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A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro: a federalização da segurança pública

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ DEPARTAMENTO DE DIREITO

ANA FLÁVIA AMARAL CYPRIANO RODRIGUES

A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: A FEDERALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA

MACAÉ - RJ 2018

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ANA FLÁVIA AMARAL CYPRIANO RODRIGUES

A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: A FEDERALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação de Direito do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Heron Abdon Souza

MACAÉ - RJ 2018

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ANA FLÁVIA AMARAL CYPRIANO RODRIGUES

A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: A FEDERALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação de Direito do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovação em: ______/______/______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Heron Abdon Souza – UFF (Orientador)

___________________________________________________________________ Prof. Dra. Fabianne Manhães – UFF (Banca Examinadora)

___________________________________________________________________ Mestrando Lucas Pontes – UFF (Banca Examinadora)

MACAÉ –RJ 2018

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Ficha catalográfica automática - SDC/BMAC

Bibliotecária responsável: Fernanda Nascimento Silva - CRB7/6459

R696i Rodrigues, Ana Flávia Amaral Cypriano

A INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: A FEDERALIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA / Ana Flávia Amaral Cypriano Rodrigues ; Heron Abdon Souza, orientador. Macaé, 2018.

66 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)- Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências da Sociedade, Macaé, 2018.

1. Intervenção do estado. 2. Segurança pública. 3. Produção intelectual. I. Título II. Souza,Heron Abdon,

orientador. III. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências da Sociedade. Departamento de Direito.

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Dedico este trabalho à minha família, e especialmente à minha mãe, que sempre me apoiou durante toda a faculdade e incentivou meu crescimento profissional.

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RESUMO

A Constituição Federal de 1988 determina a autonomia dos Entes Federativos como regra, ressaltando a possibilidade, em situações excepcionais, de uma intervenção federal nos Estados e Municípios. Em face aos altos índices de violência e com o objetivo de contê-los, pela primeira vez após a Constituição de 1988, foi decretada no Estado do Rio de Janeiro uma intervenção federal. Desse modo, o Decreto de intervenção limitou-se à área de segurança pública, com a nomeação de um interventor de natureza militar para o cargo e a atuação das forças armadas militares no Estado. Assim, busca-se fazer uma análise dessa intervenção federal na área de segurança pública, bem como seus resultados e conseqüências no Estado do Rio de Janeiro.

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ABSTRACT

The Federal Constitution of 1988 determines the autonomy of the Federative Entities as a rule, highlighting the possibility, in exceptional situations, of a Federal Intervention in the States and Municipalities. In the face of high levels of violence and with the objective of containing them, for the first time after the 1988 Constitution, a federal intervention was decreed in the State of Rio de Janeiro. Thus, the intervention decree was limited to the area of public security, with the appointment of an interventor of a military nature for the position and the military armed forces in the State. So, it is sought to make an analysis of this federal intervention in the area of public security, as well as its results and consequences in the State of Rio de Janeiro.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

1 TRAJETÓRIA CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO PAÍS...12

1.1 INTERVENÇÃO FEDERAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA...12

1.1.1 Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro em 1923...13

1.1.2 Intervenção no Estado da Bahia em 1920 e 1924...14

1.2 INTERVENTORES FEDERAIS NA ERA VARGAS...16

1.3 INTERVENÇÃO FEDERAL EM 1957 NO ESTADO DE ALAGOAS...17

1.4 A INTERVENÇÃO FEDERAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988...19

1.4.1 Pressupostos e Requisitos para Intervenção Federal nos Estados...19

1.4.1.1 A Intervenção nos Municípios...21

1.4.2 Quase casos na vigência da Constituição de 1988...22

1.4.2.1 IF 114 Mato Grosso do Sul...22

1.4.2.2 IF 4.822 no Distrito Federal...23

1.4.2.3 IF. 5.129 em Rondônia...24

2 INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM 2018...24

2.1 ANTECEDENTES...25

2.1.1 Garantia da Lei e da Ordem...25

2.1.2 Contexto Social e Político do Estado...26

2.2 DECRETO DE INTERVENÇÃO FEDERAL...28

2.3 PROCEDIMENTOS JURÍDICOS...31

2.3.1 Votação de Projeto de Emenda à Constituição...32

2.4 A MILITARIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO...34

3 AÇÕES E RESULTADOS...37

3.1 PLANO ESTRATÉGICO, ORÇAMENTO E METAS...37

3.2 MEDIDAS...39

3.2.1 Criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública...41

3.3 CONSEQUÊNCIAS...43

3.3.1 Balanço estatístico...43

3.3.1.1 Crime de Homicídio Doloso...44

3.3.1.2 Crime de Roubo...46

3.3.1.3 Crime de Roubo de Celulares...48

(9)

3.3.1.5 Crime de Roubo a Pedestres...51

3.3.1.6 Crime de Roubo de Carga...52

3.3.1.7 Apreensão de Armas...54

CONCLUSÃO...56

(10)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa do Estado do Rio de Janeiro e sua divisão de regiões, conforme dispõe a ISP/RJ. ... 44 Gráfico 1 - Taxa do crime de homicídio doloso no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 45 Gráfico 2 - Taxa do crime de homicídio doloso nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 46 Gráfico 3 - Taxa do crime de roubo no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 47 Gráfico 4 - Taxa do crime de roubo nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 48 Gráfico 5 - Taxa do crime de roubo de celulares no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 48 Gráfico 6 - Taxa do crime de roubo de celulares nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 49 Gráfico 7 - Taxa do crime de roubo de veículos no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 50 Gráfico 8 - Taxa do crime de roubo de veículos nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 50 Gráfico 9 - Taxa do crime de roubo a pedestres no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 51 Gráfico 10 – Taxa do crime de roubo a pedestres nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 52 Gráfico 11 - Taxa do crime de roubo de carga no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 53 Gráfico 12 - Taxa do crime de roubo de carga nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 53 Gráfico 13 - Taxa de apreensão de armas no Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 54 Gráfico 14 - Taxa de apreensão de armas nas regiões do Estado do Rio de Janeiro no período de Janeiro a Setembro de 2014 a 2018. ... 55

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INTRODUÇÃO

Em contrapartida ao princípio da autonomia dos Entes Federativos, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a possibilidade de Intervenção Federal nos Estados, passando a União a administrá-los. No entanto, a ocorrência de uma intervenção federal é limitada para alguns casos específicos e excepcionais, além de conter certos requisitos para seu implemento.

Ocorre que pela primeira vez foi decretada uma intervenção federal em um estado após a Constituição Federal de 1988. Com o objetivo de pôr termo a grave comprometimento da ordem pública, na área de segurança pública, no estado do Rio de Janeiro, a intervenção federal foi instituída através do Decreto nº 9.288, de 16 de Fevereiro de 2018.

Ao ter uma intervenção federal restrita à segurança pública, há uma federalização desta área, ainda que temporária, sem que haja uma flexibilização de direitos. É uma questão voltada para a gerência e administração pública, tal que sequer é possível que ocorra alteração na Constituição durante uma intervenção federal.

Diante disso, a presente monografia tem por objetivo analisar o instituto da Intervenção Federal, examinando a intervenção no Estado do Rio de Janeiro na área da segurança pública desde os antecedentes que ensejaram sua decretação até seu resultado.

Assim, procura-se compreender se de fato tal medida foi eficiente no combate à violência do Estado do Rio de Janeiro e, nesse caso, se as medidas adotadas para tal fim foram suficientes para a redução da violência durante o período da intervenção, bem como quais foram as consequências para o Estado.

Como o tema do trabalho está em vigor atualmente, a metodologia de pesquisa será feita no decorrer do desenvolvimento da monografia. Seguindo essa linha, para atingir os objetivos propostos, será feita uma análise de dados estatísticos e das medidas feitas pelo Governo para que a intervenção se mostre efetiva ou não, usando o método quantitativo e qualitativo, bem como pesquisa de dados, notícias, documental e pesquisa bibliográfica.

O primeiro capítulo abordará a evolução da Intervenção Federal no país, permeando sua implementação ao longo da história, assim como os pressupostos e requisitos para a intervenção já na Constituição Federal de 1988.

Num segundo momento, o próximo capítulo tem como pilar principal a Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro, versando sobre os antecedentes que ensejaram a intervenção, como ocorreu a decretação, seus procedimentos jurídicos, assim como o caráter

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militar do instituto. Ademais, traz uma análise acerca da possibilidade de tramitação de emendas à Constituição durante a vigência da intervenção.

Por fim, o último capítulo será feito um estudo das ações feitas pelo Estado para dar efetivação à intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, transpondo as medidas realizadas na vigência deste, como a criação do Ministério da Segurança Pública. Além disso, o estudo abrangerá os balanços estatísticos, os dados, e os impactos ao Estado, mostrando se realmente houve a redução da violência durante o período da intervenção federal.

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1 TRAJETÓRIA CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO PAÍS

1.1 INTERVENÇÃO FEDERAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA

Durante a Primeira República, a intervenção federal nos estados serviu principalmente como controle político para com as oligarquias locais.

A Carta de 1891 figurou a intervenção federal de modo semelhante a que conhecemos. Era uma medida excepcional, tendo como regra a independência dos Estados frente à União quanto aos assuntos de sua competência.

O art. 6º da Constituição de 1891 estabelecia a intervenção federal, nestes moldes: Art. 6º O Governo Federal não poderá intervir em negócios peculiares aos Estados, salvo:

1º Para repelir invasão estrangeira, ou de um Estado em outro; 2º Para manter a forma republicana federativa;

3º Para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, a requisição dos respectivos governos;

4º Para assegurar a execução das leis e sentenças federais1.

Percebe-se que a Constituição abrangia somente as hipóteses de intervenção federal, excluindo outros aspectos, a exemplo de qual poder possuía a capacidade de decisão acerca da intervenção, bem como a questão da pessoa do interventor.

Somente após a reforma constitucional de 1926 é que a intervenção federal foi melhor descrita, sendo inclusive mais específica quanto ao seu cabimento:

Art.6º - O Governo federal não poderá intervir em negocios peculiares aos Estados, salvo: (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) I - para repelir invasão estrangeira, ou de um Estado em outro; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

II - para assegurar a integridade nacional e o respeito aos seguintes principios constitucionaes: (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) a) a forma republicana; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

b) o regime representativo; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

c) o governo presidencial; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

d) a independência e harmonia dos Poderes; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

e) a temporariedade das funcções electivas e a responsabilidade dos funcionários; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) f) a autonomia dos municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

1 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. Rio de Janeiro. Publicada em: 24 de fevereiro de 1891. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html> Acesso em: 20 nov. 2018

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g) a capacidade para ser eleitor ou elegível nos termos da Constituição; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

h) um regimen eleitoral que permitta a representação das minorias; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

i) a inamovibilidade e vitaliciedade dos magistrados e a irreductibilidade dos seus vencimentos; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) j) os direitos políticos e individuaes assegurados pela Constituição; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

k) a não reeleição dos Presidentes e Governadores; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

l) a possibilidade de reforma constitucional e a competência do Poder Legislativo para decretal-a; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) III - para garantir o livre exercicio de qualquer dos poderes públicos estaduaes, por solicitação de seus legítimos representantes, e para, independente de solicitação, respeitada a existencia dos mesmos, pôr termo á guerra civil; (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

IV - para assegurar a execução das leis e sentenças federaes e reorganizar as finanças do Estado, cuja incapacidade para a vida autonoma se demonstrar pela cessação de pagamentos de sua dívida fundada, por mais de dous annos. (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

§ 1º Cabe, privativamente, ao Congresso Nacional decretar a intervenção nos Estados para assegurar o respeito aos principios constitucionaes da União (nº II); para decidir da legitimidade de poderes, em caso de duplicata (nº III), e para reorganizar as finanças do Estado insolvente (nº IV). (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

§ 2º Compete, privativamente, ao Presidente da República intervir nos Estados, quando o Congresso decretar a intervenção (§1º); quando o Supremo Tribunal a requisitar (§ 3º); quando qualquer dos Poderes Publicos estadoaes a solicitar (nº III); e, independentemente de provocação, nos demais casos comprehendidos neste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)

§ 3º Compete, privativamente, ao Supremo Tribunal Federal requisitar do Poder Executivo a intervenção nos Estados, a fim de assegurar a execução das sentenças federaes (nº IV)2.

Ao dar autonomia aos estados, notou-se que estes poderiam sair do controle, pois a Constituição apenas delimitava a organização federal, cabendo aos estados membros fazerem suas leis. A partir de então, começaram a surgir tensões políticas, decorrente das disputas de poder, dada a nova implementação da forma republicana no Estado, que em dado momento se intensificaram, passando a União a intervir nos estados efetivamente.

1.1.1 Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro em 1923

O primeiro a sofrer uma intervenção federal desde a promulgação da República foi o estado do Rio de Janeiro em 1923.

Inicialmente, durante a Primeira República, houve muita tensão nas escolhas dos presidenciáveis, especialmente entre Arthur Bernardes e Nilo Peçanha.

2 BRASIL. Emenda Constitucional de 3 de Setembro de 1926. Rio de Janeiro. Publicada em: 04 de setembro de 1926. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon_sn/1920-1929/emendaconstitucional-37426-3-setembro-1926-564078-publicacaooriginal-88097-pl.html > Acesso em: 20 nov. 2018

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As oligarquias da Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul lançaram candidatura de oposição à Arthur Bernardes, o que futuramente levou a ameaças de decretação de intervenção federal nos estados.

Ao decorrer da campanha, Nilo Peçanha e aliados lançaram uma nova candidatura chama de Reação Republicana, que criticava veementemente o sistema político da época.

Contudo, a partir do momento que a Reação Republicana não conseguiu ganhar a eleição, os seus integrantes tentaram reforçaram a influência política local no Rio de Janeiro para sinalizar oposição ao governo de Arthur Bernardes.

Foi então que houve a eleição para o governo do Rio de Janeiro, em que concorreram Raul Fernandes, que possuía forte ligação com Arthur Bernardes, e Feliciano Sodré, sendo que ao final da disputa, Raul foi eleito governador. Com a derrota de Feliciano para o governo e também no Poder Legislativo, no dia da primeira sessão da assembléia, ao serem impedidos de entrar, passaram a funcionar em outra assembléia legislativa, em Niterói.

Após, foram empossados para o cargo de governador tanto Raul Fernandes quanto Feliciano Sodré, intensificando ainda mais a disputa política local.

Da rixa política, tanto os aliados como os oposicionistas declararam a existência de duplicatas de governo e assembleias legislativas, visto que ambos os candidatos consideravam a vitória na eleição para governador. Para tomar posse, o deputado eleito do Estado do Rio de Janeiro, Raul Fernandes, impetrou um habeas corpus na Corte Suprema devido às duplicatas, buscando ser empossado no cargo.

Apesar da concessão do habeas corpus, a decisão não foi cumprida. Devido a continuidade da crise política, com o Decreto nº 15.922, em 10 de janeiro de 1923, o Presidente Arthur Bernardes decretou intervenção federal3 no Estado do Rio de Janeiro.

O Congresso Nacional acabou aprovando a intervenção federal, por maioria de seus membros. O Decreto indicou Aurelino Leal como interventor federal, que já havia ocupado importantes cargos políticos à época. Ao final, após nova eleição, Feliciano Sodré assume o governo do Rio de Janeiro.

1.1.2 Intervenção no Estado da Bahia em 1920 e 1924

3 BRASIL. Decreto 15.922/1923. Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-15922-10-janeiro-1923-510462-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 23 nov. 2018

BRASIL. Decreto 15.923/1923. Rio de Janeiro. Disponível em:

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Após a decretação da intervenção no Rio de Janeiro, as tensões políticas no Estado da Bahia se intensificaram e cada vez mais os oposicionistas ao governo flertavam com a ideia de uma intervenção federal também na Bahia.

Com a realização das eleições para governo da Bahia, ambos os candidatos ao pleito reivindicaram a vitória para o cargo de governador4, iniciando a crise política, com preparativos para impedir a posse do candidato a ser empossado. O então presidente da República, Epitáfio Pessoa acabou decretando intervenção federal em 23 de fevereiro de 19205, nascendo o embate político com Rui Barbosa, líder da oposição no estado.

Essa intervenção foi fundada no art. 6º, §3º da Constituição6, no entanto, após

denúncias de líderes locais de que a intervenção estaria extrapolado seus limites, o decreto assumiu uma condição característica de sítio, suspendendo os direitos constitucionais. Ao final, J.J. Seabra assumiu o cargo de Governador do Estado.

De outro lado, após a primeira intervenção, ainda existia instabilidade política7,

principalmente com relação à eleição do Poder Legislativo. As eleições da Assembleia Legislativa ocorreram normalmente, no entanto, os opositores ao governo tentaram a realização de uma junta apuradora a fim de promover o reconhecimento dos deputados que eram contra o governo. A partir disso, foi emitido um habeas corpus pelo suplente de juiz Estelita Pessoa, para garantir a reunião com os deputados oposicionistas.

No mesmo sentido, ainda, o juiz Ajuricaba de Menezes enviou novamente um

habeas corpus para que os opositores ao governo pudessem se reunir na Assembleia

Legislativa. Acredita-se que esse habeas corpus foi emitido justamente para provocar uma intervenção federal.

Decorrente disso, foi enviada ao Ministro da Justiça, João Luís Alves, o pedido de Ajuricaba para que enviasse força federal contra o governo a fim de possibilitar a reunião.

Em sessão do STF, ambos os HC foram negados. Ocorre que subsistia a duplicidade do Poder Legislativo Estadual, necessitando de uma unificação, sob pena de ferir a forma

4 José Joaquim Seabra, governador da Bahia por dois períodos, de 1912-1916 e de 1920- 1924 e Paulo Martins Fontes, candidato ao Governo em 1919.

5 BRASIL. Decreto 14.077/1920. Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14077-23-fevereiro-1920-498465-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 23 nov. 2018

6 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. Rio de Janeiro. Publicada em: 24 de fevereiro de 1891. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html> Acesso em: 20 nov. 2018

7 O governo era disputado por Francisco Marques Góes Calmon (1874-1928), governador da Bahia no período 1924-1928 e J.J. Seabra, que reclamava o pleito.

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republicana federativa, prevista no art. 6º da Constituição de 18918. O próprio jornal local,

Diário de Notícias Salvador, reconheceu o crime da duplicata de câmaras, afirmando ter sido preparado de propósito, com intenção de justificar a intervenção federal da União no Estado da Bahia.

A intervenção federal, após diversas disputas políticas locais, só foi de fato decretada na Bahia em 19 de março de 1924 9, reafirmando o acordo dos oposicionistas e o Presidente Artur Bernardes, que enfrentou os governantes que foram contra sua eleição, bem como restabelecendo o Poder Legislativo. Cabe ressaltar que apesar do decreto ser pela forma de um estado de sítio, suas características foram de uma intervenção federal, conforme aduziu o jurista Rui Barbosa em seu livro:

Ninguém poderia sonhar que na intervenção federal esteja contido implicitamente o estado de sítio, ou que, independentemente de o conter, com ele se iguale essa instituição, na propriedade específica de suspender as garantias constitucionais. Ninguém o sonharia. Mas o governo atual da república assim o institui (BARBOSA, Rui. 1975, p. 302).

Assim, a intervenção baiana de 1920 ocorreu nos moldes de um estado de sítio, retirando as garantias e direitos constitucionais, apesar da forma de decretação ter sido de intervenção federal, diferentemente da intervenção federal de 1924, que objetivou não apenas conter a crise política, mas também resolver a questão jurídica das duplicatas, sendo sua forma através de estado de sítio, exatamente o oposto.

1.2 INTERVENTORES FEDERAIS NA ERA VARGAS

Após a Revolução de 1930, ao assumir o Poder provisoriamente, Getúlio Vargas instituiu diversos interventores federais para atuar no Estado em seu Governo Provisório.

Uma de suas primeiras medidas ao assumir o Governo, seria justamente essa implementação de interventores para controlar o Estado, com exceção de Minas Gerais, que teve seu governador eleito em exercício. A função do interventor nos Estados seria semelhante a de um governador.

8 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891. Rio de Janeiro. Publicada em: 24 de fevereiro de 1891. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html> Acesso em: 20 nov. 2018

9 BRASIL. Decreto 16.422/1924. Rio de Janeiro. Disponível em:

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Após a suspensão da Constituição de 1891 e o fim da Primeira República, Getúlio assumiu os poderes até a criação de uma nova constituição, suspendendo também o Congresso Nacional e o próprio Poder Legislativo.

Ao publicar o Decreto nº 20.348/3110, o Governo Vargas estabeleceu um código para controlar os interventores na atuação e administração do Estado. Com isso, havia uma grande centralização do Poder e os Estados tiveram pouca autonomia.

Diante da situação, houve um aumento de tensão por parte dos militares-interventores, principalmente em São Paulo e das oligarquias nos Estados, o que acabou culminando na Revolução Constitucionalista de 1932, compelindo a criação de uma Constituinte.

Ao final, foi promulgada a nova Constituição, a de 1934, que ampliou as hipóteses de cabimento11 de intervenção federal, em relação à última constituição.

1.3 INTERVENÇÃO FEDERAL EM 1957 NO ESTADO DE ALAGOAS

Já a intervenção federal no Estado de Alagoas em 1957 foi precedida de um pedido de impeachment.

Iniciou-se com a vitória nas urnas em 1955 de Muniz Falcão para governador de Alagoas pelo Partido Social Trabalhista.

No entanto, ao assumir o governo do Estado em 1956, começou a tentar implementar medidas que confrontavam os interesses dos produtores de cana de açúcar do Estado. E, justamente, os opositores de seu governo possuíam ligação com essa indústria.

Muniz Falcão pretendia taxar em 2% a produção de diversos produtos como arroz e tecidos, além da produção de açúcar, com intenção de reverter o dinheiro em programas sociais. Logo, diante do embate de interesses, foi protocolado no Poder Legislativo um pedido de impeachment12 do governador, em 9 de fevereiro de 1957.

10 BRASIL. Decreto 20.348/1931. Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-20348-29-agosto-1931-517916-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 24 nov. 2018

11 BRASIL. Artigo 12 da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. Rio de Janeiro.

Publicada em: 16 de julho 1934. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm> Acesso em: 23 nov. 2018

12 Motivos alegados para o impeachment: 1. atentado contra o livre funcionamento da Assembleia Legislativa; 2. emprego de ameaças para constranger Juiz de Direito a deixar de exercer seu ofício; 3. emprego de ameaças e violências contra deputados estaduais, a fim de afastá-los da Assembleia e de coagi-los no exercício de seus mandatos; 4. infração de lei federal de Ordem Pública; 5. realização de despesas não autorizadas por lei.

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Após 6 meses, a tensão entre opositores e governistas aumentou cada vez mais, existindo ameaças de ambos os lados. Em 13 de setembro, os deputados estaduais compareceram na Assembleia Legislativa armados, inclusive com metralhadoras. Dentro da Casa, haviam até mesmo sacos de areia servindo como trincheira.

A votação não ocorreu, pelo contrário, armas foram disparadas e pessoas restaram feridas. Humberto Mendes, parlamentar apoiador de Muniz Falcão, faleceu. Da oposição, o deputado Carlos Gomes de Barros também veio a falecer.

Com o ocorrido, a situação em Alagoas ficou delicada, lojas ficaram fechadas e o medo tomou conta da cidade. Diante da repercussão, Juscelino Kubitschek, o Presidente da República à época, decretou intervenção federal com o fito de evitar novos confrontos.

Com o Decreto nº 42.266/57 ficou instituída a intervenção federal no Estado a fim de garantir o funcionamento da Assembleia Legislativa, não restringindo necessariamente os poderes do Governador do Estado, foi, portanto, uma intervenção federal parcial, senão vejamos:

Decreto nº 42.266/57. Art.1º Fica decretada, pelo prazo de sessenta dias, a intervenção federal no Estado de Alagoas, para o fim de assegurar o livre exercício dos poderes da Assembléia Legislativa.

Parágrafo único. A intervenção não atingirá o livre exercício dos poderes dos órgãos judiciários, nem do Governador do Estado, o qual deverá, entretanto, prestar ao interventor tôda a colaboração de que necessitar para o desempenho da sua missão Art. 2º O Presidente da República tornará efetiva a intervenção e nomeará o Interventor.

Art. 3º O Interventor tomará imediatas providências, a fim de garantir o livre exercício dos poderes da Assembléia Legislativa, e manter a ordem e a tranqüilidade publicas.

Art. 4º O Ministro da Justiça e Negócios Interiores baixará as instruções que se tornarem necessárias à fiel execução dêste decreto.

Art. 5º Êste Decreto entra em vigor na sua data, revogadas as disposições em contrário13.

Foi nomeado como interventor, o general Morais Ancora para o Estado de Alagoas. Ademais, com a intervenção federal, o processo de impeachment foi votado e o governador Falcão destituído do poder.

No entanto, a votação foi flagrantemente ilegal, não contando com a presença dos opositores ao impeachment, sendo anulado pela Suprema Corte, posteriormente. Ao final, Falcão retornou ao poder, sendo anistiado pelo processo que sofreu.

13 BRASIL. Decreto 42.266/1957. Rio de Janeiro. Disponível em:

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1.4 A INTERVENÇÃO FEDERAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Atualmente encontra-se em vigor a Constituição Federal de 1988, prevalecendo a autonomia dos Estados em seu gerenciamento e administração, cabendo-lhes a tomada de decisão em seu âmbito. Esse princípio da autonomia é reconhecido nos arts. 25, 29 e 32 da CFRB/88. Porém, com a intervenção, a autonomia fica restringida, passando o controle para o Ente Público maior.

No art. 34, CRFB/88, há a possibilidade de intervenção federal em Estados e Municípios. Desse modo, um é o oposto do outro. Enquanto a autonomia preza pela liberdade de decisões do Ente, a intervenção a retém e a controla, pressupondo uma incapacidade momentânea de Administração Pública.

Importante destacar, contudo, que essa restrição da intervenção federal é feita como medida excepcional permitida pela nossa Constituição de 1988. Neste sentido, o art. 34 aduz que a União não realizará intervenção nos Estados e no Distrito Federal, com exceção das hipóteses previstas. Assim, deixa explícito o caráter excepcional da intervenção federal.

Da mesma forma o art. 35 evidencia que o Estado não decretará intervenção em seus Municípios, assim como a União não intervirá nos Municípios localizados em Território Federal, com exceção daquelas permitidas pelo ordenamento jurídico.

Extrai-se, portanto, que cabe à União a intervenção nos Estados e nos Territórios Nacionais e, no mesmo sentido, aos Estados a intervenção no âmbito municipal.

1.4.1 Pressupostos e Requisitos para Intervenção Federal nos Estados

Para que seja expedido o decreto de intervenção federal, primeiramente deve este atender a determinados pressupostos previstos na Constituição Federal de 1988.

É possível a intervenção federal quando sua finalidade for a defesa do País, sendo autorizada para manter a integridade nacional e repelir invasão estrangeira, de acordo com o art. 34, I e II, CRFB/88.

Também cabível na defesa da federação para repelir uma invasão de uma unidade da Federação em outra; pôr termo a grave comprometimento da ordem pública e garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação, conforme art. 34, II, III e IV da CRFB/88. Outra possibilidade de intervenção federal, segundo o art. 34, V, CFRB/88, é para reorganizar as finanças da unidade da Federação quando suspender o pagamento da dívida

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fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior deixar de entregar aos municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei.

O último inciso do art. 34, CRFB/88, prevê a possibilidade de defesa constitucional, a qual é possível a decretação de uma intervenção federal para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial e assegurar a observância dos princípios constitucionais, quais sejam, a forma republicana, o sistema representativo e regime democrático, os direitos da pessoa humana, a autonomia municipal, a prestação de contas da administração pública, direta e indireta e, por fim, a aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Por outro lado, a intervenção pode se dar de diversas formas, ela pode ser de ofício, pelo Presidente da República; por solicitação quando existir coação ou impedimento dos Poderes Legislativos e Executivos, ou mesmo quando essa coação for exercida contra o Poder Judiciário, nesse caso, não haverá solicitação e sim requisição da decretação de intervenção federal. No último caso, a requisição vinculará o Presidente da República, que ficará obrigado a tal ato.

Outra hipótese é a de representação do Procurador-Geral da República, pelo STF, para prover lei federal quando existir recusa ou quando existir ofensa aos princípios constitucionais, seguindo o procedimento previsto na Lei nº 4.337/64, visto o PGR ser o único legitimado ativo para propor a representação interventiva federal.

Como pressuposto formal, a intervenção federal será implementada por meio de decreto, de competência privativa do Presidente da República, conforme art. 84, X, CRFB/88.

No entanto, antes da decretação, prevê a Carta Magna que devem ser ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa, conforme arts. 90,I e 91 §1º II, CRFB/88.

O Conselho da República é um órgão consultivo do Presidente da República, sendo composto pelo Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal, os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados, os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, o Ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, sendo expressamente vedada a recondução.

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Já o Conselho de Defesa Nacional também funciona como um órgão consultivo do Presidente da República, sendo composto pelo o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

Ademais, o decreto deverá conter a duração da intervenção, pois, como medida excepcional, deve ter um prazo de término a fim do retorno ao status quo. Além disso, deve especificar a amplitude e as condições da intervenção federal, sendo possível a nomeação de um interventor se for necessário. Geralmente a nomeação do interventor ocorre quando o decreto atinge a área Executiva, mas não é necessariamente um requisito absoluto, porém, caso necessite, deve o decreto já conter a informação de antemão.

Da nomeação do interventor, o §1º do art. 36, CRFB/88, prevê sua submissão à apreciação do Congresso Nacional, se for intervenção no estado, ou, da Assembleia Legislativa estadual, se for intervenção no município, sendo em ambos os casos o prazo de 24 horas para a sujeição, independentemente se a Casa estiver em recesso parlamentar.

Ressalte-se a dispensa da apreciação acima descrita quando envolver os casos do art. 42, VI e VII ou 35, IV, caso o decreto limite a suspensão do ato ora impugnado, restabelecendo a situação à normalidade.

Se o Legislativo rejeitar o decreto de intervenção, ele será imediatamente cessado, tornando-se ato inconstitucional e, caso aja contrariamente, o Presidente estará cometendo crime de responsabilidade previsto no art. 85, II, CRFB/88.

No que diz respeito ao ato de controle jurisdicional, esse controle não é amplo, pois trata-se de ação de natureza política, restringindo o controle apenas às normas constitucionais. A decretação de intervenção também implicará no afastamento da autoridade envolvida e, sendo uma medida temporária, ao cessar a intervenção, a autoridade afastada retornará ao cargo.

1.4.1.1 A Intervenção nos Municípios

A intervenção nos municípios segue o mesmo raciocínio da intervenção em âmbito estadual. Nesta linha, tem-se a prevalência do princípio da autonomia federativa no Ente, inibindo a intervenção dos Estados em municípios e da União em municípios localizados em Território Federal.

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Contudo, a Constituição Federal prevê, em seu artigo 35, a possibilidade de decretação de intervenção nos municípios quando:

I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;

II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;

III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;

IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial14.

Ressalte-se que a peça da representação interventiva a ser apresentada ao Tribunal de Justiça, será feita pelo Procurador Geral de Justiça, em simetria à intervenção da União nos Estados. Ademais, quem realiza o decreto de intervenção nos municípios é o governador do Estado; da mesma forma, quanto aos Territórios Federais, compete ao Presidente da República. Em qualquer caso, também terá os mesmos requisitos que uma intervenção da União no Estado, sendo primordial sua aprovação no Poder Legislativo.

1.4.2 Quase casos na vigência da Constituição de 1988

Apesar da existência de mais de 120 pedidos de intervenção federal no Supremo Tribunal Federal, todos ainda pendentes, alguns pedidos foram julgados improcedentes pela Corte, tornando-se casos conhecidos pela quase decretação de intervenção federal.

Conforme demonstrado anteriormente, para que ocorra algumas das hipóteses de intervenção federal previstas na Constituição Federal de 1988, é preciso a aprovação pelo STF da representação do Procurador-Geral da República. Desse ponto, serão analisados alguns pedidos feitos à Suprema Corte desde a promulgação da Constituição de 1988. Ressalte-se que não foi decretada intervenção desses casos até a presente data.

1.4.2.1 IF 114 Mato Grosso do Sul

Em novembro de 1990, em Mato Grosso do Sul, na cidade de Matupá, três ladrões mantiveram como reféns adultos e crianças. Os policiais negociaram a liberação e a

14 BRASIL. Artigo 35 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, Distrito Federal. Publicada em: 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 20 nov. 2018

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desistência da ação. Ao sair do local, os policiais os acompanharam e os protegeram do linchamento da população. Porém, mais tarde, os ladrões foram vistos em outro local, sendo agredidos. No final, foram queimados e mortos.

Após, o STF recebeu um pedido de intervenção federal da Procuradoria Geral da República em face do Estado do Mato Grosso do Sul. Como fundamento foi alegado que não existiam mais condições do Estado preservar a vida de seus cidadãos, pois ao tentar dar proteção a três presos, os policiais não conseguiram evitar que sofressem um linchamento.

Relatada pelo ministro à época, Néri da Silveira, a Intervenção Federal (IF 114) foi conhecida, sendo deferida a legitimidade do PGR no pedido, no entanto, indeferida por unanimidade no mérito da causa. A gravidade da situação foi reconhecida pela Corte, contudo, entendeu-se que não era o suficiente para uma decretação de intervenção federal, pois esta é uma medida extremamente excepcional.

Ademais, diante das providências tomadas pelo governo na solução do crime, a Corte considerou que bastava para o caso concreto, não sendo cabível uma intervenção federal.

1.4.2.2 IF 4.822 no Distrito Federal

O pedido de intervenção federal, fundamentado no art. 34, VII, b, CRFB/88, feito pelo Procurador Geral da República teve por base a estrutura do Centro de Atendimento Juvenil Especializado, o CAJE do DF, que não estaria funcionando para atender as medidas previstas no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Devido a superlotação, chegando a 350 adolescente e apenas uma capacidade de 190 internos, diversas doenças e epidemias atingiram os jovens. Além disso, o lugar semelhava a uma prisão, não possuindo as características de ações socioeducativas que previa a lei. Com essas condições, começaram a ocorrer mortes entre os internos.

O pedido de intervenção teve por base relatório do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), elaborado por uma comissão especial.

No pedido, o procurador aduz que da indicação de um interventor, este pudesse adotar as medidas que fossem necessárias para a implementação da efetiva garantia dos direitos humanos, que estavam sendo desrespeitados, afastando toda a direção do CAJE/DF15.

15 STF. Fonteles pede ao Supremo intervenção federal no CAJE/DF. Notícias STF. Disponível em:

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Contudo, devido ao lapso temporal desde a representação e à demolição e desativação do antigo CAJE/DF, o pedido foi extinto. Primeiramente abriu-se vista para o PGR, que requereu a extinção do feito. Após, por perda superveniente do objeto, foi julgado prejudicado o pedido em maio de 2018.

1.4.2.3 IF. 5.129 em Rondônia

Já em Porto Velho, Rondônia, devido à situação dos presídios locais, que se encontravam em um estado crítico, o Procurador-Geral da República, à época, Antonio Fernando Souza, solicitou ao Supremo Tribunal Federal a intervenção federal no estado.

Da calamidade instaurada nos presídios, resultaram na morte de cem presos e dezenas de rebeliões. Construída inicialmente para presos provisórios, o presídio Urso Branco, acabou acolhendo presos condenados, ultrapassando, ainda, sua capacidade interna.

Devido a violação a direitos humanos no presídio Urso Branco, em Porto Velho, o PGR solicitou a intervenção federal, ressaltando que até mesmo houve a recomendação da Organização dos Estados Americanos (OEA) para que houvesse a adoção de medidas para solucionar a questão. O pedido a ser analisado pelo Ministro Gilmar Mendes ainda não foi julgado.

2 INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM 2018

A intervenção federal foi instituída através do Decreto nº 9.288, de 16 de Fevereiro de 2018, no Estado do Rio de Janeiro. Contudo, restringiu-se à área da segurança pública do Estado, passando somente o controle desta para a União.

Foi a primeira vez desde a promulgação da Constituição de 1988 que ocorreu uma intervenção federal em um Estado. O decreto, assinado pelo Presidente da República, Michel Temer, nomeou o general de exército Walter Souza Braga Netto como interventor, que, por sua vez, assumiu o comando da Segurança Pública no Estado.

Por ser uma intervenção em uma área específica, o Governador continua exercendo suas funções normalmente. Não há destituição do poder, apenas a União assumindo a competência da segurança pública. Dessa medida, cabe a análise a seguir quanto aos aspectos do decreto e da intervenção.

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2.1 ANTECEDENTES

2.1.1 Garantia da Lei e da Ordem

Inicialmente, importante destacar a crescente onda de violência que atingiu todo o estado do Rio de Janeiro. Desde a redemocratização do país, o aumento do crime organizado é cada vez maior.

A fim de conter a violência, diversas vezes na história do Rio de Janeiro o governo recorreu às forças armadas militares para tal. Buscando restabelecer a segurança, quando a polícia militar estadual não consegue mais atuar efetivamente, através de autorização do Presidente da República, as missões da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) agem no Estado.

Com base no artigo 142 da Constituição Federal, pela Lei Complementar 97/1999, e pelo Decreto nº 3897/2001, temporariamente as forças armadas militares federais são enviadas para atuar com poder de polícia no Estado. É o que pressupõe o art. 3º do Decreto 3897/2001:

Art. 3º Na hipótese de emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem, objetivando a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, porque esgotados os instrumentos a isso previstos no art. 144 da Constituição, lhes incumbirá, sempre que se faça necessário, desenvolver as ações de polícia ostensiva, como as demais, de natureza preventiva ou repressiva, que se incluem na competência, constitucional e legal, das Polícias Militares, observados os termos e limites impostos, a estas últimas, pelo ordenamento jurídico.

Parágrafo único. Consideram-se esgotados os meios previstos no art. 144 da Constituição, inclusive no que concerne às Polícias Militares, quando, em determinado momento, indisponíveis, inexistentes, ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão constitucional.

A GLO foi usada principalmente, de forma episódica, para atuar em grandes eventos no Brasil, como a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro (Rio + 20), em 2012; na Copa das Confederações da FIFA e na visita do Papa Francisco a Aparecida (SP) na Copa do Mundo 2014 e nos Jogos Olímpicos Rio 2016. O Estado do Rio de Janeiro constantemente recebe operações de GLO para conter a violência.

Isto posto, em 28 de julho de 2017, Michel Temer, Presidente do Brasil, assinou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem16 para atuação no Estado do Rio de Janeiro, com validade até 31 de dezembro do corrente ano.

Contudo, em 29 de dezembro de 2017, ou seja, pouco antes de findar a última GLO, foi decretada a sua prorrogação, passando a ser do período de 28 de julho de 2017 a 31 de

16 BRASIL. Decreto de 28 de julho de 2017. Brasília, Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/dsn/Dsn14485.htm> Acesso em: 20 nov. 2018

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dezembro de 201817, autorizando o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da

Ordem, em apoio às ações do Plano Nacional de Segurança Pública, no Estado do Rio de Janeiro.

2.1.2 Contexto Social e Político do Estado

Apesar da Garantia de Lei e Ordem no Estado, isso não impediu a crescente violência na segurança pública. De acordo com o Instituto de Segurança Pública, as estatísticas cresceram nos últimos anos.

Apesar da brusca queda a partir de 2008, com a então instalação das UPP’s no Rio, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, em 2008 o número de mortes violentas por ano foi de 7.134, chegando a um número de 4.666 em 2012, ou seja, uma queda considerável. Em 2015 o número foi a 5.010 mil ocorrências, tendo uma alta de 2015 a 2017. A letalidade violenta chegou a um número de 6.749 em 201718.

Já o roubo nas ruas, que é um dos principais fatores que geram a sensação de insegurança nas pessoas, o crescimento foi disparado. Os índices saltaram de 58.763 em 2012 para 125.646 em 2017 por ocorrências ao ano19.

Aliado a isso, o estado ficou em situação de calamidade pública devido à crise provocada pela recessão econômica e queda de royalties do petróleo. A partir disso, salários de funcionários públicos foram cortados, bem como houve falta de alguns recursos na área pública, refletindo também na área da segurança pública.

Contudo, foi no durante o carnaval de 2018 do Rio que a violência foi marcante e amplamente noticiada no Brasil e em jornais estrangeiros20.

Começou uma onda de arrastões e roubos em áreas da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, como Ipanema e Leblon, atingindo moradores e turistas. Circularam ainda, em todo o

17 BRASIL. Decreto de 29 de dezembro de 2017. Brasília, Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/dsn/Dsn14506.htm#art1> Acesso em: 20 nov. 2018 18 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Instituto de Segurança Pública. Disponível em <http://www.ispvisualizacao.rj.gov.br/> Acesso em: 12 nov. 2018

19 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Instituto de Segurança Pública. Disponível em <http://www.ispvisualizacao.rj.gov.br/> Acesso em: 12 nov. 2018

20 THE ASSOCIATED PRESS. Rio Carnival Is Marred by Violence as City’s Security Troubles Worsen. The New York Times. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2018/02/14/world/americas/brazil-rio-de-janeiro-carnival-violence.html> Acesso em: 18 nov. 2018

FRANCE 24. Violence during Rio carnival 'unacceptable:' minister. Disponível em: <https://www.france24.com/en/20180215-violence-during-rio-carnival-unacceptable-minister> Acesso em: 18 nov. 2018.

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mundo, vídeos e notícias dos acontecimentos. Destes, notícias de um grupo sendo assaltado e agredido em frente de um dos hotéis mais conhecidos da cidade foram divulgados21.

Dentre os crimes cometidos nesse período, um supermercado do bairro Leblon foi saqueado, um policial assassinado no Méier, clientes de um bar do Flamengo assaltados, até mesmo uma senhora de 56 anos foi assaltada por quatro homens às sete horas da manhã ao voltar de uma padaria em Ipanema. De arrastões a saques, houve agentes policiais feridos; três mortos no carnaval de 2018 no Rio; dois baleados enquanto tentavam evitar assaltos; um policial civil que não estava a trabalho foi agredido também tentando evitar assalto, entre outros tantos crimes ocorridos durante o curto período do carnaval22.

Apesar do vigor da Garantia da Lei e da Ordem, a situação foi considerada caótica. Diferentemente das declarações dadas anteriormente, com a divulgação de forma maciça da mídia nacional e internacional, principalmente pela violência ter acontecido em bairros da Zona Sul, o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão admitiu que erros foram cometidos na segurança pública durante uma entrevista:

Não vou aqui nunca transferir responsabilidade, mas a desordem urbana prejudicou muito esse planejamento que nós fizemos. Muita gente acampada na areia da praia, e nós não estávamos preparados ali. Eu acho que houve um erro nosso, não dimensionamos isso, mas eu acho que é sempre um aprimoramento, a gente tem sempre que aprimorar23

A divulgação da mídia torna-se uma forma de percepção da situação para quem não conhece a cidade, influenciando diretamente o modo como é vista a capacidade do governo de lidar com a violência. Da repercussão gerada, clara é a motivação de propor uma intervenção federal no Estado, dando uma resposta a todos aqueles que acompanharam as notícias.

21 BOM DIA BRASIL. Turistas são vítimas de arrastão em frente a um dos hotéis mais luxuosos do Rio. G1. Disponível em <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/turistas-sao-vitimas-de-arrastao-em-frente-a-um-dos-hoteis-mais-luxuosos-do-rio.ghtml> Acesso em: 18 nov. 2018

22 GRANDIM, F.; MARTINS, M. A.; SATRIANO, N. Crise, falência de UPPs, banalização de fuzis,

violência na folia: veja motivos que levaram à intervenção federal no RJ. G1 Rio. Disponível em:

<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/crise-falencia-de-upps-banalizacao-de-fuzis-violencia-na-folia-veja-motivos-que-levaram-a-intervencao-federal-no-rj.ghtml> Acesso em: 18 nov. 2018

GLOBONEWS. Vídeo mostra mulher sendo assaltada em Ipanema; criminoso dá 'gravata' na vítima. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/video-mostra-idosa-sendo-assaltada-em-ipanema.ghtml> Acesso em: 18 nov. 2018.

23 G1 RIO. Pezão admite erro no planejamento da segurança do Rio durante carnaval. Reportagem do Jornal Nacional, Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/02/pezao-admite-erro-no-planejamento-da-seguranca-do-rio-durante-carnaval.html> Acesso em: 10 nov. 2018

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O total de ocorrências durante o carnaval de 2018, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública24,foi de 5.865, com um aumento no roubo de turistas de 51 ocorrências em 2018, em comparação a 23 no ano de 2017. Da mesma forma, a lesão corporal dolosa aumentou em todo o estado no período do carnaval, subindo de 834 para 1.297 mil registros de ocorrências25.

2.2 DECRETO DE INTERVENÇÃO FEDERAL

Com a violência cada vez maior no estado e, principalmente na capital do Rio de Janeiro, o governador Luiz Fernando Pezão se reuniu com o Presidente do Brasil, Michel Temer, a fim de decidir medidas para conter a onda de violência. O Rio é um dos cartões de visitas do país e uma resposta precisava ser dada naquele momento.

Reuniram-se em Brasília para discutir acerca do decreto de intervenção o governador do Rio de Janeiro, Pezão; o ministro da Defesa, Raul Jungmann; o Presidente do Brasil, Michel Temer; o ministro da Justiça, Torquato Jardim; o ministro da Secretaria Geral de Governo, Moreira Franco; o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira; o general chefe do GSI, Sérgio Etchegoyen; o presidente do Congresso, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia, presidente da Câmara.

Contudo, a decisão de que algo precisava ser feito com urgência ocorreu anteriormente no Rio de Janeiro, à tarde daquele dia, em uma reunião política com Moreira Franco, Pezão e Jungmann, em que o governador sinalizou uma ideia inicial de mais um decreto de Garantia da Lei e da Ordem de forma mais ampla, com a nomeação de um general para a Secretaria de Segurança do Estado. Da reunião, a ideia de uma intervenção federal foi ganhando cada vez mais corpo.

Ao chegarem para a reunião em Brasília, a possibilidade de intervenção federal de forma total e ampla, com afastamento do governador foi descartada, pois teria um impacto muito grande politicamente. Surgiu então a ideia de uma intervenção federal de forma restrita, somente na área da segurança pública.

Assim, dia 16 de fevereiro de 2018, sob o Decreto nº 9.288/2018, o Presidente da República decretou intervenção federal na área da segurança pública do Estado do Rio de

24 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA. ISP divulga

dados parciais do Carnaval 2018. ISP Notícias. Disponível em

<http://www.isp.rj.gov.br/Noticias.asp?ident=395> Acesso em: 18 nov. 2018 25 Números de 2017 foram afetados pela paralisação da polícia civil nesse período.

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Janeiro, com base e objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública, disposto da seguinte forma:

DECRETO Nº 9.288, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2018

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso X, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1º Fica decretada intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro até 31 de dezembro de 2018.

§ 1º A intervenção de que trata o caput se limita à área de segurança pública, conforme o disposto no Capítulo III do Título V da Constituição e no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

§ 2º O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.

Art. 2º Fica nomeado para o cargo de Interventor o General de Exército Walter Souza Braga Netto.

Parágrafo único. O cargo de Interventor é de natureza militar.

Art. 3º As atribuições do Interventor são aquelas previstas no art. 145 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro necessárias às ações de segurança pública, previstas no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

§ 1º O Interventor fica subordinado ao Presidente da República e não está sujeito às normas estaduais que conflitarem com as medidas necessárias à execução da intervenção.

§ 2º O Interventor poderá requisitar, se necessário, os recursos financeiros, tecnológicos, estruturais e humanos do Estado do Rio de Janeiro afetos ao objeto e necessários à consecução do objetivo da intervenção.

§ 3º O Interventor poderá requisitar a quaisquer órgãos, civis e militares, da administração pública federal, os meios necessários para consecução do objetivo da intervenção.

§ 4º As atribuições previstas no art. 145 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro que não tiverem relação direta ou indireta com a segurança pública permanecerão sob a titularidade do Governador do Estado do Rio de Janeiro. § 5º O Interventor, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, exercerá o controle operacional de todos os órgãos estaduais de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição e no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

Art. 4º Poderão ser requisitados, durante o período da intervenção, os bens, serviços e servidores afetos às áreas da Secretaria de Estado de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, para emprego nas ações de segurança pública determinadas pelo Interventor.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 16 de fevereiro de 2018; 197º da Independência e 130º da República.

Conforme ensinamentos doutrinários de Gilmar Mendes (2012, p. 1122-1223), quando há o comprometimento da ordem pública, o problema tem que estar instaurado para dar azo à intervenção federal com base em manter a ordem, não podendo ser mera ameaça, tão pouco que necessite chegar ao nível de uma guerra civil:

A intervenção pode-se dar para “pôr termo a grave perturbação da ordem pública” (art. 34, III). Ao contrário do que dispunha a Constituição de 1967, não se legitima a intervenção em caso de mera ameaça de irrupção da ordem. O problema tem de estar instaurado para a intervenção ocorrer. Não é todo tumulto que justifica a medida extrema, mas apenas as situações em que a desordem assuma feitio inusual e intenso. Não há necessidade de aguardar um quadro de guerra civil para que ocorra a

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intervenção. É bastante que um quadro de transtorno da vida social, violento e de proporções dilatadas, se instale duradouramente, e que o Estado-membro não queira ou não consiga enfrentá-lo de forma eficaz, para que se tenha o pressuposto da intervenção. É irrelevante a causa da grave perturbação da ordem; basta a sua realidade.

Pela primeira vez desde a redemocratização com a Constituição Federal de 1988 foi decretada uma intervenção federal. Anteriormente, conforme já exposto, apenas haviam tentativas e pedidos de intervenção negados ou pendentes de julgamento.

A Constituição preceitua no art. 36, §1º alguns aspectos que o decreto de intervenção deve conter:

O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.

Seguindo, o art. 1º do Decreto nº 9.288/2018 limitou a intervenção até 31 de dezembro de 2018, dando prazo a sua execução. Também restringiu a área de atuação à segurança pública do Estado, seguindo a área disposta no Capitulo III do Título V da Constituição Federal.

O art. 2º nomeou para o cargo de interventor o General do Exército Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste, que já foi responsável pela segurança do Rio durante as Olimpíadas de 2016. A partir da nomeação do general Braga Netto, o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Sá, foi imediatamente afastado do cargo. Destaque-se que o parágrafo único do art. 2º concede natureza militar ao cargo de interventor, tema a ser discutido em outro momento neste trabalho.

Quanto às atribuições do interventor, o art. 3º aduz que seriam precipuamente as do art. 145 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, ou seja, as mesmas prevista para o governador do Estado, mas somente as necessárias às ações de segurança pública, previstas no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Neste sentido, o §4º do Decreto reforça que as atribuições que não possuírem relação direta ou indireta com a área da segurança pública, permanecerão sob a titularidade do governador.

Ademais, pelo art. 3º, §5º do Decreto, o interventor exercerá o controle operacional de todos os órgão estaduais de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição. O §1º do art. 3º deixa claro a subordinação do interventor ao Presidente da República. Os §§2º e 3º do mesmo artigo e o art. 4º definem as requisições que podem ser feitas pelo interventor, tais

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como recursos financeiros, de bens e serviços e aos órgãos de execução para consecução do objetivo final da intervenção.

Sendo uma intervenção federal parcial na área da segurança pública, há uma transferência de competência do Estado para União, ocorrendo assim uma federalização da área de segurança. Pois, por questões políticas, não concederam intervenção total, transferindo a competência do Estado na segurança pública para a União, sob comando do interventor. 2.3 DOS PROCEDIMENTOS JURÍDICOS

Conforme exposto anteriormente, existem determinados procedimentos dispostos em lei que devem ser seguidos. Estando estes constitucionalmente previstos, são essenciais para a eficácia do decreto de intervenção no plano jurídico, como por exemplo, a publicação do decreto e a apreciação deste pelo Poder Legislativo. No presente caso, ambos procedimentos foram cumpridos.

Nesse sentido, deve ainda ser convocado o Conselho da República e o Conselho de Defesa, conforme preconizam os arts. 90, I e 91 §1º II, CRFB/88. Muitos juristas consideraram a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro inconstitucional por não ter sido convocado previamente os Conselhos da República e da Defesa, sendo necessária a consulta, mesmo que não vinculativa. Foi então impetrado um mandado de segurança coletivo no Supremo Tribunal Federal, de nº 35.534, visando a suspensão do Decreto de intervenção. Ocorre que em 16 de fevereiro de 2018, mesmo dia da publicação do decreto, a Ministra do STF Rosa Weber decidiu pelo não conhecimento do mandado de segurança26.

Porém, alguns doutrinadores, como Gilmar Mendes, entendem que não há necessidade de imediata convocação dos Conselhos, podendo ser feita a posteriori:

Nas intervenções espontâneas, o Presidente da República deve ouvir o Conselho da República (art. 90, I, da CF) e o de Defesa Nacional (art. 91, § 1º, II, da CF), embora não esteja obrigado ao parecer que vier a colher. Não há por que, em caso de evidente urgência, exigir que a consulta seja prévia, já que as opiniões não são vinculantes e não perdem objeto nas intervenções que se prolongam no tempo, podendo mesmo sugerir rumos diversos dos que inicialmente adotados no ato de intervenção. (MENDES, Gilmar, 2012, p. 1126)

Consensualmente, sua convocação é necessária, apesar da Constituição não especificar o momento exato da consulta aos Conselhos. Após a expedição decreto de

26 STF. Decisão da Ministra Rosa Weber no Mandado de Segurança 35.534/DF. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=313690229&ext=.pdf> Acesso em: 10 nov. 2018

Referências

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