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A CLASSE HOSPITALAR NA CONCEPÇÃO DE SEUS USUÁRIOS - OLIVEIRA, Viviane Souza de; FERNANDES, Ediclea Mascarenhas

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A CLASSE HOSPITALAR NA CONCEPÇÃO DE SEUS USUÁRIOS

OLIVEIRA, Viviane Souza de

Mestranda em Diversidade e Inclusão pela UFF Psicopedagoga Institucional e Clínica, Pedagoga UERJ

vivisouza_80@yahoo.com.br

FERNANDES, Ediclea Mascarenhas

Doutora em Ciências: FIOCRUZ – Rio de Janeiro Profa Adjunta da Faculdade de Educação da UERJ Profa do Mestrado em Diversidade e Inclusão UFF

professoraediclea.uerj@gmail.com

RESUMO

O presente artigo fundamenta-se nas observações e análises das atividades desenvolvidas na classe hospitalar do Hospital Infantil Ismélia da Silveira, vinculado a Coordenação de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias. Como objetivo apresentaremos uma pesquisa sobre a interpretação deste ambiente a partir de relatos das próprias crianças internadas no Hospital Infantil Ismélia da Silveira. O procedimento de coleta de informações foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas e por desenhos realizados pelas crianças. Através do procedimento de análise identificamos informações sobre: a experiência escolar do aluno hospitalizado; a experiência vivenciada na sala de aula do hospital; o brincar dentro de um ambiente hospitalar e a expressão de suas concepções acerca da classe hospitalar por meio do desenho.

Palavras- Chave: Classe Hospitalar; Atividades Pedagógicas; Subjetividade.

ABSTRACT

This article is based on observations and analysis of the activities developed in hospital class at Children's Hospital Ismélia da Silveira, linked to Special Education Coordination of the Municipal Duque de Caxias Education . Intended to present a study on the interpretation of this environment from accounts of own children hospitalized at Children's Hospital Ismélia da Silveira. The procedure of information gathering was conducted through semi-structured interviews and drawings made by children. Through the analysis procedure identified information about: the school experience of the hospitalized student; the experience of the teaching hospital of the classroom ; the play within a hospital environment and the expression of his views about the hospital class through the design .

Keywords : Hospital Classroom ; Pedagogical activities ; Subjectivity.

INTRODUÇÃO

A temática da classe hospitalar é abordada em pesquisas em que são relatadas, em sua maioria, as opiniões e conclusões de autores que se preocupam com essa modalidade

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de ensino. Sendo assim, com essa pesquisa buscamos analisar a concepção de uma classe hospitalar a partir de relatos das próprias crianças internadas no Hospital Infantil Ismélia da Silveira – HIIS.

As matrizes epistemológicas que serviram de base ao trabalho foram os estudos de Wallon (1941) no qual concebe o desenho, como uma forma de expressão, revelador de pensamentos, porque também é uma forma de linguagem. Através do desenho a criança demonstra o conhecimento conceitual que tem da realidade e quais os aspectos mais significativos de sua experiência. Quando pedimos aos entrevistados que desenhassem uma situação vivenciada por eles no ambiente da sala de aula do hospital, tivemos diversas formas de expressões que fundamentam tais teorias .

A criança internada pode passar por diversos problemas psicológicos apresentando como resultados sentimentos de ansiedade, culpa, apatia, e até sensação de abandono, visto que algumas crianças são muito dependentes de seus pais. Uma equipe de profissionais pode auxiliar significativamente nessa luta em busca de saúde, o aluno precisa sentir que está sendo amparado, o que contribuirá para o fortalecimento de sua autoestima e melhoria da qualidade de vida neste período de internação.

O papel do professor é, inicialmente, criar oportunidades para que a criança e o jovem possam compreender o espaço hospitalar permitindo que lhe atribua um significado positivo a esta nova experiência, e ofereça possibilidades de acesso a novos conhecimentos, na garantia da continuidade ao seu processo educacional.

É importante salientar que existem diversas patologias infanto-juvenis no ambiente de atendimento médico-hospitalar, ambiente este carregado de dor, debilidade orgânica e necessidade de repouso, tornam-se necessárias práticas pedagógicas diferenciadas de acordo com a peculiaridade de cada um, valorizando o espaço de expressão, coletiva ou individual e o acolhimento das emoções das crianças e/ou adolescentes hospitalizadas.

O procedimento de coleta de informações foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas e por desenhos.

O método utilizado neste estudo foi qualitativo, pois os dados são essencialmente descritivos, já que há uma preocupação em reunir falas, descrições, sentimentos, contextos e acontecimentos. As pesquisadoras atentam para detalhes dos dados a partir do contato direto com a situação estudada para compor a realidade pesquisada. A análise dos dados se

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dá pelo confrontamento e discussão epistemológica ancorada no corpo teórico referendado. Pois como afirma Chizzotti (2003, p. 222) ao referir-se a pesquisa qualitativa:

[...] implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e o autor interpreta e traduz em um texto zelosamente escrito, com perspicácia e competência científica, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa.

A sistemática adotada para a evolução da análise dos dados seguiu uma rotina normativa, sendo cada instrumento analisado separadamente. Após o término da coleta de dados foi realizada uma análise de conteúdo que deu origem a categorias apresentadas e discutidas. Convém demarcar que as respostas receberam tratamento qualitativo. Foi descrito e discutido cada um dos temas encontrados no discurso dos participantes.

1. O LÚDICO COMO CANAL DE COMUNICAÇÃO COM A CRIANÇA HOSPITALIZADA

As execuções das atividades pedagógicas, em especial os desenhos, contribuíram para o bem estar da criança acionando o lúdico como um canal de comunicação com a criança hospitalizada, procurando fazê-la esquecer, durante alguns instantes, o ambiente necessário, porém fisicamente invasivo no qual se encontra, resgatando experiências vividas anteriormente à entrada no hospital e permitindo a elaboração da realidade vivenciada.

O trabalho pedagógico em hospital não possui uma forma padronizada de acontecer, o professor tem de se reconhecer como pesquisador de sua prática, buscando sempre respostas para eternas perguntas. Como referência à escola, o professor torna-se a ponte, através da realização de atividades pedagógicas e recreativas, com um mundo saudável (a escola) que é levado, pelas próprias crianças, para o interior do hospital como continuidade dos laços de aprendizagem e de vida. De acordo com a teoria de Wallon a qual concebe um professor com um papel ativo na constituição da pessoa do aluno, considerando-o em todas suas as suas dimensões, afetiva, cognitiva e motora.

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tudo que ocorre com a pessoa tem um lastro afetivo e afetividade tem em sua base a emoção, e como a emoção é corpórea, concreta, visível, contagiosa, o professor pode “ler” seu aluno: o olhar, a tonicidade, o cansaço, a atenção, o interesse são indicadores do andamento do processo.

Por sua especificidade, o hospital, já se caracteriza como um ambiente carregado de emoções, dor e sofrimento, o papel da educação no hospital e do professor é propiciar para a criança e para o jovem a compreensão daquele espaço, permitindo que atribua um significado positivo a esta nova experiência, e ofereça possibilidades de acesso a novos conhecimentos, na garantia da continuidade ao seu processo educacional.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O presente estudo leva-nos a compreender que o papel principal da educação junto à criança hospitalizada é promover sua subjetividade, atribuindo um novo significado ao espaço hospitalar por meio da linguagem, da afetividade e das interações sociais que são oferecidas pelo professor.

Aita e Facci (2011) baseados na perspectiva da psicologia histórico-cultural entendem que o homem constitui sua subjetividade mediante o processo de apropriação dos conhecimentos construídos historicamente, desenvolvendo, assim, suas funções psicológicas superiores, tais como raciocínio lógico, pensamento abstrato, capacidade de planejamento, entre outras funções. Esse é um aspecto fundamental para o desenvolvimento da subjetividade e está assentado, também, na relação com outros homens.

O processo de interação entre professor e aluno hospitalizado, possibilita que a criança através do diálogo constante, perceba que o ambiente hospitalar é um local temporário de permanência e que mesmo estando hospitalizada, as rotinas escolares vão lhe atribuir um significado ao mundo concreto da qual ela faz parte, neste caso a escola.

Para isso é preciso pensar o hospital como um espaço de educação para as crianças internadas no Hospital Infantil Ismélia da Silveira.

Como a ascensão da pedagogia hospitalar caracterizada por ser uma proposta diferenciada, interdisciplinar, a qual promove alternativas dinâmicas educativas e

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procedimentos para continuidade escolar, além de evitar o fracasso escolar, detectar crianças fora da escola, reduzir a repetência e a evasão escolar, ela assume um papel de grande significado na melhoria e qualidade de vida dos hospitalizados.

A experiência de frequentar uma classe hospitalar permite uma aproximação com um ambiente escolar prazeroso, desta forma aprender no hospital contribui para que os processos de hospitalização não sejam marcados por tantas restrições e sim como experiências positivas face às oportunidades de crescimento e desenvolvimento (CECCIM, 1999 apud ZOMBINI et al., 2012).

Estudos na área da pedagogia hospitalar comprovam que o contato com a escola, com a figura do professor, gera um resultado positivo no corpo da criança, o que vem colaborar para uma melhora no seu diagnóstico e até na sua recuperação, pois o foco do trabalho deve ser sempre global, e não somente para o corpo, mas também para as necessidades físicas, emocionais, afetivas, e sociais do indivíduo.

A visão humanística que muitos dos hospitais do Brasil procuram enfatizar na sua prática, vem demonstrando que não é só o corpo que deve ser "olhado", mas o ser integral, suas necessidades físicas, psíquicas e sociais.

A Resolução de 2 de setembro de 2001 no Art. 13 mostra em todo seu bojo esta preocupação com o globalizante.

Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas e saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio .

Partindo dessas premissas, torna-se fundamental apontar que a inclusão perpassa por mudanças na constituição psíquica do homem, para o entendimento do que é a diversidade humana. Deste modo é preciso considerar a forma como nossa sociedade está organizada, onde o acesso aos serviços é sempre dificultado pelos mais variados motivos. Haja vista, que nem todos os hospitais do Brasil contam o atendimento de classe hospitalar, para muitos o assunto ainda é desconhecido.

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3. RESULTADOS ALCANÇADOS

O procedimento de coleta de informações foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas e por desenhos. As entrevistas foram individuais, contendo, além dos dados de identificação, questões pertinentes ao cotidiano na escola antes da internação e o cotidiano na classe hospitalar. Os desenhos foram dirigidos quando a criança era convidada a desenhar a classe hospitalar, sendo sempre estimulada a falar sobre os mesmos.

A partir do procedimento de análise foi possível obter informações sobre: a experiência escolar do aluno hospitalizado; a experiência vivenciada na sala de aula do hospital; o brincar dentro de um ambiente hospitalar e a expressão de suas concepções acerca da classe hospitalar por meio do desenho.

Após esta etapa foi analisado através de vinhetas a compreensão do espaço da escola hospitalar que os entrevistados obtiveram no período da internação, onde o desenho foi o meio que permitiu organizarem informações, processar experiências vividas e pensadas, estimulando-as a desenvolver um estilo de representação singular do mundo.

O estudo foi realizado no Hospital Infantil Ismélia da Silveira pertencente ao Sistema Único de Saúde do Município de Duque de Caxias no período de 21 a 25 de setembro de 2015. Fizeram parte da pesquisa 5 (cinco) crianças na faixa etária de 8 à 13 anos, de ambos os sexos sendo dois meninos e três meninas e hospitalizados por diagnósticos diversos. Os nomes apresentados nas vinhetas do estudo são fictícios para preservar a identidade dos mesmos.

3.1 ANÁLISES DAS VINHETAS SOB A CONCEPÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR HOSPITALAR

O desenho como forma de expressão dos sentimentos e emoções é amplamente estudado no campo da psicologia por Di Leo (1991), Buck (2003). Para o professor de classe hospitalar entender os desenhos como uma forma de comunicação de seu aluno é fundamental para o trabalho, pois a percepção da dinâmica de seu aluno colabora primeiro como um espaço de catarse dos sentimentos vividos na internação, segundo como um indicador para as necessidades de seu aluno. A partir da compreensão fenomenológica do

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desenho o professor pode preparar histórias e leituras e outras atividades expressivas para que através da arte seu aluno possa expressar os sentimentos de vivência no ambiente hospitalar, abrindo espaço para entendimento da dinâmica da doença e ganhando forças de compensação para o enfrentamento da mesma, segundo uma concepção Vygostkiana de que quando existem bloqueios no desenvolvimento, imediatamente o organismo tenta buscar forças para compensar.

Vinheta 1, figura 1 - Iara, onze anos, cursa o 5º ano do Ensino Fundamental na

Escola Municipal Darcy Vargas no município de Duque de Caxias. O motivo de sua internação é uma glândula no pescoço que no momento da realização da atividade ainda sendo investigada pela Equipe Médica. O desenho de Iara demonstra a mesma e a professora circunscritas dentro de um coração como se o espaço de relação professor/aluno representasse um espaço transicional de elaboração do que está vivendo. No momento em processo de investigação de uma glândula no pescoço traz a expectativa do diagnóstico, a espera, o aguarde pela família e equipe médica. Observa-se um coração fora do coração onde estão ligadas professora/aluna; como se emoções existissem fora da dupla. Winnicott (1971) nos fala do espaço transicional como aquele em que o ser humano desde bebê utiliza para elaborar as angústias (ex o brinquedo do coelhinho na hora de dormir, que ajuda a elaborar a angústia de dormir só). Quando afirma que na UPA não tem e agora ela tem; não somente a classe hospitalar, mas o vínculo com a professora marcado em um grande coração, que pode estar ajudando a elaborar a angústia das emoções e dúvidas de estar em espaço do desconhecido, do coração de emoções do lado de fora.

Figura 1 – Vinheta 1

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de São João de Meriti, no Centro Educacional Ilma Machado, está internado, pois está com uma bactéria nos rins. Luís expressa no desenho uma dificuldade no momento de expressar emoções coloridas, os bonecos palitos sem corpos e distinções e o retratar o atendimento no leito demonstra o sentimento de anomia que por vezes perpassa a situação de internação. O hospital como uma grande casa e os bonecos palitos indiferenciados. A função renal vincula-se à elaboração e purificação do sangue; como emoções também necessitam ser depuradas. A atividade lúdica na classe hospitalar permite que a criança possa expressar ainda que de forma contida o inconsciente de suas emoções momentâneas.

Figura 2 – Vinheta 2

Vinheta 3, figura 3 – Joice, treze anos, cursa o 7º ano na Escola CAIC Ciep 1003

Dona Darcy Vargas no município de Belford Roxo, a mesma é portadora de diabete. Devido ao seu quadro clínico este ano já esteve internada por três vezes e assim frequenta a Classe Hospitalar. O diabetes é uma das condições clínicas que impõem restrições alimentares para seu controle, sendo por vezes um desafio este controle na etapa da adolescência. Joice apresenta a classe hospitalar extremamente grandiosa ocupando toda a folha (a única coisa que gosta no hospital), sem restrições. Observa-se que apresenta o desenho das prateleiras com os materiais como se fosse uma grande prateleira de guloseimas pedagógicas, ela à mesa pode degustar todos os privilégios de uso do material, livre de restrições a que todo diabético precisa estar imposto. O desenho da professora com os braços para traz é como se dissesse prove todo o cardápio desta sala, neste plano não há restrições.

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Figura 3 – Vinheta 3

Vinheta 4, figura 4 – Tatiana, nove anos, estuda na E. M. Deputado Lucas de A.

Figueira, em São João de Meriti, o motivo da internação é um quadro de pneumonia. Ocupa praticamente toda a folha com elementos da situação escolar, números, letras e desenhos, o desenho das crianças tanto ao centro, quanto na mesa de trabalho apresentam falta de membros inferiores e superiores demonstrando ansiedade na autonomia e contato.

Figura 4 – Vinheta 4

Vinheta 5, figura 5 - Marcos dez anos, cursa o 5º ano na Escola Municipal Olívia

Valianga da Silva do município de Belford Roxo, está internado por motivo de celulite infecciosa. O boneco palito vincula-se a inibição corporal, dificuldade na percepção do esquema corporal. A classe hospitalar representada como uma casa em separado de um ambiente, que não é retratado, que não existe; mas que toma a maior parte da folha. A classe hospitalar ainda é um espaço que para ele precisa entrar atravessar obstáculos até chegar a professora, porta pequena.

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Figura 5 – Vinheta 5

A partir das entrevistas e da análise dos desenhos das crianças internadas no Hospital Infantil Ismélia da Silveira podemos observar e perceber que diferentemente das práticas tradicionais e “engessadas” que se fazem presentes nas escolas, onde há momentos marcados para a entrada, para a saída, para brincar e comer, a classe hospitalar vem contrariar este formato, pois através de seu planejamento flexível, procura respeitar a individualidade e o tempo e espaço dos alunos internados.

Observamos na fala das crianças uma enorme satisfação e alegria em participarem das atividades na classe hospitalar, fato que este que se confirma na fala de Iara, a mesma relatou o quanto estava feliz e o quanto adorava a “escolinha”.

O desenho de Luís demonstrou os leitos e o caminho até a sala de aula, pois no momento da realização das atividades estava impossibilitado de comparecer até ao espaço fez todas as atividades no leito e depois foi junto com a Professora conhecer a salinha, ficando bastante entusiasmado em ver os colegas realizando as atividades.

No desenho de Joice a adolescente expressa que gosta muito de realizar as atividades propostas pela Professora, e devido ao seu quadro de Diabete ela sempre está internada. Em entrevista declarou que o que mais gosta no Hospital é a classe hospitalar e a Professora.

Percebemos no desenho de Tatiana a descrição das atividades realizadas por ela na sala de aula e de todo o espaço físico, a menina falou que gosta muito da “escolinha”, pois lá ela pode brincar e fazer as atividades.

Marcos desenhou sua espera ansiosa até a chegada da Professora, ficou muito contente em saber da “escolinha” e se mostrou disposto em realizar todas as atividades propostas pela Professora.

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Constatamos a importância da classe hospitalar e das práticas pedagógicas existentes neste espaço que se configura como um dos canais com o mundo fora do hospital, a criança percebe que suas experiências escolares e os conhecimentos prévios são considerados.

Para (Zombini et al., 2012)

na classe hospitalar, o educador procura estabelecer um elo entre a realidade do hospital e a vida cotidiana da criança. Esse processo contribui para a aprendizagem da criança, além de dar subsídios para a compreensão dos mecanismos de instalação da doença e incentivar a participação no processo de cura.

A forma de constituição disciplinadora do espaço que muitas vezes existe na escola regular, não existe no hospital. A disposição do mobiliário é constantemente modificada. A classe é multisseriada o que permite a convivência de crianças de séries, idades, culturas e níveis de escolarização diferentes em um mesmo espaço e em várias aulas, as mesas são unidas formando um grande grupo. Nesta perspectiva de trabalho é escolhido um tema e em torno deste, diversas atividades são desenvolvidas. Toda esta rotina de atividades segue o currículo escolar, para evitar que devido ao período de internação, haja um rompimento no processo de desenvolvimento infantil.

Sobre isto, Wallon (2008) afirma que o espaço não é primitivamente a ordem das coisas e sim antes a qualidade das coisas em relação a nossas ações, pois é grande o papel da afetividade, da pertença. A caracterização do espaço permite aproximação ou retraimento em relação a sensações positivas de proximidade ou negativas de afastamento. No espaço escolar, esta disposição física pode contribuir para que os alunos se sintam acolhidos ou excluídos.

CONCLUSÕES

Concluímos com esta pesquisa que as crianças hospitalizadas caracterizam-se por intensa atividade emocional, movimento e curiosidade. A educação no hospital precisa garantir a essas crianças o direito a uma infância saudável, ainda que associada à doença.

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Torna-se importante atentar para a reflexão sobre o processo de afetividade delineado no contexto pesquisado da classe hospitalar, bem para a necessidade de ouvir a fala das crianças, sobre seus gostos, anseios e necessidades.

O lúdico e a possibilidade da expressão por meio do desenho é um espaço de escuta importante na classe hospitalar, considerando as possíveis interações interdisciplinares dos profissionais que acompanham a criança no espaço da enfermaria com formações no campo da pedagogia, da psicologia que poderão contribuir para uma percepção global do aluno enfermo.

A escuta pedagógica diferente de uma escuta clínica traz a compreensão de que a oportunidade do lúdico é fundamental para os processos elaborativos da criança, sobretudo aquela que se encontra em situação de vulnerabilidade, sem que um esquema interpretativo ou psicoterapêutico seja enfatizado no ato do atendimento pedagógico. O fato de ter à mão os materiais para expressão e o professor como um incentivador desta busca elaborativa já traz ao aluno a oportunidade do uso deste espaço transacional tão importante para elaboração interna da situação vivida.

Através da pesquisa podemos explorar as contribuições particulares de crianças que se encontravam em um contexto hospitalar de forma tão enriquecedora, nos levando a pensar sobre questões muito mais abrangentes e complexas, para além da sistematização. É importante pensarmos com sensibilidade sobre as peculiaridades de cada criança em sua busca pelo conhecimento para que possamos de forma adequada mediar esse processo.

REFERÊNCIAS

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CECCIM, Ricardo B., FERLA, Alcindo. (2006) Linha de Cuidado: a imagem da mandala na gestão em rede de práticas cuidadoras para uma outra educação dos profissionais de saúde. In: Gestão em Redes: práticas de avaliação, formação e participação na saúde. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Cepesc, outubro, 2006, p.165-184.

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WALLON, Henri.(2008) Do ato ao pensamento ensaio de psicologia comparada, Petrópolis: Vozes

WINNICOTT, D.W. (1971) O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.

ZOMBINI, Edson Vanderlei; BOGUS, Cláudia Maria; PEREIRA, Isabel Maria Teixeira Bicudo; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Classe Hospitalar: a articulação da saúde e educação como expressão da política de humanização do SUS. Trabalho Educação Saúde, Rio de Janeiro, v. 10, n.1, mar/jun, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tes/v10n1/v10n1a05.pdf. Acesso em 06 out. 2015.

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