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BOLETIM DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2020 MARÇO ANO III Nº 17

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BOLETIM DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2020 – MARÇO – ANO III – Nº 17

O Programa de Iniciação Científica – PIC da Fadileste, coordenado pelo Professor Mestre Hugo Garcez Duarte, com vistas à difusão periódica do pensamento científico de seus membros e convidados, instituiu, no ano de 2018, o seu Boletim jurídico, a ser publicado mensalmente.

A versão de nº 17, referente ao mês de março de 2020, contou com os seguintes participantes e trabalhos publicados:

1. Professores(as) do Programa Doutora Lídia Maria Nazaré Alves Mestra Rovena Almeida Pinto Mestre Hugo Garcez Duarte

2. Orientandos(as)

Acadêmica em Direito Bruna Camilla de Albuquerque Acadêmica em Direito Débora Rodrigues de Miranda Acadêmica em Direito Nilia Borelli Vargas

3. Convidados(as)

Bacharela em Direito Apoliézer Moreira Rosa Bacharela em Direito Mayra Bendia da Silva Bacharel em Direito Marcelo Henrique Lopes Silva

4. Trabalhos

A cultura do machismo e a violência contra a mulher

A posição atual do Supremo Tribunal Federal sobre a prerrogativa de foro dos parlamentares federais

Animal não é coisa

Dignidade humana e Estado Democrático de Direito Introdução à violência obstétrica

Nacionalidade, estrangeiro, apátrida e polipátrida O diálogo entre o direito e a literatura

Resumo: A Constituição contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a constituinte e a Constituição de 1988, de Roberto Campos, organizado por Paulo Roberto de Almeida

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2 PUBLICAÇÕES

ARTIGO

A posição atual do Supremo Tribunal Federal sobre a prerrogativa de foro dos parlamentares federais

Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com De imediato, entendamos o que a Constituição Federal prevê sobre o tema prerrogativa de foro dos parlamentares federais.

Conjugando-se o art. 53, § 1º, com o art. 102, I, “b”, chegaremos à conclusão que desde a diplomação deputados federais e senadores, ou seja, os parlamentares federais, serão julgados pela prática de infração penal, crime, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em interpretação a esses dispositivos, qual era a posição do STF? O Supremo entendia que pouco importava a natureza da infração penal, deputado federal foi diplomado, senador federal obteve sua diplomação, esses parlamentares seriam julgados na Corte. Pois bem! Isso a partir de maio de 2018 mudou!

A corte constitucional, em análise a uma questão de ordem no âmbito da Ação Penal (AP) nº 937, cujo relator foi o Ministro Luís Roberto Barroso, entendeu que se deveria promover uma mitigação ao alcance da norma constitucional que prevê o assunto. Como assim? Ora, a partir de agora o STF somente julgará deputado federal, senador federal, pela prática de crime, caso a infração penal seja praticada no exercício do mandato e que tenha relação com a função parlamentar.

Ou seja, desde já, excluem-se várias práticas criminais que anterior e eventualmente seriam julgadas pelo Supremo.

Citemos dois exemplos para ilustrar o posicionamento atual:

1. Deputado federal praticou o crime de corrupção passiva no exercício da função. Tem relação com a função? Tem! Onde ele será julgado? No STF, pois o crime se deu no exercício da função e tem relação com a mesma.

3. Senador federal praticou o crime homicídio. Ele será julgado no Supremo? Pergunta-se: a prática criminosa se deu no exercício da função parlamentar? Além disso, ela decorre da função parlamentar? Se a resposta for positiva, ok. Se a resposta for negativa, não, o tribunal competente será aquele do local em que o fato ocorreu.

Para finalizar, indague-se, até que momento perdura a prerrogativa de foro dos deputados e senadores federais de acordo com essa posição atual do Supremo Tribunal Federal?

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A prerrogativa de foro permanece a partir do momento em que haja a publicação despacho convocatório para a apresentação de alegações finais. O que isso quer dizer? Até esse momento, o tribunal competente ao julgamento do deputado, do senador, poderá mudar. Após o citado momento, não, perdurará a prerrogativa de foro.1

Referências

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 05 de mar. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Notícias do STF: STF conclui julgamento e restringe prerrogativa de foro a parlamentares federais. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=377332&fbclid=I wAR04LqS1zNLtAu-JDnNtjnUd7VHwrCZNFmEDXPqY6U8OaOpTstXJWmaOL5o> Acesso em: 05 de mar. 2020.

Animal não é coisa

Marcelo Henrique Lopes Silva

Bacharel em Direito Faculdade de Ciências Sociais do Leste de Minas- Fadileste marcelohenriquereduto@gmail.com

Rovena Almeida Pinto

Mestra em Direito Faculdade de Ciências Sociais do Leste de Minas- Fadileste almeidarovena@outlook.com A Constituição de 1988 pode ser considerada um marco para o reconhecimento do valor intrínseco a todos os animais. A previsão do art. 225, § 1º, VII, permitiu uma interpretação e construção jurisprudencial do conceito e não crueldade animal, contemplando sua dignidade. Vários foram os precedentes oriundos do Supremo Tribunal Federal (STF) que se fundamentaram em tal dispositivo para proibir a “farra do boi” e as “rinhas de galo”, por exemplo.

Não obstante, o Código Civil brasileiro (2002), em seu art. 82, livro II, que trata dos bens, considera como móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, chamados de semoventes. Assim, pelo ordenamento civil os animais são coisas.

Com o objetivo de modificar tal natureza jurídica, em 07/08/2018 o Plenário do Senado aprovou o projeto de lei (PLC 27/2018) que cria o regime jurídico especial

1 Sobre a posição atual do Supremo Tribunal Federal quanto a prerrogativa de foro dos parlamentares

ver: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Notícias do STF: STF conclui julgamento e restringe prerrogativa de foro a parlamentares federais. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=377332&fbclid=IwAR04LqS1zNLt Au-JDnNtjnUd7VHwrCZNFmEDXPqY6U8OaOpTstXJWmaOL5o> Acesso em: 05 de mar. 2020.

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para os animais, não podendo mais serem considerados como objetos, como atualmente são classificados pelo Código Civil.

O projeto pretende mudar tal qualificação do ordenamento civil, estabelecendo que os animais serão considerados como seres sencientes, ou seja, seres dotados de capacidade de perceber o que lhes rodeia, de sentir sofrimento dotados de natureza biológica e emocional. De acordo com o dicionário Michaelis (1998), senciente é que sente ou tem sensações; sensível, que recebe impressões. A natureza jurídica será sui generis, como sujeitos de direitos despersonificados.

Saliente-se que a mudança, apesar de importante, ainda foi tímida, visto que nem todos os animais foram abrangidos pela proteção. São excluídos os destinados à produção agropecuária, os utilizados nas pesquisas científicas e os que participam das manifestações culturais integrantes do patrimônio cultural brasileiro.

Interessante discutir a necessidade do direito de se adequar aos novos valores sociais. O Direito é dinâmico e deve se adequar aos avanços da civilização. É necessário reconhecer a importância dos animais para o equilíbrio ambiental e para a convivência social. Não se pode tratar um animal como um copo ou um sapato. Animais sentem e assim devem ter tratamento jurídico adequado a sua natureza biológica.

Não há mais como negar que o animal de estimação passou a integrar o núcleo familiar na condição de ente, estreitando os laços de afeto entre humanos e animal. Consequentemente, esta relação passou a ser objeto do direito de família, a medida em que passaram a ser objetos de contenda judicial quando os laços familiares se desfazem. De fato, vários são os pedidos de divórcio onde se discute guarda e “pensão alimentícia” para os “pets”.

De acordo com notícias postadas pelo Senado Federal (2018), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já analisou a questão e permitiu ao ex-cônjuge o direito de visita à cadela yorkshire. Em seu voto o ministro Luis Felipe Salomão salientou:

Buscando atender os fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, independentemente do nomen iuris a ser adotado, penso que a resolução deve, realmente, depender da análise do caso concreto, mas será resguardada a ideia de que não se está frente a uma ‘coisa inanimada’, mas sem lhe estender a condição de sujeito de direito. Reconhece-se, assim, um terceiro gênero, em que sempre deverá ser analisada a situação contida nos autos, voltado para a proteção do ser humano e seu vínculo afetivo com o animal.

Vê-se que o projeto de lei veio em boa hora visando contemplar os novos anseios sociais. Não se trata de uma questão jurídica frívola como muitos insistem em dizer. Ao contrário, trata-se de reconhecimento necessário de que a sociedade passou a se relacionar de forma mais empática com os animais e que sua proteção significa sempre a proteção ao meio ambiente.

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BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 20 de mar. 2020.

BRASIL. Projeto de Lei 27 de 2018, 19 de abril de 2018. Acrescenta dispositivo à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para dispor sobre a natureza jurídica dos

animais não humanos. Disponível em:

<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/133167> Acesso em: 20 mar. 2020.

MICHAELIS. Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998. Dicionários Michaelis, 2259 p.

SENADO FEDERAL. STJ garante direito de ex-companheiro visitar animal de estimação após dissolução da união estável. 19 de junho de 2018. Disponível em http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018- 06-19_20-21_STJ-garante-direito-de-excompanheiro-visitar-animal-de-estimacao-ap os-dissolucao-da-uniao-estavel.aspx. Acesso em: 24 de mar. 2020.

A cultura do machismo e a violência contra a mulher

Débora Rodrigues de Miranda

Acadêmica em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) deboralajinha@gmail.com

Hugo Garcez Duarte (Orientador)

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com

Lídia Maria Nazaré Alves (Orientadora)

Doutora em Literatura Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste)

lidianazare@hotmail.com Ao longo dos séculos, as diferenças sexuais sempre foram valorizadas pelos mais diferentes povos e as mais diversas culturas tendo-se em vista “os quatro cantos” de todo o mundo.

Nas sociedades mais primitivas, o que preponderava quanto aos homens era o atributo da força física com vistas à sua sobrevivência, da família e da comunidade em que se situava, sendo as mulheres relegadas a um segundo plano, consideradas menos importantes, sendo afeitas de atributos domésticos e relativos à criação dos filhos e essas características sociais estão se alterando aos poucos.

Vê-se, assim, todavia, que desde os tempos mais remotos, para alguns, o machismo impera, gerando, por vezes, diversos abusos.

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6 o abuso caracteriza-se pelo conjunto de condutas que se efetivam causando dano físico, dor ou ferindo a outra pessoa de maneira intencional, podendo manifestar-se no físico e em demais formas nas quais se oprime e viola os direitos individuais da pessoa.

Marilena Chauí (1985) destaca, por sua vez, que a violência contra as mulheres é resultado de uma ideologia de dominação, produzida e reproduzida diversas vezes por homens e mulheres, e transforma as diferenças inicialmente biológicas em desigualdades hierárquicas.

Em complemento, Flávia Biroli (2014) sustenta que a violência contra mulher não é uma prática individual, mas sim social e sistêmica, uma vez que ela é dirigida a membros de um grupo, pelo simples fato de pertencerem ao mesmo.

Com essas considerações, sabe-se que o movimento feminista iniciado na segunda metade do século passado destacou-se por denunciar casos de violência contra a mulher. (MINAYO, 1994)

De toda maneira, cumpre ressaltar, a percepção social da violência contra a mulher é histórica e ao longo dos séculos vem se transformando em função da luta política das mesmas. Essa luta tomou roupagem, recentemente, de violação aos direitos humanos e prática criminal. (PITANGUY, HERINGER, 2002)

Isso, no entanto, não tem surtido os efeitos esperados no Brasil, sendo o machismo um argumento muito utilizado para configurar nosso atraso. Por isso, estudaremos a partir de agora em que medida essa fundamentação se faz valer na prática.

Referências

BIROLI, Flávia. Autonomia, dominação e opressão. In.: BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução. São Paulo: Boitempo, 2014. MARILENA, Chauí. Participando do Debate sobre Mulher e Violência. In: Franchetto, Bruna, Cavalcanti, Maria Laura V. C. e Heilborn, Maria Luiza (org.). Perspectivas Antropológicas da Mulher 4. São Paulo: Zahar Editores, 1985.

MINAYO MCS. A violência social sob perspectiva da saúde pública. Cad. Saúde Pública 1994; 10 Suppl 1:7-18.

PITANGUY J, Heringer R. Diálogo regional da América Latina e Caribe sobre direitos reprodutivos e violência contra a mulher: papéis e responsabilidade de homens jovens e adultos. Rio de Janeiro: Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação, 2002.

Dignidade humana e Estado Democrático de Direito

Apoliézer Moreira Rosa

Bacharela em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste)

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7 Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com A Magna Carta de 1988, no caput do art 1º, consagra o Estado Democrático de Direito como um dos princípios fundamentais da República brasileira, o qual encontra, na doutrina brasileira, definições variadas.

José Afonso da Silva, por exemplo, explora a ideia de incorporar conquistas de modelos precedentes, destacando o protagonismo de uma ação estatal voltada à justiça social.

[...] um processo de convivência social numa sociedade, livre, justa e solidária, em que o poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por representantes eleitos; participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e na formação dos atos do governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de ideias, culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses distintos da sociedade, há de ser um processo de libertação da pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento formal de direitos individuais, coletivos, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições econômicas,

suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício.2 (SILVA, 2009, p. 119-120)

Lênio Streck e Bolzan de Morais, em obra conjunta, desenvolvendo diversos dispositivos constitucionais, aludem congregar este Estado:

tem como princípios a constitucionalidade, entendida como vinculação deste Estado a uma Constituição, concebida como instrumento básico de garantia jurídica; a organização democrática da sociedade; um sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos, de modo a assegurar ao homem uma autonomia perante os poderes públicos, bem como proporcionar a existência de um Estado amigo, apto a respeitar a dignidade da pessoa humana, empenhado na defesa e garantia da liberdade, da justiça e solidariedade; a justiça social como mecanismo corretivo das desigualdades; a igualdade, que além de uma concepção formal, denota-se como articulação de uma sociedade justa; a divisão de funções do Estado a órgãos especializados para seu desempenho; a legalidade imposta como medida de Direito, perfazendo-se como meio de ordenação racional, vinculativamente prescritivo de normas e procedimentos que excluem o arbítrio e a prepotência; a segurança e correção jurídicas. (STRECK; MORAIS, 2006, p. 97-98)

Nesse horizonte, é preciso pensar situar-se o Estado Democrático de Direito no campo de um projeto cujo propósito é a instalação de uma ordem estatal justa, voltada à efetivação das liberdades públicas e da democracia, vez:

[...] transmite a mensagem de um Estado de Direito e Democracia bem como Democracia e Estado de Direito não são ideais redundantes ou pleonásticas, porque

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8 inexistem dissociadas. Como princípio fundamental, a voz do Estado Democrático de Direito veicula a ideia de que o Brasil não é um Estado de Polícia, autoritário e

avesso aos direitos e garantias fundamentais.3 (BULOS, 2014, p. 509-510)

Contexto no qual a dignidade da pessoa humana, fundamento da república brasileira, encontrando previsão no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, ocupa posição destacada, já que “[...] agrega em torno de si a unanimidade dos direitos e garantias fundamentais do homem”.4 (BULOS, 2014, p. 509-510).

Este princípio foi consagrado recentemente, já que somente após a segunda guerra mundial e sua previsão na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o instituto encontra previsão nas mais diversas Cartas Constitucionais por todo mundo.

A Dignidade, do latim, dignitas, significa tudo aquilo que merece respeito, consideração, mérito ou estima, relacionando-se, no pensamento de Sarlet, quando do pensamento filosófico e político da antiguidade clássica à:

[...] posição social ocupada pelo indivíduo e o seu grau de reconhecimento pelos demais membros da comunidade, daí poder falar-se em uma quantificação e modulação da dignidade, no sentido de se admitir a existência de pessoas mais dignas ou menos dignas. [...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o distinguia das demais criaturas, no

sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade.5

(SARLET, 2011, p. 34-35)

Mais à frente, a dignidade tomou feições religiosas, tendo o Papa São Leão Magno aludido que “[...] os seres humanos possuem dignidade pelo fato de que Deus os criou à sua imagem e semelhança e que, ao tornar-se homem, dignificou a natureza humana”.6 (SARLET, 2011, p. 36)

Já na Idade Média, Anicio Manlio Severino Boécio, aproximando-se da definição atual elege “[...] a pessoa como substância individual de natureza racional”.7

(SARLET, 2011, p. 37), enquanto para Giovanni Pico della Mirandola, citado por Lemos, “[...] a dignidade era inerente à racionalidade intrínseca a todo ser humano; todo homem existia por sua própria vontade, por sua própria racionalidade, sendo, portanto, possuidor de dignidade”.8 (MIRANDOLA apud LEMOS, 2008, p. 43)

Por sua vez, nesse diapasão, conforme narra Falcão, São Tomás de Aquino, defende que a dignidade humana tenha um valor próprio:

[...] além de sua concepção cristã de igualdade entre todos os homens perante Deus, defendia também a existência de duas ordens distintas, que seriam formadas

3 Supressão nossa. 4 Supressão nossa. 5 Supressões nossas. 6 Supressão nossa. 7 Supressão nossa. 8 Supressão nossa.

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9 pelo direito natural, como representação da natureza racional do homem, e pelo

direito positivo.9 (FALCÃO, 2010, p. 2092)

Os responsáveis pela cisão entre o conceito de dignidade humana e o pensamento cristão foram Francisco de Vitoria, no século XVI e Immanuel Kant, no século XVIII. O primeiro, vivendo uma realidade escravagista em sua terra natal, defendeu serem os índios “[...] seres humanos, em princípio livres e iguais”,10 (LEAL, 2007, p. 86),

independente de religião.

No entanto para Kant, segundo Sarlet, a concepção da dignidade surge da autonomia da vontade, momento em que repudia quaisquer espécies de coisificação e instrumentalização do ser humano:

[...] no reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço pode pôr-se em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e por tanto não permite equivalente, então tem ela dignidade... Esta apreciação dá, pois a conhecer como dignidade o valor de um tal disposição de espírito e põe-na infinitamente de todo o preço. Nunca ela poderia ser posta em cálculo ou confronto com qualquer coisa que tivesse um

preço, sem de qualquer modo ferir a sua santidade.11 (SARLET, 2011, p. 41)

Com o passar do tempo, o conceito de dignidade humana foi sofrendo transformações. No século XVIII, em que encontramos a gênese do movimento constitucionalista moderno, conforme Bonavides:

A dignidade da pessoa humana, desde muito, deixou de ser exclusiva manifestação conceitual daquele direito natural metapositivo, cuja essência se buscava ora na razão divina, ora na razão humana, consoante professavam em suas lições de teologia e filosofia os pensadores dos períodos clássicos e medievos, para se converter, de último, numa proposição autônoma do mais subido teor axiológico, irremissivelmente presa à concretização constitucional dos direitos fundamentais (BONAVIDES, 2011, p. 18)

A dignidade deve ser encarada como norte máximo da plena consecução dos direitos fundamentais, a dignidade da pessoa humana é condição e limite da atividade dos poderes públicos, ou seja, é comando estruturante da organização do Estado. É, ainda, “[...] limite e tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral de todos e de cada um, condição dúplice esta que também aponta para uma paralela e conexa dimensão defensiva e prestacional da dignidade”.12 (SARLET, 2011, p. 58)

Para que se dê ensejo a esta norma, o Estado está obrigado a criar condições possibilitadoras do pleno exercício de seu gozo. Assim, o delegatário do poder do povo não deve apenas abster-se de praticar atos que vão de encontro à dignidade,

9 Supressão nossa. 10 Supressão nossa. 11 Supressão nossa. 12 Supressão nossa.

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mas de ativamente promovê-la, garantindo o mínimo existencial, o qual consiste no conjunto de bens e utilidades indispensáveis a uma vida humana digna:

O nosso constituinte de 1988 além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e da justificação do exercício de poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui em si a finalidade precípua, e não o meio da atividade estatal. (SARLET, 2011, p. 80)

Correlatamente, super princípio que é, superadas todas as definições outrora descritas, no âmbito do Estado Democrático de Direito, deve-se encarar a dignidade da pessoa humana como princípio unificador de todos os ângulos da personalidade, servindo como norte para a doutrina e fundamento da criação legislativa e jurisprudencial. Enfim:

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede de vida. (SARLET, 2011, p. 73)

Referências

BONAVIDES, Paulo. Prefácio. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

FALCÃO, Natalia Fraga. A Fundamentação Filosófica do Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana. In: XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de

2010. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/XISalaoIC/Ciencias_ Sociais_Aplicadas> Acesso em: 01 de ago. 2014.

LEAL, Larissa Maria de Moraes. Aplicação dos princípios da dignidade da pessoa

humana e boa-fé nas relações de trabalho – As interfaces entre a tutela geral das

relações de trabalho e os direitos subjetivos individuais dos trabalhadores. In: Rev. Jur., Brasília, VOL. VII 8, Nº. 82, p.84-99, dez./jan., 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/revista/Artigos/PDF/> Acesso em: 01 de ago. 2014.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.

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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e teoria do Estado. 5. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

Nacionalidade, estrangeiro, apátrida e polipátrida

Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com É hora de tratarmos um pouco do tema Nacionalidade no sentido de delimitar os conceitos de estrangeiro, apátrida e polipátrida.

Quanto ao primeiro ponto, imagine você, nacional (ou nacionalidade) decorre do entendimento de que haja uma ligação político jurídica de alguém com determinado Estado.

Em outras palavras, este alguém, como tem essa ligação, faz parte do povo de dado país.

Então, tendo como norte essa premissa, todo aquele que não faça parte do povo de determinado Estado é um estrangeiro.

Dito de outro modo, todo aquele que não possui dada nacionalidade é estrangeiro tendo aquele Estado como paradigma.

Como saberemos quem é estrangeiro no Brasil? Tendo em vista aquele que não possua a nacionalidade brasileira. Quem não possui a nacionalidade brasileira é, assim, um estrangeiro. Da mesma forma, todo brasileiro que não detiver outra nacionalidade além da brasileira, é um estrangeiro no que diz respeito os demais países.

Muito bem! E o que seria o apátrida? Há dois critérios gerais para aquisição da nacionalidade que são o ius soli e o ius sanguini.

Quando haverá a figura do apátrida? Sempre que houver um conflito negativo dos critérios de aquisição da nacionalidade.

Por que negativo? Os critérios se excluem e, portanto, a pessoa não será nacional de nenhum país, Estado.

Vejamos este exemplo: suponha que uma criança nasça num determinado Estado, por exemplo, a Itália, que adote, unicamente, o critério do sangue. Portanto, é nacional deste país aquele que seja filho de italianos, descendentes de italianos, tenha sangue italiano. A criança nasceu na Itália, porém, seus pais não têm sangue italiano, sendo oriundos de um país que adote unicamente o critério do solo. Se quer dizer, quem nasce no solo, no território desse país, é seu nacional.

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Veja que na hipótese há uma exclusão. O critério do Estado originário dos pais exclui a nacionalidade do filho. O critério do local de nascimento, ou seja, da Itália, exclui a nacionalidade dessa criança ali nascida. Temos, logo, um apátrida.

Por fim, o inverso. Quem é o polipátrida? É aquele que possua mais de uma nacionalidade. Ou seja, há um conflito positivo de aquisição de nacionalidade.

Pense-se, por exemplo: filho de italianos nasça no Brasil e nenhum dos seus pais está a serviço do seu país. O que significa isso? Pelo simples fato de ter nascido em território nacional, essa criança será brasileira. Ela possuirá referida nacionalidade. E, ao mesmo tempo, conforme disse, como essa criança é filha de italianos, ela também deterá a nacionalidade italiana.

O diálogo entre o direito e a literatura

Bruna Camilla de Albuquerque

Acadêmica em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste)

Nilia Borelli Vargas

Acadêmica em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) vargasnilia@gmail.com

Hugo Garcez Duarte (Orientador)

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com

Lídia Maria Nazaré Alves (Orientadora)

Doutora em Literatura Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste)

lidianazare@hotmail.com Inúmeros produziram textos diversos acerca do diálogo entre direito e cinema. Por exemplo, Fernando J. Armando Ribeiro (2007) desenvolveu um estudo bastante citado em artigos desta natureza.

Para o autor, o Cinema, por meio de suas cenas, oferece ao mundo jurídico uma aproximação com os fatos sociais existentes, representando por meio delas, todas as classes sociais e as suas maneiras de interpretação do Direito existentes. A interlocução entre a arte (Cinema) e a ciência (Direito) é de grande importância, pois garantem uma ampliação do conhecimento não só para os alunos, mas para os leitores. Com esse intuito, diretores e produtores adequam a linguagem mantendo o

interesse que se quer almejar. Ribeiro (2007) De acordo com Fernando J. Armando Ribeiro (2007) o projeto, além de fomentar e

divulgar a cultura jurídica, serve como importante lugar de reflexão e crítica do Direito, tanto pela perspectiva comparatística que lhe é inerente, quanto por permitir repensar problemas, tradições e pré-compreensões.

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Essas ideias são confirmadas nos estudos de Ana Maria Viola e Grasiele Augusta (2011), as quais demonstram que a utilização do Cinema na área jurídica não serve apenas para a exemplificação de uma determinada situação, outrossim e igualmente, para despertar uma consciência humanística nos leitores perante os fatos sociais.

Além disso, Ana Maria Viola e Grasiele Augusta (2011) enfatizam o diálogo estabelecido entre o Direito e o Cinema, pois a extrema presença de conceitos na área jurídica dificulta a compreensão, podendo ocasionar, assim, a repulsa ao Direito. Portanto, a introdução da arte para dialogar com a ciência jurídica se mostra necessária, pois amplia as formas de adquirir conhecimento sobre dado assunto. São comuns títulos como Direito e Cinema: uma visão interdisciplinar, Direito e Cinema: uma interlocução necessária, Direito e cinema: uma aproximação entre as áreas, artigos de Direito e cinema, etc. Ou seja, diversos títulos que abordam a importância da correlação entre o direito e o cinema, da introdução do cinema no sistema educacional. Diferentes universidades abrem linhas de pesquisa sobre o diálogo em tela, tais como a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). (VIOLA; AUGUSTA, 2011)

Na Fadileste, por exemplo, tivemos um simpósio de direito e literatura, coordenado pela professora Elane Calmon no ano de 2017, cujos trabalhos apresentados muito contribuíram para o enriquecimento dos participantes não só como alunos, mas como futuros juristas.

Referências

RIBEIRO, PAULO. Família: não apenas um grupo, mas um fenômeno social. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/familia-nao-apenas-um-grupo-mas-um-fenomeno-social.htm. Acesso em: 05 de fev. 2020.

VIOLA, Ana Maria; AUGUSTA, Grasiele. Direito e cinema: uma visão disciplinar. Revista Ética e Filosofia Política nº14. Vol 2. Outubro de 2014, pg.108. Disponível em: http://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2011/10/14_2_sousa_nascimento_8.pdf. Acesso em: 05 de fev. 2020.

Introdução à violência obstétrica

Mayra Bendia da Silva

Acadêmica em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) vargasnilia@gmail.com

Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com

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A mulher é vítima de inúmeras discriminações em todo mundo, principalmente, porém, no Brasil.

No território nacional, o gênero feminino sofre grandiosas ofensas, dentre outras, de caracteres sociais, políticos, econômicos, sexuais e culturais.

Acerca dessas discriminações em pleno o século XXI, Luciana Brasil, frisando a tão em voga violência contra a mulher, destacou:

As mulheres ainda são vítimas de preconceito e há muito a ser feito para diminuir a desigualdade de gêneros. Apesar dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo dos últimos anos, como no mercado de trabalho, ainda persiste a exclusão feminina na distribuição dos cargos de liderança. As mulheres ainda hoje recebem até 30% a menos que os homens no mesmo cargo. Uma pesquisa realizada entre 48 países aponta que o Brasil é sétimo país com maior número de registros de violência contra mulheres. (BRAZIL, 2015, p. s/n)

A jurista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ana Lúcia Sabadell, corroborando o que se mencionou, em referência a pesquisa realizada, há algum tempo, pela Anistia Internacional em 50 países, fomentou, por exemplo, que “[…] uma em cada três mulheres foi vítima de violência doméstica, foi obrigada a manter relações sexuais ou submetida a outros tipos de violência”.13 (SABADELL,

2005, p. 228)

No que tange às discriminações sofridas no seio das relações trabalhistas, Ana Lúcia Sabadell afirmou ser líquido, certo e escancarado para todos

[…] que as mulheres sofram mais discriminações no ambiente de trabalho, ganhando menos pela realização das mesmas tarefas profissionais ainda quando possuem um nível de escolaridade superior ao dos homens. As mulheres também apresentam maiores dificuldades para obtenção de emprego, sendo que em diversos países as taxas de desemprego são sempre superiores às dos homens

[…].14 (SABADELL, 2005, p. 228)

Por oportuno, como Fabiana Paes ressalta, a título de núcleo físico, psicológico, de apreensão, expectativa, angústia, realização e felicidade, “[…] há poucas experiências na vida de uma mulher como o parto e o nascimento de um filho.15

(PAES, 2019, p. s/n)

Isso porque durante o período da gravidez, a grávida passa por diversas mudanças físicas e psicológicas, além de todas as mudanças que ocorrem no período gestacional.

Sobre referido estado, a psicóloga Flávia Carnielli afirmou:

O estado emocional da grávida muda a cada período, podendo ocorrer estados de ansiedade e depressão, fobias, dentre outros. Algumas mulheres sentem medo do

13 Supressão nossa. 14 Supressões nossas. 15 Supressão nossa.

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15 parto, da dor, de se separar fisicamente de seu filho, ou podem começar a questionar sobre a saúde do filho, dentre outras coisas que podem ocorrer na gravidez. (CARNIELLI, 2018, p. s/n)

Se não bastassem todos os problemas enfrentados pelas mulheres durante esse período de sua vida (gestacional), diversas delas também são sujeitas à violência obstétrica.

Para se ter uma ideia, nos termos de pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC (Serviço Social do Comércio), “[…] uma em cada quatro mulheres já sofreram algum tipo de violência durante o trabalho de parto, parto e pós-parto”.16 (DIP, 2013, p. s/n) Interessando, logo, travar estudos sobre o

tema.

Por essa razão, importa analisar a violência obstétrica tendo como prisma não somente as ofensas sofridas pela gestante, mas também seus reflexos, os quais, eventualmente, serão suportados pelo(a)(s) filho(a)(s).

Necessária se faz, portanto, de imediato, sua conceituação. Nas palavras de Fernanda Paes, a violência obstétrica poderá ser conceituada como a

[…] ação ou omissão direcionada à mulher durante o pré-natal, parto ou puerpério, que cause dor, dano ou sofrimento desnecessário à mulher, praticada sem o seu consentimento explícito, ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, e aos seus sentimentos e preferências. Vale sublinhar que expressão engloba condutas praticadas por todos os prestadores de serviço da área de saúde,

não apenas os médicos.17 (PAES, 2019, p. s/n)

Pode-se concluir, assim, que a conduta em estudo é realizada durante a gestação, no momento do parto, no pós-parto e, inclusive, caso ocorra o aborto.

Além disso, possui índoles física e/ou psicológica. Ademais, quanto à sua configuração, podem ser consideradas palavras proferidas à gestante com cunho desmotivador, e, conforme explica Marcelo Camargo, condutas como “[...] quando o ginecologista decide fazer um exame de toque sem explicar o motivo”.18

(CAMARGO, 2019, p. s/n)

Como se vê, a ocorrência de violência obstétrica é de fácil constatação.

Por essa razão, noutros textos, procuraremos, especialmente, percorrer as previsões Constitucionais e infraconstitucionais protetivas à gestante e os direitos correlatos à gestão, devido à ausência de legislação ordinária específica sobre o tema violência obstétrica. Referências 16 Supressão nossa. 17 Supressão nossa. 18 Supressão nossa.

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BRAZIL, Fernanda. No século XXI mulheres ainda travam batalhas contra preconceito e discriminação. Disponível em: <http://www.sedhast.ms.gov.br/no-seculo-xxi-mulheres-ainda-travam-batalhas-contra-preconceito-e-discriminacao/> Acesso em: 13 de out. 2019.

CAMARGO, Marcelo. MPF diz que Ministério da Saúde deve combater violência

obstétrica, e não proibir termo. Disponível em:

<https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2019/05/mpf-diz-que-ministerio-da-saude-deve-combater-violencia-obstetrica/> Acesso em: 13 de out. 2019.

CARNIELLI, Flávia. Você sabia que o estado emocional muda em cada período da gravidez? Disponível em: <https://leiturinha.com.br/blog/sentimentos-na-gravidez/> Acesso em: 18 de mai. 2019.

DIP, Andrea. Uma em cada quatro mulheres sofre violência no parto. Disponível em:

<http://www.ebc.com.br/noticias/colaborativo/2013/03/uma-em-cada-quatro-mulheres-sofre-violencia-no-parto>. Acesso em: 13 de jun. 2019.

PAES, Fabiana. A importância do direito ao acompanhante para prevenir a violência obstétrica. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-ago-12/mp-debate-importancia-acompanhante-prevenir-violencia-obstetrica> Acesso em: 13 de out. 2019.

SABADELL, Ana Lúcia. Manual de sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa do direito. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

Universalismo e relativismo cultural e breve reflexão sobre a quarentena Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com Falemos de um tema bastante recorrente no que diz respeito aos direitos humanos que o embate travado entre universalismo e relativismo cultural.

Como essa discussão nasceu? Ela nasceu com o advento da Declaração Universal de Direitos Humanos da 1948 (DUDH). Isso porque além de contemplar direitos individual, políticos, sociais, econômicos e culturais, a DUDH, em sua exposição de motivos, prevê que a dignidade é inerente a todos.19

Então, devido a essa previsão, muitos teóricos trazem a ideia de que os direitos previstos na DUDH deverão ser aplicados a todos os indivíduos, pouco importando o local em que estejam ou o país que habitam.

Por outro lado, também alguns teóricos, levantam a ideia de essa universalização é impossível, porque se formos aplicar o que está previsto na DUDH sem analisar a

19 Ver: Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:

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17

cultura de cada país, as possibilidades relativas a essa cultura, nós teremos, na verdade, direitos violados, e não contemplados.20

Obviamente, sustentações como essas sã polêmica e trarei para vocês por exemplo, algo, uma prática, que ocorre, segundo pesquisas de cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina, em diversos países africanos, mas, precisamente, na Angola, que é a mutilação genital feminina.21

Não aprofundarei aqui, muito menos explanarei meus pensamentos sobre o tema, porém, questionemos: será que essa prática viola direito humano? Será que a integridade física, a liberdade sexual, são direitos universais ou deverão ser interpretados de acordo com a cultura de cada país? Porque cada país tem as suas construções filosóficas, religiosas, sociológicas, entre outras. Então, reflita-se, será possível estabelecer um conceito mínimo de liberdade sexual, de integridade física a ser aplicado a todos os país, a todas as pessoas? Essa é a primeira premissa. A segunda premissa, até aproveitando este momento em que vivemos, ou seja, a quarentena, seria o seguinte: alguns países tomam certas medidas para inibir ou diminuir os efeitos da/do Covid-19 e outros Estado se mantêm um tanto quanto reticentes no que tange o estabelecimento de medidas mais aprofundadas.

Posto isso, seria o momento de a gente pensar tendo como norte os mais diversos direitos e, até mesmo, economicamente falando, no estabelecimento de uma Constituição universal? Em uma normatização de algo mínimo inerente a todos? Trabalharemos essas ideias em textos futuros.

Referências

Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:

<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Declaração-Universal-dos-DireitosHumanos/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.html> Acesso em: 05 de jul. 2017.

PIACENTINI, Dulce de Queiroz. Direitos humanos e interculturalismo: análise da

prática cultural da mutilação genital feminina. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp034905.pdf> Acesso em: 19 de jul. 2017.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

20 Sobre esse debate teórico, recomendo: PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

21 Nesse sentido: PIACENTINI, Dulce de Queiroz. Direitos humanos e interculturalismo: análise da prática cultural da mutilação genital feminina. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp034905.pdf> Acesso em: 19 de julho de 2017.

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18 RESUMO

Resumo: A Constituição contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a constituinte e a Constituição de 1988, de Roberto Campos, organizado por

Paulo Roberto de Almeida

Hugo Garcez Duarte

Mestre em Direito Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (Fadileste) profhugogduarte@gmail.com A obra em apreço reúne os mais importantes artigos escritos por Roberto Campos sobre o processo de elaboração constitucional de 1987/1988 e acerca da Constituição mesma dele resultante.

Quanto a esse conteúdo, o livro se divide em duas partes. Uma referente às Irracionalidades do processo de reconstitucionalização e ou relativa Às utopias bizarras da nova Constituição.

A primeira foi subdividida do seguinte modo: 1. Reservatório de utopias;

2. Nosso querido nosocômio; 3. A transição política no Brasil; 4. A busca de mensagem; 5. Ensaio sobre o surrealismo; 6. Ensaio de realismo fantástico; 7. É proibido sonhar;

8. O radicalismo infanto-juvenil; 9. Pianistas do Titanic;

10. Por uma Constituição não biodegradável; 11. O “besteirol” constituinte – I;

12. O “besteirol” constituinte – II; 13. O bebê Rosemary;

14. O culto da antirrazão; 15. As soluções suicidas;

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19

16. Mais gastança que poupança; 17. O direito de ignorar Estado; 18. O “Gosplan” caboclo;

19. Dois das que abalaram o Brasil;

20. Como extrair a vitória das mandíbulas da derrota; 21. Progressismo improdutivo;

22. A ética da preguiça;

23. O escândalo da universidade; 24. A vingança da história;

25. As consequências não pretendidas; 26. Xenofobia minerária;

27. A revolução discreta;

28. A marcha altiva da insensatez; 29. A humildade dos liberais; 30. O buraco branco;

31. A Constituição-espartilho; 32. Indisposições transitórias; 33. Os quatro desastres ecológicos; 34. A Constituição “promiscuísta”; 35. Desembarcando do mundo; 36. A sucata mental;

37. Loucuras de primavera.

A primeira compreendeu os seguintes pontos: 38. Democracia e democratice;

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20

40. Dando uma de português;

41. As falsas soluções e as seis liberdades; 42. O avanço do retrocesso;

43. Razões da urgente reforma constitucional; 44. O gigante chorão;

45. A Constituição dos miseráveis; 46. Besteira preventiva;

47. Saudades da chantagem; 48. O fácil ofício de profeta; 49. A modernidade abortada; 50. Brincando de Deus;

51. Como não fazer constituições; 52. As perguntas erradas;

53. Da dificuldade de ligar causa e efeito; 54. O grande embuste;

55. O nacionalismo carcerário; 56. Da necessidade de autocrítica; 57. Piada de alemão e coisa séria; 58. O fim da paralisia política; 59. O anacronismo planejado; 60. A Constituição-saúva; 61. Assim falava Macunaíma; 62. Três vícios de comportamento; 63. Quem tem medo de Virgínia Woof; 64. O estado do abuso;

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21

65. Reforma política.

Referências

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