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ENSINO MÉDIO INTEGRADO E JUVENTUDE

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Academic year: 2021

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ENSINO MÉDIO INTEGRADO E JUVENTUDE

Cristiane Elvira de Assis Oliveira

Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais cristianeelvira@yahoo.com.br

Este texto tem o objetivo de apresentar meu projeto de doutoramento que se desdobrou da minha pesquisa realizada no Mestrado em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora e também da minha atuação como pedagogapesquisadora1 na educação básica de um

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. O Instituto Federal tem como uma de suas finalidades e características promover a integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior (BRASIL, 2014).

Nessa instituição tenho trabalhado com o Ensino Médio Integrado. Este oportuniza uma formação profissional que, de forma integrada, objetiva garantir uma sólida formação geral ao estudante e sua profissionalização. Machado (2006) visualiza a integração como uma oportunidade de se renovar e inovar o processo de ensino-aprendizagem, com propostas pedagógicas comprometidas com articulação das dimensões do fazer, pensar e sentir, desenvolvendo o olhar crítico e a arte de problematizar. No Ensino Médio Integrado é fundamental relacionar a vida, o conhecimento e o mundo do trabalho, praticando a democracia e a reafirmação da identidade institucional. Ele permite a conclusão da educação básica e o ingresso no mercado de trabalho, tendo como formação os conhecimentos que favoreçam a inserção crítica na vida social, cultural, artística, política.

Minhas experiências profissionais vêm fortalecendo meu interesse em continuar pesquisando sobre o tempo na relação com o cotidiano da escola, articulando-o agora à juventude. Concebo o tempo como movimento da vida cotidiana e a juventude como a forma de ser, estar e conviver no/com o mundo, experienciando o tempo presente com toda a sua intensidade.

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Conhecer o olhar dos jovens a respeito de suas experiências com o tempo escolar e ouvir o que eles têm a narrar a respeito disso constitui-se um campo rico de investigação nos estudos da juventude. Voltar os olhares para as temporalidades de cada um é respeitar e compreender seu tempo de aprender e suas juventudes. Os estudos acerca da juventude, considerando o que os jovens dizem, são recentes no campo da educação. Focar os modos como eles experienciam o tempo é uma importante contribuição para a área da educação, pois investigar o ponto de vista e as lógicas juvenis não é muito comum na prática de pesquisas com a juventude, embora venha sendo um campo fértil para se realizar estudos e pesquisas.

Continuo trabalhando com a abordagem da metodologia pesquisa no/do/com o cotidiano, que oportuniza experienciar o cotidiano escolar com todas as suas nuances e seus desafios, construindo a pesquisa com o outro.

Atuando no Ensino Médio Integrado, o estudo a respeito da juventude, faz-se importante, sobretudo, para conhecer as noções concebidas pelos(as) pesquisadores(as) sobre a temática.

Oliveira (2012) apresenta que até o século XII, falava-se em adultos jovens e não em adolescentes. Na Idade Média, não havia separação entre vida e trabalho, entre socialização familiar e profissional. Com a Modernidade, houve uma necessidade de conhecimentos na área técnico-científica para a produção do trabalho e aumentaram as exigências de preparação das pessoas para o campo profissional. Nesse contexto, a escola passou a representar o tempo de espera para o acesso ao trabalho formal, o que resultou na progressiva separação entre as formas de vida das crianças e dos adultos.

Há pesquisadores(as) que compreendem a juventude com uma fase da vida, marcada por mudanças biológicas e comportamentais, que precede a vida adulta, fundamentada numa ideia cronológica de ser jovem. Uma transição da infância para a vida adulta. Na lógica da Modernidade, a escola colocou uma forma específica de juventude como sendo uma etapa de ênfase no desenvolvimento da vida. Nessa perspectiva, foi construída uma imagem de um jovem aluno comportado, passivo, estudioso.

Paira no pensamento de alguns que o jovem é “aborrecente”, é aquele ser grande demais para ser criança e pequeno demais para ser adulto, é consumista, imediatista, inseguro, irresponsável, em razão de imagens de instabilidade emocional, irresponsabilidade, intransigência observadas em certos contextos. Tais imagens estão relacionadas a uma construção histórica e social de ser jovem.

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Outra noção é a de que “ser jovem é cada vez mais concretamente (do ponto de vista social) um estado de espírito, usufruído por alguns, capitalizado por outros, sofrido por outros tantos” (OLIVEIRA, 2014, p. 17). Alguém que tem uma vida pela frente, projetos e sonhos.

Retomo aqui a noção de juventude que embasa minha prática pedagógica, a qual se refere aos modos de ser, estar e manifestar-se do jovem com si mesmo e com o outro no mundo. Suas diferentes experiências temporais configuram modos de ser jovem, com múltiplas possibilidades de atuação na vida cotidiana.

Minha compreensão complementa-se nas palavras de Pais (2008): “quando falamos de ‘juventude’, estamos profunda e comprometedoramente emaranhados numa complexa teia de representações sociais que se vão construindo e modificando no decurso do tempo” (p. 8).

Juventude e tempo entrelaçam-se no cotidiano escolar, de forma que a arquitetura temporal da escola é posta em problematização. “A produção do tempo escolar e a produção dos tempos da vida são inseparáveis. Sempre que os significados sociais e culturais da infância, adolescência são recolocados, os tempos da escola são chamados a repensar-se” (ARROYO, 2011, p. 202).

Pensar o cotidiano dos jovens do Ensino Médio Integrado é pensar como eles experienciam o tempo escolar nas suas vidas. Os jovens possuem lógicas para expressarem o que compreendem. Apresentam estratégias para se comunicarem. Eles criam sentidos diferentes do presente. Narram suas experiências de forma única. Expressam seus sentimentos e lógicas que por vezes não são entendidos. Os jovens colocam grandes questões a nós sobre o sentido da vida que nos deixam sem palavras. Eles conseguem lidar com as lógicas que temos dificuldades em lidar.

Os significados de ser adolescente e jovem estão sendo recolados pelo seu protagonismo. Seus comportamentos vão construindo imagens de si. “Sobretudo o estudo do tempo resulta necessário diante das novas formas de viver os tempos da vida com que lidamos: a infância, adolescência e juventude” (ARROYO, 2011, p. 205).

Refletir acerca da juventude me faz narrar a vida cotidiana e o que acontece no cotidiano, na busca de captar o significado, as necessidades, os anseios da juventude. Oliveira (2014) contribui com essas reflexões dizendo: “O que é e significa, social e politicamente, ser jovem?” (p. 16).

Ao chegar ao Instituto Federal, às 7h da manhã, vejo os jovens dialogando uns com os outros. Risos. Grupos. O sinal toca. Quase todos e todas vão em direção as suas salas. Existe

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um conflito com os horários colocados pela escola. Alguns desejam ficar no pátio dando continuidade à conversa iniciada naquela manhã. “Os jovens recriam espaços, alternam tempos e subvertem algumas regras da escola” (PEREIRA; GARBIN; BASSO, 2013, p. 239). Contudo, estão ali também para aprender, estudar e ensinar, tendo mais um dia de estudo. Mais um dia de construção do conhecimento. Cada um traz consigo o seu objetivo, sua meta, suas expectativas.

Diante disso, pergunto: que experiências marcam o dia? Que experiências eles guardam do tempo de escola? O que marca este momento na vida de cada um? “Se estamos de acordo que os espaços juvenis são vivenciados e experienciados, precisamos deixar marcado que eles estão implicados também com temporalidades que variam de acordo com interesses, com necessidades, com prazeres que podem ser sentidos e experimentados no transcorrer das práticas dos sujeitos” (PEREIRA; GARBIN; BASSO, 2013, p. 248).

No cotidiano escolar é visível a intensidade das tecnologias digitais na vida dos jovens. Estes têm uma intensa e significativa participação nas redes sociais de relacionamento. Uma situação relacionada a isso se refere a uma intervenção pedagógica feita em uma turma, por meio da qual assistimos a um curta e depois refletimos a respeito de algumas questões que permeiam as relações interpessoais entre os jovens. Foi uma discussão muito calorosa. Atingimos o nosso objetivo. No dia seguinte, uma aluna voltou a conversar comigo e disse que a conversa havia continuado no facebook. Avaliei que a continuidade da conversa ocorreu num tempoespaço conhecido por eles, demonstrando que tal rede possibilita tecer também um diálogo, virtual, que se estende das discussões em sala de aula.

São nos momentos de lazer e de diversão que muitos jovens ganham visibilidade, expressão e reconhecimento. Os jovens experienciam amizades e diversas formas de sociabilidades, criando vínculos importantes no contexto em que se encontram.

Diante de algumas situações, problematizo: quem são estes jovens? O que desejam? Como oportunizá-los aprendizagens no tempo escolar? As experiências juvenis possibilitam aprendizagens, as quais exercem uma atuação do jovem sobre si e sobre o seu cotidiano.

Pensar a juventude implica compreender uma outra forma de se considerar o jovem, lidar com ele, assim como compartilhar o conhecimento, trazendo reverberações para o seu processo educacional. A forma de compreendê-la implica outras práticas cotidianas, de forma que as reflexões atuais permitem problematizar como o jovem experiencia o tempo escolar na sua vida.

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Com as reflexões tecidas neste texto, de um projeto que está em construção, almejo contribuir e fortalecer um campo de estudos com os jovens, buscando tecer outras possibilidades de pensar/fazer uma educação que considere a experiência de cada um no/com o tempo escolar.

Referências

ARROYO, Miguel G. Tempo, tempo, tempo. In: ______. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 187-205.

BRASIL. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em: 26 set. 2014.

MACHADO, Lucília. Ensino Médio e Técnico com Currículos Integrados: propostas de ação didática para uma relação não fantasiosa. Ensino Médio integrado à Educação Profissional. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Pesquisa acadêmica, vida cotidiana e juventude: desafios sociológicos. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 30., 2007, Caxambu. Anais eletrônicos... Caxambu: ANPEd, 2007. Disponível em:

<http://30reuniao.anped.org.br/sessoes_especiais/sessao%20especial%20-%20ines%20barbosa%20-%20int.pdf>. Acesso em: 23 set. 2014.

OLIVEIRA, Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira. O adolescente em desenvolvimento e a contemporaneidade. Curso de prevenção do uso de drogas para educadores de escolas

públicas. 5. ed. Brasília: Ministério da Justiça, Ministério da Educação, 2012.

PAIS, José Machado. Máscaras, jovens e “escolas do diabo”. Revista Brasileira de

Educação, Rio de Janeiro, v. 13, n. 37, jan./abr. 2008.

PEREIRA, Angélica Silvana; GARBIN, Elisabete Maria; BASSO, Rita. A escola, a rede e a rua – espaços e tempos juvenis nas tramas do contemporâneo. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 21, n. 2, p. 227-253, jul./dez. 2013.

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