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A invenção da cidade, Guilherme Gaensly e Militão Augusto. 1

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Academic year: 2021

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GT 09 – Fotografia – Coordenador Prof. Ms. Manoel Nascimento

A invenção da cidade, Guilherme Gaensly e Militão Augusto.1

Leonardo Cândido Simões2 Vinícius Bopprê Oliveira3

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP.

Resumo

Com o texto “A invenção da cidade a reconstrução da memória de São Paulo pela fotografia”, Marcelo Feijó fala sobre dois grandes fotógrafos que relataram São Paulo nas suas fotografias. Militão Augusto, nascido em 1840 no Rio de Janeiro se consagrou fotógrafo em São Paulo no séc. XIX, tirando fotos de paisagens urbanas. Já Guilherme Gaensly, que documentou a cidade nas primeiras décadas do século XX, nasceu em 1843 na suíça, e veio para o Brasil. A obra desses autores sobreviveu ao tempo pelo olhar atento aos nuances das paisagens, e a capacidade de registrá-los exaltando a fotografia como arte maior.

Palavras-chave

Invenção da cidade; Marcelo Feijó; Militão Augusto; Guilherme Gaensly.

Corpo do trabalho

A fotografia é um recorte no tempo e no espaço para criar um campo significante. Através dela, é possível montar um painel comportamental de uma sociedade, de uma cidade, de uma perspectiva, e até mesmo de um ponto de vista. Ela serve, acima de tudo, para margear nossa visão sobre o mundo e amparar nossos argumentos, às vezes insustentáveis apenas pela narrativa.

1 Trabalho apresentado no I Fórum de Pesquisa CCL – Mackenzie São Paulo - 25 de outubro de 2011. 2 Estudante de Graduação 3º semestre do Curso Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie email:

leonarddosimoes@gmail.com

3 Estudante de Graduação 3º semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie email

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GT 09 – Fotografia – Coordenador Prof. Ms. Manoel Nascimento

A fotografia tem a capacidade de potencializar as palavras. Em comunhão com a força do texto, a dupla cria uma atmosfera única, ampla para diversas interpretações e o do debate. No jornalismo, principalmente, a foto é um ponto cardeal do texto; é uma forma de situar o leitor naquela manifestação dos fatos cotidianos.

Por isso, fotografar é iluminar o passado. Puxando os fatos de outrora para o presente, o ato de eternizar um determinado momento baseia-se na investigação. Como disse Marcelo Feijó “a investigação orienta-se na direção do olhar fotográfico ao longo da trajetória humana, na tentativa de estabelecer a fotografia como elemento constitutivo da realidade e não apenas como fonte de investigação”.

Visto isso, o poder de iludir da fotografia torna-se uma fascinante e evidente arma. Uma tênue linha separa as duas possibilidades: a de representar a realidade, ou a de forjar uma. Diante disso, podemos afirmar que, tendo a habilidade de imortalizar nosso comportamento, a fotografia “mostra o mundo em determinado momento, momento este que, no próprio ato da geração de imagem, está-se dispersando.”

Graças, também, a essa possibilidade de criar uma nova realidade, a fotografia pode tornar-se ficção; alteramos a visão para condensarmos o mundo que queremos representar. Ainda de acordo com Marcelo Feijó, “o fazer fotográfico é um instrumento de busca da verdade, que quer conferir às coisas, aos seres humanos e ao mundo sentidos que não estão propriamente na imagem, mas no mundo e na consciência de quem o percebe.”

Trazendo essas possibilidades para a geografia urbana, a cidade São Paulo ganha status de personagem principal, de fonte perene de inspiração, de andaime para construir um universo particular congelado no tempo pelos ‘flashes’ do conhecimento.

Guilherme Gaensly

Guilherme Gaensly nasceu na Suíça em 1843 e mudou-se para o Brasil com apenas cinco anos. Foi em Salvador que Gaensly se profissionalizou, no final de década de 1860, tirando retratos em seu estúdio e tomadas da vista urbana.

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GT 09 – Fotografia – Coordenador Prof. Ms. Manoel Nascimento

Atraído pelo crescimento urbano e econômico da cidade de São Paulo, o fotógrafo mudou-se para a capital em 1890. Sua visão idealizada e progressista da cidade custou-lhe uma colaboração para o São Paulo Tramway Light and Power Company, atual Eletropaulo, na época multinacional de capital britânico que mudou a paisagem e o imaginário dos habitantes da cidade. Em maio de 1900, surgiram os primeiros bondes elétricos, fato que animou a população.

Guilherme mudou-se para São Paulo, ao perceber que a cidade se tornaria um enorme pólo econômico. Já na cidade, ele desenvolveu sua excelente técnica fotográfica e, com cerca de 50 anos, abriu uma agência na capital paulistana, onde futuramente iria fazer seus serviços, encomendados pela Light, Secretaria da Agricultura, da Escola Politécnica, da Comissão Geográfica e Geológica, entre outras. Além disso, o fotógrafo fazia estampas e cartões postais da cidade. Seu grandioso trabalho e competência pode ser visto em acervos e coleções das instituições privadas ou públicas.

Seus trabalhos tinham excepcionais resultados. Eram utilizados negativos em grande formato, além de conter sempre suas assinaturas.

Suas imagens da cidade de São Paulo mostravam o desenho da nova arquitetura utilizada no crescimento da cidade, na construção dos novos prédios comerciais, ruas cheias de gente, máquinas e transportes. Suas fotos tinham uma linguagem visual muito rigorosa.

Os ideais capitalistas e a nova mentalidade que iam se formando na metrópole que surgia de uma forma acelerada, foram muito bem retratadas em suas fotografias. Muitas vezes as palavras “europeia” e “progressista” foram utilizadas para descrever a cidade em crescimento.

Suas fotografias eram uma representação da realidade. Se por um lado a cidade se desenvolvia, por outro a injustiça e a desigualdade social também continuavam a pairar sobre São Paulo. Essas fotos atraíram investidores europeus, e eram usadas também para atrair mão-de-obra estrangeira para continuar as obras em andamento. Elas mostravam as mudanças, tais quais a construção de postes, trilhos, usinas, pontes e visava demonstrar a mudança radical do final do século XIX e começo do século XX. Grande parte do material do autor está arquivada na Fundação Patrimônio de Energia de São Paulo, instituição ligada à Eletropaulo, onde os historiadores podem pesquisar o passado da cidade.

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Curiosamente, nunca foram encontradas nenhuma foto de rosto do fotógrafo, que custou-lhe o apelido de “o fotógrafo sem face”, que aposentou sua câmera apenas em 1925, com 82 anos de idade.

Entre algumas de suas obras documentou a Bahia e São Paulo. Em Alagoas criou o “Álbum da Estrada de Ferro Central de Alagoas, Maceió e Vila Imperatriz”.

Teve fotos publicadas no livro São Paulo 1895 obra de Gustavo Koengi Wald, alem de livros de Boris Kossoy que retratam São Paulo com suas fotografias (São Paulo, 1900, imagens de Guilherme Gaensly e Album de Photografias da cidade de São Paulo.)

Um fato interessante na obra de Gaensly foi o registro feito por ele sobre o bairro nobre de Higienópolis. A “cidade da higiene” abrigava os palacetes mais elegantes da região. Com desenhos modernos e diversificados, as mansões retratavam a maneira de viver à moda francesa. Sobre essa questão, o italiano Ernesto Bertarelli observa em 1913: "A Avenida Higienópolis, com alguns palacetes belíssimos e muitas casas bonitas, ricos jardins e arranjos de terreno que eliminam toda a monotonia da cidade, pode competir vitoriosamente com as mais belas ruas modernas das cidades européias, com a vantagem que, nos jardins, há uma flora quase tropical, a alegria das corolas multicolores, plantas de folhagens régias e variedade de vivos vegetais de toda espécie. Outras novas e amplas ruas se entrelaçam, contornadas sempre de casinhas de um a dois andares, edificações ocultas entre os ramos e as flores, alegres habitações de luzes e de cores que irradiam uma aura de doçura e de simplicidade". (BERTARELLI, 1913).

Avenida Higienópolis, 1915. Crédito: Guilherme Gaensly

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Büllow. De fato, a cooperação de Guilherme para a memória brasileira é imensa, o que o eleva a categoria de historiador.

Avenida Paulista, em 1902, a partir da torre da residência Von Büllow. Crédito: Guilherme Gaensly

Militão Augusto de Azevedo

Nasceu em 1840, no Rio de Janeiro e na capital imperial iniciou sua atividade fotográfica. Porem no ano de 1862 Militão se transferiu para São Paulo, a sua ida para a capital paulista foi motivada pelas suas atividades na Companhia Dramática Nacional. Segundo a historiadora Solange Ferraz de Lima, Militão quando chegou a São Paulo com, 22 anos ele realizou um conjunto de fotografias “com um olhar de aprendiz fotográfico, e não de um profissional contratado por uma instituição ou empresa.”

Talvez pelo fato de essas fotografias feitas despretensiosamente, elas tornaram–se num dos mais importantes documentos da cidade de São Paulo no século XIX, e que hoje são usadas para pesquisas, junto com a segunda parte da produção de vistas urbanas, realizadas por Militão no ano de 1887.

As fotos de Militão focavam a parte urbana da cidade de São Paulo, e essas imagens servem para mostrar as transformações da cidade, de como ela era no passado e como é hoje. E elas também são usadas no âmbito político, para que os governantes

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mostrassem o que de bom eles fizeram na cidade para melhorá-la. Militão Augusto de Azevedo reúne cerca de 13.000 fotografias, com retratos de paisagens urbanas que estão reunidas desde 1990, no acervo do Museu Paulista.

Apesar de ter sido ator teatral, Militão não conseguiu êxito na carreira e consegui, afim de aumentar sua renda, emprego em um dos raríssimos estúdios de fotografias da cidade.

A primeira leva de fotografias dele sobre a cidade de São Paulo, em 1862, revelava uma cidade presa no tempo. Nesse período, ele construiu um painel da cidade bastante curioso. Com pouco mais de 25.000 habitantes, o documento fotográfico pode abranger praticamente casa por casa. Por estar em uma situação total de desmazelo, o poeta Castro Alves diz: "casas que pareciam feitas antes da criação do mundo, de tão pretas; ruas que pareciam feitas depois do fim do mundo, de tão vazias". Mas Militão tornou a fotografar a cidade 25 anos depois, graças a sua extraordinária evolução. O trabalho, transformou-o num pioneiro, pois, fotografando os mesmos lugares, dos meus ângulos, ele criou um dos primeiros álbuns de “ontem e hoje”.

Mesmo assim, o álbum foi um fracasso comercial, transportando para um carreira bem-sucedida de retratista. Ele tirou cerca de 12.000 retratos entre 1863 e 1886, o que equivalia a metade da população da cidade.

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Rua Direita

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Largo da Sé

Rua da Constituição (atual Florêncio de Abreu)

Em meio aos anos de 1862 e 1875, Militão trabalhou na filial paulista do Ateliê Carneiro & Gaspar. Ele tinha uma liberdade criativa extraordinária entre os fotógrafos da cidade, e elegeu a paisagem urbana como objeto de seus registros. Em suas fotos, Militão usava panos médios e substituiu o plano fechado por imagens de espaços abertos e vazios.

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GT 09 – Fotografia – Coordenador Prof. Ms. Manoel Nascimento

Fotógrafos lado a lado As obras de Militão Augusto e Guilherme Gaensly

mostram uma mudança na cidade de São Paulo, desde o a colônia até os dias atuais. Guilherme Gaensly mostra a evolução da cidade em suas obras. Juntos, através de uma retrospectiva que só a fotografia é capaz de realizar, exibem a São Paulo de sempre, em suas tradições e peculiaridades.

A importância desses artistas, e o cuidado com o qual retrataram o espaço urbano em suas fotos, mostra-nos a qualificação da arte de fotografar como parte integral da história. Bem mais do que imagens antigas, os trabalhos deles alargam o conhecimento sobre a nossa história, aperfeiçoando as ferramentas para a construção e refino da memória da nossa gente. Por isso, lado a lado as obras deles se completam, como num bom álbum.

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Referências bibliográficas

FEIJÓ M. A invenção da cidade: a reconstrução da memória de São Paulo através da fotografia. Lisboa; 2004.

SCHWARCZ, Lilia M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 287 p., il. P&B.

MARANCA, SILVIA. O museu paulista da Universidade de São Paulo. São Paulo: Banco Safra, 1984. 319 p., il. color.

Enciclopédia Itaú Cultural. Azevedo, Militão Augusto de (1837 - 1905) Em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_ob ras&cd_verbete=2804&cd_idioma=28555>acessado dia 22 de maio as 15:35.

Coleção Folha São Paulo Antiga: <http://spantiga.folha.com.br/foto_2.html> acessada dia 22 de maio as 16:00

http://www.portogente.com.br/museudoporto/exposicao/2005/militao/index.php - acessado no dia 25 de setembro, às 18:19h.

Bairros Nobres. Disponível em

<http://www.aprenda450anos.com.br/450anos/vila_metropole/2-3_bairros_nobres.asp> acessado no dia 25 de setembro, às 18:59h

A São Paulo de Militão Augusto de Azevedo. Disponível em <

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=396496 > acessado no dia 25 de setembro, às 19:04

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