Problemas e Teoremas em Teoria dos N´
umeros
Alex Abreu e Samuel Feitosa
7 de mar¸co de 2008
Nosso objetivo ser´a apresentar algumas id´eias e teoremas que consideramos indispens´aveis para seu treinamento. Assumiremos alguns resultados b´asicos que o leitor encontrar´a facilmente na referˆencias [Pl´ınio] e [EUREKA2]. Antes de ler a solu¸c˜ao de algum problema tente resolvˆe-lo sozinho. Se vocˆe quer se tornar um bom ”resolvedor”, vocˆe deve gastar muito tempo pensando nos problemas para aprender a ter suas pr´oprias id´eias. Estude as solu¸c˜oes at´e domin´a-las por completo. Dominar uma solu¸c˜ao significa que vocˆe consegue aplicar com facilidade as id´eias ali contidas em outros problemas.
1
Divisibilidade
Nosso primeiro teorema ´e bem ingˆenuo, por´em muito ´util.
Teorema 1. Se b 6= 0 e a | b ent˜ao |a| ≤ |b|.
Problema 1. (Leningrado 1990) Sejam a e b n´umeros naturais tais que b2+ ba + 1 divide a2+ ab + 1. Prove que a = b.
Solu¸c˜ao. ´E f´acil ver que a ≥ b e b2+ ab + 1 > a − b. A igualdade b(a2+ ab + 1) − a(b2+ ba + 1) = b − a implica que a − b ´e
divis´ıvel por b2+ ba + 1. Se a − b 6= 0 ent˜ao b2+ ab + 1 ≤ a − b ⇒ b2+ ab + 1 ≤ a − b. . Mas isso ´e um absurdo, logo a − b = 0.
Problema 2. (IMO 1998) Determine todos os pares de inteiros positivos (x, y) tais que xy2+ y + 7 divide x2y + x + y.
Solu¸c˜ao. A igualdade y(x2y + x + y) − x(xy2+ y + 7) = y2− 7x implica que y2− 7x ´e divis´ıvel por xy2+ y + 7. Se y2− 7x ≥ 0,
ent˜ao como y2− 7x < xy2+ y + 7, segue que y2− 7x = 0. Ent˜ao (x, y) = (7t2
, 7t) para algum t ∈ N. ´E f´acil checar que esses pares s˜ao realmente solu¸c˜oes. Se y2−7x < 0, ent˜ao 7x−y2> 0 ´e divis´ıvel por xy2+y +7. Mas da´ı, xy2+y +7 ≤ 7x−y2< 7x,
que produz y ≤ 2. Para y = 1, temos x + 8 | 7x − 1 ⇒ x + 8 | 7(x + 8) − (7x − 1) = 57. Ent˜ao as ´unicas possibilidades s˜ao x = 11 e x = 49 e os pares correspondentes s˜ao (11, 1), (49, 1) que obviamente s˜ao solu¸c˜oes. Para y = 2 temos 4x + 9 | 7x − 4 e consequentemente 7(4x + 9) − 4(7x − 4) = 79 ´e divis´ıvel por 4x + 9. Nesse caso n˜ao obtemos nenhuma solu¸c˜ao nova. Todas as solu¸c˜oes (x, y): (7t2, 7t)(t ∈ N), (11, 1) e (49, 1).
Problema 3. (R´ussia 1963) Resolva em inteiros a equa¸c˜ao: xy z + xz y + yz x = 3
Problema 4. (Leningrado 1989) Seja A um n´umero natural maior que 1, e seja B um n´umero natural que ´e um divisor de A2+ 1. Prove que se B − A > 0, ent˜ao B − A >√A.
Quando o conjunto de solu¸c˜oes de um dado problema ´e infinito ´e intressante tentar buscar alguma rela¸c˜ao entre essas solu¸c˜oes. Frequentemente existe algum tipo de rela¸c˜ao de recorrˆencia(lembra do material 2?). O pr´oximo problema ´e um cl´assico e ilustra bem essa id´eia.
Problema 5. (IMO 1988) Sejam a e b dois inteiros positivos tais que ab + 1 divide a2+ b2. Mostre que a 2+ b2
ab + 1 ´e um quadrado perfeito.
Solu¸c˜ao. Seja a
2+ b2
ab + 1 = k ∈ N. Temos a
2− kab + b2= k. Assuma que k n˜ao ´e o quadrado de um inteiro, implicando que
k ≥ 2. Observemos agora um par (a, b) que ´e solu¸c˜ao de a2− kab + b2 = k. Podemos assumir sem perda de generalidade
que a ≥ b. Para a = b temos k = (2 − k)a2≤ 0, ent˜ao a > b. Observe a equ˜a¸c˜ao do segundo grau x2− kbx + b2− k = 0,
que tem solu¸c˜oes a e a1. Como a + a1 = kb, segue que a1∈ Z. Como a > kb ⇒ k > a + b2> kb e a = kb ⇒ k = b2, segue
que a < kb e da´ı b2 > k. Como aa
1 = b2− k > 0 e a > 0, segue que a1 ∈ N e a1 =
b2− k
a < a2− 1
a < a. Ent˜ao o par (a1, b) satisfz 0 < a1 < a e ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao original. Veja que descobrimos uma maneira de gerar solu¸c˜oes a partir de
uma solu¸c˜ao dada. Dentre todas os pares (a, b) que s˜ao solu¸c˜oes com a ≥ b, escolha aquele que tem a m´ınimo. Pelo processo anterior podemos obter outro par com um a menor. Mas isso ´e um absurdo, logo k ´e um quadrado perfeito.
Problema 6. Seja m um inteiro positivo. Defina a sequˆencia an por a0 = 0, a1 = m e an+1 = m2an− an−1. Prove que a ≤ b ´e solu¸c˜ao de a 2+ b2 ab + 1 = m 2 se e somente se (a, b) = (a n−1, an) para algum n.
Problema 7. (IMO 2003) Encontre todos os pares de inteiros positivos (m, n) tais que
m2
2mn2− n3+ 1
´e um inteiro positivo.
Problema 8. (IMO 2007) Sejam a e b inteiros positivos. Mostre que se 4ab − 1 divide (4a2− 1)2, ent˜ao a = b.
Problema 9. (IMO 1994) Encontre todos os pares ordenados (m, n) onde m e n s˜ao inteiros positivos tais que mn−1n3+1 ´e um inteiro.
Problema 10. (Seletiva Rioplatense 2001) Encontre todos os pares (m, n) de n´umeros naturais com m < n tais que m2+ 1
´e um m´ultiplo de n e n2+ 1 ´e um m´ultiplo de m.
Solu¸c˜ao. Afirmamos que todas as solu¸c˜oes s˜ao da forma (F2k−1, F2k+1), k ≥ 0 (Fn ´e o n-´esimo termo da sequˆencia de
Fibonacci). ´E f´acil ver que F2k−1F2k+3 = F2k+12 + 1 e portanto os pares anteriores s˜ao solu¸c˜oes. Seja P o conjunto das
solu¸c˜oes que n˜ao s˜ao da forma (F2k−1, F2k+1). P cont´em um par (a, b) tal que a + b ´e m´ınimo. Suponhamos a < b(se
a = b ⇒ (a, b) = (1, 1) = (F−1, F1) 6∈ P ). Como b | a2+ 1 ⇒ a2+ 1 = bb0 ⇒ b0 < a. ´E f´acil ver que a | b02+ 1 e b0 | a2+ 1.
Logo (b0, a) ´e uma solu¸c˜ao com b0+ a < a + b ⇒ (b0, a) 6∈ P ⇒ (b0, a) = (F2k−1, F2k+1) ⇒ F2k−1b = b0b = a2+ 1 = F2k+12 ⇒
b = F2k+3⇒ (a, b) = (F2k+1, F2k+3) 6∈ P . Logo P deve ser vazio.
Problema 11. Prove que para qualquer inteiro positivo m, existe um n´umero infinito de pares de inteiros (x, y) satisfazendo as condi¸c˜oes:
1. x e y s˜ao primos entre si;
2. y divide x2+ m; 3. x divide y2+ m.
2
MDC, MMC e o Teorema de B´
ezout.
O pr´oximo resultado ´e extremamente ´util. Recomendamos a leitura da referˆencia [EUREKA12]
Teorema 2. (B´ezout) Sejam a e b inteiros n˜ao nulos e d seu mdc. Ent˜ao existem inteiros x e y tais que d = ax + by. Se a e b s˜ao positivos podemos escolher x > 0 e y < 0, ou vice-versa.
Prova. Seja P = {ax + by|ax + by > 0 e x, y ∈ Z}. O conjunto P ´e n˜ao vazio pois 0 < a2+ b2 = a · a + b · b ∈ P . Seja
f o menor elemento de P . Claramente d = mdc(a, b)| f Como f, d > 0, para mostrarmos que d = f basta que f | d. Seja a = qf + r, com q ∈ Z e 0 ≤ r < f . Assim 0 ≤ r = a(1 − qx) + b(−qy) ∈ Z. Como r < f ⇒ r = 0. Analogamente f | b. Ent˜ao f | mdc(a, b) = d. A outra parte ´e deixada para o leitor.
Problema 12. (O Problema Cl´assico) Se a e b s˜ao n´umeros naturais, mostre que mdc(2a− 1, 2b− 1) = 2mdc(a,b)− 1
Solu¸c˜ao. Seja d = mdc(a, b). Pelo teorena de Bezout, existem inteiros positivos x, y tais que d = ax − by. Seja k = mdc(2a− 1, 2b− 1). Vale a igualdade 2by(2d− 1) = (2ax− 1) − (2by− 1). Como k | 2a− 1 | 2ax− 1 , k | 2b− 1 | 2by− 1 e
mdc(2by, k) = 1, temos k | 2d− 1. Como 2d− 1 | 2a− 1 e 2d− 1 | 2b− 1 ent˜ao 2d− 1 | k. Logo k = 2d− 1.
Problema 13. Mostre que para quaisquer inteiros positivos ´ımpares a e b
mdc(2a+ 1, 2b+ 1) = 2mdc(a,b)+ 1 o problema anterior ser´a muito ´util na nossa pr´oxima solu¸c˜ao.
Problema 14. (Teste IMO 2003) Seja n um inteiro positivo, e sejam p1, p2, . . . , pn, primos distintos maiores que 3. Prove
que 2p1p2...pn+ 1 tem pelo menos 4n divisores.
Solu¸c˜ao. Suponha que a afirma¸c˜ao seja verdadeira para n primos. Seja N0 = pN = p(p1p2. . . pn). Ent˜ao 2N + 1 tem pelo
menos 4ndivisores distintos e 2p+1, em virtude do problema anteiror, tem pelo menos um fator q que n˜ao divide 2N+1. Ent˜ao
M = (2
N + 1)(2p+ 1)
3 tem pelo menos 2 · 4
n divisores distintos. Como p > 4 ⇒ (N − 2)(p − 2) > 2 · 2 ent˜ao 2(N + p) < N p.
Mas M < 2N +p ent˜ao M2< 22(N +p) < 2N p+ 1 = 2N ‘+ 1. Como M divide 2N0+ 1, 2N0+ 1 = M · M0(M0 > M ). Para cada divisor d de M , ambos d e d · M0 s˜ao fatores de 2N0+ 1. Ent˜ao 2N0+ 1 tem pelo menos 4n+1 divisores.
Problema 15. A sequˆencia de Fibonacci ´e definida por: F1= F2= 1 e Fn+1= Fn+ Fn−1 se n ≥ 2. Prove que:
a) Fm+n= Fm−1Fn+ FmFn+1;
b) mdc(Fm, Fn) = Fmdc(m,n).
Problema 16. (URSS 1988) A sequˆencia de inteiros an´e dada por a0= 0, an= P (an−1), onde P (x) ´e um polinˆomio cujos
coeficientes s˜ao inteiros positivos. Mostre que para quaisquer inteiros positivos m, k com m´aximo divisor comum d, o m´aximo divisor comum de am e ak ´e ad.
Solu¸c˜ao. Quando temos um polinˆomio com coeficientes inteiros ´e sempre bom lembrar que a − b | P (a) − P (b). Essa ser´a nossa principal ferramenta nesta solu¸c˜ao.
1. am| amr. Provaremos por indu¸c˜ao. Se am(r−1)≡ 0 (mod am) ⇒ am(r−1)+1≡ P (0) (mod am) ⇒ am(r−1)+2≡ P (P (0))
(mod am) ⇒ amr= am(r−1)+m≡ P (P (. . . (P (0))
| {z }
m vezes
= am≡ 0 (mod am).
2. Se l | at e l | af ⇒ l | at−f(Supondo t > f ). (Deixaremos a prova dessa afirma¸c˜ao para o leitor).
Pelo teorema de Bezout, existem inteiros positivos x, y tais que mx − ky = d. Seja n = mdc(am, ak). Como n | am| amx e
n | ak | aky, pelo item 2, n | amx−ky = ad. Mas ad| am e ad| ak, ent˜ao ad | n. Portanto ad= n.
Teorema 3. Existe uma sequˆencia arbitrariamente longa de n´umeros compostos consecutivos.
Problema 17. (TT 2001) Existe um bloco de 1000 inteiros consecutivos n˜ao contendo nenhum primo, a saber, 1001! + 2, 1001! + 3, . . . , 1001! + 1001. Existe um bloco de 1000 inteiros consecutivos contendo apenas um primo?
Solu¸c˜ao. Considere um bloco qualquer de 1000 n´umeros consecutivos come¸cando no n´umero a, fa¸camos o movimento de ”andar uma casa”com o bloco que consiste em considerar o bloco de 1000 n´umeros consecutivos come¸cando em a + 1. O n´umero de primos em um bloco muda no m´aximo em uma unidade ap´os um movimento. Como o primeiro bloco(1,2,. . . , 1000) cont´em mais que 5 primos e o bloco 1001! + 2, 1001! + 3, . . . , 1001! + 1001 n˜ao cont´em nenhum, algum bloco entre eles dever´a ter exatamente 5 primos.
Observar o mdc sempre ´e uma id´eia ´util. Veja o pr´oximo exemplo:
Problema 18. Se x e y s˜ao inteiros tais que 2xy divide x2+ y2− x, prove que x ´e um quadrado perfeito
Solu¸c˜ao. Seja d = mdc(x, y), ent˜ao x = da e y = db com mdc(a, b) = 1. Como d2|d2a2+ d2b2− da temos que d|a ⇒ a = dc.
Como x|y2 obtemos d2c|d2b2, ou seja, c | b2. Veja que mdc(a, b) = 1 ⇒ mdc(c, b) = 1. Assim c = 1 e x = d2c = d2.
Problema 19. (Leningrado 1990) Um bolo ´e preparado para uma festa de anivers´ario em que estar˜ao exatamente p ou q pessoas (p e q s˜ao inteiros relativamente primos). Encontre o menor n´umero de peda¸cos (n˜ao necessariamente iguais) em que o bolo deve se dividido para que possamos partilhar igualmente o bolo em qualquer caso.
Problema 20. (R´ussia 95) A sequˆencia a1, a2, ... de naturais satisfaz mdc(ai, aj) = mdc(i, j) para todo i 6= j Prove que
ai= i para todo i.
Teorema 4. mdc(a, b)mmc(a, b) = |ab|.
Problema 21. Encontre todas as fun¸c˜oes f , definidas sobre o conjunto de todos os pares de inteiros positivos, satisfazendo as seguintes propriedades:
f (x, x) = x, f (x, y) = f (y, x), (x + y)f (x, y) = yf (x, x + y). Solu¸c˜ao. Claramente mmc(x, x) = x e mmc(x, y) = mmc(y, x). Usando o teorema anteiror temos:
(x + y)mmc(x, y) = (x + y) xy
mdc(x, y) = y ·
x(x + y)
mdc(x, x + y)= y · mmc(x, x + y)
Temos ent˜ao uma forte suspeita que f = mmc. Para provarmos isso vamos usar uma id´eia parecida `a demonstra¸c˜ao do teorema de B´ezout. Seja S o conjunto de todos os pares de inteiros positivos (x, y) tais que f (x, y) 6= g(x, y) = mmc(x, y), e seja (m, n) o par em S com a soma m + n minima. Se tivermos m = n teremos:
f (m, n) = f (m, m) = m = g(m, m) = g(m, n) Ent˜ao devemos ter m 6= n. Suponha sem perda de generalidade que m > n. Ent˜ao
nf (m, n − m) = [m + (n − m)]f (m, n − m) = (n − m)f (m, m + (n − m))
ent˜ao f (m, n − m) = n − m
n · f (m, n). Analogamente temos g(m, n − m) = n − m
n · g(m, n). Da´ı f (m, n − m) 6= g(m, n − m), ent˜ao (m, n − m) ∈ S. Isto provoca uma contradi¸c˜ao pois m + n − m < m + n. Desse modo, S deve ser um conjunto vazio e f (x, y) = mmc(x, y).
Problema 22.
a) Prove que para quaisquer inteiros positivos a e b a equa¸c˜ao mmc(a, a + 5) = mmc(b, b + 5) implica a = b. b) ´E poss´ıvel que mmc(a, b) = mmc(a + c, b + c) para a, b, c inteiros positivos?
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Congruˆ
encias, Ordens e N´
umeros Primos
Teorema 5. Se mdc(a, m) = 1 ent˜ao existe um inteiro x tal que
ax ≡ 1 (mod m).
Tal x ´e ´unico (mod m). Se mdc(a, m) > 1 ent˜ao n˜ao existe tal x.
Defini¸c˜ao 1. O n´umero φ(m) ´e o n´umero de inteiros positivos que s˜ao menores ou iguais a m e que s˜ao relativamente primos com m.
Defini¸c˜ao 2. Um conjunto {r1, r2, . . . , rk} ´e chamado sistema completo de restos m´odulo n se para todo x existe um ´unico i
tal que x ≡ ri (mod n). Em particular k = n
Defini¸c˜ao 3. Um conjunto {r1, r2, . . . , rk} ´e chamado sistema completo de ivert´ıveis m´odulo n se para todo x com (x, n) = 1
existe um ´unico i tal que x ≡ ri (mod n). Em particular k = φ(n)
Teorema 6. Seja mdc(a, m) = 1. Sejam r1, r2, . . . , rk um sistema completo de restos(invert´ıveis) de restos m´odulo m. Ent˜ao
ar1, ar2, . . . , ark ´e um sistema completo de restos(invet´ıveis) m´odulo m.
Problema 23. (Banco IMO 1987)
a) Seja mdc(m, k) = 1. Prove que existem inteiros a1, a2, . . . , am e b1, b2, . . . , bk tais que todos os produtos aibj(i =
1, 2, . . . , m; j = 1, 2, . . . , k) deixam restos diferentes ao serem divididos por mk
b) Se mdc(m, k) > 1 Prove que para quaisquer inteiros inteiros a1, a2, . . . , ame b1, b2, . . . , bk existem dois produtos aibj e asbt
com (i, s) 6= (j, t) que deixam o mesmo resto ao serem divididos por mk.
Teorema 7. (Teorema de Fermat) Seja p um primo. Se p n˜ao divide a ent˜ao
ap−1≡ 1 (mod p). Para todo inteiro a, ap≡ a (mod p)
Teorema 8. (Teorema de Euler) Se mdc(a, m) = 1 ent˜ao
aφ(m)≡ 1 (mod m) Teorema 9. (Teorema de Wilson) Se p ´e primo, ent˜ao
(p − 1)! ≡ −1 (mod p)
Teorema 10. Todo primo da forma 4n + 1 ´e a soma de dois quadrados.
Prova. Vamos precisar de um lema:
Lema: Se p ´e um primo da forma 4n + 1, existe um inteiro x tal que x2≡ −1 (mod p).
Como (p − i) ≡ −i (mod p) temos:
(p − 1)! ≡ 1 · 2 · . . . ·p − 1 2 · p + 1 2 · p + 3 2 · . . . · (p − 1) ≡ 1 · 2 · . . . · p − 1 2 · −p − 1 2 · . . . · (−2) · (−1) (mod p)
Pelo teorema de Wilson, (p − 1)! ≡ −1 (mod p). Como (−1)p−12 = (−1)2n= 1 temos:
−1 ≡ (p − 1 2 )! 2 · (−1)p−12 ≡ (p − 1 2 )! 2 (mod p) Seja x = (p − 1 2 )!.
Considere agora, o conjunto de todos os pares (m, n) com m, n ∈ {0, 1, . . . , b√pc}. Como existem (1 + b√pc)2 pares e
(1 + b√pc)2> (√p)2= p , pelo menos duas diferen¸cas da forma m − xn ter˜ao o mesmo resto na divis˜ao por p. Digamos que
m1− xn1≡ m2− xn2 (mod p) com (m1, n1) 6= (m2, n2).
Defina a = |m1− m2| e b = |n1− n2|. Ent˜ao, a, b ∈ {0, 1, . . . , b
√
pc} e a ≡ ±xb (mod p). Como a2≡ x2b2≡ −b2 (mod p),
temos que p | a2+ b2. Mas 0 < a2+ b2< p + p = 2p pois (m1, n1) 6= (m2, n2) e a, b ∈ {0, 1, . . . , b
√
Por que s´o funciona com primos da forma 4n + 1? O pr´oximo problema ´e uma boa ajuda para responder essa pergunta.
Problema 24. Mostre que se p ´e um primo da forma 4n + 3 ent˜ao n˜ao existe x tal que x2≡ −1 (mod p)
Solu¸c˜ao. Suponha que exista tal x, como p−12 ´e ´ımpar, x2 ≡ −1 (mod p) ⇒ (x2)p−12 ≡ (−1)p−12 (mod p) ⇒ xp−1 ≡ −1
(mod p). Mas isso contradiz o teorema de Fermat.
Problema 25. (Banco IMO 1984) Sejam m e n inteiros positivos. Mostre que 4mn − m − n nunca pode ser um quadrado perfeito.
Solu¸c˜ao. Como 4m − 1 deixa resto 3 por 4, algum de seus divisores primos deve deixar resto 3 por 4. Seja p primo, p ≡ 3 (mod 4) e p | 4m − 1. Suponha que x2 = 4mn − m − n = n(4m − 1) − m ≡ −m (mod p) ⇒ (2x)2 = 4x2 ≡ −4m ≡ −1
(mod p). Pelo problema anterior isso ´e um absurdo. Logo 4mn − m − n nunca pode ser um quadrado perfeito.
Problema 26. (Seletiva Rioplantense 2007) Ache todos os primos p, q tais que pp+ qq+ 1 seja divis´ıvel por pq.
Solu¸c˜ao. ´E f´acil ver que a equa¸c˜ao do problema implica que p | qq+ 1 e q | pp+ 1. Suponha sem perda de generalidade que p < q( ´E evidente que p 6= q). Como mdc(p − 1, q) = 1, pelo teorema de Bezout, existem inteiros positivos x, y tais que (p − 1)x = qy + 1. Pelo teorema de Fermat, temos 1 ≡ q(p−1)x ≡ qqy+1 ≡ (qq)yq ≡ ±q (mod p). Logo p | q ± 1. Se
mdc(q − 1, p) = 1, obtemos de modo an´alogo que q | p ± 1. Se mdc(q − 1, p) 6= 1 ⇒ p | q − 1. Ent˜ao temos que analisar as seguintes possibilidades:
1. p | q + 1 e q | p + 1
2. p | q − 1
Se p | q − 1 ⇒ q ≡ 1 (mod p) ⇒ −1 ≡ qq ≡ 1 (mod p) ⇒ p = 2 ⇒ q | 22+ 1 = 5 ⇒ q = 5. Temos a solu¸c˜ao (p,q)=(2,5). Se
p | q + 1 e q | p + 1 ⇒ q − 1 ≤ p ≤ q + 1. Como p 6= q e p < q ⇒ p = q − 1 ⇒ q − 1 | q + 1 ⇒ q − 1 | 2 ⇒ p = q − 1 = 2 ⇒ q = 3. Veja que (2,3) n˜ao ´e solu¸c˜ao. Solu¸c˜oes (p, q) = (2, 5), (5, 2).
Problema 27. Mostre que se k > 1 ent˜ao 2k−16≡ −1 (mod k)
Solu¸c˜ao. Suponha que k | 2k−1+ 1. Claramente k ´e ´ımpar. Seja k = pα1
1 ·p α2
2 ·. . .·pαrr, onde p1, p2, . . . , prs˜ao primos ´ımpares.
Seja pi− 1 = 2mi· ti onde os ti s˜ao ´ımpares(i = 1, 2, . . . r). Suponha sem perda de generalidade que m1´e o menor elemento de
{m1, m2, . . . , mr}. Como piαi ≡ 1 (mod 2mi ≥ 2m1), segue que k = p α1
1 · p α2
2 · . . . · pαrr ≡ 1 (mod 2m1) ⇒ k − 1 = 2m1· u. Mas
2k−1 ≡ −1 (mod k) ⇒ 22m1u ≡ −1 (mod k) ⇒ 22m1u ≡ −1 (mod p
1) ⇒ 22
m1ut1
≡ (−1)t1 = −1 (mod k) ⇒ 2(p1−1)u≡ −1
(mod p1). Mas isso contradiz o teorema de Fermat pois (2p1−1)u≡ 1u≡ 1 (mod p1).
Problema 28. (Bulg´aria 1995) Encontre todos os n´umeros primos p e q tais que o n´umero 2p+ 2q ´e divis´ıvel por pq. (Dica: Use o problema anterior)
Problema 29. (Bulg´aria 1996) Ensontre todos os n´umeros primos p e q tais que
(5p− 2p)(5q− 2q)
pq
´e um inteiro.
Problema 30. (Bulg´aria 1997) Encontre todos os n´umeros inteiros m, n ≥ 2 tais que
1 + m3n+ m2·3n
n ´e um inteiro
Solu¸c˜ao. Claramente n ´e ´ımpar, mdc(m, n) = 1 e n > 2. Se n = 3, como mdc(m, n) = 1 devemos ter que m ≡ 1 (mod 3) pois caso contr´ario 1 + m3n+ m2·3n ≡ 1 − 1 + 1 ≡ 1 (mod 3). ´E f´acil ver que todo par (m, n) = (3k + 1, 3) ´e solu¸c˜ao. Suponha agora n > 3 e seja k = ordnm. Se n > 3 ⇒ m3
n 6≡ 1 (mod n). Como 1 + m3n+ m2·3n = m 3n+1 − 1 m3n − 1 segue que n | m3n+1−1 ⇒ k | 3n+1. Logo k = 3n+1. Pelo teorema de Euler, mφ(n) ≡ 1 (mod n) ⇒ k ≤ φ(n) ⇒ 3n+1≤ φ(n) ≤ n − 1,
uma contradi¸c˜ao.
Problema 31. (Alemanha) Se n ´e um n´umero natural tal que 4n+ 2n+ 1 ´e primo, prove que n ´e potˆencia de 3.
Problema 32. (IMO 1971) Prove que a sequˆencia 2n− 3(n > 1) cont´em uma subsequˆencia de n´umeros primos entre si dois
a dois.
Problema 33. Mostre que qualquer n ≥ 7 pode ser escrito na forma p + m, com p e m naturais primos entre si, maiores que 1 e p ´e primo.
Solu¸c˜ao. Aplicando o teorema anterior com l =ln 2 m
> 3, o menor inteiro maior ou igual a n
2, produzimos um primo p com n
2 < p < n − 1. Tal primo n˜ao pode dividir n pois p < n < 2p. Ent˜ao n = p + (n − p) satisfaz o enunciado. Tente resolver o problema anterior sem usar o teorema 11.
Problema 34. Prove que se n > 1 e k s˜ao n´umeros naturais, ent˜ao o n´umero X = 1 n+ 1 n + 1+ . . . + 1 n + k n˜ao pode ser um inteiro.
Problema 35. Seja P o conjunto de todos os primos e seja M um subconjunto de P , tendo pelo menos trˆes elementos e tal que para qualquer subconjunto pr´oprio A de M , todos os fatores primos do n´umero
Y
p∈A
p
est˜ao em M . Prove que P = M .
Defini¸c˜ao 4. Sejam a, n inteiros primos entre si, definimos a ordem de a m´odulo n como sendo:
ordna := min{d > 0 | ad≡ 1 (mod n)}
Teorema 12. Se am≡ 1 (mod n) ent˜ao ord na|m.
Teorema 13. ordna|φ(n).
Problema 36. (Teste Cone Sul 2002) Encontre o per´ıodo na representa¸c˜ao decimal de 1 32002.
Problema 37. Prove que que se p ´e primo, ent˜ao pp− 1 tem um fator primo congruente a 1 m´odulo p Solu¸c˜ao. Seja q um primo que divide p
p− 1
p − 1. Como q | p
p− 1 segue que ord
qp | p. Se ordqp = 1 ⇒ q | pp− 1 ⇒ 0 ≡
pp−1+ pp−2+ . . . p + 1 ≡ 1 + 1 + . . . + 1 + 1 ≡ p (mod q). Mas isso ´e um absurdo pois p 6= q. Logo ord
qp = p e pelo teorema
anterior obtemos p | φ(q) = q − 1. Da´ı todos os divisores primos de p
p− 1
p − 1 s˜ao congruentes a 1 m´odulo p.
Problema 38. (IMO 2003) Seja p um n´umero primo. Demonstre que existe um n´umero primo q tal que, para todo inteiro n, o n´umero np− p n˜ao ´e divis´ıvel por q.
No problema anterior, ´e poss´ıvel mostrar que existem infinitos primos q que satisfazem o enunciado.
Problema 39. (Leningrado 1990) Prove que para todos os inteiros a > 1 e n , n|φ(an− 1).
Solu¸c˜ao. Seja k = ordan−1a. Como ak ≡ 1 (mod an− 1) ⇒ ak− 1 ≥ an− 1 ⇒ k ≥ n. Como an≡ 1 (mod an− 1) ⇒ k = n.
Pelo teorema anterior n = k | φ(an− 1).
Problema 40. Dado um primo p, prove que existem infinitos naturais n tais que p divide 2n− n.
Solu¸c˜ao. Se p = 2 a afirma¸c˜ao ´e evidente. Suponha p 6= 2. Pelo teorema de Fermat, 2(p−1)2k−(p−1)2k≡ (2p−1)(p−1)2k−1
−1 ≡ 1 − 1 ≡ (mod p). Ent˜ao todo n´umero da forma (p − 1)2k satisfaz o enunciado.
Problema 41. (Putnam 1972) Prove que n˜ao existe um inteiro n > 1 tal que n|2n− 1.
Solu¸c˜ao. Suponha que o conjunto S = {n ∈ N|n > 1, n | (2n− 1)} ´e n˜ao vazio. Seja m o menor elemento de S. Claramente
m ´e ´ımpa e pelo teorema de Fermat temos m | 2φ(m)− 1. Seja d = mdc(m, φ(m)), pelo problema 12, como m | 2m− 1 e
m | 2φ(m)− 1 segue que m | (2d− 1). Como m > 1 e m | (2d− 1), segue que d > 1. Como d | m segue que d | 2d− 1. Como
d ≤ φ(m) < m o elemento d est´a em S e ´e menor que o menor elemento desse conjunto. Essa contradi¸c˜ao mostra que S ´e vazio.
Defini¸c˜ao 5. a ´e chamado raiz primitiva m´odulo n se ordna = φ(n).
Teorema 14. Seja p primo e d tal que d|p − 1, ent˜ao o n´umero de res´ıduos com ordem d ´e φ(d). Em particular p tem φ(p − 1) ra´ızes primitivas.
Teorema 15. Seja g uma ra´ız primitiva m´odulo n, ent˜ao se x ´e primo com n existe um a tal que x ≡ ga (mod n). Teorema 16. Seja g uma ra´ız primitiva m´odulo n, ent˜ao ga tamb´em ´e ra´ız primitiva se e somente se mdc(a, φ(n)) = 1.
Teorema 17. n tem raiz primitiva se e somente se n = 2, 4, pα, 2pα onde p ´e primo.
Teorema 18. (Euler) Um inteiro a satisfazendo mdc(a, p) = 1 ´e o res´ıduo de uma potˆencia n-´esima n´odulo p se e somente se vale a rela¸c˜ao:
ap−1d ≡ 1 (mod p) com d = mdc(p − 1, n).
Prova. Suponha que o inteiro a com mdc(a, p) = 1 ´e o res´ıduo de uma potˆencia n-´esima n´odulo p, ent˜ao existe x com xn≡ a (mod p). Pelo teorema de Fermat,
ap−1d ≡ (xn) p−1
d ≡ (xp−1)nd ≡ 1 (mod p).
Provemos agora que a condi¸c˜ao tamb´em ´e suficiente. Seja g uma raiz primitiva m´odulo p. Como mdc(a, p) = 1, existe um h, 0 ≤ h ≤ p − 2 e a ≡ gh (mod p). Substituindo na nossa rela¸c˜ao,
gh(p−1)d ≡ 1 (mod p).
Como g ´e uma raiz primitiva, p − 1 | h(p − 1)
d ⇒ d | h ⇒ h = kd. Pelo teorema de Bezout, existem n´umeros naturais u, v tais que d = nu − (p − 1)v ⇒ kd = knu − k(p − 1)v. Como a ≡ gh≡ gkd (mod p), em virtude do teorema de Fermat,
a ≡ agh(p−1)d ≡ gkd+k(p−1)v≡ gknu≡ (gku)n (mod p).
Basta fazer x = gku.
Problema 42. Ache todos os inteiros positivos n tais que vale an+1≡ a (mod n) para todo a inteiro.
Solu¸c˜ao. Primeiro vemos que n ´e livre de quadrados. Suponha que exista p primo com p2|n, tome a := p. Logo pn+1 ≡ p
(mod p2) absurdo, pois pn+1≡ 0 (mod p2). Ent˜ao an+1≡ a (mod n) para todo a se e somente se an+1≡ a (mod p) para
todo a, p com p primo satisfazendo p|n (Teorema chinˆes dos restos). Tomando a raiz primitiva (mod p) temos que an+1≡ a
(mod p) se e somente se p − 1|n. Logo basta achar todos os n livre de quadrados satizfazendo p − 1|n para todo primo p que divide n. Escreva n = p1p2. . . pk com p1 < p2 < . . . < pk, pi primo. Logo mdc(p1− 1, n) = 1 portanto temos que
p1− 1 = 1 o que implica p1 = 2 (solu¸c˜ao n = 2). Analogamente p2− 1|n logo p2− 1 = 1, 2, portanto p2 = 3 (solu¸c˜ao
n = 6). Continuando, p3− 1 = 1, 2, 3, 6, logo p3 = 7 (solu¸c˜ao n = 42), p4− 1 = 1, 2, 3, 6, 7, 14, 21, 42, logo p4= 43 (solu¸c˜ao
n = 42·43 = 1806), p5−1 = 1, 2, 3, 6, 7, 14, 21, 42, 43, 86, 258, 301, 602, 903, 1806 mas em nenhum caso p5seria primo, portanto
temos s´o as solu¸c˜oes anteriores.
Problema 43. (Eureka) Prove que se p ´e um primo da forma 4k + 3, ent˜ao 2p + 1 tamb´em ´e primo se e somente se 2p + 1 divide 2p− 1.
Problema 44. Prove que todos os divisores dos n´umeros de Fermat 22n+ 1, n > 1, s˜ao da forma 2n+2k + 1.
Problema 45. (IMO 1990) Encontre todos os inteiros positivos n > 1 tais que
2n+ 1
n2
´e um inteiro.
Referˆ
encias
[Sierpinski] Sierpinski, W., Elementary Theory of Numbers, Hafner, New York, 1964.
[IR] Ireland, K.: Rosen, M., A Classical Introduciton to Modern Number Theory, Springer-Verlag, 1982.
[Pl´ınio] Jos´e Pl´ınio de Oliveira, Introdu¸c˜ao `a Teoria dos N´umeros, IMPA, 2000.
[Moreira-Saldanha] Moreira, C.G., Saldanha, N.C. (2003), Primos de Mersenne (e outros primos muito grandes), IMPA, Publica¸c˜oes Matem´aticas.
[OBM] Carlos Moreira, Edmilson Motta, Eduardo Tengan, Luiz Amˆancio, Nicolau Saldanha e Paulo Rodrigues, Ol´ımpiadas Brasileiras de Matem´atica, 9aa 16a.
[EUREKA2] Eureka! 2: Divisibilidade, Congruˆencias e Aritm´etica M´odulo n, Carlos G. T. de A. Moreira.
[Olimpedia] http : //erdos.ime.usp.br
[Sato] http : //www.artof problemsolving.com/Resources/P apers/SatoN T.pdf