareiro35, este resultado de sua dissertação de mestrado em História, defendida na universidade de Brasília, ela faz suas investigações no âmbito das singularidades regionais da economia açucareira sergipana isso a partir de fontes primárias: Documentos, inventários, processos cíveis, testamentos, jornais, livros de notas entre outras fontes. Conforme análise da autora os desafios da modernidade e da expansão capitalista na economia açucareira, e a persistência nos engenhos bangues, explica em parte, o atraso do sistema de transporte e a falta de investimentos do poder público em políticas que garanta aos proprietários da cana de açúcar melhorem condições de produção.

A partir desse diálogo percebemos que há uma semelhança com a obra de Gilberto Freire: Sobrados e Mucambos, isso em função da importância dada pelos senhores de engenhos e comerciantes ao gosto pelo luxo, ostensão e em relação à educação dos filhos em conduzi-los para os grandes centros educacionais urbano do país. É possível perceber a relação com outra literatura de Gilberto Freyre: Sobrados e Mucambos. O autor faz outros questionamentos como a transição do trabalho escravo para o livre. É notória a presença do êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os deslocamentos de grupos humanos dos campos para cidade.

Sabemos que mesmo com alguns avanços da usina, o pequeno banguê só resistiu até a primeira metade do século XX. Entretanto, “se o pequeno bangue permitiu a distribuição de riqueza entre muitos, a usina matará o pequeno produtor e ocasionará a concentração de terra nas mãos de poucos e a separação definitiva do homem dos meios de produção” 36.

34As casas comerciais estrangeiras Sharamn e Cameron Smith. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema

Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.20.

35 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993.

36 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.

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32 Podemos relacionar inúmeras obras que fazem parte desse universo da cultura da cana de açúcar, que estão ligadas a temática supracitada e podemos relacionar também a obra de Esterzilda Berenstein de Azevedo37, que versam sobre as transformações estruturais dos engenhos no século XIX em terras das baianas.

Em outro contexto, trata também dessas transformações estruturais nas unidades açucareiras, onde podemos fazer uma possível comparação com a obra de Maria da Glória: A Propriedade Rural - Nota Prévia sobre Propriedade Canavieira em Sergipe. (Século XIX). Para finalizar as observações acercas das obras de Almeida entendemos que suas obras são fartas de vestígios e fios condutores para serem estudados por outros pesquisadores como, por exemplo, o estudo do cotidiano dos escravos assunto que não versaremos pois não faz parte do nosso objetivo maior que é perceber os laços e o cotidiano sobre os engenhos e a economia açucareira, contudo vale salientar que a autora deixa informações relevantes de como Sergipe participou do cenário na nova atividade econômica voltada para agricultura uma vez que as circunstancias se alternaram, no final do século XVIII, tendo assim o início a decadência da produção açucareira no nordeste, devido a grande produção de açúcar nas colônias europeias nas Antilhas e outras circunstancia internas foi a corrida pelo ouro o chamado ciclo do ouro das Minas Gerais.

Os tempos do açúcar vieram a ter valor após o esgotamento dessas minas, e a conscientização da importância da agricultura, sem dúvida podemos perceber parafraseando a frase celebre de Felisbelo Freire quando afirma que Sergipe antes de ser agricultor foi pastor por Sergipe não ter acompanhado a fase áurea da economia açucareira, que fez a riqueza e o desenvolvimento do Nordeste nos séculos anteriores, nesse período, as terras da capitania de Sergipe Del Rey as planícies férteis e os sertões eram ocupados para a criação de gado que serviram de alimento para as zonas produtoras vizinhas Bahia e Pernambuco.

Outra área dentro da nossa historiografia é a arquitetura sob o olhar e reflexão de Kátia Afonso Silva Loureiro, na sua obra: Arquitetura do Açúcar. Pontua sobre as características históricas e arquitetônicas de alguns engenhos sergipanos dos séculos XVII ao XIX. A autora faz um mapa da arquitetura do açúcar, tendo o conjunto arquitetônico Tejupeba, antigo Colégio dos Jesuítas, erguido na Fazenda Iolanda município de Itaporanga D’Ajuda

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33 propriedade de Dona Rute Fonseca Rollemberg Mandarino, esse conjunto arquitetônico casa e capela como sendo o mais antigo exemplar de construção antiga que ao lado do São Felix, em Santa Luzia do Itanhy um engenho do centro sul fazem parte do século XVII. Nesta obra a autora elenca 31 monumentos da arquitetura açucareira das áreas principais onde vicejou a cultura da cana de açúcar entre eles os já mencionados.

Loureiro faz a citação de numerosos engenhos das diversas regiões do estado, que são representações da arquitetura do açúcar em Sergipe, selecionou alguns engenhos para tratar acerca dos mesmos. Outros foram citados como sugestão para pesquisadores que tenham interesse nesta temática, a saber: Engenho Antas, Castelo, São José, Priapu, Cedro, Vassouras, São Joaquim, Kassunguê, Boa Vista, Belém, Poços, Engenho Novo, Salobro, Penha, Dirá, Escurial, Itaperoá, Quindongá, Retiro, Pedras, Caieira, Santa Bárbara, Jesus Maria José, Cruzes, São Joaquim, Tuim, Engenho de Ferro, Pinheiro, Central, Cumbe, Poxim, Unha de Gato, Maria Teles, Serra Negra, Jordão, Catete, Comandaroba, Oitocentas38. Caraíbas, Jurema, caldas, Cajá, Junco, Pombinha, Capim Açú, Periperi, Santo Antônio entre outros engenhos.

Portanto, nos faz pesar nas possibilidades de escrita sobre cada uma destas unidades açucareira, sendo assim nos despertou o interesse pelo engenho Oitocentas da família Vieira Azevedo, este engenho um espaço de recordação, lugares de memórias e representações culturais e quiçá religiosas que será abordado no próximo capítulo.

Outro autor que merece destaque por sua vasta produção é o historiador Ibarê Dantas que contribui com a pesquisa historiográfica, seu preparo nos traz em sua produção intelectual o diálogo entre a história e as ciências sociais. Os outros livros desse historiador que retrata uma síntese da história de Sergipe sobre diferentes vertentes temáticas, entre elas a político partidária39.

Além desses diálogos já mencionados, têm outra obra a História de Sergipe República que nos faz compreender como foram construídos o Estado republicano e a sociedade isso baseado nos aspectos políticos administrativo, cultural, econômico social. Este livro expressa

38 Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José

Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence a Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho Paty.

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34 a tentativa de sintetizar a experiência de110 anos de república procurando mostrar como os sergipanos conviveram politicamente, como produziram, trabalharam e distribuíram suas riquezas, enriqueceram suas culturas, acompanha o processo de modificações variadas e abrangentes, ocorridas de âmbito nacional ou especificamente local. Ainda vai demostrar como no início de Sergipe república os senhores do açúcar dominavam. Por fim, diferente das demais obras de sua produção intelectual anteriores, Dantas, se debruça sobre a escrita da biografia do senhor de engenho Leandro Ribeiro de Sequeira Maciel, importante liderança política dos oitocentos em Sergipe, o conhecido Senhor ou patriarca do engenho Serra Negra. Esta biografia nos possibilita a compreensão das dimensões e variedades de assuntos nela contida tanto da parte do proprietário e dos escravos, práticas políticas exercidas por parte da política provincial sergipana40.

Nessa obra, Ibarê Dantas utiliza a influência de Freyre em Casa Grande e Senzala, bem como, Sobrados e Mucambos. Sendo assim, a proposta não é escrever sobre a temática da escravidão, mas sobre o personagem Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel. Este se relaciona com Freyre pelo fato da proximidade com a casa grande do engenho Serra Negra, ele faz uma relação um paralelo entre essas duas obras de Gilberto Freyre.

Em seguida temos do mesmo autor, Memórias de Família41, a narrativa de quatro fazendeiros de gerações diferentes, que viveram nos século XIX e XX no engenho Boqueirão ou Salgado, hoje no município de Riachão dos Dantas; A partir da leitura passamos a evocar as evidências da história através dos costumes e até mesmo a representação fragmentada de fatos, histórias e recordações da vida deles.

Esse conjunto e observações que o autor ilustra do ambiente dos fazendeiros de gerações distintas, atuando no cenário político administrativo municipal, eles certamente enfrentam revés da natureza, e as dificuldades de seu tempo, mas investiram, administraram suas propriedades e tornaram eventualmente representantes do patronato rural elite local naquela conjuntura.

40 DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.

41DANTAS, Ibarê (2013.p.77) – Memórias e Família – O percurso de quatro fazendeiros. Aracaju – SE. Criação

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35 Em continuidade a produção de Ibarê Dantas, aventaremos acerca da Imprensa

Operária42 e podemos observar como o autor articular-se em relação à estrutura social de Sergipe nos idos de 1889 a 1930 nas quatro décadas da república. Pontua a predominância as atividades eram rurais e voltadas para a produção o comércio nacional e internacional, e entre os produtos de maior representatividade destaca-se o açúcar que no idos de 1889 correspondia a 76,51% do valor total das exportações.

Ainda descreve que o material trabalhado nesse livro compõe-se de cinco jornais sendo que os quatro primeiros tiveram o nome de o Operário e o quinto a Voz do Operário. Na análise de cada jornal afirma o autor que procurou enfocar suas contribuições para as defesa e conquista dos direitos, e o fortalecimento da classe e suas tendências.

Compartilhamos também do ponto de visa da autora Sharise Piroupo do Amaral, em sua obra Um pé calçado, o outro no chão (2012)43, após leitura, nós identificamos no primeiro capítulo cujo título: A Doce Cotinguiba, que nos fez refletir sobre porque doce? Ela descreve o espaço geográfico e a economia do Cotinguiba como sendo um lugar de muitos rios e muitos engenhos e que teve uma participação intensificada no decorrer da crise do século XIX. É perceptível analisar os processos históricos que antecederam e se desenrolavam na região da Cotinguiba, bem como em outras partes do país, com isso a autora situa o leitor no espaço onde se dá a sua escrita historiográfica.

Partimos para a análise conjuntural da obra que nos fez perceber que se trata da temática voltada mais para a liberdade e escravidão em Sergipe, na região da Cotinguiba. Contudo, a autora faz uma interlocução com a obra de Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala, a mesma demonstra que para cogitar uma temática não se é necessária olhar apenas por um só viés, perceber e interpretar com novos olhares e entender os sentidos políticos, econômicos e através destes, apresentar diversas formas e fontes, aspectos culturais.

O livro do escritor e professor Ariosvaldo Figueiredo,44 descreve diversas temáticas da história de Sergipe, pontua sobre a política e economia as oligarquias e as dissidências retratam que Sergipe e em vários lugares do país não pensava na indústria, mais acreditava na agricultura retrata acerca sociedade dos agricultores, fazendeiros e a hegemonia açucareira.

42 DANTAS, Ibarê. Imprensa Operária em Sergipe (1891-1930) – Ibarê Dantas- Aracaju: Editora Criação, 2016. 43 AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012.

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36 Contudo nos últimos anos do século XIX, vivem seus piores momentos engenhos falidos, fazendas descapitalizadas.

Nesse percurso da revisão historiográfica buscamos a contribuição do jornalista Orlando Dantas, por sua vez, preparou uma análise sobre as famílias dos senhores de engenho, a relação da casa grande, do senhor e do espaço rural. Ela é uma obra memorialista onde o autor da ênfase aos engenhos que pertenceram a sua família o Engenho Vassouras é um deles de relevância na economia sergipana. Em vida Patriarcal Sergipana, o memorialista pretende documentar a sua interpretação da civilização sergipana, as memórias sobre o engenho Vassouras, bem como os troncos das principais famílias naquela época na província de Sergipe Del Rey, da família Dantas, assim como de várias outras famílias da aristocracia açucareira, a saber, Os Muniz Barreto, os Teles Barreto, os Cardosos, os Corrêa Dantas, os Rollemberg, os Vieira Dantas, os Vieira de Melo, os Vieiras de Andrade, Os Gomes de Melo, os Prados Barreto, os Faros, os Aciolys, os Meneses Barretos, os Azevedo Sá, Meneses Sobral, Prados Trindade, a família dos barões de Itaporanga, Barão de Maruim, Barão de Japaratuba e Barão de Estancia, entre outras45 situadas na região do Cotinguiba.

Em outra obra, O Problema Açucareiro de Sergipe 46, Orlando Dantas faz uma síntese dos problemas açucareiros de Sergipe nos seus distintos aspectos, desde os primórdios de sua história até a situação de declínio analisando os aspectos característicos do homem, terra, a habitação, alimentação, o desenvolvimento dessa cultura do açúcar como era transportando e sobre o processo da chegada da indústria, das usinas.

Em suas reflexões a lavoura era rudimentar e na indústria havia o estacionamento de potencialidades produtivas logo os lucros eram quase nulos. Por outro lado, é importante ter em conta que a produção açucareira é uma atividade de evidencia obvia de caráter social e a ela cabem todas as responsabilidades sociais. Para isso podemos exemplificar as diferenças entre a casa grande e a senzala, o senhor de engenho e o escravo logo podemos refletir que é uma sociedade cheia de complexidades na cultura na economia e nas camadas sociopolíticos.

Podemos perceber uma forte influência de Gilberto Freyre na escrita de alguns autores sergipanos, tais semelhanças se manifestam no modo como é descrita a casa grande, a senzala,

45 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980. p.30).

Referências

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