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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1

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Academic year: 2021

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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA1

SOUZA, Nali de Jesus.

Desenvolvimento Econômico. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2005. Como foi visto nas seções anteriores do livro de Souza (2005), à medida que a economia passa a ser cada vez mais industrializada, as interdependências entre as atividades rurais e a indústria reforçam as funções da agricultura no desenvolvimento econômico. Os vínculos de interdependência ampliam-se na proporção em que a agricultura se torna absorvedora do progresso técnico e em que a indústria se adapta às necessidades da agricultura, fornecendo-lhe insumos e adquirindo seus produtos. O resultado dessa interação beneficia toda a economia, via geração de emprego e renda. O aumento da arrecadação pública dinamiza os diferentes setores do sistema, por meio dos gastos governamentais. A interação entre os setores é função da agroindustrialização e da adoção de inovações na agricultura, bem como da diversificação da produção agrícola.

O Estado pode acelerar essa integração por intermédio do incentivo à criação de agroindústrias e cooperativas de produção e à adoção de técnicas agrícolas mais modernas, por meio de políticas de crédito e preço que levem ao aumento da produção das várias culturas. As cooperativas, conjugando esforços de um conjunto de agricultores, interligando-os com o mercado, têm a virtude de incentivar a produção, aumentar a renda dos agricultores e estimular as inovações tecnológicas.2

A difusão de técnicas existentes tem sido a principal fonte de crescimento da produtividade agrícola nos países subdesenvolvidos. A abordagem da difusão considera que as diferenças da produtividade do trabalho e da terra, entre agricultores e regiões, podem ser reduzidas pela maior difusão do conhecimento tecnológico entre os agricultores tradicionais. Para o caso do algodão em São Paulo, Pastore et al (1982, p. 78) salientaram que, quanto mais concentrada espacialmente for a produção, tanto maiores serão os contatos entre os agricultores e pesquisadores, intensificando a demanda e a adoção de inovações tecnológicas.

1 – Tipos de inovações tecnológicas

A dificuldade da adoção de técnicas disponíveis, geralmente criadas em países desenvolvidos, diz respeito a sua adequação às características dos países subdesenvolvidos e à criação de conhecimentos adicionais, adaptativos, mediante estações experimentais pelo sistema industrial. Em segundo lugar, a adoção dessas técnicas dependerá da disponibilidade de crédito a ser alocado à pesquisa tecnológica, à educação e ao financiamento dos agricultores. Tanto as inovações mecânicas (poupadoras de mão-de-obra), como as inovações bioquímicas (poupadoras de terra), são importantes para o desenvolvimento industrial, mas elas precisam ser adaptadas às características das regiões e

1 Este texto constitui um anexo ao Capítulo 9 do livro Desenvolvimento Econômico (Souza, 2005).

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dos produtos (tais como clima, tipo de solo, disponibilidade de água, elasticidade-preço da demanda), para não causarem distorções na alocação de recursos.

Determinados insumos modernos exigem abundância de água e topografia regular. Em muitos casos, técnicas baratas, como novos métodos de cultivo, espaçamento correto, sementes selecionadas, adequação da cultura ao tipo de solo, adubação orgânica, podem ser suficientes para aumentar a produtividade e a renda dos agricultores. A conjugação coletiva de esforços (cooperativas, sindicatos, grupos de vizinhos) para a aquisição de máquinas agrícolas pode constituir uma solução relativamente barata para a mecanização de pequenas propriedades, gerando resultados compensadores. O aumento da produtividade agrícola, em decorrência da adoção de inovações, expande a oferta dos produtos. Se a curva de demanda permanecer inalterada, o novo equilíbrio do mercado ocorrerá com redução de preços e aumento das quantidades demandadas. Essa redução de preços será tanto maior quanto mais inelástica for a demanda do produto, em relação aos preços. Quanto mais ela for elástica, tanto menos estes se reduzem com o deslocamento da oferta.

Se a demanda do produto for horizontal (perfeitamente elástica), somente as quantidades demandadas aumentarão, com o deslocamento da oferta, ficando os preços constantes. Em outro extremo, se a demanda for vertical (perfeitamente inelástica), o deslocamento da oferta provocará apenas redução de preços, ficando inalteradas as quantidades demandadas. A inelasticidade da demanda de um produto pode provocar a redução da receita total do agricultor, pela queda de preços não compensada pela elevação das quantidades. Quanto mais elástica for a demanda, um deslocamento da curva de oferta para a direita, em decorrência de inovações tecnológicas, provocará um aumento maior das quantidades demandadas, em relação à queda dos preços, o que eleva a renda dos produtores. Se a demanda for inelástica, o aumento das quantidades demandadas não será maior do que a redução do preço e a receita do agricultor irá se reduzir em decorrência da adoção de inovações tecnológicas.

2 - Efeitos das inovações tecnológicas

No caso dos produtos de exportação, em que o preço é dado pelas condições do mercado internacional, com demanda infinitamente elástica (pequena participação do país no mercado externo), toda inovação tecnológica aumenta as quantidades ofertadas sem reduzir o preço. Neste caso, o efeito sobre o aumento da receita do produtor será máximo. Este tem sido o caso da soja, uma vez que a colheita brasileira ocorre na entressafra dos EUA, o maior produtor mundial. Isso explica a tendência para se utilizarem insumos modernos na produção de soja. Dependendo da elasticidade da curva de oferta, a receita pode, portanto, reduzir-se no setor agrícola em função do aumento da produção total. Este é o caso da maioria dos demais produtos, em que os produtores são numerosos e o mercado aproximadamente concorrencial.

No caso de produtos industriais, as inovações tecnológicas, em geral, implicam certo grau de monopólio (registro de patentes, por exemplo) e os preços não se reduzem com as inovações, ou caem menos do que proporcionalmente aos custos médios. O produtor tende a obter lucro puro até

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que outros produtores entrem no mercado, produzindo bens semelhantes ou adotando tecnologias similares. Se o produto agrícola for industrializado em grande escala e se a demanda, por conseguinte, for mais estável, a flutuação dos preços agrícolas será menor, favorecendo a adoção de inovações tecnológicas. Esse fato explica por que as inovações tecnológicas tendem a concentrar-se nos produtos agrícolas de exportação, como soja, laranja para suco, entre outros.

No caso de produtos agrícolas industrializáveis, as imperfeições de mercado do lado da agroindústria podem levar à queda de preços das matérias-primas, objeto de transformação, a menos que sua escassez induza a agroindústria a pagar preços maiores, com o objetivo de assegurar maior regularidade em seu fornecimento. Quando as flutuações das quantidades demandadas e dos preços são muito grandes, há um componente de risco muito elevado nas decisões do agricultor, em relação à adoção de inovações. Este é o caso dos produtos alimentares de consumo doméstico, que são, em grande parte, cultivados em pequenas propriedades: os agricultores têm dificuldades para adotar inovações, em primeiro lugar, pelo tipo de produto que cultivam; em segundo lugar, pela escassez de recursos terra e capital; finalmente, pela dificuldade de acesso ao crédito.

As inovações tecnológicas exercem um efeito alocativo ao deslocar os recursos da produção de culturas com demanda menos elástica, principalmente alimentos, para produtos com demanda mais elástica. Com a substituição de culturas em terras mais férteis e mais bem situadas em relação ao mercado, a produção de bens com demanda menos elástica, como alimentos, tende a reduzir-se ou a deslocar-se para terras menos férteis, ou para áreas mais distantes do mercado, em direção da fronteira agrícola. Há, portanto, visível prejuízo para a política de combate à inflação. As inovações tecnológicas exercem, também, efeito distributivo, porque o excedente do produtor aumenta mais no caso dos produtos com demanda mais elástica, como os produtos de exportação.

3 - Modelo da inovação induzida

Observa-se que a introdução de inovações tecnológicas na produção de bens com demanda de baixa elasticidade implica na necessidade de adoção simultânea de políticas de preços mínimos, para estimular o produtor. Contudo, a ocorrência de preços de garantia acima dos preços de mercado resulta no aumento dos estoques reguladores do governo e de seus gastos. Assim, a possibilidade de exportação e de industrialização desses produtos passa a ser uma grande alternativa para a ampliação do mercado. Constata-se, portanto, que o livre funcionamento do mercado pode provocar uma mudança significativa na estrutura produtiva agrícola, com a produção de determinados bens crescendo mais do que a de outros. Neste caso, as inovações tecnológicas são induzidas pela mudança dos preços relativos e pela resposta institucional às mudanças do mercado (Hayami e Ruttan, 1971).

No modelo da inovação induzida, os preços são os sinalizadores do mercado dos produtos agrícolas e dos fatores de produção. Os agricultores procuram adotar inovações tecnológicas para poupar os insumos cujo preço aumentou em relação aos demais. As instituições públicas são induzidas a desenvolver a tecnologia mais rentável. Essa resposta institucional depende dos preços

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do mercado e da existência de grupos de pressão na sociedade, suscetíveis de induzir a realização da pesquisa pública, bem como de outros objetivos macroeconômicos e políticos. O aspecto político-social torna-se muito importante na materialização de uma oferta real de inovações e esse aspecto foi salientado por Janvry (1978).

A estrutura socioeconômica (posse da terra, nível tecnológico, preço dos produtos e dos

insumos, acesso ao crédito, informação e educação) e a estrutura político-burocrática (sistema de pressão social, sistema de compensação eleitoral, burocrática e legislativa) interagem no sistema de demanda e de oferta de inovações, exercendo uma filtragem a ponto de modificar o equilíbrio que existiria como resultado das forças naturais de mercado. Assim, torna-se necessário minimizar as distorções que produzem vieses na geração e na adoção de inovações tecnológicas, por meio de políticas agrícolas adequadas.

O aumento da produtividade agrícola nas regiões de minifúndio torna-se indispensável para melhorar o nível de vida das populações envolvidas e aumentar a oferta de alimentos. A política brasileira de estímulo às exportações (principalmente as minidesvalorizações cambiais, a partir de 1968, até os anos de 1980), o aumento do preço internacional dos produtos agrícolas no fim dos anos de 1960, bem como as inovações tecnológicas adotadas, beneficiaram a expansão das exportações agrícolas, especialmente da soja. Para Melo (1982, p. 434), este último fator foi o mais relevante para explicar as alterações na composição da pauta exportadora em relação à produção para o mercado interno, devido às diferenças no valor absoluto das elasticidades-preço da demanda entre os produtos exportáveis e domésticos. O efeito alocativo provocou elevação do preço dos bens alimentares, entre 1967/1979, prejudicando especialmente as famílias de menor renda, principalmente nas regiões mais pobres do Brasil.

Políticas favoráveis à adoção de inovações tecnológicas no setor agrícola são indispensáveis para aumentar o consumo de bens industriais por parte dos agricultores, elevar a produção agropecuária e evitar o crescimento dos preços dos alimentos. Nesse contexto, torna-se muito importante salientar a relevância das políticas de preços mínimos e de crédito rural, principalmente aquelas orientadas para o agricultor de baixa renda e para o conjunto dos trabalhadores do meio rural.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO

1. Quais são as principais dificuldades de aplicação de técnicas agrícolas desenvolvidas em outros países?

2. Explique os diferentes impactos das inovações tecnológicas sobre preços agrícolas, nível da produção e renda dos agricultores.

3. Explique o mecanismo de autocontrole de Paiva.

4. A agricultura teria a função de transferir poupanças para a indústria; por outro lado, os agricultores reclamam que é impossível produzir sem crédito abundante e subsidiado. Em sua opinião, como a agricultura poderia desenvolver-se e, ao mesmo tempo, contribuir para o crescimento dos demais setores?

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REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HAYAMI, Yujiro, RUTTAN, V. W. Agricultural development: an international perspective. Baltimore : The Johns Hopkins University Press, 1971.

JANVRY, Alain de. Social structure and biased technical change in Argentine agriculture. In: BISWANGER, H. P. , RUTTAN, V. W. Induced innovation. Baltimore : The Johns Hopkins University Press, 1978.

MELO, Fernando B. H. Inovações tecnológicas e efeitos distributivos: o caso de uma economia semi-aberta. Revista Brasileira de Economia, v. 36, n. 4, out./dez. 1982.

PASTORE, José et al. Condicionantes da produtividade da pesquisa agrícola no Brasil. In: SAYAD, João (Org). Economia Agrícola: ensaios. São Paulo : IPE/USP, 1982, (Série Relatórios de Pesquisa, n. 11).

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