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CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PENTAL: Uma análise do princípio da intervenção mínima em face do direito à liberdade RESUMO

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CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PENTAL: Uma análise do princípio da intervenção mínima em face do direito à liberdade

Ceciliana Amorim Barros Sousa1

RESUMO

O presente artigo tem como título a Constitucionalização do Direito Penal: Uma análise do princípio da intervenção mínima em face do direito à liberdade. Pretende-se analisar o princípio penal da intervenção mínima em face do direto fundamental à liberdade, com base na constitucionalização dos direitos, dentre eles o direito penal. O princípio da intervenção mínima é um dos principais fundamentos da limitação do poder de punir do Estado, com vistas a assegurar às pessoas o seu direito a liberdade. É importante frisar que nem toda conduta ilícita praticada por determinada pessoa faz jus à restrição da liberdade como punição. Às vezes há um desequilíbrio na aplicação da pena, uma vez que se têm condutas ilícitas leves sendo punidas de forma bastante severa. O nosso Estado, que é democrático de direito, passa a atuar de forma arbitrária, colocando em risco a segurança jurídica do indivíduo, em ver respeitado o seu direito de fazer tudo o que a lei não proíba. Trata-se de um artigo elaborado com base em pesquisas bibliográficas com o intuito de apresentar a interface constitucional da atuação do Estado na tipificação de condutas que sejam contrárias ao ordenamento jurídico, em respeito aos direitos fundamentais previstos na nossa Constituição, que são de eficácia plena e de aplicabilidade imediata, dentre eles o direito fundamental à liberdade.

Palavras-Chave: Constitucionalização do Direito Penal. Intervenção Mínima. Direito à Liberdade.

ABSTRACT

The present article has as its title the Constitutionalization of Criminal Law: An analysis of the Least Intervention’s principle in view of the right of liberty. It intends to analyse the criminal principle of the least intervention in the face of the fundamental right of liberty, based on the Constitutionalization of Law, especially Criminal Law. The least intervention’s principle is one of the main basis of the State’s power of punishment limit, looking forward to guarantee peoples right of liberty. It’s important to stress that not all the criminal offenses practiced by certain person should have the restriction of liberty as its punishment. Sometimes occurs a loss of balance in the application of punishment, once you have a minor illicit conduct being punished strongly severe. Our country, which is a democratic State under rule of law, tend to act in a discretionary way, threatening people’s law security, which means to be free to do everything that isn’t prohibited by law. This article was made based

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Acadêmica do 9° período do curso de bacharelado em Direito da Universidade Estadual da Paraíba. Email: ceciliana.amorim@hotmail.com.br

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on bibliographic researches with the aim to show the constitutional interface of State’s acting, when it comes to specify the offense that are opposed to the legal system, respecting the fundamental rights contained in our Constitution, which have immediate force and applicability, especially the right of liberty. Key- Words: Constitutionalization of Criminal Law. Least Intervention. Right of Liberty.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como escopo principal analisar as interferências positivas das ideias neoconstitucionalistas na legislação criminal, considerando especialmente a função limitadora do princípio penal da intervenção mínima, a fim de não comprometer a eficácia do direito fundamental à liberdade.

Diante da realidade fática que é apresentada, em que o Direito muitas vezes não consegue alcançar ideais como justiça e segurança na aplicação das normas, uma vez que as mesmas não trazem o resultado previsto pelo legislador no momento de sua criação, torna-se essencial analisar tais normas sob uma perspectiva constitucional, na tentativa de garantir maior efetividade às normas infraconstitucionais.

A partir dessa nova percepção da Constituição, de ser um conjunto não só de princípios, mas também de normas constitucionais, devendo estes serem observados e efetivados no âmbito da legislação ordinária, o Direito Constitucional vive mudanças na maneira de ser estudado e compreendido pelos aplicadores do direito, pois com o surgimento do Neoconstitucionalismo, as leis infraconstitucionais passam a sofrer uma incidência maior dos preceitos constitucionais.

No nosso caso, veremos como os fundamentos constitucionais se manifestam na legislação penal, notadamente no que diz respeito ao limite da tipificação de condutas. Limite este imposto pelo princípio da intervenção mínima, com vistas a preservar a liberdade dos cidadãos, aqui estudada em seu sentido amplo.

A importância em estudar este tema consiste em perceber que o legislador, ao interferir na esfera particular do cidadão, no seu livre arbítrio, o faz com a intenção de preservar a convivência coletiva, o bem comum, como uma das finalidades do Estado. Porém essa interferência deve ser moderada

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no sentido de não prender demasiadamente a liberdade de agir de cada um. Ou seja, ao tipificar condutas e cominar penas para quem as praticar, deve o legislador analisar cuidadosamente o meio social ao qual está inserido e, a partir dessa análise, perceber quais são as condutas que atingem não só o cidadão em sua esfera particular, mas também a sociedade como um todo, pois esta também sofrerá consequências decorrentes da ação daquele cidadão que agiu de forma contrária ao que o ordenamento jurídico determina.

Colocando esse pensamento em face do direito constitucional e do pensamento neoconstitucionalista, é possível inferir que o princípio da intervenção mínima funciona dentro do direito penal como um braço da Constituição, tendo em vista a preservação da liberdade de cada um, direito fundamental presente na Carta Constitucional. Ao Estado, portanto, é imposto um limite de atuação na criação de leis, especialmente as leis que determinam o que é ou não crime, com vistas a que não se tenha um Estado arbitrário, que fulmine de uma vez por todas a liberdade de ação dos seus subordinados.

A metodologia utilizada para esta pesquisa consistiu basicamente em pesquisa bibliográfica de livros e artigos científicos que tratam desta temática. Hoje se tem poucas obras tratando especificamente da constitucionalização do direito, porém devemos considerar que este assunto ainda passa por um processo de amadurecimento em nosso país e acreditamos que, em pouco tempo, será possível visualizar uma grande quantidade de trabalhos acerca deste assunto.

2. PROCESSO DE CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO

O termo constitucionalização do direito, além de outras conotações que lhe são atribuídas, exprime a ideia de expansão das normas constitucionais, ou seja, princípios e regras previstos na Carta Constitucional que são, de certa forma, inseridos no ordenamento, condicionando a validade da lei infraconstitucional à não divergência desta com os preceitos constitucionais. Portanto, se concebe a existência de um Estado Constitucional de Direito devido a consonância que deve haver entre a validade da norma jurídica e a Constituição Federal.

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A ideia de um direito constitucionalizado teve início com a Constituição Alemã, no ano de 1949, e com a instituição do Tribunal Constitucional Federal na Alemanha, em 1951. Concomitante a este fato, foi criada, em 1947, a Constituição da Itália e posteriormente, em 1956, foi criada a Corte Constitucional italiana2. O surgimento dessas cartas constitucionais são as referências principais do novo direito constitucional, que se lastreia na difusão e efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Também contribuiu para a constitucionalização do ordenamento jurídico o movimento pós-positivista, que traz a ideia de legalidade do positivismo aliada à legitimidade, ou seja, a análise do ordenamento jurídico combinado com os ideais de justiça e de ética, não mais se concebendo o direito como sendo apenas a letra da lei.

A partir desse novo pensamento jurídico constitucional, surgiu a ideia de força normativa da Constituição, que consiste na atribuição de imperatividade às normas constitucionais, tal como ocorre com as normas infraconstitucionais. Juntamente com essa concepção de normatividade constitucional, e da força imperativa que elas devem possuir, surgiram as Cortes Constitucionais e tornaram-se responsáveis pelo controle de constitucionalidade das leis.

O modo de interpretar as leis também sofre mudanças, na medida em que passam a ser elaboradas conforme a vontade constitucional. Desta forma, não basta que o juiz apenas aplique a lei ao caso concreto, até porque, muitas vezes, não há um silogismo perfeito entre o fato e a norma. Exige-se do magistrado um estudo profundo da norma jurídica, baseando-se nos fundamentos constitucionais presentes no ordenamento jurídico.

2.1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO NO BRASIL

O processo de constitucionalização do direito começou a ser sentido em nosso ordenamento jurídico a partir da promulgação da Constituição

2

Na Itália, a Constituição entrou em vigor em 1° de janeiro de 1948. O processo de constitucionalização do direito, todavia, iniciou-se apenas na década de 60, consumando-se nos anos 70. Sobre o tema, v. BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito: O triunfo tardio do direito constitucional do Brasil. In: NETO, Cláudio Pereira de Sousa; SARMENTO, Daniel. A Constitucionalização do Direito:

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Federal de 1988, quando houve a transição de um regime autoritário para um regime democrático de direito, onde as leis emanam-se considerando não só a vontade de um, mas de todos que se submetem àquele corpo normativo.

Com a nova Constituição, efetivaram-se princípios concernentes aos direitos fundamentais da pessoa humana, como a dignidade, a liberdade, a qual será analisada mais a frente, princípios estes que já são reconhecidos no cenário internacional e que, no Brasil, a sua observância passou a ser obrigatória no momento da aplicação das leis.

De acordo com os ensinamentos de Luis Roberto Barroso:

Uma constituição não é só técnica. Tem de haver, por trás dela, a capacidade de simbolizar conquistas e de mobilizar o imaginário das pessoas para novos avanços. O surgimento de um sentimento

constitucional é algo que merece ser celebrado. Trata-se de um

sentimento tímido, mas real e sincero, de maior respeito pela Lei Maior, a despeito da volubilidade de seu texto.3

O texto da Constituição de 1988 expressa bem os anseios da população por um ordenamento jurídico no qual esteja previsto direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Houve modificações nas leis infraconstitucionais, no sentido de dar-lhes uma nova interpretação, qual seja, a interpretação constitucional das mesmas.

Partindo deste fato, a nossa Constituição alcançou a supremacia formal, como sendo uma lei reguladora da ordem política e jurídica de um país, emanada por quem seja competente, mas também alcançou supremacia material, pois passou a ser o cerne do ordenamento jurídico e base para a interpretação das demais leis pelos operadores do direito.

2.2. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO

Com arrimo nas considerações feitas acima, sobre o processo de constitucionalização, tanto no Brasil, como no mundo, necessário se faz tecer alguns comentários, ainda que breves, porém bastante pontuais, sobre a constitucionalização do direito público.

A Constituição, como já sabemos, é a lei fundamental de um Estado, que possui um sistema jurídico, a fim de regular a convivência social da

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comunidade subordinada a este sistema jurídico dentro do território. A Constituição proporciona uma unidade política e deve estabelecer uma permanente integração entre as vontades do Estado e as necessidades das pessoas, através da previsão dos direitos fundamentais da pessoa humana e da imposição de limites à atuação estatal, a fim de não se macular tais direitos.

Essa proteção constitucional conferida aos valores fundamentais deve ser observada em proveito geral de toda a sociedade, e não de algumas pessoas. Trata-se de uma proteção em benefício de uma coletividade de pessoas, na medida em que todas elas são subordinadas ao corpo de leis vigentes em um determinado Estado.

Sendo assim, a interpretação das normas de direito público deve estar em consonância com os valores fundamentais previstos e protegidos pelos preceitos constitucionais, uma vez que o objetivo é a efetivação, através da inserção desses preceitos, na realidade concreta da sociedade.

2.3. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PENAL

Dentro do que foi discutido sobre a inserção dos preceitos constitucionais na legislação infraconstitucional, é oportuno tecer algumas considerações sobre a irradiação do texto constitucional nas leis penais, ou seja, de que forma a Carta Magna se insere e se faz presente no nosso Direito Penal.

A função primordial do Direito Penal é proteger os bens jurídicos considerados essenciais à condição humana, e ele faz esse trabalho através da tipificação de condutas que sejam consideradas pelo legislador como nocivas à sociedade e, ao mesmo tempo, estipulando sanções para aquela pessoa que atender ao preceito penal de caráter negativo. A Constituição também tem essa finalidade de proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana, não da mesma maneira que o Direito Penal, ou seja, com a aplicação da coerção, através das sanções. Até porque o Direito Penal só atua de forma mais enérgica devido à permissão constitucional, quando diz no art. 5°, inciso XXXIX, que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Portanto, a própria Constituição determina que se tipifiquem crimes e se cominem penas para cada um dos crimes.

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É possível, desta maneira, perceber um diálogo constante entre o Direito Penal e a Constituição. Nas palavras de Luciano Feldens, “uma tal relação funcional está logicamente associada à vinculação existente entre a ordem axiológica constitucional e a ordem legal dos bens jurídicos”.4

Assim se concebe a influência das normas constitucionais na legislação criminal, e esse diálogo entre os dois ramos jurídicos não deve, de forma alguma, cessar, uma vez que se tem dois corpos normativos com a finalidade precípua de proteger e assegurar a observância de direitos fundamentais do ser humano, sendo um deles o orientador, a principal fonte de inspiração para a regulamentação do outro.

Relacionando o processo de constitucionalização do direito com o princípio da intervenção mínima no Direito Penal, temos a lição de Feldens:

Uma modificação de tal ordem na teoria jurídica afeta significativamente a atuação dos Poderes Públicos. À evidência, tais vinculações alcançam forçosamente o legislador penal, quer seja quando se proponha ao estabelecimento de condutas delituosas e ao incremento de sanções, quer seja quando procure afastá-las ou amenizá-las. Em ambos os sentidos o legislador encontra-se contingenciado por um programa constitucional que lhe vincula positiva (para que atue em territórios essenciais e carentes de tutela) e negativamente (para que deixe de fazê-lo em circunstâncias cuja intervenção no âmbito dos direitos fundamentais revele-se injustificada ou mesmo excessiva.).5

Sobre a constitucionalização do princípio da intervenção mínima, será objeto de nossa discussão em momento posterior. Por hora, fiquemos com essa reflexão acerca da força que o Direito Constitucional exerce no interior da legislação penal a fim de garantir aos cidadãos um tratamento adequado, condizente com a dignidade da pessoa humana.

3. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE

Este princípio, na verdade uma garantia fundamental, está expressamente previsto no art. 5°, caput, da Constituição Federal, o qual trata dos direitos e garantias individuais de cada pessoa.

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FELDENS, Luciano. A conformação constitucional do Direito Penal: realidades e perspectivas. In: NETO, Cláudio Pereira de Souza; SARMENTO, Daniel. A Constitucionalização do Direito: fundamentos teóricos e aplicações específicas. Rio de

Janeiro: Lumen Juris, 2007. 5

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O fato de vivermos em um Estado Democrático de Direito assegura-nos a garantia de que esse mesmo Estado deve obedecer limites na sua atuação, para que não se torne um Estado arbitrário, ou seja, um Estado que impõe condutas aos seus subordinados sem a observância dos direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a integridade física, a honra, dentre outros.

É necessário, portanto, impor limites à atuação estatal, especialmente no que concerne a atos que possam constranger o indivíduo em seu direito à liberdade, logicamente quando este indivíduo nada faz que seja contrário ao ordenamento jurídico ao qual está subordinado. Desta forma, a liberdade defendida aqui consiste em uma liberdade que está em constante harmonia com a lei, não sendo lícito que o Estado intervenha em situações, restringindo a liberdade do indivíduo, quando uma medida mais branda seria perfeitamente viável e até adequada à situação concreta.

Tem-se hoje a concepção de que restringir a liberdade é a melhor maneira de se punir alguém que comete um ilícito penal. Muitas vezes há um equívoco na aplicação da punição, no sentido de que se poderia aplicar uma sanção menos constrangedora, porém mais eficaz na tentativa de evitar que tal conduta seja realizada novamente. A liberdade é um direito fundamental, como foi dito alhures, a qual, para Canotilho “seriam os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.”.6

O Estado, portanto, tem o dever de preservar esta liberdade, restringindo ao máximo o seu poder de interferência e elaborando outras formas de punir aqueles que cometem condutas tipificadas em nosso Código Penal.

4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

O princípio da intervenção mínima determina que o Direito Penal apenas deverá proteger aqueles bens que são imprescindíveis à condição humana, à sua coexistência pacífica no meio social. Portanto, a norma jurídica penal deve atender aos ideais de necessidade e utilidade na incidência da mesma.

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CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina. p. 393.

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De acordo com Luiz Regis Prado, este princípio “aparece como uma orientação político-criminal restritiva do jus puniendi e deriva da própria natureza do Direito Penal e da concepção material de Estado Democrático de Direito”.7 O mesmo autor ainda ressalta que “o uso excessivo da sanção criminal não garante uma maior proteção de bens; ao contrário, condena o sistema penal a uma função meramente simbólica negativa”.8

O Direito Penal deve ser a ultima ratio para a solução dos conflitos existentes, pois se trata da via mais violenta, que mais fere as garantias individuais, como o direito à liberdade. Daí a importância desse princípio, que serve de limite para legislador no momento em que este seleciona as condutas que devem ser tipificadas no Código Penal brasileiro.

Nesse contexto, queremos destacar a presença desse princípio no ordenamento jurídico penal diante do processo de constitucionalização dos direitos, analisando o direito fundamental à liberdade, assegurado a todos, e o poder punitivo do Estado, que é imposto a todos da mesma forma.

Em face do direito à liberdade previsto na Constituição Federal, especificamente no caput do art. 5°, o Direito Penal, através do princípio da intervenção mínima, determina ao legislador a proteção dos bens jurídicos essenciais ao ser humano. Significa dizer que não é toda conduta que poderá ser objeto de tipificação pelo legislador, mas apenas aquelas que violarem diretamente bens jurídicos fundamentais essenciais ao homem, como a vida, a liberdade, a integridade física e moral, dentre outras.

Considerando que a maior parte das penas aplicadas aos infratores hoje consiste em penas privativas de liberdade, temos que o Direito Penal, atendendo à sua finalidade precípua, qual seja, tipificar determinadas condutas e atribuir a cada uma delas uma sanção, denominada pena, deve normatizar apenas aquelas condutas que, de alguma forma, prejudiquem de maneira grave bens e valores importantes para a boa convivência do homem no meio social ao qual está inserido.

Para alcançar o objetivo supramencionado, o Direito Penal se pauta pelo princípio da intervenção mínima, pois o próprio uso da legislação penal é

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PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro – Parte Geral. v.1. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 143.

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tida como o último recurso a ser usado a fim de corrigir a conduta praticada pelo agente. Para ilustrar esse pensamento, tomemos como base o seguinte pensamento de Cezar Roberto Bitencourt: “Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais.”. 9

Esse raciocínio é aplicado justamente em respeito ao direito fundamental à liberdade, previsto na nossa Carta Constitucional e, tendo em vista a força normativa que os princípios constitucionais vêm adquirindo recentemente, com o Neoconstitucionalismo, é possível concluir que o Direito Penal deve interferir da menor maneira possível na esfera de liberdade do cidadão.

5. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

Tomando por base as considerações feitas alhures sobre o princípio penal da intervenção mínima e sobre o movimento neoconstitucionalista pelo qual nosso ordenamento jurídico está passando, percebe-se que a inserção deste princípio na legislação penal nada mais é do que a presença constante do preceito constitucional da liberdade, que é inerente a todo ser humano.

Atendendo aos fundamentos do Neoconstitucionalismo, que consiste em que a Constituição deve estar no centro, irradiando e dando as diretrizes para a construção das leis infraconstitucionais, as leis penais devem ser criadas com um cuidado especial, para que não ultrapassem os limites da razoabilidade na tipificação de crimes e cominação de penas, uma vez que estas se inserem de maneira significativa na esfera particular dos seres humanos, especialmente na sua liberdade, que é uma garantia constitucional que o Estado deve assegurar a todos indistintamente.

De forma mais clara, o que se apresenta é que o ordenamento jurídico não deve interferir de qualquer maneira na vida das pessoas que estão subordinadas àquele corpo de leis. Deve-se respeitar o limite que existe entre a conduta do cidadão que interfere de alguma maneira no meio social daquela

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BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 11.

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que não interfere, ou interfere de maneira não tão grave, podendo ser corrigida por outros meios que não a aplicação das sanções penais.

Assim, a atuação do princípio da intervenção mínima tem justamente esse objetivo, qual seja o de determinar que o legislador, ao tipificar condutas, escolha aquelas que interfiram de forma mais gravosa na vida de quem sofreu a lesão, que cause danos a bens essenciais ao homem, tais como a vida, a liberdade, o patrimônio, etc. E a Constituição tem esse papel de limitar a atividade legislativa, para que ela não seja arbitrária no sentido de aplicar a norma penal, que é o ramo jurídico mais violento, para tipificar comportamentos que podem ser evitados através de outros mecanismos, podendo estes serem jurídicos ou não.

Portanto, o princípio da intervenção mínima é a própria Constituição atuando no ordenamento jurídico criminal, com a finalidade de proteger o cidadão de condutas arbitrárias por parte do legislador, especialmente no que concerne à sua liberdade, que é um bem, um direito fundamental, garantido constitucionalmente, que só deve ser afastada em casos nos quais sejam realmente necessários, com vistas a atingir resultados que beneficiem não só a pessoa em sua esfera particular, mas a toda a sociedade.

6. CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto ao longo deste trabalho, é possível concluir que a nossa Constituição é um conjunto composto não apenas por normas, mas também por princípios, e que estes devem assumir seu papel de orientar a construção das leis infraconstitucionais. Além disso, deve-se reconhecer a imperatividade e força normativa que emanam dos preceitos constitucionais, tendo-se uma ideia de uma Constituição mais concreta, presente na vida das pessoas, ao invés de se ter apenas um conjunto de enunciados abstratos, nem sempre observados por aqueles que constroem o corpo de leis vigente em nosso país.

O Neoconstitucionalismo e a constitucionalização dos direitos são movimentos que vêm ajudando a propagar essa ideia, trazendo a Constituição cada vez mais pra perto daqueles que estão submetidos aos seus mandamentos.

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A constitucionalização dos direitos trouxe uma nova maneira de interpretar a legislação vigente, pois a Constituição passa a estar no centro do ordenamento jurídico, servindo de base para a criação das normas infraconstitucionais e estas, por sua vez, devem beber na fonte dos princípios constitucionais para que tenham efetivamente validade jurídica, validade constitucional.

No que concerne ao Direito Penal, temos a presença do princípio da intervenção mínima, que tem sua razão de ser na preservação da liberdade do cidadão em face do poder arbitrário do Estado. Novamente, tal princípio pode ser considerado como um braço da carta constitucional no direito penal, a fim de que o legislador não ultrapasse seus limites de atuação, interferindo de maneira inadequada e às vezes injusta na vida dos cidadãos.

7. REFERÊNCIAS

BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). In: NETO, Cláudio Pereira de Souza; SARMENTO, Daniel. A Constitucionalização do Direito: fundamentos teóricos e aplicações específicas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina.

FELDENS, Luciano. A conformação constitucional do Direito Penal: realidades e perspectivas. In: NETO, Cláudio Pereira de Souza; SARMENTO, Daniel. A Constitucionalização do Direito: fundamentos teóricos e aplicações específicas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.

HESSE, Konrad. Constituição e Direito Constitucional. (Trad. Por Carlos do Santos Almeida). In: HESSE, Konrad. Temas Fundamentais de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009.

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PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro – Parte Geral. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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