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Além da elaboração de um plano estratégico com as metas e da disponibilização orçamentária, também foram adotadas algumas medidas para efetivação da intervenção. Uma das primeiras medidas foram as operações policiais em favelas e a criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública. Após, além de tentativas de cumprimento do plano

42 GABINETE DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO. Acompanhe o empenho de recursos

da Intervenção Federal. Disponível em:

<http://www.intervencaofederalrj.gov.br/imprensa/releases/acompanhe-o-empenho-de-recursos-da-intervencao- federal> Acesso em: 23 nov. 2018

estratégico, foi elaborada a rearticulação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP), alterando seu modo de operação e transformando-as em Companhias Destacadas43.

Com base no estudo feito pela Polícia Militar44, demonstrando a inefetividade atual das unidades e existindo uma maior concentração de confrontos em favelas, onde a polícia perdeu o controle, o gabinete de intervenção federal decidiu pelo fim das unidades. Do total de 38 unidades, foi proposta a reestruturação de 19 UPPs, ou seja, metade das que estavam instaladas.

Essas Companhias Destacadas seriam comandadas pelos batalhões de suas áreas, realizando o patrulhamento ostensivo, objetivando a retomada da região. O porta-voz da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o major Ivan Blaz, ao anunciar o fim da UPP na comunidade Cidade de Deus, esclareceu a forma de atuação das Companhias Destacadas45:

A diferença clássica é a forma do policiamento. Encerra a relação de polícia de proximidade e retoma as ações policiais na região. A maior demanda nesta comunidade é o combate à criminalidade que atua aqui. É preciso ações mais contundentes contra o crime, pois tinham ações marginais aqui muito próximas da UPP. Hoje teremos suporte operacional do 14º BPM e várias ações serão realizadas. Além disso, buscando aumentar o efetivo nas ações ostensivas, o gabinete de intervenção federal determinou a devolução de policiais anteriormente cedidos a outros órgãos como a ALERJ e Prefeituras Municipais46. Nesse sentido ainda, buscou-se a convocação de policiais concursados para aumentar o efetivo47, a realização de operações policiais e patrulhamento das ruas a fim de conter a violência e a realização de licitação para aquisição de armamento policial e de veículos. Também foram realizadas cursos de capacitação para mais de 2.400 policiais no Estado, almejando o fortalecimento dos recursos humanos dos órgãos de segurança pública, um dos principais objetivos da intervenção federal

43 GABINETE DA INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO. Intervenção reestrutura UPP e

redireciona policiais para as ruas. Disponível em:

<http://www.intervencaofederalrj.gov.br/imprensa/releases/intervencao-federal-policiais-das-upps-sao- redirecionados-para-o-policiamento-nas-ruas> Acesso em: 20 nov. 2018

44 PMERJ. Análise da vitimizacao do policial. Disponível em: <http://www.pmerj.rj.gov.br/analise-da- vitimizacao-do-policial/> Acesso em: 23 nov. 2018

45 NASCIMENTO, Rafael. Porta-voz da PM anuncia fim da UPP Cidade de Deus. Jornal O Dia. Disponível em: <https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/06/5548318-porta-voz-da-pm-anuncia-fim-da-upp-cidade-de- deus.html> Acesso em: 23 nov. 2018

46 BRASIL, Cristina Índio do. PMs cedidos à Alerj devem ser devolvidos à Secretaria de Segurança até

quarta. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-04/pms-cedidos-alerj-devem-ser-

devolvidos-secretaria-de-seguranca-ate-quarta> Acesso em: 23 nov. 2018

47 GABINETE DE INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO. Polícia Militar convoca mais 400

concursados para prestar curso no CFAP. Disponível em:

<http://www.intervencaofederalrj.gov.br/imprensa/releases/policia-militar-convoca-mais-400-concursados-para- prestar-curso-no-cfap> Acesso em: 23 nov. 2018

no Plano Estratégico48, apesar do Estado possuir aproximadamente 46.000 mil policiais

militares em seu efetivo49.

Dentre as medidas, ainda há o Plano de Preparação de Transição da Intervenção Federal, objetivando a continuidade das metas e dos planos, contendo um cronograma a ser passado para a Administração Pública ao transferir a responsabilidade da segurança pública ao Estado novamente. Para tal, o gabinete de intervenção federal ficará ativo até 30 de junho de 2019, apesar do prazo de intervenção expirar em 31 de Dezembro de 2018.50

3.2.1 Criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública

Logo após a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, foi anunciada a criação de um novo ministério nacional, o da Segurança Pública. Antes, a pasta do governo compreendia o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que pela medida provisória nº 821/2018 de 26 de fevereiro de 2018, foi separada em Ministério Extraordinário da Segurança Pública e Ministério da Justiça51:

Art. 1º É criado o Ministério Extraordinário da Segurança Pública e transformado o Ministério da Justiça e Segurança Pública em Ministério da Justiça.

Art. 2º A Lei nº 13.502, de 1º de novembro de 2017, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 21. IX-A - Extraordinário da Segurança Pública; XIII - da Justiça;

Seção IX-A

Do Ministério Extraordinário da Segurança Pública

Art. 40-A. Compete ao Ministério Extraordinário da Segurança Pública: I - coordenar e promover a integração da segurança pública em todo o território nacional em cooperação com os demais entes federativos;

II - exercer:

a) a competência prevista no art. 144, § 1º, incisos I a IV, da Constituição, por meio da polícia federal;

b) o patrulhamento ostensivo das rodovias federais, na forma do art. 144, § 2º, da Constituição, por meio da polícia rodoviária federal;

c) a política de organização e manutenção da polícia civil, da polícia militar e do

48 GABINETE DE INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO. Intervenção Federal já promoveu a

capacitação de mais 2.400 agentes. Disponível em:

<http://www.intervencaofederalrj.gov.br/imprensa/releases/reforco-na-capacitacao-e-uma-das-metas-da- intervencao-federal> Acesso em: 23 nov. 2018

49 MARIANI, D.; PAGNAN, R. Após promoções sem concurso, PM do Rio tem mais chefes que soldados. Folha de S. Paulo. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/02/apos-promocoes-sem- concurso-pm-do-rio-tem-mais-chefes-que-soldados.shtml> Acesso em: 28 nov. 2018

50 GABINETE DE INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO. Plano de Preparação da Transição

da Intervenção Federal. Disponível em: <http://www.intervencaofederalrj.gov.br/imprensa/conheca-os-planos-

de-transicao-e-o-estrategico/plano-preparatorio-para-transicao-da-intervencao-federal> Acesso em: 23 nov. 2018 51 BRASIL. Medida Provisória 821/2018. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/medpro/2018/medidaprovisoria-821-26-fevereiro-2018-786203-

corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, nos termos do art. 21, caput, inciso XIV, da Constituição;

d) a função de ouvidoria das polícias federais; e

e) a defesa dos bens e dos próprios da União e das entidades integrantes da administração pública federal indireta; e

III - planejar, coordenar e administrar a política penitenciária nacional.

Art. 40-B. Integram a estrutura básica do Ministério Extraordinário da Segurança Pública o Departamento de Polícia Federal, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, o Departamento Penitenciário Nacional, o Conselho Nacional de Segurança Pública, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e até uma Secretaria.

Seção XIII

Do Ministério da Justiça

Art. 47. Constitui área de competência do Ministério da Justiça: IV - políticas sobre drogas;

Art. 48. Integram a estrutura básica do Ministério da Justiça: XI - até quatro Secretarias.

Art. 3º É transferida do Ministério da Justiça e Segurança Pública para o Ministério Extraordinário da Segurança Pública a gestão dos fundos relacionados com as unidades e as competências deste Ministério.

Art. 4º Ficam transformados:

I - o cargo de Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública em cargo de Ministro de Estado da Justiça;

II - o cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública em cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério da Justiça [...].

A medida provisória, além de criar o ministério, transferiu a competência de comando da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, antes pertencente ao Ministério da Justiça, para o Ministério Extraordinário da Segurança Pública. Da mesma forma, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), os Conselhos de Segurança Pública e de Política Criminal e Penitenciária, além da Secretaria Nacional de Segurança Pública seguiram para o Ministério da Segurança Pública.

Ocorre que já sob um Decreto de intervenção federal, conforme exposto anteriormente no Capítulo 2, é vedada a alteração da Constituição, contudo, a medida provisória modificou as atribuições constitucionais da polícia, o que pôs em discussão a constitucionalidade da medida, sendo considerada uma burla à vedação constitucional. Foi questionada também a urgência para a edição de uma medida provisória em ano eleitoral, já que a questão da segurança pública vem há muito tempo sendo debatida sobre a necessidade de uma reforma do sistema52.

Por ter sido criada através de medida provisória, esta entra em vigor no ordenamento jurídico com força de lei, conforme ensinamentos de Pedro Lenza (2014, p.668):

52 JÚNIOR, J. L.; SILVA, R. Z. A in(constitucionalidade) da MP n° 821/2018 e o Ministério Extraordinário

da Segurança Pública. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/552109334/a-in-

constitucionalidade-da-mp-n-821-2018-e-o-ministerio-extraordinario-da-seguranca-publica?ref=topic_feed> Acesso em: 23 nov. 2018.

A medida provisória é adotada pelo Presidente da República, por ato monocrático, unipessoal, sem a participação do Legislativo, chamado a discuti-la somente em momento posterior, quando já adotada pelo Executivo, com força de lei e produzindo efeitos jurídicos.

Da sua publicação, vigorará por 60 dias, podendo ser prorrogada uma vez por igual período, ou seja, mais 60 dias, conforme art. 62, §7º, CRFB/88. Também deve ser submetida ao Congresso Nacional e, se aprovada, transformada em lei, sob pena de perda de sua eficácia. Seguindo o procedimento, o Poder Legislativo converteu a medida provisória nº 821/2018 na Lei nº 13.690/2018, criando o novo Ministério53.

3.3 CONSEQUÊNCIAS

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