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lauda 1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE SÃO PAULO FORO CENTRAL CÍVEL 43ª VARA CÍVEL SENTENÇA

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SENTENÇA Processo Digital nº: 1094053-25.2015.8.26.0100

Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Sandro Antonio Martins Taboa e outro

Requerido: Plano Aroeira Empreendimentos Imobiliários Ltda. (Plano & Plano Construções e Participações Ltda.)

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Rodolfo César Milano

Vistos.

Trata-se de demanda proposta por SANDRO ANTONIO MARTINS TABOA e GLÓRIA MANE NOVOA LOPEZ em face de PLANO AROEIRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (PLANO & PLANO CONSTRUÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA), em que pretendem o desfazimento de compromisso de compra e venda e a restituição das quantias pagas. Os autores afirmam que, em 19 de abril de 2013, celebraram com a ré um compromisso de compra e venda tendo por objeto um bem imóvel. Aduzem ter pago até o presente momento: a) R$ 44.277,24 (quarenta e quatro mil duzentos e setenta e sete reais e vinte e quatro centavos), relativos ao preço específico do bem; b) R$ 16.104,15 (dezesseis mil cento e quatro reais e quinze centavos), a título de comissão de corretagem; c) R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), a título de taxa SATI.

Alegam, contudo, que não mais detêm condições financeiras para suportar o adimplemento das obrigações derivadas do aludido compromisso de compra e venda. No entanto, ao solicitarem a rescisão do contrato, foram informados que a ré devolveria somente cerca de 20% do valor pago.

Postulam os autores o desfazimento do contrato, bem como a restituição do correspondente a 90% da quantia paga a título de preço do imóvel. Pleiteiam, ainda, a restituição integral dos valores pagos a título de comissão de corretagem e taxa SATI, por reputar tais encargos como abusivos. Asseveram, por fim, que todos os valores desejados devem ser

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devolvidos de uma única vez.

Regularmente citada (fl. 106), a ré ofereceu contestação às fls. 107/127, alegando, em preliminar, a ilegitimidade passiva. No mérito, não se opõe à extinção do compromisso de compra e venda. Aduz que o desfazimento do contrato se deu por fato imputável aos autores. Quanto à importância a ser restituída em razão do desfazimento da avença, defende a legitimidade das disposições contratuais pertinentes, em especial a Cláusula X-3 (fl. 50). No que diz respeito à comissão de corretagem e à taxa SATI, alega a ré, sem prejuízo, ser lícita a transferência desses encargos aos autores, visto que tais pagamentos são lícitos, estavam previstos em contrato e, no caso específico da comissão de corretagem, houve efetiva utilização dos serviços do corretor presente no local de vendas do empreendimento. Desse modo, tendo tais serviços sido efetivamente prestados, não há, em relação a eles, hipótese de restituição. As quantias referentes à SATI e à corretagem, ademais, foram recebidas por terceiros, não podendo a ré ser condenada a devolver numerário que jamais possuiu. Requer a ré, ao final, o julgamento de improcedência do pedido.

Os autores apresentaram réplica às fls. 196/224.

Instadas as partes a especificarem provas (fl. 225), ambas se manifestarem favoravelmente ao julgamento antecipado do mérito (fls. 227/228 e 229).

O processo foi suspenso para aguardo do julgamento do Recurso Especial nº 1.551.956/SP, analisado sob o rito dos recursos repetitivos (fl. 230). Após resolução do apelo especial, determinou-se a manifestação dos autores nos termos do artigo 1.040, inciso III, do CPC (fl. 327), tendo os integrantes do polo ativo reiterado os termos de sua inicial (fls. 329/335).

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

O feito comporta julgamento antecipado ante a desnecessidade de produção de outras provas, de conformidade com o artigo 355, I, do Código de Processo Civil.

A hipótese dos autos aborda, entre outras questões, discussão quanto à restituição de valores relativos à comissão de corretagem e à taxa SATI pagos por comprador de imóvel adquirido na planta, bem como o prazo prescricional aplicável a tais pedidos de restituição.

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Convém, portanto, trazer à baila as teses fixadas pelo C. STJ, sob o rito dos recursos repetitivos (artigos 1.036 e seguintes do CPC), no que pertine à matéria discutida no presente feito.

Quanto ao tema nº 938 (recursos especiais representativos da controvérsia nº 1.599.511/SP e 1.551.956/SP), estabeleceu o C. STJ: (i) incidência da prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (artigo 206, § 3º, IV, CC) vide REsp n. 1.551.956/SP; (ii) Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem vide REsp 1.599.511/SP; (ii, parte final) Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel vide REsp 1.599.511/SP.

Como se depreende pela leitura dos Recursos Especiais mencionados, no que tange ao tema nº 938, considerou o C. STJ que o serviço de corretagem é autônomo em relação à compra e venda e é, também, efetivamente prestado por profissionais contratados pela incorporadora. Tais profissionais corretores permanecem no estande de vendas, em que atendem eventuais interessados e se dedicam a obter a celebração do negócio, como prevê o artigo 722 do Código Civil.

No REsp 1.599.511/SP, concluiu-se que, quanto ao serviço de corretagem, a incumbente e, portanto, responsável originária pelo pagamento da comissão do corretor, é a incorporadora. Definiu-se, entretanto, ser lícito às partes estabelecer, no contrato de compra e venda, que a remuneração do corretor será arcada pelo comprador.

De forma prática, notaram os Srs. Ministros que, por uma simples questão econômica, a remuneração do corretor seria, de uma forma ou de outra, repassada ao comprador. Em verdade, a incorporadora só mantém interesse em continuar prestando seus serviços se com eles obtiver lucro, e isso apenas ocorre se o preço da venda superar seus custos estando entre estes, obviamente, a comissão do corretor contratado.

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fornecedor. Para que haja licitude na transferência do encargo decorrente da corretagem ao consumidor, é necessário que o contrato de compra e venda especifique o valor da corretagem de forma destacada em relação ao preço total da aquisição, a fim de se evitar que, após a celebração da venda, seja o consumidor surpreendido com a notícia de que terá de suportar comissão de corretagem inicialmente não prevista.

A taxa de assessoria técnica-imobiliária (SATI), de seu lado, foi entendida como abusiva em qualquer situação, uma vez que não remunera nenhum serviço autônomo e específico. Prestar informações ao consumidor é obrigação inerente ao contrato e dever imposto ao fornecedor por lei (artigos 31, 46 e 52 do CDC, além da boa-fé objetiva consagrada no artigo 422 do CC), inexistindo razão que justifique a cobrança de valores destacados do preço final do bem.

Entenderam os Srs. Ministros no REsp 1.551.956/SP, por fim, que os pedidos de restituição das quantias pagas indevidamente a título de taxa SATI e comissão de corretagem estariam fundamentadas na alegação de pagamento indevido, o que representaria enriquecimento sem causa da empresa que deles se beneficiou na hipótese, a incorporadora. Nesses termos, o prazo prescricional aplicável a tal pretensão seria o trienal, na forma do artigo 206, § 3º, inciso IV, do CC.

Estabelecidas essas premissas, passa-se à apreciação do caso concreto.

Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva. Pela teoria da asserção, em vista do quanto alegado na inicial, defendem os autores que a ré é responsável pela restituição dos valores correspondentes à taxa SATI e à comissão de corretagem. É o que basta para se reputar a ré como parte legítima para responder ao pedido, relegando-se ao mérito a análise se, efetivamente, cabe a ela restituir as quantias indicadas pelos autores.

Superada a questão preliminar, tem lugar a apreciação do mérito.

Inicia-se a análise pelo pedido de restituição integral dos valores despendidos com a comissão de corretagem e a taxa SATI.

De acordo com as teses fixadas pelo C. STJ, explanadas no decorrer da fundamentação desta sentença, a cobrança da taxa SATI se revela abusiva e o mesmo ocorrerá com relação à comissão de corretagem, caso não seja apresentado ao consumidor o valor total da compra, com destaque da quantia paga a título de comissão ao corretor.

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Na hipótese em comento, nem o “Quadro Resumo” nem as “Condições Gerais” do contrato (fls. 31/61) mencionam o valor que deveria ser pago pela corretagem, havendo, desse modo, abusividade na transferência desse encargo ao promitente-comprador.

Nesse particular, embora a ré tenha apresentado, à fl. 157, cópia de oferta em que o valor da corretagem é apresentado de forma destacada do preço do imóvel, não há prova de que tal oferta foi apresentada aos autores no momento da contratação.

O mesmo STJ estabeleceu, sem prejuízo, que o prazo prescricional para o pedido de restituição das quantias pagas em razão da comissão de corretagem e da taxa SATI é de três anos, eis que o pleito é fundado no enriquecimento sem causa (artigo 206, § 3º, inciso IV, CC).

Pelo princípio da actio nata, consagrado no artigo 189 do Código Civil, a pretensão surge no momento em que violado o direito do seu titular. Impõe-se reconhecer que o direito dos autores foi violado no momento em que deles exigidos os valores referentes à taxa SATI e à corretagem no caso, 19/04/2013 (fls. 62/70).

Tendo a demanda sido ajuizada em 14/09/2015, cerca de dois anos e cinco meses após os pagamentos em questão, conclui-se ser viável a pretensão para a restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa SATI, afastando-se eventual alegação de prescrição.

Além disso, uma vez que tais quantias foram pagas pelos autores em razão de conduta abusiva da ré, caberá a esta a restituição, que deverá ser integral.

Passa-se ao derradeiro pedido dos autores, referente ao desfazimento do contrato e à restituição de 90% do numerário pago a título de preço do imóvel ou seja, excetuados os valores destinados à SATI e à corretagem.

É pacífico o tema atinente à possibilidade de desfazimento do compromisso de compra e venda de imóvel a pedido do compromissário comprador em razão da sua impossibilidade financeira de arcar com as obrigações pecuniárias assumidas.

Vigoram na espécie as máximas da função social do contrato (Código Civil, artigo 421) e da boa-fé objetiva (Código Civil, artigo 422, e Código de Defesa do Consumidor, artigo 4º, inciso III).

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Em nosso Estado, o Tribunal de Justiça definiu, em sua Súmula 01, que "o compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e propaganda feitos pelo compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem."

O Superior Tribunal de Justiça, desde longa data, também admite o desfazimento do compromisso de compra e venda a pedido do compromissário comprador inadimplente. Vide, por todos: REsp 132903/SP - Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR - T4 - QUARTA TURMA - DJ 19/12/1997 p. 67507 - LEXSTJ vol. 106 p. 220 - RSTJ vol. 106 p. 334; EREsp 59870/SP - Ministro BARROS MONTEIRO - S2 - SEGUNDA SEÇÃO - DJ 09/12/2002 p. 281 - RSTJ vol. 171 p. 206; REsp 407401/MG - Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR - T4 - QUARTA TURMA - DJ 02/09/2002 p. 198; REsp 109331/SP - Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR - T4 - QUARTA TURMA - DJ 31/03/1997 p. 9638 - JBCC vol. 181 p. 96.

Na hipótese em julgamento há, na realidade, uma inversão dos papéis no que concerne à propositura da demanda. De fato, ao invés de o promitente vendedor postular em juízo a resolução do contrato, com espeque no artigo 475 do Código Civil, o devedor inadimplente ou em vias de ser tornar vem a juízo e postula o desfazimento da avença com fundamento na impossibilidade de arcar com as prestações do contrato.

Nesta seara, a questão mais tormentosa diz respeito ao quantum a ser restituído ao compromissário comprador. Como regra geral, o desfazimento do contrato conduz as partes ao estado imediatamente anterior à sua celebração (status quo ante), com a restituição das obrigações prestadas, a fim de se evitar o enriquecimento indevido. Porém, quando o desfazimento da avença tem por suporte o inadimplemento culposo do compromissário comprador, não há falar-se em restituição integral das prestações, sob pena de enriquecimento indevido do devedor faltoso.

Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça pacificou a questão e editou o verbete sumular 543 segundo o qual: “Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.” (grifei).

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A súmula, entretanto, ao deixar de especificar o quantum a ser restituído, não resolve o problema em seu todo nem deveria. A definição do valor deve se dar em cada caso concreto, tendo em conta as suas particularidades, e sempre com os olhos voltados aos postulados do equilíbrio das relações jurídicas de consumo (CDC, artigo 4º, III) e da vedação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, iníquias ou abusivas (CDC, artigos 6º, V; 51, IV e § 1º, incisos I, II e III).

Diante dessas particularidades, sobretudo em vista do equilíbrio que deve informar as relações entre consumidores e fornecedores (CDC, artigo 4º, III), o cálculo do valor a ser restituído deve ser parametrizado pelas despesas derivadas da própria celebração do negócio jurídico pelo promitente vendedor e também por aquelas advindas do seu desfazimento anormal.

E dando revista na realidade jurídica da jurisprudência cristalizada pelo Superior Tribunal de Justiça, podemos concluir que este Sodalício admite a retenção pelo promitente vendedor de até 25% das prestações pagas pelo compromissário comprador.

À guisa de exemplo:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PROMESSA. COMPRA E VENDA. DESISTÊNCIA. PROMITENTE COMPRADOR. VALORES PAGOS. RESTITUIÇÃO. RETENÇÃO. 25% (VINTE E CINCO POR CENTO). JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. DECISÃO JUDICIAL. PARCIAL PROVIMENTO. 1. Não é deficiente em sua fundamentação o julgado que aprecia as questões que lhe foram submetidas, apenas que em sentido contrário aos interesses da parte. 2. A desistência do promitente comprador, embora admitida por esta Corte, rende ao promitente vendedor o direito de reter até 25% (vinte e cinco por cento) dos valores por aquele pagos a qualquer título, desde que não supere o contratualmente estipulado. 3. "Na hipótese de resolução contratual do compromisso de compra e venda por simples desistência dos adquirentes, em que postulada, pelos autores, a restituição das parcelas pagas de forma diversa da cláusula penal convencionada, os

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juros moratórios sobre as mesmas serão computados a partir do trânsito em julgado da decisão." (Resp 1008610/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/03/2008, DJe 03/09/2008). 4. Agravo regimental a que se dá parcial provimento. (AgRg no REsp 927433/DF - Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI - T4 - QUARTA TURMA - DJe 28/02/2012).

DIREITO CIVIL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. DESISTÊNCIA. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. RETENÇÃO DE 25% A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO. 1. O entendimento firmado no âmbito da Segunda Seção é no sentido de ser possível a resilição do compromisso de compra e venda, por parte do promitente comprador, quando se lhe afigurar economicamente insuportável o adimplemento contratual. 2. É direito do consumidor, nos termos da jurisprudência cristalizada da Corte, a restituição dos valores pagos ao promitente vendedor, sendo devida a retenção de percentual razoável a título de indenização, o qual ora se fixa em 25% do valor pago. 3. Recurso especial provido. (REsp 702787/SC - Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO - T4 - QUARTA TURMA - DJe 08/06/2010 - LEXSTJ vol. 251 p. 88).

PROMESSA DE VENDA E COMPRA. RESILIÇÃO. DENÚNCIA PELO COMPROMISSÁRIO COMPRADOR EM FACE DA INSUPORTABILIDADE NO PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES. RETENÇÃO PELA VENDEDORA DE 25% NA DEVOLUÇÃO DO QUE FOI PAGO AO COMPRADOR. IMÓVEL NÃO OCUPADO PELO COMPRADOR. 1.- A tese sustentada pela Embargante é a de que o percentual de 25% previsto na jurisprudência da Corte, já leva em conta ressarcimento pela "ocupação/utilização da unidade por algum período e desgaste do imóvel". Desse modo, quando ainda não entregue a

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unidade imobiliária, deve ser reduzido o percentual de retenção. 2.- O percentual de retenção tem caráter indenizatório e cominatório. E não há diferenciação entre a utilização ou não do bem ante o descumprimento contratual e também não influi nas "despesas gerais tidas pela incorporadora com o empreendimento" (EREsp 59.870/SP, Rel. Min. BARROS MONTEIRO, DJ 9.12.2002). 3.- Continuidade da adoção do percentual de 25% para o caso de resilição unilateral por insuportabilidade do comprador no pagamento das parcelas, independentemente da entrega/ocupação da unidade imobiliária, que cumpre bem o papel indenizatório e cominatório. 4.- Embargos de divergência improvidos. (EAg 1138183/PE - Ministro SIDNEI BENETI - S2 - SEGUNDA SEÇÃO - DJe 04/10/2012).

Na espécie vertente, as consequências jurídicas do inadimplemento do compromissário comprador vêm disciplinadas na Cláusula X-3 (fl. 50).

Denota-se que a ré defende a legalidade da referida cláusula, no que concerne à retenção do porcentual abordado, com base no princípio da intangibilidade do conteúdo contratado, visto que, em seu entendimento, o pacto de vontade, uma vez celebrado, faz lei entre as partes (pacta sunt servanda). Contudo, com o advento do atual Código de Defesa do Consumidor, houve um grande abrandamento dessa regra milenar, tal como na relação em comento.

A esse respeito, Nelson Nery Júnior nos ensina que “No que respeita aos aspectos contratuais da proteção do consumidor, o CDC rompe com a tradição do direito privado, cujas bases estão assentadas no liberalismo que reinava da época das grandes codificações européias do século XIX, para: relativizar o princípio da intangibilidade do conteúdo do contrato, alterando sobremodo a regra milenar expressa pelo brocardo “pacta sunt servanda” e enfatizar o princípio da conservação do contrato (art. 6º, nº V); instituir a boa-fé como princípio basilar informador das relações de consumo (art. 4º, caput e nº III; art. 51, nº IV); c) impor ao fornecedor o dever de prestar declaração de vontade (contrato) se tiver veiculado oferta, apresentação ou publicidade (art. 30); d) estabelecer a execução específica da oferta como regra (arts. 35, nº I, e 84, § 1º),

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deixando a resolução em perdas e danos da obrigação de fazer como inadimplida como expediente subsidiário, a critério exclusivo do consumidor (arts. 35, nº III, e 84, § 1º), apenas para dar alguns dos mais significativos exemplos da inovação e modificação das regras privatísticas até então vigentes para as relações de consumo, normas essas revisitadas pelo sistema do CDC. Isso porque as regras tradicionais do direito privado, fundadas na dogmática liberal do século XIX, não mais atendem às necessidades das relações jurídicas de hoje, notadamente em se tratando de negócios jurídicos de massa, realizados sob a forma de contratos padronizados e de adesão” (“Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto”, Ed. Forense Universitária, 2ª edição, 1992, págs. 273 e 274).

Desse modo, no que diz respeito às cláusulas que impõem onerosidade excessiva ao consumidor, faz-se necessário invocar o artigo 51, inciso IV, da Lei Consumerista, o qual preceitua que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações consideradas iníquas e abusivas, bem como as que colocam o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, aquelas incompatíveis com a boa fé e a equidade.

Por esse motivo, não são válidos os argumentos inerentes às condições contratuais ora levantados pela ré, visto se basearem em princípio jurídico que não mais se coaduna com as disposições vigentes no Código de Defesa do Consumidor.

Diante da abusividade do contrato em voga, afasto a Cláusula X-3 do presente contrato, a fim de determinar percentual de restituição mais justo noventa por cento do total pago a título de preço do imóvel, atendo-se aos princípios de equidade e proporcionalidade.

Importante ressaltar que, na espécie vertente, os autores não chegaram a ocupar o imóvel, pelo que não há falar-se em pagamento da taxa de fruição.

Observado, ainda, que consoante decidido pelo STJ "na hipótese de resolução contratual do compromisso de compra e venda por simples desistência dos adquirentes, em que postulada, pelos autores, a restituição das parcelas pagas de forma diversa da cláusula penal convencionada, os juros moratórios sobre as mesmas serão computados a partir do trânsito em julgado da decisão." (REsp 1008610/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/03/2008, DJe 03/09/2008).

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compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição” (Súmula 2 do TJSP). Este também é o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça ao julgar o REsp 1300418/SC submetido ao regime de julgamentos repetitivos (CPC, artigo 543-C):

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA DE IMÓVEL. DESFAZIMENTO. DEVOLUÇÃO DE PARTE DO VALOR PAGO. MOMENTO. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: em contratos submetidos ao Código de Defesa do Consumidor, é abusiva a cláusula contratual que determina a restituição dos valores devidos somente ao término da obra ou de forma parcelada, na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel, por culpa de quaisquer contratantes. Em tais avenças, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento. 2. Recurso especial não provido. (REsp 1300418/SC - Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO - S2 - SEGUNDA SEÇÃO - DJe 10/12/2013).

Dessa forma, receberão os autores 90% do numerário que despenderam para o pagamento do preço da unidade autônoma até o momento, excetuadas as quantias correspondentes à corretagem e à taxa SATI, que serão restituídas de forma integral. A devolução, outrossim, deverá ocorrer em parcela única, nos ditames da Súmula 02 do TJSP. A incidência de correção monetária deverá se dar a partir do pagamento de cada parcela respectiva do preço, da corretagem e da SATI, uma vez que se trata de mera recomposição do valor da moeda, e os juros de mora incidirão: (i) para os valores referentes à comissão de corretagem e à taxa SATI, a partir da citação, nos termos requeridos pelos autores, tendo em vista a abusividade da conduta da ré; (ii) para a monta de 90% do preço pago, a partir do trânsito em julgado desta sentença, em atenção ao

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entendimento do C. STJ.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido, para os exatos fins de:

A) declarar resolvido o compromisso de compra e venda celebrado entre as partes, em razão da desistência dos autores;

B) condenar a ré ao pagamento de R$ 16.254,14 (dezesseis mil duzentos e cinquenta e quatro reais e quatorze centavos, sendo R$ 16.101,14 referentes à comissão de corretagem e R$ 150,00 referentes à taxa SATI), com incidência de correção monetária, nos termos da Tabela Prática do E. TJSP, a partir do desembolso do valor mencionado, além do acréscimo de juros de mora de 1% ao mês, contados a partir da data da citação;

C) condenar a ré ao pagamento de R$ 39.849,52 (trinta e nove mil oitocentos e quarenta e nove reais e cinquenta e dois centavos, correspondentes a 90% da quantia de R$ 44.277,24, despendida pelos autores para pagamento do preço do imóvel), com incidência de correção monetária, nos termos da Tabela Prática do E. TJSP, a partir do pagamento de cada parcela respectiva do preço, além do acréscimo de juros de mora de 1% ao mês, contados a partir do trânsito em julgado desta sentença.

Em razão da sucumbência, condeno a ré, ainda, ao pagamento das custas e despesas processais, bem como de honorários advocatícios, que arbitro em 10% do valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 2º, do CPC.

P.I.

São Paulo, 30 de novembro de 2016.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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