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ALIMENTAÇÃO DE PODOCNEMIS SEXTUBERCULATA (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZONAS, BRASIL

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ALIMENTAÇÃO DE PODOCNEMIS SEXTUBERCULATA (TESTUDINES:

PODOCNEMIDIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZONAS, BRASIL

ALIMENTACIÓN DE PODOCNEMIS SEXTUBERCULATA (TESTUDINES:

PODOCNEMIDIDAE) EN LA RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZONAS, BRASIL

PODOCNEMIS SEXTUBERCULATA (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE)

FEEDING IN THE MAMIRAUÁ RESERVE, AMAZONAS, BRAZIL

FACHÍN-TERÁN, AUGUSTO1 Ph.D.; RICHARD CARL VOGT2 Ph.D.

1Universidade do Estado do Amazonas – Programa de Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. 2Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.

INFORMACIÓN Recibido: 21-06-2013; Aceptado: 20-10-2014. Correspondencia autor: fachinteran@yahoo.com.br

Resumo

A alimentação é um dos aspectos mais importantes na vida dos organismos. No grupo dos quelônios aquáticos amazônicos do gênero Podocnemis este aspecto é negligenciado para P. sextuberculata. Neste trabalho são apresentados os resultados de uma pesquisa sobre alimentação desta espécie na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá-RDSM. Foram analisadas 235 amostras de conteúdos estomacais, 117 machos e 118 fêmeas. Para obter amostras de conteúdo estomacal, foi usado o método de lavagem com água. Conteúdos estomacais também foram coletados por dissecção dos tratos digestivos. Matéria vegetal foi o item predominante na alimentação de P. sextuberculata. Não existiu diferença na frequência de ocorrência de sementes nas épocas de enchente e vazante. Em todos os habitat o volume total de sementes foi muito alto. A espécie está adaptada a mudanças sazonais, sendo a várzea o habitat mais apropriado, em função da abundância das espécies da família Poaceae. A informação obtida destaca a importância de proteger as espécies vegetais e os habitat usados por

P. sextuberculata na RDSM.

Palavras Chave:

Alimentação. Podocnemis sextuberculata. Amazônia. Quelônios.

Abstract

Feeding is one of the most important aspects in the life of animals. There has been very little published regarding the feeding of Podocnemis sextuberculata. This study presents results from research conducted in the Mamirauá Sustainable Development Reserve-RDSM regarding the food consumed by this species. There were analyzed 235 samples of stomach contents 117 males and 118 females. The stomach contents were obtained by stomach flushing with water or from dissections of digestive tracts. Plant material was the most prominent food item found in the stomachs of P. sextuberculata. There was no difference in the frequency of occurrence of seeds between the high and low water seasons. The total volume of the seeds consumed was high in all habitats. This species is adapted to areas with great seasonal changes, the flooded forest habitat is appropriate for this species because of the abundance of plants in the family Poaceae. The information obtained highlights the relevance of protecting vegetal species and habitat of P.

sextuberculata in RDSM.

Key words:

Feeding. Podocnemis sextuberculata. Amazon basin. Chelonians.

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Resumen

La alimentación es uno de los aspectos más importantes en la vida de los organismos. En el grupo de los quelonios acuáticos amazónicos del género

Podocnemis este aspecto es descuidado para P. sextuberculata. En este trabajo

se presentan los resultados de una investigación sobre la alimentación de esta especie en la Reserva de Desarrollo Sustentable Mamirauá-RDSM. Se analizaron 235 muestras de contenidos estomacales, 117 machos y 118 hembras. Para obtener muestras de contenido estomacal, se utilizó el método de lavado con agua. Los contenidos estomacales también fueron colectados por disecación de tracto digestivo. Materia vegetal fue el ítem predominante en la alimentación de P.

sextuberculata. No hubo diferencia en la frecuencia de semillas en las temporadas

de aguas bajas y altas de los ríos. En todos los hábitat el volumen total de las semillas fue muy alto. La especie está adaptada a los cambios de estación, siendo las áreas inundables el hábitat más apropiado, en relación a la abundancia de las especies de la familia Poaceae. La información obtenida destaca la importancia de proteger las especies vegetales y los hábitat usados por P. sextuberculata en la RDSM.

Palabras Clave:

Alimentación, Podocnemis Sextuberculata, Amazonia, Quelonios.

Introdução

Informações sobre alimentação de quelônios neotropicais têm se incrementado nas últimas décadas, principalmente como resultado dos trabalhos realizados por RAMO (1982), PRITCHARD e TREBBAU (1984), ALMEIDA et al.(1986), VOGT e GUZMAN (1988), MOLL (1990), GUADA (1990), FACHÍN-TERÁN et

al.(1994,1995), PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO (1997),

PORTAL et al. (2002), BALENSIEFER e VOGT, (2006), RUEDA et al. (2007), DE LA OSSA et al. (2011), e FIGUEROA et al. (2012).

Os estudos sobre alimentação da Família Podocnemididae revelam que Podocnemis expansa e P. unifilis são principalmente herbívoros e que

Peltocephalus dumerilianus é um quelônio onívoro

(MEDEM, 1964; ALMEIDA et al., 1986; FACHÍN-TERÁN et al., 1995; PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO, 1997; e, DE LA OSSA et al., 2011). Em duas espécies de Podocnemididae, os autores concluíram que estas espécies são onívoras (P. vogli, RAMO, 1982 e Pelusios

castaneus castaneus, LUISELLI, 1998), baseados na

frequência de ocorrência dos itens alimentares nas amostras examinadas.

Existem muitas espécies de quelônios neotropicais das quais não se conhece quase nada sobre sua alimentação. Uma delas é o Podocnemididae P.

sextuberculata, sobre a qual só existe informação

fragmentada sobre sua dieta (MITTERMEIER e WILSON, 1974; ERNST e BARBOUR, 1989) ou informação duvidosa, afirmando que esta espécie é carnívora (SOINI e SOINI, 1995).

Dada a importância de P. sextuberculata como um recurso alimentar para os moradores da RDSM (SANTOS, 1996), e devido aos problemas de conservação (IUCN, 1996) e sobre exploração por parte do homem (FACHÍN-TERÁN, 2004), é importante conhecer aspectos de sua história natural tais como sua alimentação, crescimento, estrutura populacional, além

de outros aspectos da ecologia desta espécie. Estas informações certamente serão usadas na identificação de habitat críticos a serem preservados para esta espécie.

Neste estudo foram investigados: 1) Os itens alimentares consumidos e as proporções em que ocorrem em

P. sextuberculata, 2) A variação sazonal no tipo e

quantidade de alimento consumido, 3) As variações dos itens alimentares em função do sexo e tamanho dos animais, 4) O efeito do habitat na alimentação.

Materiais e Métodos

Área de Estudo. Este estudo foi realizado na Área

Focal da RDSM. A reserva está localizada na Amazônia Ocidental Brasileira, entre os rios Japurá, Solimões e Auti-Paraná, perto da cidade de Tefé, no estado do Amazonas. Geograficamente, está localizada entre 03º08’S - 64º45’W e 02º36’S - 67º13’W, tem uma extensão de 1.124.000 ha e está dividida em Área Subsidiária e Área Focal. É a primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável criada no Brasil (1996), e a única Unidade de Conservação inteiramente localizada em florestas inundáveis de várzea. Seu objetivo é a conservação, investigação e manejo da biodiversidade com participação da população local (SCM, 1996).

Coleta e análise do conteúdo estomacal. Para obter

amostras de conteúdo estomacal, usamos o método de lavagem com água (LEGLER, 1977). Introduzimos um tubo plástico dentro da boca do animal, passando pelo esôfago até atingir o estômago; quando o tubo estava introduzido, bombeava água com uma seringa manual de 50 ml. Quando o estômago estava cheio, o animal era colocado em posição vertical, de cabeça para baixo e a água era bombeada rapidamente para forçar que regurgitasse. O material obtido era recolhido numa peneira de plástico. A limpidez da água da lavagem serviu como indicador de que o estômago estava vazio.

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A retirada dos itens alimentares foi realizada logo após a captura e os animais foram liberados no mesmo local onde foram capturados.

Conteúdos estomacais também foram coletados por dissecção dos tratos digestivos de indivíduos recentemente mortos ou acidentalmente afogados nas redes malhadeiras (N=57). Os itens alimentares foram filtrados, conservados em álcool a 70 % e identificados até o menor nível possível taxonômico.

Os itens alimentares foram classificados em 12 categorias: sementes, talos, folhas, rizomas, material vegetal não identificado, insetos, camarões, caranguejo, caramujo, peixes, material animal não identificado e terra.

Na categoria de material vegetal não identificado foram incluídas sementes, talos e folhas, que por sua destruição e ou avançado estado de digestão não foi possível identificar. A identificação de partes de plantas foi feita por comparação com material previamente identificado.

A análise dos hábitos alimentares dos quelônios foi feita através do método volumétrico (baseado no deslocamento da coluna de água dentro de uma proveta graduada), onde o volume é expresso na forma percentual, considerando o volume de dado item alimentar em relação ao volume de todos os itens alimentares presentes nos estômagos. A freqüência de ocorrência que considera a porcentagem do número total de estômagos em que cada item ocorreu, também foi usada para descrever a alimentação (HYSLOP, 1980; KAWAKAMI e VAZZOLER, 1980). Na maioria das análises foram excluídos os estômagos vazios.

Idade e tamanho de P. sextuberculata. Como não

se conhece a relação entre a idade e o tamanho de P.

sextuberculata de ambos os sexos, foram estabelecidos

arbitrariamente quatro classes de tamanho, de I a IV, considerando intervalos de 5 cm no comprimento da carapaça. Na classe I, foram incluídos um macho e uma fêmea de 7,2 e 7,6 cm e na classe IV, uma fêmea de 30,6 cm (Tabela 1).

e habitat. Comparações foram feitas com 235 P.

sextuberculata dos quais foi obtido o conteúdo

estomacal. As ocorrências de itens alimentares foram comparadas somente quando o item apareceu em mais de três animais.

Como o volume e a freqüência de ocorrência de talo, folha e rizoma foi muito pequena, estes itens foram agrupados numa só categoria, com a finalidade de detectar variação na alimentação em relação à época, sexo, tamanho e habitat. Este mesmo critério (menos para sexo) foi usado para agrupar insetos, camarões, caranguejos, peixes e material animal não identificado, na categoria de total material animal.

Resultados

Número de animais capturados. Podocnemis

sextuberculata ocorreu numa ampla variedade de

habitat dentro da região. Durante o período de 17 meses de amostragem intensiva, foram capturados 2458 animais, 1603 machos e 855 fêmeas. Os totais de conteúdos estomacais coletados durante todo o período de estudo são apresentados na Tabela 2.

Alimentação Geral de Podocnemis sextuberculata.

Matéria vegetal foi o item predominante na alimentação de P. sextuberculata (Figura 1). Do volume total, 95,17 % foram de restos vegetais, e, 4,43 % restos de origem animal. Os animais ingeriram principalmente sementes, sendo rizoma o segundo item vegetal mais consumido, seguido de peixe (Tabela 2).

As sementes ingeridas por P. sextuberculata foram quase exclusivamente de sementes da família Poaceae, tendo sido as mais freqüentes Hymenachne

amplexicaulis (35,74 %), Paspalum repens (31,06 %) e Echinochloa spectabile (10,64 %) (Apêndice 1).

Tabela 1. Podocnemis sextuberculata, cujos conteúdos

estomacais foram analisados, agrupados em quatro classes de tamanho.

Classes de

tamanho (cm) Media de tamanho Machos Fêmeas Total

I <14,9 12,2 6 15 21

II 15-19,9 18,0 51 43 94

III 20-24,9 21,8 60 33 93

IV>25,0 26,9 0 27 27

Análises Estatísticas. As análises estatísticas foram

feitas com o programa STATISTIX FOR WINDOWS (ANALYTICAL SOFTWARE, 1998). Teste qui-quadrado foi usado para comparar a dieta (i.e. freqüência de ocorrência) entre épocas do ano, sexos, tamanhos

Tabela 2. Quantidade total de conteúdos estomacais

coletados, indicando sexo, ano e mês da coleta (N=267).

Cheios (N=235) Vazios (N=32) Meses Machos Fêmeas Machos Fêmeas

Nov- 96 0 5 1 1 Mar- 97 3 3 0 0 Abr 4 13 0 0 Jul 7 20 1 0 Ago 9 8 0 0 Set 0 1 0 0 Out 0 0 5 2 Nov 1 1 1 1 Dez 10 8 1 2 Jan- 98 7 3 0 0 Fev 17 14 1 0 Mar 2 7 1 0 Abr 21 14 0 0 Mai 3 4 0 0 Jun 15 2 1 0 Jul 7 3 1 1 Ago 11 12 6 6 TOTAL 117 118 19 13

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Insetos apareceram numa porcentagem muito baixa no volume total (0,9%), mas em freqüência de ocorrência foi o segundo (10,21 %) dos itens. Foram encontrados restos de exemplares adultos de Orthoptera e Coleoptera. Ninfas e larvas de Ephemeroptera, Odonata, Orthoptera, Coleoptera e Diptera, também foram ingeridos.

Caranguejos da família Trichodactylidae foram encontrados nas análises, na forma de apêndices do corpo, sendo a freqüência de ocorrência a segunda maior em relação aos outros invertebrados (8,51 %), apesar de o volume registrado ter sido muito pequeno (1,09 %) (Tabela 3). As duas espécies encontradas,

Dilocarcinus pagei (3,83 %) e Brachyura sp (4,68 %),

foram as mais freqüentes em relação às outras espécies de invertebrados (Figura 1).

Tabela 3. Volume total e frequência de ocorrência de

cada categoria alimentícia encontrado nos conteúdos estomacais de P. sextuberculata (N=235).

Itens Volume(mm3) Volume% Freq. Freq.%

Sementes 1579,42 90,96 204 86,81

Talo 4,62 0,27 7 2,98

Folha 0,78 0,04 9 3,83

Rizoma 48,20 2,78 13 5,53

Material vegetal não identificado 19,43 1,12 19 8,09

Inseto 15,57 0,90 24 10,21

Camarões 1,80 0,10 2 0,85

Caranguejo 19,00 1,09 20 8,51

Caramujo 0,32 0,02 3 1,28

Peixes 38,45 2,21 20 8,09

Material animal não identificado 1,80 0,10 2 0,85

Terra 6,92 0,40 13 5,53 Vegetais 1652,45 95,17 Animais 76,94 4,43 Volume total 1736,31 ITENS ALIMENTARES A = Sementes B = Talo, Folha e Rizoma C = Material Vegetal Não Identificado D = Total Material Animal

Figura 1. Porcentagem do volume de cada item

alimentar (talo, folha e rizoma, e material animal misturado) observado nos conteúdos estomacais de

P. sextuberculata.

O consumo de peixes ocorreu numa porcentagem baixa do volume total (2,21 %). Foi encontrado um peixe inteiro de 3 cm de comprimento da família Characidae e três (3) colunas vertebrais inteiras de 2,5 cm cada uma.

Foram registradas escamas, carne, parte do couro, nadadeiras e vértebras de peixes que não foi possível identificar, mas que pertencem a peixes grandes e que a iaçá não tem condições de capturar e ingerir inteiros. Pedaços de terra também foram encontrados nos conteúdos estomacais.

Variação sazonal na alimentação. A variação sazonal

da alimentação em P. sextuberculata foi analisada comparando-se as épocas de enchente (outubro a março) e vazante (abril a setembro) (Tabelas 4, 5 e Figura 2). Não existiu diferença na freqüência de ocorrência de sementes nas duas épocas (x²=2,23, df=1, p=0,13). Talo, folha e rizoma foram mais freqüentes na vazante (x²=4,35, df=1, p=0,03), junto com o total de material animal (x²=8,02, df=1, p=0,004). Sementes de Echinochloa spectabilis, Hymenachne

amplexicaulis, Luziola spruceana, Paspalum repens

(Poaceae) e Cyperus sp (Cyperaceae) estiveram presentes quase o ano todo, com exceção de setembro e outubro quando estas plantas ficam em terra, na margem, fora do alcance dos animais. Rizomas de

Cyperus sp foram encontrados principalmente durante

a vazante. Foram identificados os taxa das sementes, rizoma e talo encontrados nos conteúdos estomacais durante o período de estudo. Do mesmo modo foram feitas as identificações das espécies animais (Apêndices 2 e 3).

Material vegetal não identificado foi encontrado numa porcentagem muito pequena em quase todos os meses. Talos e folhas foram consumidos principalmente na vazante, embora a quantidade consumida tenha sido muito pequena (Tabelas 4 e 5).

Insetos foram consumidos nos meses de vazante e enchente, embora numa porcentagem muito baixa do volume total. No mês de março, durante o pico da cheia, foram encontrados nos conteúdos estomacais de dois machos, 9 e 92 ninfas pertencentes à família Polymitarcidae (Ephemeroptera) e em abril quando o nível da água estava descendo encontramos num estômago de uma fêmea seis (6) ninfas desta mesma família.

Outros invertebrados tais como camarões, foram encontrados só no mês de março durante a cheia; os caranguejos foram consumidos em ambas épocas. Caramujos muito pequenos de 6 mm de comprimento do corpo foram consumidos só na vazante. A porcentagem do volume total destes invertebrados foi muito baixa (Tabela 5).

Peixes foram consumidos também numa freqüência muito baixa, aparecendo principalmente na vazante, nos meses de julho e agosto, e em menor freqüência

A 92%

B 3%1% DC

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na cheia. Entretanto em porcentagem do volume total consumido, eles representam o principal alimento de origem animal.

Foi observada, uma maior quantidade de estômagos vazios na seca, no mês de agosto (N=12) e no inicio da enchente em outubro (N=7). Não houve diferença na freqüência de ocorrência de estômagos vazios nas duas épocas (x²=0,08, df=1, p=0,78), uma célula têm um valor esperado < 5.

Tabela 4. Porcentagem do volume total de cada categoria alimentícia consumida em todos os locais nos meses

em que pelo menos sete P. sextuberculata foram amostrados.

Enchente Vazante Enchente

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Nov Dez

Itens N= 10 31 15 52 7 17 37 40 7 18

Sementes 99,74 96,85 81,14 90,53 80,56 94,63 87,37 87,67 1,65 99,57

Talo - - 1,25 0,29 - - 0,05 0,84 -

-Folha - - - 0,03 - - 0,21 0,01 0,35

-Rizoma - 1,56 - 5,96 5,06 2,77 - 7,25 -

-Material vegetal não ident. - - 2,97 0,10 5,06 0,33 3,08 0,51 31,54 0,21

Inseto - 0,03 3,90 0,91 5,10 - 1,35 0,38 3,90

-Camarões - - 1,41 - - -

-Caranguejo - 0,52 0,55 1,45 - 2,28 1,99 1,24 -

-Caramujo - - - - 0,84 - 0,04 - -

-Peixes - 1,04 8,00 0,51 - - 4,76 2,01 48,70

-Material animal não ident. - - - 0,21 3,37 - - - -

-Terra 0,26 - 0,78 - - - 1,14 0,10 13,86 0,22

Vegetais 99,74 98,41 85,36 96,91 90,68 97,72 90,71 96,29 33,54 99,78

Animais - 1,59 13,86 3,09 9,32 2,28 8,15 3,62 52,60

-Volume total 96,55 288,9 128,08 468,49 23,71 61,4 285,85 177,95 11,54 192,94 Tabela 5. Porcentagem do volume total e freqüência

de ocorrência (entre parênteses) das categorias alimentares de P. sextuberculata segundo a época do ano.

Enchente

(N=81) Vazante(N=154) Itens Volume(mm3) % Volume Volume(mm3) % Volume

Sementes 672,33 (74) (91,36)93,64 907,09(130) (84,42)89,08 Talo 1,60 (1) (1,23)0,22 3,02(6) (3,90)0,30 Folha 0,04 (2) (2,47)0,01 0,74(7) (4,55)0,07 Rizoma 4,5 (2) (2,47)0,63 43,7(11) (7,14)4,29 Material vegetal não

identificado 7,84(7) (8,64)1,09 11,59(12) (7,79)1,14 Inseto 5,55 (6) (7,41)0,77 10,02(18) (11,69)0,98 Camarões 1,8 (2) (2,47)0,25 -- - -Caranguejo 2,2 (2) (2,47)0,31 16,8(18) (11,69)1,65 Caramujo -- -- 0,32(3) (1,95)0,03 Peixes 18,87 (5) (6,17)2,63 19,58(15) (9,74)1,92 Material animal não

identificado -- -- 1,8(2) (1,30)0,18 Terra 3,28 (6) (7,41)0,46 3,64(7) (4,55)0,36 Vegetais 686,31 95,95 966,14 94,88 Animais 28,42 3,96 48,52 4,76 Volume total 718,01 1018,3

Variação na alimentação em relação ao sexo e o tamanho dos indivíduos.

A alimentação de P. sextuberculata, para ambos os sexos, foi semelhante com respeito à quantidade (%) do volume total de cada um dos itens alimentares consumidos (Tabela 6). A freqüência de ocorrência nas fêmeas foi um pouco maior para a maioria dos itens a exceção de rizoma (Figura 3).

As dietas de fêmeas e machos foram semelhantes na freqüência de ocorrência de sementes (x²=0,36, df=1, p=0,54), talo, folha e rizoma (x²=0,33, df=1, p=0,56), caranguejo (x²=0,20, df=1, p=0,65) e peixes (x²=3,42, df=1, p=0,06). Insetos foram significativamente mais freqüentes nos estômagos das fêmeas (x²=4,55, df=1, p=0,03).

Podocnemis sextuberculata alimentou-se principalmente

de sementes em todas as classes de tamanho. Diferenças significativas na freqüência de ocorrência entre as quatro classes de tamanho foram encontradas para sementes (x²=8,80, df=3, p=0,03), talo, folha e rizoma para as classes II a IV (x²=10,74, df=2, p=0,004). Não existiu diferença entre as quatro classes

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 A B C D ITENS ALIMENTARES PORCENTAGEM DA FREQUÊNCIA ENCHENTE VAZANTE

ITENS ALIMENTARES: A = Sementes; B = Talo, Folha e Rizoma; C = Material Vegetal Não Identificado; D = Total Material Animal

Figura 2. Porcentagem da frequência de ocorrência

dos itens alimentares (talo, folha, rizoma e material animal foi juntado) consumidos por P. sextuberculata, nos períodos de enchente e vazante.

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290

de tamanho para o total de material animal (x²=6,49, df=3, p=0,09).

A frequência de ocorrência (%) de sementes diminui em função do tamanho do animal (Figura 4). Talo, folha e rizoma só foram consumidos por exemplares cujo tamanho foi igual ou maior a 15 cm de comprimento, e as freqüências destes itens aumentaram em função do tamanho do animal (Tabela 7 e Figura 4).

Tabela 6. Porcentagem do volume total e freqüência

de ocorrência (entre parênteses) das categorias alimentares de P. sextuberculata segundo o sexo.

Machos (N=117) Fêmeas (N=118) Itens Volume(mm3) % Volume Volume(mm3) % Volume

Sementes 543,05(100) (85,47)89,89 1036,37(104) (88,14)91,59 Talo 1,81(3) (2,56)0,30 2,81(4) (3,39)0,25 Folha 0,02(1) (0,85)0,003 0,76(8) (6,78)0,07 Rizoma 24,1(9) (7,69)3,99 24,1(4) (3,39)2,13 Material vegetal não identificado 7,21(8) (6,84)1,19 12,32(11) (9,32)1,09 Inseto 5,45(7) (5,98)0,90 10,12(17) (14,41)0,89 Camarões 0,9(1) (0,85)0,15 0,9(1) (0,85)0,08 Caranguejo 7,3(9) (7,69)1,21 11,7(11) (9,32)1,03 Caramujo 0,0(0) -- 0,32(3) (2,54)0,03 Peixes 14,05(6) (5,13)2,33 24,4(14) (11,86)2,16 Material animal não identificado 0,1(1) (0,85)0,02 1,0(1) (0,85)0,09 Terra 0,14(2) (1,71)0,02 6,78(11) (9,32)0,60 Vegetais 95,37 95,13 Animais 4,61 4,28 Volume total 604,13 1131,58 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 A B C D E F G H I J K L ITENS ALIMENTARES PORCENTAGEM DE FREQUÊNCIA MACHOS FÊMEAS

ITENS ALIMENTARES: A = Sementes; B = Talo; C = Folha; D = Rizoma; E=Material Vegetal Não Identificado; F = Inseto; G = Camarões; H = Caranguejo; I = Caramujo; J = Peixes; K = Material Animal Não Identificado; L = Terra. Figura 3. Comparação da frequência de ocorrência dos

diferentes itens alimentares consumidos por machos e fêmeas de P. sextuberculata.

Tabela 7. Porcentagem do volume total e freqüência

absoluta de ocorrência (entre parênteses) das categorias alimentícias para P. sextuberculata segundo o tamanho. I < 14,9 N=21 II 15 – 19,9 N=94 III 20 –24,9 N=93 IV > 25 N=27 Itens % V % F % V % F % V % F % V % F Sementes 93,53 (95,24)20 95,46 (90,43)85 87,67 (86,02)80 90,11 (70,37)19 Talo, folha, rizoma 0 (0)0 1,97 (5,32)5 4,16 (18,28)17 3,32 (25,93)7 Material vegetal não identificado 3,40 (9,52)2 0,37 (3,19)3 1,18 (9,68)9 1,89 (18,52)5 Total material animal 3,25 (28,57)6 1,93 (20,21)19 6,47 (25,81)24 4,69 (44,44)12 Terra 0 (0)0 0,27 (5,32)5 0,51 (5,38)5 0,46 (11,11)3 Vegetais 96,75 97,80 93,02 95,31 Animais 3,25 1,93 6,47 4,96 Volume total 61,81 599,09 728,88 344,93 SEMENTE 0 20 40 60 80 100 120 12.2 18 21.8 26.9 PORCENTAGEM DE FREQUÊNCIA

TALO, FOLHA, RIZOMA

0 5 10 15 20 25 30 12.2 18 21.8 26.9 PORCENTAGEM DE FREQUÊNCIA MATERIAL ANIMAL 0 10 20 30 40 50 12.2 18 21.8 26.9

COMPRIMENTO MÉDIO DA CARAPAÇA

PORCENTAGEM DE FREQUÊNCIA

Figura 4. Comparação da frequência de ocorrência

(%) das diferentes categorias alimentícias para P.

(7)

291

Variação na alimentação em relação ao habitat.

As comparações do volume total e freqüência de ocorrência entre habitat, dos tipos de alimentos consumidos, foram realizadas com os exemplares capturados no Paraná, ressaca, lago, cano, rio-remanso e chavascal (Tabela 8).

Em todos os habitat o volume total de sementes foi muito alto (Tabela 9 e Figura 5). Não houve diferença na freqüência de ocorrência entre Paraná, ressaca e lago, para sementes (x²=1,98, df=2, p=0,37), e talo, folha e rizoma (x²=0,89, df=2, p=0,64). Entretanto houve

Tabela 8. Quantidade total de conteúdos coletados (entre parênteses estômagos vazios), indicando mês,

sexo e habitat. M=Macho, F=Fêmea.

Paraná Ressaca Lago Cano Rio-Remanso Chavascal

Meses M F M F M F M F M F M F Nov-96 0(1) 5(1) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Mar-97 0 0 2 3 1 0 0 0 0 0 0 0 Abr 0 0 0 0 3 7 1 6 0 0 0 0 Jul 0 0 7(1) 20 0 0 0 0 0 0 0 0 Ago 2 1 0 1 7 6 0 0 0 0 0 0 Set 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Out 0 0 0 0 0 0 0 0 0(5) 0(2) 0 0 Nov 1(1) 1(1) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Dez 10(1) 7(2) 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Jan-98 3 1 4 2 0 0 0 0 0 0 0 0 Fev 10(1) 5 7 9 0 0 0 0 0 0 0 0 Mar 1(1) 5 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 Abr 7 4 6 7 8 3 0 0 0 0 0 0 Mai 0 0 3 4 0 0 0 0 0 0 0 0 Jun 0 0 0 0 8 1 0 0 0 0 7(1) 1 Jul 0 0 0 2 6(1) 0(1) 0 0 0 0 1 1 Ago 0 0 7 8 2(1) 4(2) 0 0 2(5) 0(4) 0 0 Total (5)34 30(4) 37(1) 59 35(2) 21(3) 1 6 (10) 2 (6) 0 (1) 8 2

diferenças significativas para o total de material animal (x²=0,48, df=2, p=0,005).

Exemplares capturados no remanso dos rios apresentaram o estômago vazio, tendo sido encontrado só traços de limo, argila, sementes, talo e material vegetal não identificado. Os dois estômagos examinados neste habitat que continham material vegetal, foram de animais capturados num remanso, onde na beira existia muita vegetação aquática macrófita e as plantas apesar de estarem na parte rasa, ainda estavam acessíveis aos animais.

Tabela 9. Porcentagem do volume total e freqüência absoluta de ocorrência (entre parênteses) das categorias

alimentares em P. sextuberculata segundo o habitat.

Itens ParanáN=64 % V Ressaca N=96 % V Lago N=56 % V Cano N=7 % V Rio-Remanso N=2 % V Chavascal N=10 % V Sementes 92,75(54) 88,93(87) 91,51(47) 95,33(6) 75,75(1) 95,07(9)

Talo, folha, rizoma 3,61(7) 3,05(11) 3,07(9) 1,17(1) 22,73(1) (0)0

Material vegetal não identificado 1,15(5) 1,00(5) 1,35(8) (0)0 (0)0 2,82(1)

Total material animal 1,97(10) 6,45(38) 4,04(18) 3,5(3) (0)0 2,11(2)

Terra 0,52(6) 0,56(4) 0,02(2) (0)0 1,52(1) (0)0

Vegetais 97,51 92,98 95,93 96,50 98,48 97,89

(8)

292

Discussão

A população de P. sextuberculata na RDSM é principalmente herbívora, se alimentando de sementes, talo, folha e rizoma. Estes resultados são similares aos encontrados para P. unifilis por FACHÍN-TERÁN

et al. (1995), que constataram que esta espécie é

primariamente herbívora encontrando sementes, frutos, folhas e talos nos estômagos analisados. Dentro dos

Podocnemis, a maior delas, P. expansa, também se

alimenta de frutos e sementes caídos das árvores que crescem na beira dos rios e na floresta inundada (OJASTI, 1971; ALMEIDA et al., 1986). PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO (1997), reportaram que frutos, sementes e peixes foram os itens mais comuns na dieta de Peltocephalus dumerilianus, concluindo que a proporção de material animal ingerido por esta espécie é a mais alta registrada para a família Podocnemididae na América do Sul.

O material vegetal consumido por P. sextuberculata foi diferente que o consumido por outras espécies de Podocnemididae (ALMEIDA et al., 1986; FACHÍN-TERÁN et al., 1995; PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO, 1997). Esta diferença pode indicar estratégias de alimentação diferentes, uso diferenciado de espécies vegetais, e uso diferenciado dos diferentes estratos do canal dos corpos de água. Podocnemis unifilis é encontrado nas partes rasas e P. sextuberculata prefere as partes fundas do leito dos corpos de água.

Insetos foram reportados na alimentação de P. vogli e

P. unifilis, como ocasionais, sendo ingeridos junto com

as partes das plantas que consumiram (RAMO, 1982; FACHÍN-TERÁN et al.,1995). Em P. sextuberculata estes provavelmente foram ingeridos como parte de sua dieta, sendo comidos tanto na superfície como no fundo dos corpos de água.

ITENS ALIMENTARES PORCENTAGEM DO VOLUME 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 A B C D PARANÁ RESSACA LAGO CANO RIO-REMANSO CHAVASCAL

ITENS ALIMENTARES: A = Sementes; B = Talo, Folha e Rizoma; C = Material Vegetal Não Identificado; D = Total Material Animal

Figura 5. Porcentagem do volume dos itens alimentares

de P. sextuberculata no Paraná (N=64), Ressaca (N=96), Lago (N=56), Cano (N=7), Rio-remanso (N=2) e Chavascal (N=10).

O volume total (%) de alimento vegetal consumido por P. sextuberculata foi semelhante na enchente e vazante. As sementes da família Poaceae foram presentes quase o ano todo. Resultado similar foi encontrado para P. unifilis por FACHÍN-TERÁN et al. (1995), onde nenhuma variação sazonal foi observada entre as categorias alimentícias consumidas por esta espécie. Em P. vogli, os talos da família Poaceae foram o principal alimento vegetal, aparecendo o ano todo, e o caranguejo (Dilocarcinus dentatus) a base de sua alimentação animal (RAMO, 1982).

Apesar de que durante a enchente o acesso à floresta inundada é mais fácil e os frutos são mais abundantes,

P. sextuberculata continuou alimentando-se de

sementes da família Poaceae, sugerindo preferências por este tipo de alimento.

Têm-se sugerido que P. expansa e P. dumerilianus atuam como dispersores das sementes das quais se alimentam (OJASTI, 1971; PERÉZ-EMÁN e PAOLILLO, 1997). O estado das sementes encontradas nos exames das fezes e nos intestinos de P. sextuberculata sugere que este quelônio não atua como dispersor das sementes das quais se alimenta. Como produto final da digestão só foram encontradas as cascas das sementes.

Variação sazonal na alimentação de P. sextuberculata foi detectada na freqüência de ocorrência para talo, folha e rizoma e material animal (inseto, camarões, caranguejo, caramujo e peixe), que foram mais freqüentes na vazante. FACHÍN-TERÁN et al. (1995) não encontraram variação sazonal na porcentagem de cada categoria alimentícia consumida por P. unifilis. Foram encontrados muitos caramujos pequenos nos conteúdos estomacais de P. sextuberculata nos rios Trombetas e Tapajós em Pará, Brasil (FACHÍN-TERÁN et al., 1995). Neste estudo a presença de caramujos foi muito pequena (0.03%), sendo consumidos somente na vazante.

Os estômagos das iaçás examinados durante a época da seca (setembro e outubro) estavam vazios ou continham restos de limo, argila e material vegetal não identificado, evidenciando que os animais durante este período experimentam uma forte restrição na alimentação. OJASTI (1971), na Venezuela, realizou esta mesma observação em P. expansa.

Machos e fêmeas de P. sextuberculata têm principalmente uma dieta herbívora. A única diferença encontrada foi que os insetos foram mais freqüentes nos estômagos das fêmeas. Diferenças na alimentação entre os sexos para P. unifilis foram encontradas no estudo de FACHÍN-TERÁN et al. (1995), em que as fêmeas consumiram principalmente sementes e frutos, e os machos talos. Em P. vogli, os machos consumiram mais Salvinia, e as fêmeas, moluscos e peixes (RAMO, 1982). Para P. dumerilianus não foi encontrada nenhuma diferença na dieta para ambos os sexos (PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO, 1997).

(9)

293 Podocnemis sextuberculata na RDSM consumiu

predominantemente alimento vegetal desde filhote até adulto, alimentando-se de sementes de espécies da família Poaceae que crescem abundantemente na beira dos corpos de água. Mudanças na alimentação em função do tamanho da iaçá foram encontradas para talo, folha e rizoma, os quais só foram consumidos por exemplares cujo tamanho foi igual ou maior a 15 cm de comprimento. Mudanças na dieta de jovens e adultos são comuns nos quelônios (GEORGES, 1982). Isto geralmente ocorre em espécies onívoras. Podocnemis

unifilis é principalmente herbívora de filhote até o adulto

e possui nematodes comensais no estômago que destruem o alimento (FACHÍN-TERÁN observação pessoal). Em P. sextuberculata não observamos nenhum tipo de parasita. Entretanto Pseudemys nelsoni (BJORNDAL e BOLTEN, 1991) e Dermatemys mawi (FACHÍN-TERÁN et al., 1995; VOGT e FLORES, 1992) que são espécies herbívoras de filhote até adulto, tem uma flora intestinal comensal que ajuda a fermentar o alimento vegetal no intestino delgado.

ALMEIDA et al. (1986) reportaram que jovens e adultos de P. sextuberculata se alimentam de vegetais, na maioria plantas com tecidos moles, consumindo em geral folhas e ramos de ervas, e que adultos raramente consomem frutos e sementes. Em P. unifilis os exemplares menores consomem proporcionalmente mais material animal do que os maiores (FACHÍN-TERÁN et al., 1995). Não foi detectada nenhuma diferença na dieta de P. dumerilianus em função do tamanho (PÉREZ-EMÁN e PAOLILLO, 1997).

Não foram encontradas diferenças na alimentação entre habitat com respeito ao volume (%) do alimento vegetal. Foram encontradas diferenças para a freqüência de ocorrência para o total de material animal. Nas

ressacas foi maior a freqüência de alimento animal. A semelhança de alimentação em todos os habitat pode ser devido a que as espécies da família Poaceae que produzem sementes estão presentes em todos os habitat. RAMO (1982), na Venezuela, encontrou que a dieta de P. vogli variou significativamente entre os dois habitat estudados; peixes e crustáceos foram mais consumidos nas caixas de empréstimo do que nos igarapés. FACHÍN-TERÁN et al. (1995) encontraram pouca diferença qualitativa na dieta de P. unifilis em função do habitat. PERÉZ-EMÁN e PAOLILLO (1997), encontraram diferenças na dieta de P. dumerilianus em diferentes locais no mesmo tipo de habitat (rio), atribuindo esta diferença a uma maior diversidade de frutos e sementes num dos rios.

P. sextuberculata está adaptada às mudanças sazonais

no seu habitat. No início da enchente retorna aos paranás e ressacas onde na beira encontra abundante alimento embaixo da água; na cheia invade os lagos e entra no igapó a procura de bons locais para se alimentar. Durante a seca seu habitat se reduz ao canal dos paranás e do rio onde o alimento é escasso. A várzea é o habitat mais apropriado para P.

sextuberculata, em função da abundância das espécies

da família Poaceae, cujas populações encontram as condições ideais de habitat neste ecossistema. As informações obtidas neste estudo sobre alimentação de

P. sextuberculata, ressaltam a importância de proteger

as espécies vegetais e os habitats usados por esta espécie na RDSM.

Agradecimentos: À Sociedade Civil Mamirauá-SCM,

pelo apoio logístico e facilidades concedidas para a realização deste estudo.

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