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Carolina Vieira Pelegrini

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Academic year: 2021

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Casa ~tino Americana/Casla

Programa de Pos-Gradua~io em Rela.;Oes Intemaeionais

Debate e a~io: breve analise sobre Cultura e Desenvolvimento nas Rela~oes lntemaeionais

Carolina Vieira Pelegrini

Curitiba Junho2009

(2)

Debate e a~o: breve analise sobre Cultura e Desenvolvimento nas Rela~oes lntemacionais

Curitiba .Junho2009

Monografia de conclusao de curso, sob orienta~ao do Prof. Dr. Alexand.ro Eugenio Pereira, para obten~ao de titulo de especialista em Rela~oes Intemacionais.

(3)

sempre.

A

Curitiba.

(4)

Aos meus pais, innaos e amigos pelo apoio de sempre e pela con:fiant;a.

A

Casla, Casa Latino Americana, pelo auxilio.

(5)
(6)

0 presente estudo tern como objetivo abordar as rela~oes entre cultura e desenvolvimento assim como as devidas a~oes da comunidade intemacional voltadas

a

cultura e o desenvolvimento humano. Atraves da analise da teoria das Rela~oes Intemacionais e das mudan~as de perspectiva da mesma dentro do cemirio da globaliza~ao, percebe-se o desenvolvimento de maneira mais ampla e subjetiva e, a partir disto, a conexao entre o desenvolvimento e as questoes culturais. Diante disto, avalia-se as devidas a~oes da comunidade intemacional com o intuito de observar as rela~oes entre o discurso e a pratica politica.

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The present work objectives the study of the relationships between culture and development and the actions of the international community in this direction. The analysis about International Relations theory and the perspective changes because of the global society amplifies development concept and tum it more subjective. In this context the relations between culture and development are connected. In front of this, the actions of international community are observed to analise the relations between the discourse and political practice.

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Capitulo 1

Rela~oes InternacioBais: questoes coBtemponmeas 11

1.1.Sobre a teoria das rela~oes iBtemacionais 11 1.2.Novas questoes Bas rela~oes iBtemacionais 14 1.3.A cultnra na teoria das rela~oes internacionais 16

1.4.Cultnra e globaliza~o 20

Capitnlo2

Cultura e deseBvolvimento: da primazia do economico

as

exigeBcias 23 da globaliza~ao

2.1.Economia e desenvolvimento: do sistema bipolar

a

globaliza~io. 23

2.2.Redefini~io de desenvolvimento: a illser~o da cultnra 27

2.3.Efeitos da Globaliza~io na Cwtnra 30

2.4.Cultnra: inser~o na agenda intemacional 33

Capitnlo3

Debate e a~io: politicas internacioBais para a cultnra e o deseBvolvimento 38

3.1.Unesco: principais a~iies em defesa da cllltura 38 3.2.A Declara~io do Mexico: novas reflexiies e a~iies sobre a cultnra 43 e o desenvolvimento

3.3.A Conferencia de Estocolmo 48

3.4.A Declara~o Universal Sobre a Diversidade CWtnral 50

Conc.lusio 53

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Introdu~ao

0 mundo globalizado apresenta novos problemas para a hurnanidade. 0 fim da era bipolar representou o fim das utopias e a constatae;ao de que tanto capitalismo como socialismo, como sistemas de produe;ao e de vida, nao foram capazes de solucionar os problemas da hurnanidade e nem tampouco garantir os direitos mais fundamentais da vida humana.

Diante deste novo quad.ro da. globalizae;ao, a teoria das relae;oes intemacionais busca argumentos e conceitos de arullise que possam nortear a pratica politica, trazendo ao debate novos temas antes menosprezados pela teoria: genero, rae;a,. meio ambiente e cultura.

A cultura, antes reconhecida apenas como manifestae;ao artistica e intelectual, ou seja, como bern cultural, passive! de comercializae;ao e portanto, contribuinte do desenvolvimento economico, evolui enquanto tema de estudo e reflexao da comunidade intemacional ao Iongo da segunda metade do seculo XX. Na medida em que o mundo globalizado se impoe e os conflitos gerados pelo multiculturalismo e em boa parte das vezes, resultados do desrespeito

a

alteridade e da tentativa de imposie;ao de urn determinado sistema de valores e de modos de viver sobre outro, cria-se urn cenario mais tenso, no qual a cultura passa a desempenhar urn papel impar.

Em contrapartida, modi:fica-se o conceito de desenvolvimento. Percebe-se que o alcance do progresso economico nao basta para a criae;ao e manutene;ao de uma sociedade desenvolvida, pelo contrario, e adicionado ao progresso economico a necessidade de garantir o bern estar hurnano, o respeito aos direitos humanos e aos diferentes modos de ser , viver e expressar que as diferentes sociedades possuem, para ai sim, se classificar o desenvolvimento de uma sociedade.

Cultura e desenvolvimento passam, portanto, a ser de:finidos de forma mais subjetiva e interligada. Percebe-se que o desenvolvimento se da no seio de uma cultura e que s6 pode ser atingido se estruturado e planejado de acordo com as diferentes culturas do mundo.

Diante desta nova perspectiva, a UNESCO, Organizae;ao das Na~oes Unidas para a Educa~ao, Ciencia e Cultura, principal organismo intemacional responsavel pelo apro:fundamento desta nova perspec.tiva de cultura e desenvolvimento, desenvolve, ao Iongo dos anos 70, 80 e 90, diversos encontros e conferencias que visam, nao s6 a

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intemacional.

Neste trabalho abordaremos esta intima relaftao entre cultura. e desenvolvimento. Faremos uma apanhado da teoria das relaftoes intemacionais que nos possibilita enquadrar este discurso dentro da teoria cienti:fica, analisaremos a importancia dos aspectos culturais no mundo e, principalmente, no mundo globalizado e por fim, apresentaremos as principais aftoes, de maior peso e relevancia da comunidade intemacional, em prol da. cultura e do desenvolvimento.

Nao pretendemos esgotar o tema, de complexidade tao grande, e nem o podemos em razao das caracteristicas deste trabalho. Mas

e

importante salientarmos que pretende-se apresentar de maneira ampla e objetiva, a importancia deste debate entre cultura e desenvolvimento para a:firmarmos que, neste momento historico que vivemos,

e

impossivel separamos 0 desenvolvimento da cultura e buscarmos 0 desenvolvimento humano somente pela via economica. Na medida em que a cultura de fato se desenvolver enquanto politica e as politicas culturais se tomarem de fato e:ficientes, sera possivel direcionarmos o crescimento e progresso da humanidade de forma mais humana e justa 0 caminho ja foi aberto, resta agora continuarmos sua construftao.

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Capitulo I

Rela~oes Intemacionais: questoes contemporaneas

0 debate em tomo das rela~oes intemacionais e suas questoes de relevancia acompanham o desenvolvimento das mesmas ao Iongo da hist6ria.

A emergencia de novas questoes que a cada dia entram na pauta intemacional e urn fenomeno caracterlstico da atualidade globalizada, urna vez que o processo de globaliza~ao toma novas propo~oes, atinge novas popula~oes, cria novos problemas, ainda nao vivenciados, o que exige urna constante reflexao e teoriza~ao das rela~oes intemacionais cujo objetivo e esclarecer tais questoes e apresentar possiveis solu~oes para os problemas que se apresentam.

Neste capitulo, buscaremos mostrar como se apresenta o debate sobre as rela~oes intemacionais no contexto da globaliza~ao. Quais novos atores aparecem e quais as novas exigencias deste contexto para o born funcionamento da comunidade intemacional. Da mesma forma, salientaremos os aspectos problematicos do fenomeno da globaliza~ao e o que isto gera nas rela~oes intemacionais, quais as dificuldades e desafios que emergem neste cenario.

l.Sobre a teoria das Rela~oes Internacionais

A popula~ao hurnana sempre buscou formas de organiza~ao coletiva afim de viver em harmonia e em prol da organiza9ao social e da distribui~ao, mesmo que desigual, do poder. Data do seculo XVI, a configura~ao do Estado Modemo, cuja evolu9ao resulta na atual forma de organiza9ao estatal que conhecemos. 0 Estado Modemo surge, em fun9ao da dispersao do sistema feudal e da necessidade de centraliza9ao do poder, na figura do govemo e do chefe do estado. A estrutura Estatal, inicialmente, se restringe a parte do continente europeu, Alemanha e Italia, por exemplo, so se constituem enquanto estados unificados, no seculo XIX. Mas este processo se expande e, atualmente, a organiza9ao da sociedade em estados, e comurn

a

maior parte do globo.

Este sistema estatal e considerado, pelas teorias de Rela~oes Intemacionais, urn sistema ancirquico de unidades soberanas, e a maioria das teses de analise gira em tomo

(12)

desta conce~ao e das possibilidades de coopera~ao, ordem e a~ao coletiva dentro deste contexto anarquico.

0 estudo das Rela~oes Intemacionais consiste, portanto, no estudo das rela~oes entre os Estados. Os Estados devem defender va]ores como a seguran~a, a liberdade, a justi~a e o bem-estar socia]. A teoria das Rela~oes Intemacionais diz respeito

a

atua~ao dos Estados o do sistema estata] em rela~ao a estes va]ores, comuns

a

maior parte dos Estados Nacionais.

A expansao do sistema estatal esta ligada ao estabelecimento de uma economia globa] e de urn mercado mundia]. Algumas nafYoes se beneficiam deste processo de globa]iza~ao, enquanto outras ainda permanecem

a

margem do sistema e buscam a integrafYao no mesmo. Sao as nafYoes subdesenvolvidas, que permanecem pobres e enfraquecidas. A globa]izafYao, a]em de colocar em cheque a distribui~ao de riqueza, tambem desafia a soberania do Estado e apresenta novas questoes, ainda nao devidamente discutidas pelos te6ricos das RI.

Muitas sao as teorias de abordagem das Relatyoes Intemacionais, entre elas:

1. Realismo: os teoricos realistas possuem uma visao pessimista do mundo.

Partem da ideia central de que a politica mundia] e urn sistema anarquico constituido por Estados soberanos. Em virtude disto, as relafYoes intemacionais sao fundamentalmente, conflituosas, sendo a gue~ o Ultimo recurso de solufYao. Para os realistas, a politica intemacional e uma politica de poder. A conduta da politica extema e, portanto, o uso inteligente do poder. Buscam a estabilidade intemaciona], assim como a seguranfYa naciona] , a sobrevivencia do estado e a ordem. Acreditam haver uma mora] politica que diverge da mora] socia], ou seja, ha uma etica para a esfera publica e outra para a privada, por isso a]gumas atitudes politicas nao seriam toleradas pela moralidade privada. Os realistas hesitam em fomecer uma analise normativa da politica mundia], por perceberem-na como subjetiva e, portanto, nao-cientifica. A teoria rea]ista gerou subdivisoes: rea]ismo classico e neo-classico, neo-realistas e rea]istas estrategicos contemporaneos. Cada Iinha de pensamento possui seu argumento de reflexao sobre as RI, mas de maneira geral, partem da teoria realista para a construtyao de sua tese.

2. Liberalismo: para o liberalismo, o individuo e as coletividades, sao o ponto

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de mundo otimista e a ideia de que atraves da coopera~ao,

e

poss:ivel construir uma sociedade intemacional organizada, promover a paz e a seguram;a. Acreditam que atraves do uso da razao e poss:ivel atingir a coopera~ao mutua e acabar com a guerra. Para os liberais, a modemiza~ao significa progresso na maior parte das rela~oes humanas, inclusive nas rela9oes intemacionais. 0 liberalismo segue as seguintes tendencias: liberalismo sociol6gico, liberalismo de interdependencia, o liberalismo institucional e o liberalismo republicano. 3. Sociedade Internacional: a abordagem da sociedade intemacional considera as rela9oes intemacionais uma sociedade de Estados cujos atores sao especialistas na arte da politica. Ela busca uma via intermediaria entre o realismo e o liberalismo, atraves da construyao de uma abordagem distinta. A teoria da sociedade intemacional tern como metodologia o humanismo, a interpreta~ao hist6rica, jurisprudencial e filos6fica; seus conceitos centrais sao as relayoes humanas, o estado, a sociedade anarquica, o sistema estatal e a sociedade de estados e seus valores essencias sao a ordem, a justiya, a soberania estatal e os direitos humanos. A concep9ao de sociedade intemacional aborda a responsabilidade politica, que se da em tres n:iveis: nacional, intemacional e humanitario.

Nao e poss:ivel analisarmos profundamente cada uma das teorias das rela9oes intemacionais. Nosso interesse

e

mostrar de maneira geral algumas das posiyoes de maior relevancia no meio academico. Destacamos ainda, a presen9a das teorias de Economia Politica Intemacional, responsaveis por interpreta9oes que aliam o pensamento politico ao pensamento economico e os transferem para as relactoes entre os Estados.

0 debate te6rico das RI tambem aborda a metodologia, ou seja, qual o metoda de pesquisa a ser utilizado para a analise de determinada questao e das relal}toes intemacionais como urn todo. Neste debate se destacam as abordagens classicas, positivistas e p6s-positivistas.

Porem, com o desenvolvimento da pesquisa em tomo da tematica das Relactoes Intemacionais, assim como o aparecimento de novas desafios no cenario intemacional, questiona-se qual sera o efeito destas mudanl}tas na teoria e na metodologia das RI.

(14)

2.Novas questoes nas Rela~oes Internacionais

A teoria das rela~oes intemacionais sempre abordou questoes como a paz e a guerra, a pobreza e a riqueza, o con:llito e a coopera~ao. A partir do fim da Guerra. Fria e a emergencia de um mundo globalizado, novas questoes, foram adicionadas

a

agenda intemacional.

0 meio ambiente, por exemplo, em virtude de suas transforma~oes e daquilo que estas podem provocar, e tema de enorme debate atualmente. 0 clima, a agua, 0 desmatamento, a prot~ao

as

especies da fauna e da florae a necessidade de preserva~ao do ecossistema e, consequentemente da sobrevivencia humana, geram debates e diferentes posi~oes no cenario intemacional. Temos que observar que o debate e intenso porque a sociedade industrializada alterou o meio ambiente e nao foi parcimoniosa ao utilizar os recursos naturais necessarios para a sua sobrevivencia e para a manuten~ao do sistema industrial. Alem disso, a popula~ao mundial aumenta desproporcionalmente

a

produ~ao de alimentos e as fontes de energia, baseadas principalmente no petr6leo, possuem uma expectativa de vida, que atualmente, e pequena. As reservas irao durar por pouco tempo. Por outro lado, o acesso

a

alimenta~ao, agua potavel, saneamento, ainda e desigual no mundo. Como consequencia desse quadro, e possivel ocorrer uma altera~ao nas rela~oes intemacionais e assim, urn reposicionamento da teoria das RI, em virtude das transforma~oes que a historia pode nos apresentar. 0 meio ambiente pode gerar contlitos, ou em contrapartida, novas alian~as. Tais con:llitos podem estar relacionados desde a posse de recursos naturais, como a agua, ou com o crescimento populacional, que nao so prejudica o meio ambiente, uma vez que exige mais do mesmo para a manutenyao da sobrevivencia de uma populayao cada vez maior, como gera outros problemas de ordem intema, como a ocupa~ao do solo, a erosao do mesmo, urbaniza~ao desenfreada, desemprego, violencia.

A tese de que nosso planeta nao e su:ficiente para comportar a ra~a humana, e assustadora e nos faz repensar o modelo de sociedade que ate agora, foi criado e desenvolvido.

E

necessario repensar a sociedade de consumo, o modo de ser e de viver que esta sociedade promove, e buscar um caminho altemativo, ainda nao imaginado, para a perpetua~ao e sobrevivencia de nossa especie.

0 debate em tomo do meio ambiente comporta duas correntes fundamentais e divergentes: para OS modernistas 0 problema ambiental nao e irremediavel, 0 avan~O do

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conhecimento e da tecnologia sera capaz de dete-lo. Em contrapartida, para os ecorradicais, o problema e serio e precisa ser solucionado atraves da modi:fica~ao radical do estilo de vida contemporaneo somada ao controle do crescimento populacional.

Outra nova questao das RI e relativa ao genero. Mesmo com a emancipa~ao feminina ocidental, predomina no mundo ainda, mesmo nas na~oes mais desenvolvidas, a desigualdade entre homens e mullieres. Poucas mulheres fazem parte do cenario politico, existem diferen~as de renda entre os sexos e o analfabetismo, assim como o niunero de refugiados, e maior entre as mulheres .As principais abordagens te6ricas a respeito do tema sao: o feminismo liberal, o feminismo marxista e o feminismo radical.

Por :fim, mas nao menos importante, outra fonte de questionamento da teoria das RI e a soberania do Estado, que tern sido desa:fiada:

"Primeiramente, as farr;as de mercadas glabais atravessam fronteiras cam mais facilidade e qfetam as ecanomias nacionais de formas sem precedentes. Preocupar;iies

ecol6gicas; sistemas de camzmicar;iio global; armas nucleares; terrorismo; comercia de drogas; tuda issa e hem mais siia exemplos de atividades e farr;as que ignoram limites territoriais e questionam antigas nor;iJes de Estados soberanas autonomos com total controle de suas terras. "1

Uma vez que a soberania

e

a independencia politica de urn Estado em rela~o aos outros, a autoridade de impor a lei dentro de seu territ6rio, de exercer seu auto-controle e mais, uma vez que a soberania signi:fica a igualdade juridica sob o direito intemacional, entao, se esta soberania tern sido desa:fiada atraves de tantos agentes extemos multinacionais, derrubando as barreiras territoriais, e poss:ivel questionar qual e a e:ficacia da soberania. Outra problematica da soberania e o paradoxo que esta gera em rela~ao ao sistema intemacional, ou seja, o baixo grau de govemabilidade no sistema intemacional se deve ao respeito

a

soberania e

a

autonomia do Estado diante de suas questoes domesticas.

Diante deste quadro, muitos autores declaram o poss:ivel :fim da soberania, o que implicaria, ao lado da questao ambiental, da questao de genero, entre outras, em toda uma recon:figura~ao da teoria e da metodologia das Rela~oes Intemacionais. Ha, no entanto, outra corrente que acredita. ser poss:ivel operar estes novos desa:fios das RI dentro das correntes te6ricas ja existentes.

(16)

Percebe-se que a teoria e a metodologia de estudo das Rela9oes Intemacionais, se desenvolvem

a

medida que novos desafios impostos pelas transforma9oes historicas se colocam presentes. Da mesma forma que, questoes como a soberania, a ecologia e o genero imp()e uma nova reflexao sobre as Rela9oes lntemacionais, tambem a cultura se apresenta como tema relevante.

3.A cultura na teoria das Rela~oes Internacionais

0 termo globaliza9ao, devido

a

sua amplitude, e talvez ao uso exacerbado da palavra, exige uma melhor defini9ao. Se fossemos construir uma conceitua9ao livre do termo, poderiamos dizer que a globaliza9a0 e urn proceSSO de integra9a0 e de interdependencia global que atinge politicamente, economicamente e culturalmente os Estados Nacionais, emerge e se desenvolve ao Iongo do seculo XX e cujos desdobramentos ainda nao sao, em seu todo, perceptiveis, uma vez que nao e urn processo encerrado.

A globaliza9ao traz consigo a possibilidade de emergencia de uma nova sociedade global, onde o comunitarismo pode se constituir em principio da lei intemacional. Isto porque, surgem questoes que ultrapassam o estado. Nasce uma democracia transnacional, cujo equilibrio s6 pode ser mantido atraves do comunitarismo:

"Uma sociedade globalizada emerge quando seus participantes tem consciencia de certos interesses e valores comuns e atuam para preservar um "coletivo global" ou interesses comuns da humanidade. Estes valores e responsabilidades fimdamentais pretendem conciliar individualismo e universalismo objetivando enfrentar os desqftos coletivos de hoje e amanhii. Esse valor da "vontade pziblica" niio e a soma dos interesses particulares dos Estados, mas forma o atual 'patrimonio comum da humanidade: prtiticas democriiticas, direitos humanos, desenvolvimento social, politico e economico, protef;iio ambiental, sobrevivencia da humanidade. 0 crescimento de redes transnacionais de direitos humanos e movimentos sociais podem ser interpretados como os primeiros sinais de uma nova identidade e etica coletiva que ultrapassa o Estado. 0 debate sobre a democracia transnacional e o crescente comprometimento em melhorar as condif;oes de vida de populaf;oes de outras nacionalidades e etnias, indicam algo parecido com uma sociedade global. Os

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problemas atzmis que colocam em perigo este bern publico (que assumem a forma de maldades plihlicas) sao:

l.Desastres e epidemias

2. Crime Internacionall Terrorismo 3./migrat;iio ilegall Tr4fico de pessoas 4.Extremismo cultural, religioso e etnico. "2

Esta democracia global e representada pela emergencia de novos atores: movimentos sociais, uma rede transnacional de direitos humanos, institui~oes intemacionais, todas direcionadas a buscar e garantir uma etica global, voltada para 0

desenvolvimento humano, que ultrapassa os limites estatais e com~a a configurar, em dire~ao ao futuro, uma sociedade global.

0 universalismo dos valores decorrentes da globaliza~ao, representa a antitese do mundo bipolar, uma vez que cresce a consciencia de que tais valores universais nao podem ser deixados amerce dos estados sendo necessaria o empenho coletivo, de toda a comunidade intemacional, para a sua manuten~ao.

Neste sentido, o comunitarismo emerge como uma tese a ser seguida pela teoria e pela pnitica diplomatica em prol do sistema democnitico mundial. Contudo, valores universais esbarram em culturas locais, e como tratar esta questao no cenario intemacional, representa tematica atual do estado da arte de nossa disciplina

E

importante pensar a questao cultural, e a academia tern percebido a relevancia do tema e direcionado seus estudos

a

ela, mesmo que ainda em pequena escala Isto porque, a globaliza~ao trouxe consigo urn maior poder das institui~oes intemacionais ao mesmo tempo em que abalou a soberania do estado, como colocamos anteriormente. A

2"A globalized society emerges when the participants are conscious of certain common interests and common values and act to preserve the "global commons" or common concerns of humankind. These fi.mdamental moral values and responsibilities intend to reconcile individualism with universalism in order to face the common challenges of today and tomorrow. These value of the "public weal" are not the sum of the states particular interests but form today's common heritage of mankind: Democratic practises, human rights,social, political, economic development, protection of the environment,survival of mankind. The rise of transnational human rights networks and social movements can be regarded as first

signs of new collective identities and ethics beyond the state. The debate about transnational democracy and the increasing commitment to improve the living conditions of people of other nationalities and ethnicities indicate something like a world society. The present problems that are endangering these public goods (in the shape of public bads) are:l. Disasters and epidemics2. International crime/terrorism

3. illegal migration I trafficking in persons4. Cultnral, religious and ethnic extremism.". In:BOLEWSKI, W. Diplomacy and international law in globalized relations, pp. 46

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expansao de problemas que ultrapassam os limites territoriais do Estado e afetam sua soberania condiciona agentes institucionais intemacionais, multiculturais, a interferir nestas questoes que, vez ou outra, entram em choque com a soberania estatal e ao mesmo tempo gem tensao entre o particular ( aquilo que e proprio do territorio domestico e cultural do Estado) eo universal (os ditos valores globais e universais):

"Os estudos sabre a formar;iio de identidades coletivas e de uma cultura intemacional tomam-se mais relevantes conforme caminhamos em direr;ao a estruturas de autoridade diferenciadas, em particular se considerarmos a crescente importtincia de estruturas de autoridade intemacionais. 0 debate sabre a formar;ao de identidades e valores comuns

e

complexo e nao pode ser desvinculado de uma analise das relar;oes de poder e da tensiio entre particularismo e universalismo. Contudo, na medida em que o debate sabre a crise do sistema de Vestfalia, do conceito de soberania e do Estado territorial avanr;a,

e

necesstirio compreender e rejletir sabre quais siio e seriio as bases de legitimidade e mecanismos de coerr;iio de novasformas de autoridade. "3

A globalizac;ao faz emergir uma nova forma de autoridade, de poder, con:figurado no papel das instituic;oes intemacionais, cada vez mais fortalecidas. Ate que ponto esse poder e legitimo em relac;ao a soberania estatal e em relac;ao as diferentes culturas do mundo, e algo a ser observado pela teoria das relac;oes intemacionais.

E

preciso considerar a questao como pec;a-chave na nova ordem mundial e perceber que os temas intemacionais nao podem ser analisados fora da cultura. Pelo contrario, precisam ser compreendidos dentro do contexto cultural no qual emergem.

Os te6ricos das Relac;oes Intemacionais tern percebido que cooperac;ao, conflito e identidade, portanto, sao temas que devem ser estudados de forma integrada, uma vez que os demais modelos de analise das RI, nao apresentam soluc;oes adequadas para. a questao do universalismo/particularismo, caracteristico do mundo p6s-guerra fria:

"A perspectiva institucionalista tern obtido resultados mais efetivos no estudo das instituir;oes intemacionais, sendo essa sua vocar;iio natural. A maior parte das pesquisas sabre processos de integrar;iio regional sabre o papel de organizar;iies intemacionais e sabre a formar;iio de regimes especificos baseia-se na premissa institucionalista. Todavia, conforme nos deparamos com fenomenos como o

3 HERZ, M. Teoria das: relat;Oes: internacionais no p6s:-guerra fria. In:Dados vol.40 no. 2 .Rio de Janeiro:l997. www.scielo.br, pp. 4.

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nacionalismo, a contradit;iio entre a defosa da soberania nacional e formas de govemabilidade intemacional ou novas formas de representatividade , a tensiio entre ideais "universais" e particularismos culturais, essa perspectiva niio encontra respostas nos marcos do modelo do ator racional. "4

Apesar da re:flexao teorica sobre o papel da cultura e da identidade nas Rela9oes Intemacionais nao ser recente, sua importancia estrategica foi menosprezada por algumas correntes teoricas ao longo da Guerra Fria e somente a partir da decada de 90 foi devidamente retomada pelo pensamento teorico intemacionalista. Hoje, em virtude do momento historico que vivenciamos, percebe-se cada vez mais a urgencia do tema, assim como seu estudo e compreensao:

"A premencia de estudos sobre os fenomenos' de .fragmentar;iio e integrar;iio de comunidades~ conjlitos etnicos e nacionais, possibilidades de cooperar;iio intemacional e a necessidade de uma maior rejle.xiio sobre o papel dos analistas de politico intemacionalleva-nos de volta ao tema da cultura, ao papel de ideias e identidades, as analises de dentro para fora. Faz-se necessaria voltar ao conceito de cultura intemacional para entender os processos de cooperar;iio intemacional. 0 tratamento dado pode enfatizar a gestar;iio de uma sociedade intemacional integrada, ou problematizar o fonomeno, assinalando a contradir;iio entre o processo de

universalizar;iio de um conjunto de ideias e as particularidades de diferentes grupos sociais. "5

0 posicionamento te6rico das Rela9oes Intemacionais :frente

a

cultura deve, dessa forma, observar que o fenomeno da globaliza9ao leva o tema para basicamente duas dire9oes: a constitui~ao de valores universais pode estruturar uma sociedade global devidamente integrada, por outro lado, os conflitos e choques que surgem da dicotomia universal/local, podem implicar uma seria de con:flitos, ja percebidos nos movimentos nacionalistas e terroristas, problematizando o fenomeno da globaliza9ao e exigindo, assim, urn reposicionamento da sociedade intemacional assim como uma maior cooperat;ao entre os Estados. Diante disto, o comunitarismo se impoe como via de compreensao e de estrategia no cenario globalizado.

4 Ibdem, pp.4 5Ibdem,pp.5

(20)

4.Cultura e Globatiza~io

A globaliza~ao tern como consequenci.a transforma~oes politicas e transforma~oes economi.cas. A globaliza~ao e responsavel tambem pela for~a que a cultura adqui.re em fun~ao deste processo de transforma~ao. Nao podemos, contudo, perceber o fenomeno da globaliza~ao somente como urna i.ntegra~ao economica e poli:tica. A realidade nos mostra que existe urna tendencia de homogeniza~ao da cultura. Isto esta presente nos meios de comunica~ao, nos comportamentos hurnanos, na internet, nos meios de transporte, ate mesmo na comida que se consome. A mobilidade da informa~ao, das pessoas e dos produtos, torna este momento hist6rico Unico, pois ele atinge urn contingente enorme de pessoas, ainda que boa parte da civiliza~ao se encontre excluida do processo. Alem disso, esta mobilidade transforma a cada dia, as culturas locais, que agregam e repelem aquilo que lhes interessa ou nao, criando algo novo, onde tradi~ao e modernidade coabitam o mesmo espa~o. 0 processo de globaliza~ao e urn verdadeiro processo antropofagico. Ela pode promover a i.ntegra~ao, mas seu impacto na cultura e conflituoso e o que este impacto pode gerar nas rela~oes i.nternacionais e ainda mais i.ntrigante.

A cultura nao e estatica, constantemente ela se transforma e se resgata. A cultura e urn arti:ficio de poder. A linguagem, os costumes, a religiao, sao mecanismos de estabelecimento da ordem atraves do reconhecimento individual e coletivo em rela~ao

a

cultura. Ou seja, os elementos que definem a cultura sao construtores de identidades. Uma vez que os individuos se reconhecem nestes elementos, eles se organizam em sociedade e estabelecem sua ordem. Porem, alguns dos piores atos hurnanos foram justificados pela cultura. Guerras foram proclamadas, e ai.nda sao, por motivos religiosos ou naci.onalistas. Este ataque ao que e proprio de urna cultura, ao que a diferencia das demais, e historicamente, urn motivo de conflito. 0 desrespeito

a

alteridade e a incompreensao do outro, estao nas raizes de tnigicos fatos hist6ricos: os periodos colonialistas e imperialistas, a Segunda Guerra Mundial, entre outros. Em todos estes casos, mesmo existindo explicitamente urna motiva~ao politica e/ou economica para o con:flito, a cultura foi utilizada como justificativa e como arma. A propria Guerra Fria e urn exemplo de conflito cultural:

"Outra categoria que pode ser incluida em nossa taxonomia

e

o conjlito quase cultural. Este conjlito

e

basicamente ideo!Ogico e niio

e

baseado profimdamente

(21)

na tradir;iio para se encaixar nas de.finir;oes padriio de cultura, mas ainda assim, exibe a maioria, se niio todas, as caracteristicas de outros choques culturais. 0 melhor exemplo aqui

e

a Guerra Fria, um conflito entre culturas politicas que foi retratado por seus combatentes em termos culturais: 'deuses comunistas' versus 'capitalistas corruptos~ Durante este conflito, diferenr;as no que diz respeito ao papel do individuo dentro do estado e sobre a distribuir;iio de renda, produziram um 'choque de civilizar;oes' czda origem

e

relativamente recente. " 6

0 processo de globaliza~ao gera duas perspectivas: a possibilidade de homogeniza~ao das diferentes culturas e, consequentemente, o fim do multiculturalismo, ou, e esta e a perspectiva mais realista, a possibilidade de constru~ao de urn mundo mais tolerante em rela~ao as diferen~as, urn maior compreensao e em virtude disso, uma convivencia harmonica global. No entanto, esta perspectiva exige, uma estrutura social que transcenda a cultura. Uma estrutura politica, juridica e institucional que permita a coexistencia pacifica das diversidades e elimine os extremismos.

Neste cenario, que ainda se encontra em seus prim6rdios e cujo fim ainda nao e visivel, uma potencia lidera o processo de globaliza~ao, por ser detentora do maior poder economico e tecnol6gico, os Estados Unidos.

E

importante nos atentarmos a isso porque a tecnologia se apresenta como o grande veiculo da globaliza~ao.

E

atraves dela que as informa~oes que sao capazes de modificar o comportamento, a religiosidade, a linguagem e varios outros aspectos culturais, chegam as mais diversas partes do globo. Dessa forma, o modelo de sociedade norte-americano acaba por ser exportado para o mundo e nem todas as Na~oes aceitam pacificamente este estilo de sociedade, o que gera conflito. Dai a emergencia de grupos nacionalistas e extremistas que entram em confronto com este modelo. Dai tambem, a forma~ao de novos atores sociais, como as ONGs, que buscam estilos altemativos de vida e de organiza~ao social.

Concluimos que e de grande valia a retlexao da teoria das Rela~oes lntemacionais sobre a cultura, uma vez que neste novo cemirio da globaliza~ao, ela emerge de forma mais perceptive}, atraves dos problemas que se apresentam. Os

6 "Another category that might be included in our taxonomy is quasi-cultural conflict. This conflict is primarily ideological and is not deeply enough rooted in tradition to fit within standard definitions of

culture, yet it still exhibits most if not all of the characteristics of other cultural clashes. The best example here is the Cold War itsel£ a conflict between political cultures that was portrayed by its combatants in broader cultural terms: "godless communists" versus "corrupt capitalists." During this conjlict, differences regarding the role of the individual within the state and over the distribution of inc£>me produced a "clash of civilizations" that had a relatively recent origin. "ROTHKOP,D. In praise of cultural imperialism?Effecls of Globalization on Culture. In: www.globalpolicy.or, 1997.

(22)

con:flitos que o multiculturalismo pode gerar e, ao mesmo tempo, a nova sociedade que pode ser construida a partir dele, ainda nao receberam a devida atenttao dos te6ricos das RI e nao encontram nas demais teses, embasamento suficiente que fometta ferramentas para a a-tao diplomatica de politica extema. A hist6ria tern mostrado que a cultura adquiriu mais fortta enquanto ramo de estudo cientifico e que provavelmente, adquirini maior relevancia por conta dos acontecimentos hist6ricos atuais. Pensar a cultura nas Relattoes Intemacionais,

e

portanto, refletir sobre o mundo atual e transformar esta reflexao em uma a-tao que garanta urn futuro onde a diversidade sobreviva de forma harmonica e pacifica.

(23)

Capitulo II

Cultura e Desenvolvimento: da primazia do economico as exigencias da globaliza~ao.

0 seculo XX representou urn periodo de grandes transforma~oes na hist6ria da humanidade. Da existencia de urn mundo bipolar, consequencia dos efeitos da II Guerra Mundial,. assistiu-se, em fins de seculo,

a

configura~o de urn sistema globalizado onde as identidades coletivas se :fragmentaram e as referencias que oferecem sentido aos individuos se tomaram cada vez mais rebuscadas. 0 estado constante de incerteza, que emerge da globaliza~ao, faz com que as identidades busquem se reafirmar, se reinventar e se reinserir, pressionando o sistema para que seja possivel aliar modemizactao e tradi~ao.

:E

no final deste seculo, que a ideia de desenvolvimento e repensada pela comunidade intemacional, urna vez que o colapso do sistema bipolar significou sua insu:ficiencia para a promo~ao de igualdades. Pensa-se agora, o economico aliado ao cultural, e o termo cultura, inserido na agenda da busca pelo desenvolvimento, compreendido como meio de se atingir o mesmo, ganha urna nova significactao e importancia.

A afirma~ao dos EUA enquanto potencia dominante, a forma~ao de blocos economicos e o desenvolvimento global do capitalismo, a imposi~ao cultural da sociedade de consumo,. somados

as

desigualdades e problematicas serias apresentadas por este cenario, assim como novas questoes que emergem nas rela~oes intemacionais, em virtude de todas as transforma~oes so:fridas ao Iongo do seculo XX, dao

a

questao cultural, atualmente, urna importancia nunca antes imaginada.

Ao Iongo deste capitulo apresentaremos urn pouco da hist6ria do processo que trouxe a cultura para a agenda intemacional, salientando principalmente os conceitos de desenvolvimento e identidade, e ainda a relevancia da inse~ao da cultura enquanto mecanismo de desenvolvimento, objeto de nosso estudo.

l.Economia e desenvolvimento: do sistema bipolar a globaliza~ao.

0 seculo XX, a '"era dos extremos", como bern colocou o historiador Eric Hobsbawn, representou urn tempo de importantes progressos para a hurnanidade, assim

(24)

como urn momento de questionamento as solu~oes dos problemas hurnanos ate entao encontradas pelo homem. Essa dicotomia, tambem representada pela bipolaridade da Guerra Fria, a qual constituiu-se, paradoxalmente, nurn elemento de equiUbrio e conflito, mostrou que a estrutura da sociedade, sua forma de organiza~ao e distribui~o de for~as e de poder, nao era su:ficiente para que a sociedade global atingisse o desenvolvimento de forma equitativa.

Capitalismo e socialismo, enquanto sistemas economicos e politicos, nao conseguiram assegurar a toda a coletividade seus direitos mais elementares fundamentais e o que se viu, ao longo do seculo XX, foi a emergencia de urn mundo cada vez mais desigual e, ao mesmo tempo, cada vez mais rico e prospero.

0 periodo que segue o fim da Segunda Guerra Mundial ate meados da decada de 1970 assistiu a urn grande avan~o economico e politico. No sentido economico este avan~o se deu em fun~ao de urn revolucionario desenvolvimento tecnol6gico. Ressalta-se ainda o avan~o na oferta de empregos pois, mesmo com a substitui~ao da mao-de-obra hurnana pela tecnol6gica em algumas areas de produ~ao, a taxa de desemprego nao atingiu, no periodo, indices assustadores. Da mesma forma, o poder de consumo manteve-se em continuo crescimento. Agora, alem da possibilidade de consumir mais, as camadas entao menos privilegiadas dos paises desenvolvidos podiam consumir produtos que ate entao eram considerados artigos de luxo, destinados

a

parte rica da popula~ao. Refrigeradores, telefones, produtos de higiene pessoal, alimentos congelados e importados, e ate mesmo automoveis estavam ao alcance de urna parcela cada vez maior da popula~ao. No sentido politico, a mudan~a se deu em fun~ao de uma nova postura dos govemos desenvolvidos. A Depressao de 1929 deixou como li~ao que deixar o mercado livre responsavel pelo desenvolvimento economico pode ser perigoso. Dessa maneira, na~oes como EUA, Fran~a, Gra- Bretanha tomaram posturas de prote~ao e interven~ao de seus govemos na economia, urn passo para. a cria~ao do estado de bem-estar social. Os objetivos eram garantir o pleno emprego, o desenvolvimento industrial, a manuten~ao dos salarios e a prot~ao dos direitos dos cidadaos atraves da previdencia social, e outras formas de dar assistencia

a

popula~ao. Tal postura, em meio a Guerra Fria, serviu para "silenciar" as esquerdas de tais na~oes e afastar a possibilidade de cria~ao de urn contexto socio-economico favonivel a uma revolu~ao comunista.

0 historiador ingles Eric Hobsbawn, em sua obra A Era dos Extremos, destaca tres fatores fundamentais neste desenvolvimento tecnol6gico que o tomam

(25)

impressionante: 1) transformou a vida cotidiana; 2) impulsionou a pesquisa nos setores de pesquisa e desenvolvimento; 3) as novas tecnologias eram de capital intensivo dispensando mao-de-obra human~ algo que nao foi imediatamente percebido, pois a grande massa operaria ainda se encontrava inserida no sistema. Alem disso, tambem como aspecto revelador de urn momento novo na historia, o autor salienta que a era de ouro assistiu a depreda~ao da natureza em funftao da gera~ao de lucro, e a uma urbanizaftao descontrolada como nunca antes na hist6ri~ sem deixar de lado o impressionante surto economico do turismo que, como os outros aspectos citados, foi impulsionado pelo desenvolvimento tecnologico.

E

evidente que tal progresso se evidenciou nos paises desenvolvidos e aumentou as disparidades intemacionais. Sem duvid~ houve efetivamente urn efeito deste impulso tambem nas na~oes mais pobres, ate porque o mundo precisava delas como mercados consumidores e produtores. Mas o que permitiu que esta evolu~ao ocorresse? Ainda segundo Hobsbawm:

«Havia uma substancial reestrutura~iio e reforma do capitalismo e um avan~o bastante espetacular na globaliza~iio e internacionaliza~iio da economia ". 7

Isto quer dizer que a ado~ao de uma economia mi~ onde havia uma relativa interven~ao estatal na economia, permitia democratizar o mercado e garantir as caracteristicas do estado de bem-estar. Quanto

a

intemacionaliza~ao da economia, isto gerou uma nova divisao intemacional do trabalho muito mais complexa e elaborada~ devido ao aumento do poder de consumo e ate mesmo aos emprestimos do pos-guerra.

"Uma especie de liberalismo economico e democracia social "8 na qual predominava a posiftao e a moeda norte-americana como mediadora das rela~oes e dos destinos intemacionais. Tal postura de mudanfta de atua~ao economica e politica, tomada pelas principais potencias capitalistas, contentou a esquerda e silenciou os partidos de oposi~ao radicais, dando urn aspecto de relativa tranquilidade social. Alem disso, este silencio se deveu em fun~ao da falta de uma proposta altemativa para a sociedade, salvo os partidos comunistas, os quais se limitavam, na maior parte dos casos, a seguir as ordens de Moscou.

Esta mudanfta foi o resultado de urn aprendizado historico do periodo entre-guerras e do pos-guerra. Nao se podia deixar a economia a merce do mercado livre

7HOBSBA WN, J.H. A era dos extremos, pp264 8Ibdem, pp265

(26)

como ja havia demonstrado a Grande Depressao. Tampouco se podia deixar o comunismo avan~ar. Assim, urna maior interferencia estatal era necessaria, ou seja, a economia mista. 0 dolar emergia como moeda intemacional pois os EUA mantiveram urn nivel de crescimento espantoso e chegaram na era de ouro como a principal potencia. Mas o rapido crescimento de outras na~oes era necessario para o equilibrio economico mundial, inclusive o norte-americano. 0 drastico periodo do entre-guerras ocorreu muito em fun~ao deste desequih'brio economico e da fragmenta~ao mundial em na~oes sem cooperatividade entre si. Este periodo nao poderia voltar.

No entanto, a era de ouro com~ou a apresentar sinais de desgaste. Para mante-Ia era necessario que a infla~ao fosse controlada, para isto era necessario preservar urna certa politica de salarios sem, no entanto, diminuir os lucros. Mas, nurn contexto onde a oferta de produtos era cada vez maior e a procura por estes tambem, os salarios deveriam subir de maneira que o mercado se mantivesse ativo, gerando o minimo de infla~ao possivel. Porem,. o mercado baseado no ouro-dolar sofreu urn abalo e a produtividade diminuiu em algumas regioes. Neste quadro, cuja principal caracteristica se tomou a prosperidade, por conta dos abalos como os acima citados e os desgastes provocados por estes, desenvolveu-se urn clima de inseguran~a como sistema.

E

a partir da decada de 60, mais particularmente o ano de 1968, que o questionamento

a

este status quo ganha mais fo~a. Muitos foram OS movimentos que

surgiram e buscaram propor novas altemativas para a humanidade. Sujeitos ate entao menosprezados como sujeitos historicos emergem como porta vozes da mudan~a: estudantes, mulheres, negros, trabalhadores, ecologistas. Isto porque, a ideia de desenvolvimento que se estabelecera nao fora capaz de integra-lose de solucionar os problemas que nao somente os atingiam, como a toda a coletividade.

Tais problemas nao diziam respeito somente

a

questao economica, ate mesmo porque, por mais que se vivenciasse urn momento de crise, era visivel que o mundo havia atingido urn indice de desenvolvimento nunca antes imaginado. A problematica girava em tomo da propria no~ao de desenvolvimento. Este desenvolvimento nao solucionava as questoes de exclusao racial, nao solucionava as ambi~oes femininas, destruia o meio ambiente, nao abria perspectivas para os jovens que, no caso especffico dos EUA, lutavam contra uma guerra, do Vietna, para a qual nao viamjustificativa.

Falando desta maneira, os acontecimentos de 1968 parecem ter constituido urn fenomeno proprio dos paises capitalistas. Mas nao foi bern assim. A crise se alastrou pelos paises socialistas e paises do chamado terceiro mundo. Obviamente, as

(27)

motiva~oes, ao mesmo tempo que podem ter caracteristicas comuns, possuem especi:ficidades diante dos diferentes contextos historicos.

Percebeu-se portanto, que o concerto de desenvolvimento que havia se desenvolvido ideologicamente, fosse este capitalista ou socialista, se prendia aos aspectos economicos e politicos, ou seja, tanto para o bloco capitalista como para o socialista, o desenvolvimento economico seria suficiente para sanar as desigualdades e solucionar os problemas que se apresentavam. Mas a crise deste sistema, mostrou que nao era hem assim, e neste momento, muitos valores ate entao tidos como certos e verdadeiros, com~am a ser questionados.

Este questionamento, iniciado neste periodo , permanece ainda hoje. Ele ganha impulso, inclusive, a partir do fim da Guerra Fria, que representou o fracasso do sistema socialista e impulsionou o desenvolvimento do capitalismo no restante do mundo. A partir de entao o capitalismo atinge propowoes maiores, sua zona de intluencia e atua~ao ganha novos contomos e assiste-se, por fim, ao desenvolvimento da chamada, globaliza~ao.

0 colapso do sistema bipolar gerou tensoes:

"A ordem bipolar havia entrado em colapso, mas a implosiio de um !ado foi dificilmente, a vitoria niio autorizada do outro. No mundo rico a nofiio de progresso sem limites se transformou em uma ilusiio. Os sistemas de valores e as redes de solidariedade pareciam fer quebrado. 0 golfo entre a 'posse' e a 'rede de posse' apareceu para ser atormentado, atraves da exclusiio economica e social que abalava a calma supeTjicie de contentamento. "9

2.Redefini~o de desenvolvimento: a inser~ao da cultura

Os confrontos da Guerra Fria, mascararam por muito tempo, clamores e tensoes locais em fun~ao do conflito maior que existia entre o bloco capitalista e o socialista. Tal situa~ao criou muros entre as diferentes identidades e alimentou urn novo tipo de pequenos conflitos, relacionados a etnias, religioes e nacionalidades. Esta logica de 9 "A bipolar order had collapsed, but the implosion of one side wos hardly an unalloyed victory for the other. In the qffluent word! the notion of progress without limits had become an illusion. Value systems and ties of solidarity appeard to be breaking down. The gulf between "haves" and "have-nets" appeard to be windening. the scourge of social and economic exclusion disturbing the smooth suiface of contentment. "Our Creative Diversity. pp.9

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rejeic;ao e narcisismo, comec;ou a abalar a paz e a seguranc;a, atrapalliar o crescimento economico e a harmonia social, violar as dignidades pessoais, e a destratar a diversidad.e cultural inerente a maioria das nac;oes e vital para seu born funcionamento.10

Diante deste quadro, novas complexidad.es se apresentam no cenario intemacional. 0 equilibria entre os povos e as nac;oes nao depende somente do contexto politico no qual se inserem, pelo contrario, o fim da bipolaridade, que serviu de balanc;a para o mundo, exacerbou a necessidade de equilibria uma vez que novos con:flitos, ou mellior, antigos con:flitos que antes se camu:flavam por conta da Guerra Fria, emergem com mais forc;a. Nao e possivel mais, estabelecer equilibria e desenvolvimento, somente a partir do avanc;o economico e do sistema politico. Estes artificios ja se mostraram insuficientes e fallios, levando a comunidade intemacional a repensar o conceito de desenvolvimento, assim como os meios de atingi-lo:

" Claramente. havia a necessidade de transcender o econ6mico, sem

abandond-lo. A propria nm;iio de desenvolvimento havia se ampliado, na medida em que a popula~iio percebeu que o criteria econ6mico por si so niio poderia prover urn programa para a dignidade e o bern estar humano ... u

Essas novas complexidades extgem um empenho muito maior para serem resolvidas. Isto porque envolvem aspectos muito mais subjetivos da existencia humana. Quando tentamos tratar questoes relacionadas a con:flitos etnicos, religiosos e culturais, estamos tratando de valores, tradic;oes e verdades diferentes entre os povos e na maior parte das vezes, incompreendidas. Ao mesmo tempo, para se atingir o equiHbrio e impedir que as diferenc;as deem margem a conflitos, estagnando o desenvolvimento humano, e preciso agregar valores comuns

as

diferentes nac;oes, e preciso que de alguma forma, os individuos se reconhecem uns nos outros a partir de um conjunto de valores comum a todos.

E

nisso que reside a dificuldade: como tratar as diferenc;as e como, a partir delas, criar igualdades?

Sendo assim, uma nova palavra entra na agenda intemacional: cultura. A percepc;ao da cultura como veiculo de desenvolvimento nao

e

tao recente.

Ja

no p6s-guerra, em func;ao do nazismo, percebeu-se sua relevancia para o equilibria social e os desastres que o desrespeito ao multiculturalismo atraves da imposic;ao unilateral de uma 10 Ibdem

11 "Cleary, there was a need to transcend economics, without abandoning it. The notion of development i1self had broadened, as people realized that economic cri1eria alone could not provide a programme for human dignity and well-being." Ibdem, pp.8

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cultura, poderia provocar. 0 debate em tomo da questao, emerge com mais relevancia, no entanto, na decada de 80, como resultado de toda a transforma~ao que o mundo sofreu, em termos de questionamento e busca de formas altemativas de vida.

Em termos praticos, a cultura como mecanismo de desenvolvimento, faz parte da pauta da UNESCO, desde os anos 80, tendo na Conferencia Mundial do Mexico, sua primeira grande expressao, onde cultura e desenvolvimento aparecem intimamente relacionados. A Recomenda~ao da Decada Mundial do Desenvolvimento Cultural, resultado da Conferencia do Mexico, traz os seguintes conceitos:

"Cultura como o conjunto de caracteristicas espirituais e materiais, intelectuais e emocionais que definem um grupo social.(..J engloba modos de vida, os direitos .fimdamentais da pessoa, sistemas de valores, tradir;oes e crenr;as; e desenvolvimento

como um processo complexo, holistico e multidimensional, que vai alem do crescimento economico e integra todas as energias da comunidade(. .. )deve estar .fimdado no desejo de cada sociedade de expressar sua profunda identidade ... "12

Percebe-se que as defini~oes de cultura e desenvolvimento dadas pela Recomenda~ao da Decada Mundial do Desenvolvimento Cultural, nao s6 interagem entre si, como apresentam conceitos subjetivos. Se o desenvolvimento vai alem do crescimento economico e integra todas as energias da comunidade e, se a cultura constitui tudo aquilo que define urn grupo social, entao urn engloba o outro, cultura e desenvolvimento estao intimamente ligados, urn pressupoe o outro o que nos leva a crer que urn nao se da sem o outro.

0 conceito de desenvolvimento passa a ser entendido de forma mais ampla. Passe-se a perceber o desenvolvimento como urn processo de alargamento das escolhas populacionais. 0 desenvolvimento passa a ser medido nao somente atraves do progresso economico. Alia-se ao progresso economico, a capacidade de gerar oportunidades, as liberdades politicas, economicas e sociais, assim como a capacidade de assegurar saude, educa~ao, produtividade, criatividade, auto-respeito e direitos hurnanos. Os aspectos culturais sao, portanto, trazidos para dentro do conceito de desenvolvimento, e sao desenvolvidos como estrategias para a garantia do mesmo.

No entanto, e preciso sermos claros quanto ao que se entende por cui~ uma vez que a conceitua~ao do termo pode, muitas vezes, se restringir a urn determinado aspecto do mesmo, devido

a

amplitude do termo. A cultura e, na maior parte da vezes,

(30)

compreendida ( confundida) como manifest~ao artistica ou com as manifestay{)es hurnanas que constituem patrimonio bistorico: arquite~ monurnentos, sitios arqueologicos. Obviamente, a arte esta inserida na cultura, mas nao a define.

E,

pelo contnirio, urna das partes dela. A arte, seja a miisica, a literatura, o cinema ou as artes phisticas, pode ser considerada o produto material da cultura. Ou seja, urn produto que pode ser comercializado e transformado em capital gerando, dessa forma, riqueza. Pode ser tambem percebida como manifestayao de urn povo, como urn patrimonio imaterial, que deve ser conservado.

Porem, cultura nao e so arte. Como ja posto, cultura engloba modos de ser e de viver, maneiras de enxergar o mundo e de se manifestar no mundo. Compreende a linguagem, os costumes, as crenyas e os valores. Cultura confere identidade a urn povo. Cultura e aquilo que faz urn povo se reconhecer e se definir enquanto tal. A cultura e aquilo que caracteriza e o que difere.

Dessa forma, transformar a cultura como meio para o desenvolvimento, implica nao so na rede:finiyao de desenvolvimento (urna vez que tais conceitos nao podem mais ser vistos ou entendidos separadamente, pelo contrario, estao cada vez mrus interligados, quase se confundindo ), como tambem ter claro o conceito de cultura.

3. Efeitos da globaliza~io na cultura

Como vimos, as decadas :finais do seculo XX trouxeram consigo urna nova configurayao mundial. 0 colapso do sistema bipolar resultou na emergencia de uma potencia dominante, os EUA, que nao so passaram a deter o maior poderio economico e politico, como buscaram estabelecer seu soft power pelo mundo. Soft power e a capacidade de convencimento do outro, e fazer com que o outro ~a de acordo nao com a propria vontade mas de acordo com a vontade daquele que o convenceu e o fez adotar posturas, valores, ideologias que nao sao propriamente suas, mas que sao incorporadas e urna vez incorporadas se tomam verdades e condicionam seu modo de agir. Soft power e fazer com que o outro pense como eu penso, em resumo.

E

fazer com que o outro se comporte de maneira conveniente a mim e nao a ele proprio. 0 poder brando e, portanto, exercido atraves da cultura, da retorica, do discurso, do consurno. Os EUA conseguiram se impor economicamente, politicamente, militarmente e culturalmente. Os valores de urna cultura de consumo conseguiram ser transplantados para realidades e culturas diferentes, atingindo as identidades e gerando conflitos. 0 advento da

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globaliza~tao toma a questao ainda mais delicada. A formayao de blocos economicos, as necessidades de interdependencia e colaborayao entre as na~toes, incluidas num cenario ainda desigual, gerou urn paradoxo: o choque entre a sociedade de consumo e seus valores que se impoe e a manuten~tao das identidades coletivas. Como promover

moderniza~tao sabendo conciliar as identidades e, ao mesmo tempo, atingir os valores eticos globais apresentados a partir dessa nova realidade chamada globaliza~tao?

"A demanda pelo progresso hwnano estava pressionando. A popula~iio come~ou a perceber, nem sempre claramente, que as falhas e expectativas frustradas de desenvolvimento deram origem a tensi'ies culturais em varias sociedades. Algumas vezes, estas fa/has tiveram formas desastrosas, de guerras civis a regimes autoritarios assassinos, perturbando o proprio processo de desenvolvimento. Em contrapartida, via-se o desenvolvimento bem sucedido, que niio so fechou o fossa entre os pafses ricos e pobres, mas tambem mostrou que as tradi~oes especificas de cada cultura poderiam ser combinadas com as mais modernas fontes economicas, cientfjicas e tecnologicas. Percebeu-se o exemplo dos prosperos poises do Leste Asititico, onde as popula~oes permaneceram fieis aos seus valores ainda que tenham adquirido wn alto padriio de vida como as na~oes do mundo industrializado. E no mundo industrializado, a desilusiio com o progresso material, alto indice de conswno para os privilegi'ados somado a priva~iio generalizada e alta taxa de desemprego, tambem estavam empurrando a cultura e a identidade cultural para a linha de frente da agenda _pUblica. "13

0 processo de globaliza~tao nao pressupiie o fim das identidades coletivas e a homogeniza~tao das diferentes culturas. Nao ha necessidade de se acabar com o multiculturalismo para que a globaliza~tao continue seu processo. Pelo contrario, o 13 "The demand for human betterment was pressing. People began to sense, not always clearly, that the failures and frustrated expectations of development had given rise to cultural tensions in many societies. Sometimes these failures took the form of development disasters, ranging from civil wars to murderous

authoritarian regimes~ and disrupted the development process itself Elsewhere people saw successful

development, that not only dosed the gap between rich and poor countries but also showed that traditions specific to each culture could ve combined with the most modern economis, scientific and technological resources. They saw the example of prosperous East Asian countries, whose peoples remained faithful to their values, yet had earned for themselves higher living standards than many nacions in industrial world. And in the industrial world itself, disillusionment with material progress, high levels of consumption for the privileged amid widespread deprivation and persistently high rates of premanent unemployment were also pushing culture and cultural identity to the forefront of the public

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multiculturalismo e, portanto, as identidades coletivas, sao reinscritas num cemirio no qual nao ha mais espayO para 0 isolamento. As identidades nao podem mais Se limitar as fronteiras de sua territorialidade. 0 aspecto mais interessante deste con:flito entre globalizayao e identidade, talvez seja o fato de que ao mesmo tempo que a globalizayao deforma as identidades, ela exige que estas se afirmem e resistam enquanto simbolo do local, do Unico, do emancipat6rio. As identidades emergem, no cenario da globalizayao, mais fortes e ao mesmo tempo, mais vulneraveis. Faz parte da l6gica da globalizayao a afirmayao, defesa ou a contestayao das identidades:

"(..J a globalizat;iio neste caso seria o bert;o da qfirmat;iio identitciria, o contexto no

qual a chamada fragmentat;iio do sujeito desencadeia iniimeras tentativas de recomposit;iio. Porque as identidades emergem na esteira dos efeitos desterritorializantes e desinstitucionalizantes da globalizat;iio, beneficiando-se do enfraquecimento da antigas unidades politicos e culturais da modernidade novecentista. Porque, enjim, as identidades reagem. numa tentativa de ressincronizat;iio espat;o-temporal, aos efeitos desestruturadores da globalizat;ao, buscando em raizes do passado ou na idealizat;iio do presente uma forma de neutralizar o sentimento de ansiedade ou ptinico ante a incerteza, a instabilidade e a permanente redejinit;iio das regras e cenciri'os que se instalam em nome da

globalizat;iio. "14

A identidade se apresenta como ponto de disc6rdia da globalizayao. Num contexto onde se apresentam atitudes deslegitimadoras do multiculturalismo, onde existe exclusao social e e imposto a diferente sociedades a inseryao subordinada no sistema economico intemacional assim como a incorporayao de discursos liberais ou de esquerda, a afirmayao da identidade serve como ponto de questionamento ao sistema imposto, ao mesmo tempo em que, a sua maneira, busca se inserir no processo.

As identidades tambem atuam como local de subjetividades e afirmayao dos sujeitos, de reconhecimento. Neste sentido, elas atuam contra os efeitos desterritorializantes e desinstitucionalizantes da globalizayao. Por fim, as identidades reagem

a

massificayao imposta pela globalizayao. Afirmando sua intolerancia em relayao

a

homogenizayao coletiva, intensi:ficam-se movimentos religiosos e nacionalistas e outras formas de expressao, que questionam a ordem ao mesmo tempo

(33)

em que percebem sua inevitabilidade. Este questionamento pode ser visto como urn apelo

a

participa~tao no sistema de acordo com os proprios termos.

0 cenario da globaliza~ao altern os processos de produ~ao e reprodu~ao da identidade. A identidade e confrontada com a possibilidade de se reinventar e de recriar sua rela~ao com o outro. Ela e obrigada a reconhecer a presen~a de outros sujeitos em sua estrutura e, dentro deste contexto, repensar o que pretende, suas necessidades e valores. Ou seja, no contexto da globaliza~ao, e exigido das identidades coletivas, uma abertura ao outro e consequentemente, uma tentativa de maior compreensao da alteridade.

A identidade agora, precisa estar aberta ao desa:fio da auto-critica. Investigar a analisar suas estrategias e suas rela~oes com o outro, obter urn comportamento re:flexivo para uma melhor inse~ao no mundo e uma melhor rela~tao com o outro.

Nao ha como colocar urn fun as identidades e dar espa~to para a forma~tao de urn mundo culturalmente igual. Isto seria negar a historia. 0 maior desafio que se apresenta, portanto, as identidades e sua rela~tao com a globaliza~ao, e a capacidade de atingir o pluralismo. Nao no sentido de constru~ao de urn sociedade plana, mas sim na coexistencia pacifica das diferen~tas:

"(..JO desqfio entiio, que tern estado entre os maiores dilemas e contradi~oes da onda contemportinea da globaliza~iio,

e

o de que o regime de reparti~iio dos recursos socialmente relevantes para os diferentes grupos que reivindicam indusiio, justi~a ou reconhecimento produza uma tolertincia ativa das diferen~as no contexto da consciencia possivel da comunidade nacional, da cultura regional e local, ou seja, assumindo-se que nunca sera passive! tolerar todas as diferen~as, nem impedir que o intolertivel reapare~a. Pluralismo niio pode, neste conte:xto, significar um congra~amento geral, uma nova forma de comunidade plena, mas um espa~o de emergencia de demandas que niio somente expressam injusti~as passadas, mas a exclusiio sabre a qual se assenta toda ordem social "15

4.Cultura: inser~io na agenda internadonal

Pensar a cultura, e portanto, pensar qual 0 tipo de desenvolvimento que OS Seres

humanos desejam para si. A constata~tao de que modelos ineficientes foram seguidos ao Iongo da historia e mais, a configura~tao de urn mundo que, assustado, repensou seus

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valores, em virtude dos massacres da II Guerra Mundial, e a partir disto, percebeu que nao

ha

desenvolvimento sem se levar em conta a questao cultural, evoluiu ate a contemporaneidade, onde a cultura se toma cada vez mais objeto do desenvolvimento.

0 advento da globaliz~ao concedeu um Iugar estrategico

a

cultura. Estrategico no sentido geopolitico e economico. Geopolitico porque o multiculturalismo tem sido colocado como fator de tensao no sistema global, gerador de pequenos contlitos cada vez mais relacionados

a

questoes religiosas, ao xenofobismo e ao nacionalismo. Como ja observamos, isto porque a identidade e 0 local de afirma~ao, e 0 local de sentido no

mundo fragmentado da globaliza~ao. E, ao mesmo tempo que procura se refor~ar. constantemente se reconfigura, ao mesmo tempo atrai a globaliza~ao para si e a repele. Economico porque a cultura enquanto objeto de consumo aumenta seu mercado e gera divisas cada vez maiores:

"Do ponto de vista estritamente economico, uma visiio realista e pragmtitica nos mostra que a economia da cultura e uma das que mais se expandem no capitalismo globalizado e cresce em um ritmo superior a evolut;iio do PJB mundial. A economia criativa compete com a industria de guerra nos Estados Unidos, aparece como uma das mais significativas na Uniiio Europeia e mostra um forte desempenho nos paises menos desenvolvidos, como o Brasil. A cultura e o setor da economia que mais cresce no mundo e que gera, em media, os melhores saltirios, mais empregos e ainda mais- o que considero mais importante- inclusiio social com cidadania plena. "16

Neste sentido, a cultura emerge como um direito. Direito de exercer, num mundo multicultural, uma cultura especifica, e direito de levar os produtos materiais da cultura, ao mercado. 0 grande paradoxo da globaliza~ao, no entanto, consiste no fato de que apesar de falarmos num mundo multicultural, uma cultura se impoe e busca sua hegemonia: a cultura de consumo do mundo desenvolvido. E sao os paises desenvolvidos e os conglomerados multinacionais que detem o poder economico da

l6'"Del punto de vista estrictamente economico, una vision realista o pragnuitica deja de percibir que actualmente Ia economia de la cultura es una de las que mas se expanden en el capiialismo globalizado, y crece a un ritmo superior a la evolucion del PJB mundial. La economia creativa compite con fa industria de fa guerra en Estados Unidos, aparece ya como una de las mas significativas en Ia Union Europea y muestra un desempeiio foerte en los paises menos desarrollados, como Brasil. La cultura es el sector de Ia economia que mas crece en el mundo,ya que genera, en promedio, mejores salarios, mas empleos e incluso -lo que considero mas imporlante- inclusion socialcon ciudadania plena". ln:GIL. G. In: Cultura. Diversitlatl y acceso, pp.59.

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cultura. No caso dos EUA, a industria cinematognilica constitui o segundo mator superavit na balan~a comercial do palsY Isto porque os EUA conseguiram impor, na comunidade intemacional, parte de sua cultura (como ja observamos, atraves do soft power) e, perceberam que a cultura, enquanto produto, nao s6 atua como geradora de riqueza como tambem discurso de influencia e, portanto, mecanismo de poder. Outras na~oes tambem usufruem deste mercado e tern crescido neste sentido, como a China, o Japao e a Uniao Europeia.

Ve-se que a cultura e um bern que pode ser usu:fruido de diversas maneiras. No caso do patrimonio cultural, como sitios arqueol6gicos e centros hist6ricos, este se configura de extrema importancia para a industria do turismo. Nisto tambem reside uma problematica: o conflito entre o turismo e a preserva~ao, mas nao

e

uma tematica que nos cabe analisar aqui. 0 exemplo serve para mostrar quao :frutifero e o mercado cultural e quao mais complexo do que parece ser, ele e.

Esta complexidade apresenta outras questoes que vao alem das mercadol6gicas. A intera~ao e integrac;ao das culturas e inevitavel. Mas e fato que, atualmente, algumas culturas dominam tanto o mercado cultural, como a cultura no nivel de valores e ideologias. Se desejamos uma sociedade integrada e globalizada de fato, e necessario repensar este domi:nio e propiciar aos paises em desenvolvimento, as ferramentas necessanas para a inser~ao de suas culturas no cenario intemacional:

"A ideia de cultura como um direito, economia, politica e identidade, desenvolvida na ultimas decadas, deve mais que mmca, compor 0 idecirio subjacente

as

propostas de

reforma das institui~oes internacionais. Em vez de choque entre civiliza~oes, a cultura deve ser vista como a argila jlexivel das rela~oes globais, capaz de llflir pela diversidade comllflidades sociais distintas, na~oes e inclusive hemiiferios inteiros. "18 Alem disso, no que se refere ao consumo da arte, e necessario observar a l6gica deste consumo que muito tern a ver com o consumidor e o aparato simb6lico que este possui capaz de decodificar a arte. Ou seja, para se consumir um bern arti:stico

e

17 Galperin, H.Las indnstrias cultnrales en los acuerdos de integraci6n regional: el caso de Nafta,la UE y el Mercosnr.

18"La idea de cultura como derecho, economia, politica e identidad, esparcida en las Ultimas decadas, debe mas que nunca componer el ideario subyacente de las propuestas de reforma de lasinstituciones internacionales. En vez de choque entre civilizaciones, Ia cultura se le debe ver como Ia arciUa flexible de las relaciones globales, capaz de unir por la diversidad a distintas comunidades sociales, naciones e incluso hemisferios enteros." In:GIL, G. In: Cnltnra, Diversidad y acceso, pp.59.

Referências

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