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Associações femininas católicas: a construção de identidades

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Laboratório de História Ambiental e Gênero (LHAG)/Unicentro/PPGH/PPGIDC | Anais do 2º Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – ISSN2357-9544

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Associações femininas católicas: a construção de identidades

Nadia Maria Guariza1

1 Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO

Email: nadiamguariza@gmail.com

Resumo

Em minhas pesquisas constatei que as relações entre discurso eclesiástico e o público leigo feminino se configuraram de maneira contraditória. Se por um lado, os clérigos percebiam a importância da fé comunicativa das mulheres para propagação e defesa do cristianismo e, mais tarde, do catolicismo, por outro lado, elas ocupavam um lugar secundário na instituição e na sociedade. Neste quadro, as mulheres leigas estavam submetidas a uma dupla hierarquia, uma devido a sua própria natureza e a outra por não fazerem parte dos agentes do sagrado, como diria Bourdieu (2007). Contudo, isso não significou apenas submissão por parte das mulheres, no decorrer da história do catolicismo percebe-se o engendramento constante de espaços de sociabilidades que permitiram, mesmo que nas margens, a criação. Um destes espaços de sociabilidade foram as associações leigas femininas. Em consonância com a historiografia atual foca mais em aspectos que analisam a constituição de identidades e de práticas religiosas dos mais variados grupos sociais. Pretende-se analisar as atuações das mulheres nas associações católicas em Irati nas décadas de 1930 a 1950. A metodologia adotada é qualitativa e fundamenta-se no cruzamento e análise de dados recolhidos na bibliografia e em fontes documentais, manuscritas e impressas.

Palavras-chave: Gênero – Religiosidade – associações leigas

1 Introdução

As mulheres em alguns momentos desempenharam um papel importante na Igreja Católica, contudo isso não alterou a percepção que o discurso eclesiástico difundia de que as mulheres eram seres inferiores em relação aos homens e deveriam se submeter à autoridade masculina.

Um destes momentos em que a mulher recebeu atenção especial por parte do clero, segundo os especialistas, foi o século XIX quando ocorreu a feminilização da Igreja Católica. De acordo com estes especialistas, a Igreja Católica no século XIX ao perceber que os fiéis masculinos estavam arredios ao discurso católico, começou a investir um discurso e uma prática específica para as mulheres.

Neste sentido, o início do século XX assistiu a intensificação deste processo de feminilização iniciado no século anterior, sobretudo para as mulheres leigas, pois a Igreja Católica estendeu a sua política “ofensiva-defensiva” para toda a sociedade, não apenas aos seus agentes do sagrado, padres e freiras.

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É nesse contexto, que se deve compreender o papel das associações leigas femininas nas primeiras décadas do século XX em Irati (PR), como estratégias engendradas pela Igreja para reconquistar a sociedade e, ao mesmo tempo, lugares de criação para as mulheres. O objetivo deste artigo é apresentar os resultados preliminares de uma pesquisa de levantamento de fontes na paróquia Nossa Senhora da Luz e os prováveis desdobramentos para o estudo das associações leigas femininas na cidade.

2 O CATOLICISMO DA NEOCRISTANDADE NO BRASIL

No início do século XX as encíclicas papais tendiam a culpabilizar os fiéis e a crescente laicização da sociedade pela corrupção moral dos costumes, para redimir-se os fiéis deveriam observar as obrigações e as normas da Igreja. Para conquistar a redenção se exigia do fiel uma postura moral impecável em sua vida privada, bem como, apontava para a necessidade do católico se posicionar de maneira ativa na sociedade, no sentido de, defender os dogmas e preceitos morais da Igreja.

Com a implantação do catolicismo reformador no século XIX, se ressalta a importância do clero e da hierarquia, assim como da prática individual do sacramento, por outro lado, ocorreu um processo de resistência por parte da população na implantação destas novas normas (GIORGIO, 1991, p. 220-221)

De acordo com Azzi (1978) a implantação das novas orientações romanizadas se efetivou de maneira diferente e gradual nas várias localidades nacionais, tornando o processo heterogêneo e descontínuo, sobretudo, por causa da resistência às novas normas. Um dos campos em que esse embate ocorreu foi justamente o do apostolado leigo.

Portanto, as associações leigas se configuraram como campo de negociação entre clero reformador e fiéis. Além disso, conforme os anos passam no início do século XX, a Igreja Católica compreende que os fiéis seriam importantes na defesa do catolicismo na sociedade.

Em 1903, Pio X, na encíclica Il fermo propósito, expõe os fundamentos da Ação Católica, afirmando que para restaurar Deus na sociedade é necessária a participação do fiel. Relembra as obras realizadas pela sociedade civil e as pessoas particulares para impedir a instalação de certas “propensões indisciplinadas” que causavam danos ao interesse comum, estas obras é o que se costuma designar Ação Católica.

O pontifice prossegue indicando a importância dos católicos reunidos em “seletas falanges” para fazer guerra, pelos meios justos e legais, contra a civilização anticristã, restabelecendo o princípio da autoridade humana como representante da ordem divina (1903).

Pio X, em outras encíclicas, ao tratar da Ação Católica, recorda que Leão XIII foi um dos precursores das ideias de ação social que fundamentaram a criação da Ação Católica. Segundo Riolando AZZI (1994), o catolicismo era considerado, nas décadas de 1920 e 1930, como um grande meio refreamento aos movimentos sociais, incutindo a obediência à ordem estabelecida, de acordo com a Doutrina Social da Igreja.

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Portanto, a Igreja concedia aos governos uma sociedade ordeira, impedindo os movimentos de subversão social, como o socialismo e, ao mesmo tempo, não precisando da vinculação com partidos politicos. Não obstante a não ligação direta com partidos politicos, os integrantes da Ação Católica poderiam agir conforme as ideias de alguns partidos ou tornarem-se militantes políticos. O discurso da Ação Católica suavizava os embates sociais e acobertava as diferenças sociais, a partir de fundamentos religiosos.

A aparente neutralidade do discurso católico ocorria porque ele se apoiava em argumentos religiosos considerados atemporais, ou seja, que poderiam ser válidos em qualquer contexto social, pois se fundamentavam na ordem sobrenatural das Sagradas Escrituras e nas palavras infalíveis do papa.

3 O MOVIMENTO LEIGO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Até a metade do século XX, a Igreja Católica estimulou a participação dos leigos em suas fileiras, porque desejava recuperar o poder social ameaçado pelas mudanças empreendidas pela modernidade. Nesse sentido, a Ação Católica se constituiu como um braço leigo na sociedade para defender os interesses da instituição.

O trabalho evangelizador proposto para os leigos variava segundo a idade, o gênero e a posição social. Esse trabalho evangelizador estava ancorado numa representação de mundo extremamente hierarquizada e conservadora. A hierarquia era perceptível em vários níveis sociais, seja entre clero e laicado, seja entre patrões e empregados, seja entre homens e mulheres. Portanto, a sociedade concebida por esse catolicismo conservador das primeiras décadas do século XX, era clivada por diferenças que estabeleciam relações de poder entre os grupos e se legitimava por meio de argumentos teológicos.

Desde o século XIX os papas estimularam a fundação de novas associações leigas e a reorganização de antigas associações, contudo, no século XX o tratamento dispensado a elas pelos papas se modificou, “pois além de espaço para o fiel exercer a sua fé e caridade, as associações se tornaram também um lugar de militância.” (GUARIZA, 2003)

Em 1903, Pio X, na encíclica Il fermo propósito, fica claro que o papel do leigo não estava mais restrito a sua salvação individual e à mera prática da caridade. Os cuidados morais e religiosos deveriam se estender à sociedade como se pode verificar na citação a seguir:

O campo da Ação Católica é mui vasto, pois ela, por natureza, não exclui absolutamente nada de quanto, de qualquer modo, direta ou indiretamente, pertence à missão divina da Igreja. Mui fácil é descobrir a necessidade do concurso individual a obra tão importante, não só para a santificação de nossas almas, mas também para a propagação e dilatação, sempre mais, do reino de Deus nos indivíduos, nas famílias e na sociedade (PIO X, 2903).

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Essa ação dos leigos na sociedade para difundir o “Reino de Deus e sua verdade” aos demais, poderia ser concretizada por intermédio do exercício das virtudes cristãs e da prática caritativa, mas também por meio da misericórdia espiritual e corporal.

Além de lutar contra a civilização anticristã, o fiel da Ação Católica deveria confortar os menos afortunados como a classe operária e os camponeses, infundindo em seu coração as verdades católicas e “se esforçando por enxugar-lhe as lágrimas, suavizar-lhe a condição econômica com medidas bem ajustadas; afanar-se que as leis públicas se amoldem à justiça, se corrijam e proscrevam as que lhe são contrárias” (PIO X, 1903, p. 8).

Pio XII, em 1942, ao abordar a questão da colaboração dos homens na Ação Católica, observa que primeiro o fiel deveria estabelecer o Reino de Deus em si, para depois exteriorizá-la por meio da ação apostólica, sugerindo que “... seja flor de virtude que não rescenda só dentro de vossa casa, mas derrame em torno de vós, em todos os lugares, o bom odor de Cristo e alicie muitos a seguir no eflúvio do seu perfume” (1955, p. 7).

Neste sentido, o comportamento do católico deveria exalar como um perfume que seria notado discretamente nos ambientes que passasse, o homem deveria seguir com rigor os parâmetros morais do catolicismo, desde o trajar, a linguagem até as atitudes com respeito aos outros. O homem do apostolado cristão deveria servir de exemplo aos demais, incutindo o amor e o respeito à Igreja. A analogia com o perfume demonstra que a ação do leigo deveria ser suave e sutil, arrebatando as pessoas sem que elas percebessem.

Os leigos, portanto, nas primeiras décadas do século XX, assumem um papel importante, atuando em seu cotidiano. Os fiéis, por meio do exemplo, da caridade e a difusão das “verdades católicas”, poderiam dilatar as fronteiras de poder da Igreja. Sendo assim, se organizou uma rede leiga de apoio à Igreja, criando e difundindo associações: como a Cruzada Eucarística, a União Pia das Filhas de Maria, os marianos, o apostolado da Oração, a Liga Jesus, Maria e José, a Arquiconfraria das Mães Christãs, a Associação e oficinas Santa Rita, os Vicentinos, entre outras associações.

Uma das estratégias da Igreja Católica era trazer o fiel novamente ao seio da instituição, por meio de uma vida sacramental intensa. Para tanto, o fiel era acompanhado desde pequeno pelo catecismo para aprender os dogmas, os preceitos morais e os sacramentos católicos preparando-o para a Primeira Comunhão.

Nas décadas de 1920 e 1930 o catecismo ocupou um lugar de destaque no movimento reformador. Segundo Riolando AZZI (1994, p. 36) para formar um “bom cristão” era necessário fazê-lo conhecedor da doutrina, sendo assim, o catecismo era um dos elementos básicos da ação pastoral.

Após a Primeira Comunhão a criança poderia ingressar na Cruzada Eucarística. Nesta associação ainda não havia diferenciação por gênero, porque tanto meninas quanto meninos poderiam participar. Na Cruzada Eucarística os associados mirins aprendiam o significado da abnegação crista, oferecendo mensalmente a Deus o Ramalhete Espiritual, contabilizando o número de comunhões, jejuns, confissões e missas assistidas. A prática do Ramalhete Espiritual estimulava no pequeno associado a continuidade na sua vida sacramental, regrada pelos preceitos católicos.

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As crianças permaneciam na Cruzada Eucarística até o momento em que seus corpos deixavam mais evidentes as diferenças anatômicas entre os sexos, isto é, na adolescência. A partir deste momento eram reforçados os papéis sociais de gênero, separando os rapazes, que iriam ingressar nos Congregados Filhos de Maria, mais conhecidos como marianos, das meninas, que se associariam à União Pia das Filhas de Maria1. Nestas associações eram estimulados comportamentos que a Igreja Católica

esperava do fiel, tentando introjetar a vigilância, principalmente no que dizia respeito à sexualidade (GUARIZA, 2003, p. 38).

As associações se adequavam à finalidade de controlar a impetuosidade juvenil, que tanto preocupava a Igreja. Ao ingressarem em associações específicas para a sua idade e sexo, os jovens ficavam sob a supervisão de um diretor espiritual que poderia ser o padre da paróquia; os associados deveriam observar as regras contidas no manual aprovado pelo papa, que geralmente, eram rigorosas em relação ao comportamento.

Neste sentido, as associações eram uma das formas encontradas pela Igreja para normatizar o comportamento dos jovens que nesta idade começavam a ter um contato maior com o mundo externo da casa, desenvolvendo uma vida social que incluía saraus, cinema e os namoros que poderiam despertar a sexualidade.

As moças, geralmente, ingressavam na União Pia das Filhas de Maria e permaneciam nesta associação até o casamento, como veremos adiante. No caso dos rapazes que participavam dos marianos, o casamento não era um ritual que definia a saída da associação ou sua entrada, “o que nos faz pensar que talvez a rigidez quanto à abstinência sexual antes do casamento era diferenciada para moças e rapazes”(GUARIZA, 2003, p. 39). Obviamente que havia a preocupação com a contenção sexual dos rapazes, porém no caso das moças a vigilância era mais rigorosa e seu espaço de circulação, mais restrito para manter o bom nome e a honra familiar.

Entre 1930 a 1964, segundo Riolando AZZI, a Igreja Católica orientava os pais e os educadores a formar os jovens pelos moldes tradicionais, “aprendendo a considerar o corpo como um elemento negativo, devendo, na medida do possível, ser ocultado e até mesmo negado.”(1993, p. 125) A visão negativa do corpo estava presente no discurso da Igreja Católica há séculos, porém recebeu um reforço considerável neste período para contrapor-se aos costumes liberalizantes e edonistas.

Apesar das normas para os moços serem mais brandas em comparação às das moças, do rapaz que participava dos marianos era esperado um comportamento moral exemplar no trabalho, na vida social e familiar. No mês de setembro eram realizadas as concentrações marianas por ocasião da comemoração da independência do Brasil. Nessas concentrações os rapazes encarnavam o ideal de virilidade para integrar o exército católico. Os associados dos marianos eram provenientes das famílias ricas e influentes da cidade, o que proporcionava à Igreja fortes aliados para recuperar o seu prestígio social almejado.

Outra associação leiga que garantiu forte apoio para a Igreja foi a Associação São Vicente de Paulo, Também chamada de “As Conferências de São Vicente de Paula”,

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fundada em 1833 por Antonio Frederico Ozanam com o propósito de visitar famílias pobres, fazer preces e leituras espirituais em suas habitações, assim como assisti-los com alimentos e roupas. (GIL, 2003). Apesar de ser uma irmandade que não estava submetida à autoridade da Igreja, realizava trabalhos conjuntos como a construção de hospitais e asilos, financiando essas obras e promovendo o reconhecimento dos padres locais.

Apesar de a Igreja estimular a participação dos leigos na defesa da instituição, havia diferenças entre o trabalho evangelizador de mulheres e homens. Essas diferenças estavam associadas à concepção de masculino e feminino da Igreja e da sociedade da época.

Alguns estudiosos (GIORGIO, 1991) apontam a aproximação da Igreja Católica do público feminino em meados do século XIX devido à idéia de que a mulher seria mais dócil às novas normas do catolicismo romanizado instaurado pelo Movimento Ultramontano. Nesse sentido, inúmeras publicações e associações foram organizadas para atrair esse púbico para o seio da instituição.

Porém, essa ação feminina no lar e na sociedade deveria obedecer aos limites do seu gênero, ou seja, respeitando a hierarquia entre homem e mulher. Nesse sentido, a ação evangélica feminina deveria ser persistente, porém suave e sutil. Para tanto, muitas vezes os padres recorriam ao exemplo de Maria de Nazaré, que apesar de ser superior a José no plano divino, na vida terrena o obedecia com humildade (GUARIZA, 2003, p. 82).

4 A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA LUZ EM IRATI E AS ASSOCIAÇÕES LEIGAS

A igreja Nossa Senhora da Luz foi a primeira a ser construída em Irati no ano de 1931, substituindo a capela que existia com a mesam denominação. Apesar da solicitação dos irmãos vicentinos, responsáveis pela futura paróquia, de denominar a nova igreja de São Vicente de Paulo, Dom Antônio, bispo de Ponta Grossa, resolveu acolher o pedido dos fiéis em manter o nome de Nossa Senhora da Luz (BATISTA NETO, 2004, p. 64-65).

O primeiro pároco foi Paulo Warkocz tomando posse em 15 de março de 1931, a construção do prédio da paróquia não foi realizada de imediato, levantou-se uma parede de mais ou menos 1 metro de altura em torno do que levantou-seria a igreja. Criando mato e inconcluida durante anos, por falta de recursos para as obras (BATISTA NETO, 2004, p. 65).

Do levantamento da documentação na Igreja Nossa Senhora da Luz encontrou-se as seguintes fontes:

Tipo de fonte Período

Congregação mariana I

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Tabela 1: Levantamento de fontes igreja Nossa Senhora da Luz

Pela documentação disponível é perceptível que para escrever sobre a história das mulheres que participaram do movimento leigo na cidade de Irati será necessário o emprego da história oral, porque o conteúdo das atas das associações apenas contém informações sobre o número de doações e atividades de piedade e de caridade, para sabermos mais sobre o significado desta participação será necessário o mapeamento de possíveis entrevistadas que ainda estejam vivas e/ou de suas descendentes. De qualquer forma, é possível traçarmos uma breve narrativa sobre a história dos movimentos leigos ligados à igreja Nossa Senhora da Luz em Irati.

Os movimentos leigos vinculados à igreja Nossa Senhora da Luz começaram com a vinda do padre Tadeu Dziedzic em 23 de dezembro de 1931, sendo assim, no natal deste ano foi criada a União Pia das Filhas de Maria em Irati, a sua criação estava associada à presença das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo (BATISTA NETO, 2004, p. 66).

A associação das Filhas de Maria foi fundada em 1837 na paróquia de Sf Pierre du Gross, em Paris, e sua organização estava associada às aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré (1830). O seu manual foi escrito em 1848 e a associação se tornou União Pia em 1864 pela interferência do p. E Passèri (GIL, 2003).

Das moças da União Pia das Filhas de Maria, segundo Trindade (1996, p. 27), era esperado um comportamento exemplar, o cuidado com o vestuário e o comportamento era considerado essencial, delas era cobrado a obediência, o recato, o decoro e a pureza sexual, qualquer comportamento que pudesse macular a sua auréola virginal deveria ser evitado, comprometendo as possibilidades de enlace matrimonial.

A suposta pureza sexual era critério para a participação das moças da associação, por isso, na ocasião do casamento, elas deveriam entregar a sua fita azul, símbolo das Filhas de Maria, antes da cerimônia, após o casamento elas não poderiam mais participar da associação. Para as mulheres casadas havia outras associações, como a Arquiconfraria das mães cristãs, a oficina de caridade Santa Rita e o Apostolado da Oração entre outras.

Em Irati o Apostolado da Oração foi criado em 1932, após uma reunião na casa paroquial com o pe. Paulo Warkocz e, posteriormente uma reunião na matriz para a

Filhas de Maria 1948-1952 Cruzada Eucarística 1948-1963 Apostolado da Oração III (masculino) 1962-1965 Livro Damas de Caridade 1978-2009

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escolha da diretoria. A primeira diretoria era composta por: presidente Jusima Ramos Neiva de Lima, vice presidente Geny Viana Veiga, secretária Luiza Varella e tesoureira Rosinha Niepce da Silva sob a direção espiritual do pe. Paulo (BATISTA

NETO, 2004, p. 67).

O padre Gautrelet, em 1846, editou um opúsculo em que expunha o propósito e a organização do Apostolado da Oração. Havia três graus de associados; o primeiro que se limitava ao exercício essencial que era o oferecimento cotidiano dos seus atos ao Coração de Jesus; o segundo que, além do exercício essencial incluía a prece ao Coração de Maria; e o terceiro que incluía a prática da comunhão reparadora peo menos uma vez por semana. Em 1849, o Papa Pio IX concedeu a aprovação da associação.

Segundo Batista Neto (2004) em fevereiro de 1932 aconteceu a primeira missa e comunhão geral das associadas do Apostolado em Irati, contudo apenas em julho que elas receberam a fita vermelha com a medalha do Sagrado Coração de Jesus, símbolo do Apostolado. De acordo com o autor o Apostolado teve um grande desenvolvimento na cidade, chegando num período a contar com 400 membros.

Em 1933 foi fundada à Associação das Damas de Caridade de Irati, de acordo com seu estatuto esta associação pretende congregar senhoras católicas para o exercício da piedade e da caridade em nome de Cristo. Em Irati as sócias fundadoras e que compunham a diretoria foram: presidente Jusina M. Neiva de Lima, vice presidente Helena Xavier da Silveira, secretária Judith Guedes da Costa, tesoureira Hermínia Branco Pereira e associadas: Mauricila Hilgemberg, Matilde Anciutti Pessoa, Senhorinha Lopes, Antonia Thomaz e Emília Born (BATISTA NETO, 2004, p. 69).

As Damas de Caridade realizaram seus trabalhos durante 50 anos na cidade de Irati, entre as atividades das associadas estavam: visita aos lares, aos enfermos e a distribuição de alimentos aos necessitados. Durante este período foram dirigidas espiritualmente pelas irmãs e irmãos vicentinos (BATISTA NETO, 2004, p. 69).

As atividades das damas de caridade estavam em consonância com a concepção católica da maternidade material e espiritual das mulheres, sendo assim, estas mulheres poderiam circular pela cidade e por vários lugares, porque estavam realizando uma atividade própria da “natureza” feminina, o cuidado com o outro, qualidade feminina devido aos instintos maternos.

Outras associações foram desenvolvidas na paróquia Nossa Senhora da Luz desde a sua criação como a Congregação Mariana e a Associação Anjo da Guarda. Contudo, este artigo pretendia apenas abordar as associações femininas na cidade, ficando para outra oportunidade a análise destas outras associações.

5 Considerações finais

É perceptível que a análise dos movimentos leigos, tanto femininos quanto masculinos, ligados à paróquia Nossa Senhora da Luz terá que contar com a história oral, procurando mulheres e homens que participaram destes movimentos. A situação se agrava da outra igreja da cidade chamada São Miguel, porque lá nem ao menos a documentação dos livros atas e livro tombo foram encontradas. De maneira geral,

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percebe-se o pouco cuidado com a preservação da memória nas paróquias da cidade, a igreja Nossa Senhora da Luz por ser a primeira de Irati oferece um conjunto de documentos mais antigos, contudo restrito.

Referências

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AZZI, Riolando. A Neocristandade: um projeto restaurador. São Paulo: Paulus, 1994. AZZI, Riolando. Família, mulher e sexualidade na Igreja do Brasil (1930-1964). In: MARCÍLIO, Maria Luiza (Org.). Família, mulher, sexualidade e Igreja na História do

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BATISTA NETO, Herculano. Nossa Senhora da Luz de Irati (1904-2004). Curitiba: Gráfica Optagraf, 2004.

GIL, Benedito Miguel. Os cursilhos e a reprodução do catolicismo europeu nas

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GIORGIO, Michela de. O modelo católico. In: PERROT, Michele (org.). História das

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GUARIZA, Nadia Maria. As guardiãs do lar: a valorização maternal no discurso ultramontano. Curitiba, 2003, p. 148. Dissertação (Mestrado em História), Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. UFPR.

GUARIZA, Nadia Maria. Incorporação e (re)criação nas margens: trajetórias femininas no catolicismo nas décadas de 1960 e 1970. Curitiba, 2009. p. 269. Tese (Doutorado em História), Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. UFPR.

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TRINDADE, Etelvina Maria de Castro. Clotildes e Marias: mulheres de Curitiba na Primeira República. Curitiba: Farol do Saber, 1996.

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