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EDUCAÇÃO PERMANENTE QUE ABORDE RADIOPROTEÇÃO EM SERVIÇO DE HEMODINÂMICA

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Academic year: 2021

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EDUCAÇÃO PERMANENTE QUE ABORDE

RADIOPROTEÇÃO EM SERVIÇO DE

HEMODINÂMICA

Rita de Cássia Flôr1 e Djeniffer Valdirene dos Anjos2

1 Instituto Federal de Santa Catarina - IF-SC

Av. Mauro Ramos, 950 - Centro - Florianópolis - Santa Catarina - Brasil - CEP 88.020-300 flor@ifsc.edu.br

http://www.ifsc.edu.br

2 Instituto Federal de Santa Catarina - IF-SC

Av. Mauro Ramos, 950 - Centro - Florianópolis - Santa Catarina - Brasil - CEP 88.020-300 djeny_anjos@hotmail.com

http://www.ifsc.edu.br

Resumo: A Educação Permanente (EP) foi disseminada pela América Latina como estratégia para alcançar o desenvolvimento da relação entre o trabalho e a educação. Desde então, a busca por um processo educativo contínuo na área da saúde tem sido constante. Contudo, nos serviços que empregam radiação ionizante ainda existe a necessidade de capacitar trabalhadores para atuar nessas áreas. Assim, este estudo qualitativo realizado em um serviço de hemodinâmica de São José, Santa Catarina, Brasil, objetivou analisar como são desenvolvidos os programas de EP e a real necessidade dos trabalhadores. Os resultados mostraram que os trabalhadores anseiam por sua qualificação e formação, pois estes geralmente são admitidos sem nenhuma qualificação para atuar nesse serviço. Por fim, reafirmamos nossa convicção de que os trabalhadores que exercem a práxis em serviço de hemodinâmica devem fazê-lo de forma consciente e a EP é um caminho para que possam adotar boas práticas em proteção radiológica.

1 Introdução

A proposta de Educação Permanente (EP) foi disseminada pela América Latina como estratégia para alcançar o desenvolvimento da relação entre o trabalho e a educação. Este conceito admite que o conhecimento se origine na identificação das necessidades e na busca de solução para os problemas encontrados [1]. Na área da saúde, essa busca tem sido constante. Contudo, no conjunto das produções que compuseram o corpus teórico desta pesquisa, ficou evidente a preocupação dos autores Neves e Gomide; Bushong; Calegaro e Teixeira; Scremin, Schelin e Tilly com a necessidade de capacitar trabalhadores para atuar nos serviços que empregam radiação ionizante, como é o caso do serviço de hemodinâmica. Tais preocupações referem-se, sobretudo à falta de programas de Educação Permanente ou Educação

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continuada que abordem boas práticas relativas à proteção radiológica ocupacional [2,5].

É oportuno esclarecer, antes de prosseguir os conceitos da Educação Permanente e Educação Continuada, devido ao uso dessas terminologias nos processos educativos em serviço.

A Educação Continuada refere-se ao processo de aquisição sequencial e acumulativa de informações técnico-científicas pelo trabalhador, mediante escolarização formal ou de vivências e experiências laborais no âmbito institucional ou fora dele [6]. Logo, Educação Continuada representa uma “continuidade do modelo acadêmico, que é centrado na atualização de conhecimentos, geralmente com enfoque disciplinar, em ambiente didático e baseado em técnicas de transmissão, com fins de atualização”. Por essa razão, distancia-se da realidade vivenciada na prática.

Enquanto o termo Educação Permanente refere-se às ações educativas baseadas em problemas detectados na prática cotidiana dos trabalhadores, tendo como objetivo a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho [6].

Nessa direção, a Educação Permanente é aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se agregam ao cotidiano das organizações e ao trabalho. Essa tem como pressuposto pedagógico que as práticas são definidas por múltiplos fatores e que a aprendizagem dos adultos deve ser uma aprendizagem significativa, possibilitando a transformação das práticas profissionais. É também entendida como aprendizagem no trabalho, por acontecer no cotidiano das pessoas e das organizações [7,8].

No entanto, embora a EP esteja bem fundamentada teoricamente, ainda não se conseguiu trazer para a prática dos serviços de hemodinâmica seus pressupostos pedagógicos e metodológicos, pois seus saberes e práticas são especializados.

Os estudos enfatizam que a falta de conhecimento das normas de proteção radiológica constitui causa importante da alta frequência de adoção de condutas inadequadas em relação às boas práticas de segurança radiológica, resultando no descumprimento das medidas de proteção radiológica previstas na legislação [9].

Nessa direção, outros estudos recomendam implantar programas de Educação Permanente que assegurem aos trabalhadores de forma contínua uma aproximação com esses temas, notadamente as boas práticas de segurança radiológica ocupacional [10, 11].

Cumpre ainda enfatizar que, essa necessidade foi discutida na 1ª Conferência Internacional dedicada exclusivamente à proteção radiológica ocupacional tendo como tema central a questão da proteção do trabalhador contra a exposição à radiação ionizante, ocorrido na sede da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na cidade de Genebra, Suíça. Debateu-se a necessidade de se manter Educação Permanente para assegurar boas práticas de segurança radiológica. Além disso, recomendou-se que as instituições que empregam radiação ionizante facilitem o acesso dos trabalhadores a cursos de capacitação nessa área do conhecimento, assim como o preparo de materiais educativos elaborados por profissionais qualificados, mencionando a figura do docente, por ser um profissional mais bem preparado para ministrar esse tipo de capacitação [9].

Portanto, considerando esses aspectos este estudo teve por objetivo analisar como são desenvolvidos os programas de Educação Permanente em serviço de hemodinâmica e a real necessidade dos trabalhadores.

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2 Material e Método

Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em um serviço de hemodinâmica de São José, Santa Catarina, Brasil, com 21 trabalhadores que tinham participação direta ou indireta no processo de trabalho em procedimentos intervencionistas

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A escolha por essa instituição deu-se, especialmente por ser uma instituição pública estadual e por apresentar demanda significativa de exames.

Para a coleta de dados utilizou-se: questionários com questões fechadas, análise documental e observação direta, no período de julho de 2010 a março de 2011, totalizando 35 encontros.

A análise dos dados foi representada em gráficos e tabelas e em análise descritiva, constituindo deste modo, uma categoria central, que foi a necessidade de formação de programas de Educação Permanente que priorize conteúdos relativos à proteção radiológica, sendo fundamentada com uma revisão bibliográfica que também fez parte do método.

Essa revisão foi realizada em bases de dados indexadas, utilizando os descritores: radioproteção, doses de exposição em hemodinâmica, riscos radiológicos, Educação Permanente e serviço de hemodinâmica.

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da própria instituição pesquisada, sendo aprovado sem restrições. Deste modo, em cumprimento aos critérios éticos foram apresentados aos participantes da pesquisa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantido o anonimato.

3 Resultados e discussões

A amostra do estudo foi composta por 21 participantes, como mostra a Tabela 1, dos quais, 23,8% eram médicos; 9,5% enfermeiros; 4,7% físico médico; 28,6% técnicos de enfermagem; 19,1% auxiliar de enfermagem e 14,3% técnicos administrativos. Dentre os participantes, os profissionais de saúde somam 81%, e esses trabalham auxiliando no processo de trabalho envolvendo procedimentos intervencionistas. Contudo, constatou-se que todos os participantes estavam listados no relatório mensal de dosimetria individual, por essa razão também foram incluídos na amostra.

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Tabela 1: Distribuição dos participantes da pesquisa, segundo número e percentual por categoria profissional, São José /SC Brasil, 2010

Participantes da pesquisa % Médicos 5 23,8 Enfermeiros 2 9,5 Físico médico 1 4,7 Técnico de enfermagem 6 28,6 Auxiliar de enfermagem 4 19, 1 Técnico administrativo 3 14, 3 Total 21 100,0

Em relação ao desenvolvimento de programas de Educação Permanente que aborde tema relacionado à proteção radiológica, objeto de investigação deste estudo, a Tabela 2, mostra que 52,38% dos trabalhadores não receberam treinamento; 19,05% receberam treinamento apenas na admissão, e apenas 9,52% dos trabalhadores receberam esse treinamento após a admissão.

Tabela 2: Distribuição das respostas, segundo a periodicidade do treinamento com temas relacionados à proteção radiológica, São José /SC Brasil, 2010

Periodicidade do treinamento Número de respostas %

Não ocorreu 11 52,38

Apenas na admissão 4 19,05

Após a admissão 2 9,52

Antes de atuar na área 4 19,05

Total 21 100,0

Algumas inquietações também foram expressas por meio da fala dos trabalhadores que anseiam por sua qualificação e formação. Segundo os participantes, a “gente vai aprendendo”. Essa fala foi recorrente no discurso dos trabalhadores e também foi possível identificar tal situação ao observar o processo de trabalho envolvendo os procedimentos intervencionistas. Isto evidencia a necessidade não apenas de treiná-los para exercer essa práxis, mas também de estruturar capacitação formal e continuada, tendo por base o processo de trabalho e sua organização.

Outro dado observado que evidencia essa necessidade foi a não utilizam de todos os equipamentos de proteção radiológica (EPR) pelos trabalhadores. Esses na maioria das vezes são denominados na literatura como: “vestimenta” de proteção radiológica, vestimenta plumbífera, vestimenta de chumbo e também equipamento individual de proteção radiológica (EIPR). O termo vestimenta refere-se a qualquer Equipamento de Proteção Individual (EPI) que proporcione proteção ao tronco, como o avental de chumbo. Assim os denominaremos quando se tratar dessa proteção.

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Essa constatação pode ser evidenciada na Figura 1, que apresenta uma média da utilização desses EPRs em 32 procedimentos observados.

Fig. 1. Média em (%) da utilização de cada tipo de EPR pelos trabalhadores nos

procedimentos observados

Dos EPRs habitualmente utilizados, o avental de chumbo foi utilizado por todos os trabalhadores em 100% dos procedimentos observados, já o protetor de tireoide foi utilizado 44,63% e os óculos de chumbo em apenas 3,49%. As luvas, também de chumbo não foram utilizadas por nenhum trabalhador, mesmo sendo observada a necessidade do uso dessas.

Em relação ao uso desses EPRs, os autores Silva et al; Gomes e Silva recomendam o uso pelos trabalhadores que atuam auxiliando ou executando procedimentos intervencionistas, como os cateterismos cardíacos e as angioplastias. Também advertem que “mesmo com as luvas protetoras, o trabalhador deve evitar a exposição de sua mão no campo de irradiação ou sob o intensificador de imagem, pois esse procedimento raramente se constitui em uma necessidade” nessa práxis [11, 12]. Em relação ao uso dos óculos, Gomes e Silva chamam a atenção para a necessidade do uso desses para proteção do cristalino [12] .

Por fim, como estratégias para implantação da Educação Permanente, propomos que essa capacitação ocorra inicialmente na admissão dos trabalhadores e periodicamente no decorrer de suas atividades laborais com as seguintes etapas a serem seguidas: a) identificação das necessidades referidas pelos trabalhadores, e após diagnosticá-las validá-las com os trabalhadores; b) planejar os conteúdos a serem desenvolvidos com base nas necessidades evidenciadas, e executar o programa periodicamente; c) por fim, o acompanhamento e a avaliação sistemática dessas ações.

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4 Conclusão

Diante dessas evidencias de que os trabalhadores expõem-se a radiação ionizante, de maneira especial por desconhecimento, não só do uso das EPRs, mas também das medidas básicas de como se proteger das radiações, a Educação Permanente é um caminho para que possamos mudar essa realidade. Porquanto, escutar os trabalhadores acerca das suas necessidades e dos problemas vivenciados no cotidiano do seu trabalho foi fundamental, pois a Educação Permanente é aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano desses trabalhadores, a partir de problemas enfrentados na prática [8].

Deste modo, para que haja esse processo dialético entre os saberes é preciso que a EP esteja voltada para as necessidades dos trabalhadores. Essas reflexões também se coadunam com os pressupostos metodológicos da pesquisa ação que visa intervir nas situações concretas vivenciadas pelos trabalhadores, ou seja, parte da realidade vivenciada por eles.

Assim, para mudarmos essa realidade precisamos intervir já na formação desses profissionais nos diferentes níveis, haja vista os estágios curriculares obrigatórios dos profissionais de saúde ocorrer também em áreas em que à radiação ionizante está presente, como: UTI neonatal e geral, unidades de internação e centro cirúrgico, entre outras.

Em fim, os estudos analisados e os achados aqui encontrados reafirmam nossa convicção de que os trabalhadores que exercem a práxis em hemodinâmica devem fazê-lo de forma consciente e a Educação Permanente é um caminho para que possam prevenir-se dos danos, assim como de adotarem as boas práticas em proteção radiologia.

Referências

1. Lopes, S.R.S., et al.: Potencialidades da educação permanente. Com Ciências Saúde (2007) 147-155.

2. Neves, E.B., Gomide M.: O risco ocupacional no setor de raios-X diagnóstico de um hospital universitário. Cadernos Saúde Coletiva (2006) 557 – 558.

3. Calegaro, J.U.M. Teixeira, S. M. P.: Occupational exposure of nursing staff working with radioiodine therapy during 11 years. Radiologia Brasileira (2007) 263-266.

4. Scremin, S.C.G., Schelin, H.R., Tilly, Jr.J.G.: Evaluation of occupational exposure in hemodynamic procedures. Radiologia Brasileira (2006) 123-126.

5. Bushong, S.C. (ed. 7ª): Radiologic science for technologists: Physics, Biology, and Protection. Elsevier Mosby (2004).

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6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Secretaria de Gestão do trabalho e da Educação na Saúde. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) 7. Haddad, J., Roschke, M.A.C., Davini, M.C.: Educación permanente de personal de salud. Organización Panamericana da la Salud. Serie Desarrollo de Recursos Humanos en Salud No. 100 (1994) 1-46.

8. Ceccim, R.B.: Educação Permanente em saúde: descentralização e disseminação de capacidade pedagógica na saúde. Ciência e saúde coletiva (2005) 975-986.

9. Organismo Internacional De Energía Atómica, Oficina Internacional Del Trabajo (2004). 10. Silva, E. C.: Dosimetría em radiología intervencionista. International Congress of the International Radiation Protection Association (2004).

11. Silva, L. P. et al. Avaliação da exposição dos médicos à radiação em procedimentos hemodinâmicos intervencionistas. Radiol Bras., v. 41, n. 5, p. 319-323, 2008.

12 Gomes, M. D., Silva, L. D.: Ionizing radiations in the hemodinamic service: the nursing perception. Online brazilian journal of nursing (2006) 1-106.

Referências

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