• Nenhum resultado encontrado

Tabela 02 – Revista Brasil Açucareiro 1949, p.125.

68 Vale lembrar que há relações de todos os engenhos e regiões produtoras no Brasil aparece engenhos da região da Sergipe da microrregião da Cotinguiba e sua capacidade de produção entre eles está o Engenho Oitocentas cujo proprietário José Paes de Azevedo Sá de acordo com a revista Brasil açucareiro.

A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma serie de matérias acerca da vida comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.

Orlando Dantas (1980) afirma que as primeiras transformações do engenho de açúcar bruto em meia usina de Açúcar cristal teve a iniciativa de Dr. Francisco Vieira de Andrade no município de Capela em fins dos meados do século XIX. Vale salientar que a primeira usina completa foi instalada no espaço de oito anos e foi a usina de Adolfo Rollemberg o proprietário do Escurial nessa mesa data foram instaladas cerca de 55 usinas. Já em 1935 existiam cerca de 91 usinas com turbinas e vácuo além de 161 engenhos registrados no departamento de Estatística122 em entre elas está a usina oitocentas.

Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da Usina Oitocentas Acervo: Família Azevedo / Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Iniciamos a análise das fotografias que expõem a Usina Oitocentas no seu pleno funcionamento, e deparamos com algumas características singulares dessa unidade açucareira é de pequeno porte, e fabricava açúcar cristal.

69 Aleida Assmann123 (2011) propõe quatro estágios simultâneos da escrita; a analogia

dos vestígios, a escrita iconográfica e a digital, contudo tomaremos por base a analogia e a escrita iconográfica e assim podemos propor que o engenho Oitocentas seja um lugar do lugar, um lugar de memória, um espaço de recordação.

Bem assim, devemos selecionar o que será armazenado e o que será descartado, silenciado deixado para trás. Para Assmann, e relação à imagem e a escrita, sendo que as obras iconográficas eram consideradas de natureza concreta material, já a escrita é considerada imaterial e se situa em um tempo generativa, ou seja, fora do tempo (p.235).

Portanto consideramos o acervo iconográfico de grande relevância na compreensão do passado, pois as mesmas podem servir como auxiliares na recordação de um passado familiar em um lugar memorável. As imagens são fontes reveladoras do passado do antigo Engenho Oitocentas que foi engenho que passou por transição, pois foi bangue, engenho a vapor, usina de pequeno porte junto a uma cooperativa como já fora mencionado anteriormente e passo interessante entendermos que apesar de pequeno porte resistiu ao lado de outro de maior importância como o Santa Barbara e o Caraíbas, Jurema, Pati, Jordão. Sua singularidade estava no pensamento do senhor e nos investimentos através dos anos para poder sobreviver mesmo enfrentando as consequências das secas e falta de políticas públicas e investimento na agricultura por parte do poder público causa e o aumento nos custos dificultando a produção açucareira e a decadência de outros por falta recursos.

A fotografia abaixo da casa de vivenda do engenho oitocentas é um demonstrativo de um lugar de memória para a família Vieira de Azevedo considerando que:

“São nos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia se liga a momentos ímpares e particulares da história de quem vive cada momento, em determinado contexto, para o mesmo, ainda que haja um esfacelamento e ruptura com o passado, contudo são nos lugares que residem o sentimento de continuidade, pois se torna residual aos locais as lembranças, o mesmo afirma também que “a memória é a vida, sempre carregada por grupos

vivos, e que está em constante evolução, aberta á lembranças e esquecimentos, sendo vulnerável, a todos os usos e manipulações”. Pierre

Nora124”.

123 ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:

Unicamp, 2011.

124 NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993.

70 As histórias das famílias importantes são representadas também através dos objetos de valor cultural, afetivo, econômico, sentimental; a história de indivíduos se repetem por seus saberes, fazeres e representações, nesses fazeres podemos abordar o guardar, preservar sua cultura através dos objetos com valor simbólico, memorável que fazem elo entre passado e o tempo presente, dessa forma podemos perceber que dona Graziela a atual proprietária tem posse das memórias familiares quando adentramos o Oitocentas não tínhamos noção de quão belíssimo em sua estrutura e em suas ricas fontes de lembranças, e recordações dissertar sua história e as memórias que ali estão de forma visível, concreta e de maneira sinestésica, nos faz pensar que quanto tempo esteve silenciado e poderia se perder com o passar do tempo sem ter sido feito o registro para contribuição da historiografia assim como pra contar um pouco mais da nossa história nos tempos do açúcar, buscando o espaço de recordações colhemos os depoimentos das guardiães das memórias das Oitocentas.

Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal Fotografia: Augusto Gentil – data 20/04/2018

Acervo de Josineide Luciano

A foto 3 apresenta a vista frontal da casa grande do Engenho oitocentas, essa fotografia datada do dia 20 de abril de 2018. A casa conta-se com seis janelas frontais e mais duas janelas laterais do lado esquerdo e outra do lado direito é uma edificação retangular

71 coberta com telhado em quatro águas. Possui alpendre circundado por fachadas norte e fachadas leste.

Em fachada leste existe uma ampliação em parte posterior onde há um depósito e uma garagem para veículos. O alpendre possui pilares de madeira entalhados que sustentam os prolongamentos do telhado. Os guardas corpus de madeira também são belamente trabalhados. As esquadrias de madeira dão destaque na edificação. São do tipo veneziano, com duas folhas e bandeira fixa trabalhadas em madeira e vidro. Toda a edificação é construída em taipa de sopapo técnica construtiva que foi preservada e mantida pela proprietária.

Imagem 4 - Vista da casa grande do Engenho Oitocentas (Acervo: Família Azevedo) Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Os compartimentos internos como veremos adiante na planta baixa são pequenos contam seis quartos uma sala grande e outra menor sala de jantar e a grande, cozinha com um fogão de lenha, com forno típico para cotidiano do contexto da sociedade da aristocracia açucareira com seus costumes de família patriarcal e numerosa.

72 Em cada cômodo as antigas mobílias no quarto do casal móveis detalhados, cama com duas cabeceiras em madeira e escura, da mesma forma a mobília da sala a mesa cristaleiras e fazendo parte das recordações e memórias um pilão. A Casa grande das Oitocentas como pode perceber na planta baixa e nas fotografias é uma casa simples sem opulência como gostavam de ostentar alguns senhores de Engenho da região do Cotinguiba.

Imagem 5 - Planta Baixa125 da Casa Grande do Engenho Oitocentas

125 Planta pertence ao banco de dados do projeto Massapê: Memórias, engenhos e comunidades da microrregião

da Cotinguiba. E sairá no livro que o coordenador do projeto prof. Antônio Lindvaldo Sousa está organizando. Foi elaborada pelos arquitetos: José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro.

73

Panorâmica: Foto Aérea do Conjunto das Edificações do Engenho Oitocentas

Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um riacho.

Fotografia: Augusto Gentil – Data 20/04/2018 Acervo: Josineide Luciano Almeida Santos

Vista panorâmica da foto aérea do conjunto das edificações do engenho oitocentas cuja proprietária senhora Graziela Vieira de Azevedo faz questão de conservar o modelo e a estrutura da propriedade nos moldes do antigo engenho oitocentas e quando necessita de reparos são realizados no mesmo material da construção com que foram erguidas as edificações originalmente.

Da antiga fábrica do engenho, hoje no lugar um curral, que se encontra na porção mais baixa do terreno, quase em frente à casa de vivenda, que fica em uma elevação como na maioria dos engenhos sempre estava edificado em um lugar mais alto. Ao lado da edificação, em parte oeste, há um jardim cercado por muro em tijolo maciço que separa a casa grande das casas dos trabalhadores.

Foi possível visualizar dois tanques que podem ser vistos na fotografia 7 em relação a técnica construtiva foi construída em taipa de sopapo e alvenaria maciça, seu telhado em cerâmica e duas águas.

74 De acordo com o cadastro Industrial Agrícola126, existiam em 1930 sete usinas que fabricavam o Açúcar cristal entre elas as Oitocentas com capital social de 100.000$0000 e com uma produção pequena de 2.177 sacos de 60 quilos cada média aproximada como já mencionamos anteriormente de 3000 mil sacos de Açúcar. Segundo dona Gulgar Vieira de Azevedo uma das filhas de seu Juca, em depoimento para o documentário do Massapê afirma: ‘Lá em casa apesar de ser pequeninho ele produzia açúcar cristal, tinha turbina, tinha vácuo...“uma quantia irrisória mais ele fazia questão de fazer , de ter a produçãozinha dele”127.

A chamada virada cultural, com suas representações é bem válida para esta pesquisa, sobretudo a partir da forma como observamos nosso objeto, dentro da necessidade de identificar inserido em seu contexto social cultural e de poder político sendo assim fazemos dos conceitos de Roger Chartier para identificar esse contexto e o modo como, em diferentes lugares e momentos, uma realidade social é construída, pensada, dada a ler (CHARTIER, 1990, p.19).

Desta forma podemos designar as oitocentas como um lugar de memória, espaço de recordação para a família vieira de Azevedo para as filhas de JUCA das Oitocentas um lugar do lugar, nos tempos do açúcar com senhor de engenho sua esposa e filhos, nessa casa nasceram, viveram seus primeiros anos até serem encaminhados para os centros urbanos de grande representação, tiveram oportunidade de estudar, ter boa educação, formação profissional assim aconteceu com os filhos de José Paes de Azevedo Sá e Dona Cecília Vieira de Melo deixaram seu torrão natal e partiram para estudar no Rio de Janeiro.

Esse espaço de recordação continuará sendo trabalhado no terceiro capitulo cujo título O ocaso da memória; sendo que buscaremos nas entrevistas de história oral, nos livros, documentos do acervo pessoal da família: as fotos, cartas dos filhos aos antigos proprietários da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações, discutir a relevância desse engenho na criação dos filhos e ao mesmo tempo deixar um registro de um personagem que estava à frente de seu tempo, por ter feito a diferença dos demais senhores de Engenho que

126 Cadastro Industrial Agrícola e informativo do Estado de Sergipe 1933, organizador; Armando Barreto. 127 Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges

75 ostentavam seus bens e riquezas moveis ele preferiu educar e formar seus filhos formando uma família estruturada com legado para história até hoje.

76 CAPÍTULO III

O LUGAR, AS COISAS E AS PESSOAS - O OCASO DA MEMÓRIA

A tríade engenho de açúcar, usina e a casa grande tornou-se uma representação marcante do poder econômico e social na História do Brasil. Neste cenário, destaque para a família, o lugar das convivências fraternas, mas também da construção de outros laços que reforçam ou não o status quo dos indivíduos.

Os lugares e as pessoas ao longo do tempo se confundem e também as coisas: os objetos familiares, as ferramentas de produção, as fotos, os utensílios domésticos e tudo o mais que constituía uma cultura de época, notadamente uma cultura do açúcar, vista assim em sua faceta mais abrangente.

Neste capítulo, nossa atenção está voltada para as pessoas do Engenho Oitocentas e, a partir da narrativa e descrição das memórias familiares quer lançar novas luzes sobre a história do lugar, perscrutando os caminhos trilhados, no que a vida tem de mais notável: as suscetibilidades.

A família Vieira de Azevedo não esperou os tempos de decadência da produção do açúcar para poder pensar em algo inovador que pudesse garantir o desenvolvimento econômico intelectual e garantir o futuro para a sua prole. Optou, assim, por investir na educação e não utilizou em arranjos matrimoniais e casamentos afortunados para suas filhas, por exemplo.

A guisa de encaminhamento metodológico nos valemos das assertivas de Ibarê Dantas128, que nos apresenta a possibilidade de pesquisar documentos pessoais dos seus ancestrais e depoimentos dos descendentes dos personagens e a partir da apreciação dessas fontes trazer a lume a memória das pessoas e dos lugares.

As marcas das memórias das pessoas ficaram expressas em diversas representações: na casa grande e seu estado de conservação, na mobília, nas cristaleiras (um armário escuro e envidraçado em que se guardavam e exibem as louças, copos de vidro, de cristal, porcelanas antigas desenhadas); no conjunto de cadeiras de palhinha; pilão e mão de pilão; em cima das

Documentos relacionados