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Petróleo. Porque têm os preços do petróleo subido tanto nestes últimos anos?

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Academic year: 2021

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Petróleo

Porque têm os preços do petróleo subido tanto nestes últimos anos?

O tempo em que se podia contar com um petróleo barato está mesmo chegar ao fim. O aumento brutal do preço do petróleo, que passou dos 10 $ por barril, em 1998, aos 50 $ por barril, em 2005, parece indicar que estamos de facto a entrar numa nova era onde o preço do barril de petróleo não desce abaixo dos 30 $ ou até dos 40 $ por barril.

Porque é que o preço do petróleo tem subido tão bruscamente? Uma combinação de fatores sem precedentes está na origem desta subida:

• Condicionamentos na oferta de petróleo: a falta de capacidade adicional de produção é seguramente um dos fatores mais importantes para o aumento do preço do petróleo. Nas décadas anteriores, os maiores países produtores de petróleo, e em especial a Arábia Saudita, mantiveram em reserva importantes capacidades de produção para evitar flutuações acentuadas de mercado quando ocorriam interrupções bruscas na produção de petróleo. Assim, durante a guerra Irão - Iraque, a primeira e a segunda guerra do Golfo e a crise política na Venezuela em 2003, as exportações de petróleo destes países foram afetadas. A Arábia Saudita reagiu prontamente, bombeando mais petróleo para evitar um aumento brusco do preço, e possivelmente evitar um choque petrolífero. Esta margem de manobra permitiu à Arábia Saudita desempenhar o papel de «Banco Central do Petróleo». No entanto, esta capacidade tem vindo a diminuir nos últimos anos, devido ao facto dos investimentos na produção não terem acompanhado o acréscimo da procura. Atualmente, a capacidade adicional de produção situa-se à volta de 1 milhão de barris por dia, o nível mais baixo dos últimos 20 anos. No contexto atual foi estimada entre 3 a 5 milhões de barris diários a margem de produção adicional que permitiria garantir a estabilização dos preços do petróleo. Não é, portanto, de admirar que num mercado tão «efervescente», pequenas variações da procura ou da oferta, tenham impactos

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desproporcionados ao nível do preço do petróleo. Mais grave ainda: alguns peritos estimam que esta falta de capacidade se estende ao transporte («tankers»), formação (engenheiros especializados), capacidade de refinação e outros pontos da cadeia de abastecimento. Esta falta de investimento no setor da produção é em parte explicada pela lusão de que existia uma sobrecapacidade instalada, o que conduziu a duas décadas de subinvestimento no setor;

• Crescente procura a nível mundial: o consumo aumentou entre 3 e 4 % em 2004, contra 1 a 2 %, nos anos anteriores. Quase um terço deste aumento teve origem na China, onde o aumento do consumo rondou os 16 %. Na Índia, o aumento do consumo não ficou atrás. De facto, mesmo com o preço do barril de petróleo a 50 $, o consumo mundial de petróleo cresceu ao ritmo mais alto dos últimos 25 anos. A economia mundial cresceu igualmente a um ritmo muito intenso. Esta situação contraria a ideia tradicional de que os preços altos do petróleo contribuem para reduzir a procura. Há peritos que já afirmaram que, em contraste com as outras crises provocadas por embargos ou reduções da produção, este é o primeiro choque petrolífero provocado pela procura;

• Forte especulação financeira: um fluxo crescente de empresas financeiras tem vindo a interessar-se pelo mercado do petróleo. Muitas foram atraídas pelos lucros fáceis a curto prazo. No entanto, as empresas americanas que gerem os fundos de pensões já deixaram de apostar em preços altos a longo prazo, o que não impediu que o preço do barril do petróleo continuasse a subir. Esta especulação foi em parte incentivada pelo facto da OPEC ter admitido que queria estabilizar o preço do barril de petróleo nos 30 $ numa primeira fase, e nos 40 $ numa segunda fase;

• Insegurança nos mercados internacionais: a guerra do Iraque, o medo de ataques terroristas na Arábia Saudita, a instabilidade social na Venezuela e na Nigéria e a situação de falência da empresa Yukos, na Rússia, originaram um forte sentimento de insegurança no mercado do petróleo. Peritos estimaram que esta situação acrescentou de 7 $ a 15 $ por barril de petróleo;

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Os preços do petróleo vão manter-se altos no futuro?

Agora, que os preços do petróleo estão muito altos, será que os principais atores no setor vão investir para aumentar a capacidade produtiva? Alguns factos apontam para que isto não aconteça: em primeiro lugar, porque a economia mundial reagiu surpreendentemente bem aos preços altíssimos do petróleo, o que nos leva a crer que esta situação terá de se manter ou mesmo piorar para que os investidores entrem em ação. Em segundo lugar, o barril de petróleo a 10 $ afetou a economia dos países produtores de petróleo, que não estão muito motivados em recriar uma capacidade de reserva importante, semelhante à capacidade que existiu durante muitas décadas, com o receio de provocar outro colapso no preço de venda do petróleo. As grandes empresas petrolíferas estão ainda mais receosas de haver outro colapso nos preços, pelo que não estão a investir massivamente no setor.

Existe, no entanto, o interesse, por parte da Arábia Saudita, de reconstituir uma capacidade de reserva. Para a maior parte dos países produtores de petróleo faz todo o sentido maximizar o preço de venda a curto prazo, uma vez que as reservas são relativamente pequenas. Tal não acontece com a Arábia Saudita, cujas reservas são gigantescas (pelo menos 260 bilhões de barris de reserva provada). Mesmo com o ritmo atual de produção, que ronda os 10 milhões de barris diários, a Arábia Saudita tem petróleo para bombear durante grande parte deste século e não quer que os preços se mantenham muito altos durante muito tempo, com o risco dos investidores, procurarem petróleo noutras zonas do globo ou investirem nas energias alternativas. Alias, a empresa estatal SAUDI ARAMCO (a maior empresa produtora do Mundo) lançou recentemente o maior programa de expansão da capacidade de produção dos últimos anos. Mas este esforço só produzirá efeito daqui a alguns anos.

As lições tiradas dos últimos choques petrolíferos (1973-74 e 1978-80) demonstraram que os maiores lesados não foram os países grandes consumidores de petróleo, que acabaram por se adaptar à situação dos preços mais altos, mas sim os países, cuja economia dependia fortemente da exportação de petróleo. Este facto explica a atitude da Arábia Saudita que desde há muito tem desempenhado um papel de moderador

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entre os países da OPEC, resistindo aos apelos de outros países para aumentar os preços.

Outro fator que aponta para a descida dos preços é o facto do aumento brusco do consumo de petróleo por parte da China não ser sustentável. Por um lado, a China só representa 8 % dos consumos mundiais de petróleo, percentagem bem inferior aos 25 % dos Estados Unidos de América. Por outro lado, o aumento do consumo de 16 % verificado em 2004 deve-se a condicionamentos no setor do carvão e à ampliação da rede petrolífera local. A China dispõe de grandes reservas de carvão mas, na ausência temporária de carvão barato, resolveu utilizar gasóleo nas centrais elétricas. Com a resolução destes condicionamentos a China voltará certamente a consumir carvão para produzir eletricidade. A China ampliou muito as suas infraestruturas petrolíferas nos últimos dois anos e passou a constituir uma capacidade de reserva. Já no início de 2005, o aumento do consumo de petróleo desceu para um nível anual de 4 a 5 %.

A especulação financeira em torno do petróleo poderá igualmente causar uma descida brusca do preço do petróleo. As empresas americanas que gerem os fundos de pensões têm vindo a investir dezenas de biliões de dólares em fundos ligados ao petróleo, na esperança de obter lucros que os mercados bolsistas anémicos já não oferecem. Se estes lucros não se confirmarem, esta «bolha» de especulação poderá rebentar, tal como aconteceu com a «bolha especulativa» ligada à Internet.

Em jeito de conclusão, a única afirmação sensata que podemos fazer é que o preço do petróleo tem poucas probabilidades de ficar estável nos próximos tempos. Um ataque terrorista contra as infraestruturas petrolíferas na Arábia Saudita poderá fazer disparar o preço acima dos 100 $ por barril, enquanto um «crash» dos mercados financeiros poderá reduzi-lo abaixo dos 10 $ por barril.

Por quanto mais tempo teremos petróleo?

O petróleo é um recurso claramente não renovável que se irá esgotar um dia. Existe atualmente um debate muito aceso sobre se já se terá atingido ou não o pico da produção de petróleo, a partir do qual a produção só poderia descer. No ritmo atual de

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extração, à volta dos 83 milhões de barris por dia (valor de 2004), as reservas existentes confirmadas só permitiriam mais 36 anos de exploração.

As 20 maiores empresas petrolíferas em reservas, em 2003

Nome da empresa País Empresa Estatal Milhões de Barris

Saudi Aramco Arábia Saudita Sim 259.400

NIOC Irão Sim 125.800

INOC Iraque Sim 115.000

KPC Koweit Sim 99.000

PDV Venezuela Sim 77.800

ADNOC Emirados Árabes Unidos

Sim 55.200

Líbia NOC Líbia Sim 22.700

NNPC Nigéria Sim 21.200

Pemex México Sim 16.000

Lukoil Rússia Não 16.000

Gazprom Rússia Sim 13.600

Exxon Mobil USA Não 12.900

Yukos Rússia - 11.800

PetroChina China Sim 11.000

Qatar Petroleum Qatar Sim 11.000

Sonatrach Argélia Sim 10.500

BP Reino Unido Não 10.100

Petrobras Brasil Não 9.800

Chevron Texaco USA Não 8.600

Total France França Não 7.300

Total 914.700

Fonte: Petroleum Intelligence Weekly

De acordo com os mais pessimistas, o consumo anual de petróleo ultrapassou as descobertas de novos jazigos desde os anos 1980, indicando que o mundo está a esgotar as suas reservas de petróleo descoberto. Dado que toda a superfície do

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planeta já foi sujeita a prospeção para descobrir novos jazigos, parece pouco provável encontrar um novo campo de petróleo «supergigante», tal como existem na Arábia Saudita.

Por seu lado, os mais otimistas contestam este facto e referem que as reservas provadas de petróleo não param de crescer de ano para ano, apesar do consumo frenético de petróleo pelo mundo inteiro. Desde 1971, mais de 1500 milhões de barris de petróleo foram acrescentados às reservas provadas, quando durante este mesmo período (34 anos) foi consumido o equivalente a 800 milhões de barris.

O que provoca este constante aumento nas estimativas é uma combinação entre novação tecnológica e variações de preço de mercado do barril de petróleo. Algumas décadas antes, a taxa de recuperação do petróleo nos poços era de 20 %. Hoje em dia, com os avanços tecnológicos, esta taxa subiu para 35 %. Mesmo assim, em média dois terços do petróleo é deixado nos jazigos, por não ser económica a sua extração, deixando margem para novos avanços tecnológicos que permitam reduzir o custo de extração. Assim, os jazigos de petróleo do Mar do Norte só atingiram o seu pico de produção recentemente, quando a previsão era para 1990.

Seguindo a mesma lógica, os avanços tecnológicos permitiram a descoberta de novos jazigos na Rússia. Dado que existem muitas regiões do globo que não foram devidamente estudadas, e em especial zonas marítimas para exploração em offshore, existem fortes probabilidades das reservas provadas continuarem a crescer, com o passar dos anos. Atualmente existem furos de prospeção no Golfo do México a 3000 metros de profundidade, o que era inimaginável há 20 anos atrás.

Por sua vez, sempre que o preço do barril do petróleo sobe, torna rentáveis novos investimentos na prospeção de novos jazigos e na exploração otimizada dos campos petrolíferos existentes. De salientar aqui que, há 25 anos atrás, só um furo de prospeção em cada seis era bem sucedido. Hoje esta proporção subiu para dois terços.

Referências

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