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02/07/2020

Número: 1000614-95.2019.8.11.0080

Classe: RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Órgão julgador: 4ª VARA CÍVEL DE RONDONÓPOLIS Última distribuição : 10/09/2019

Valor da causa: R$ 6.080.059,56

Assuntos: Recuperação judicial e Falência Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado SUPER MAIS COMERCIO DE PRODUTOS ALIMENTICIOS

LTDA (AUTOR(A))

ISABELLA FANINI FRANKLIN (ADVOGADO(A)) VITTOR ARTHUR GALDINO (ADVOGADO(A)) AUGUSTO MARIO VIEIRA NETO (ADVOGADO(A)) CLOVIS SGUAREZI MUSSA DE MORAES registrado(a) civilmente como CLOVIS SGUAREZI MUSSA DE MORAES (ADVOGADO(A))

CREDORES (REU) SIRLEI CABRAL MORAIS (ADVOGADO(A)) NATHALIA GOMES PLA (ADVOGADO(A)) BANCO BRADESCO (REU) MAURO PAULO GALERA MARI (ADVOGADO(A))

CRISTIANA VASCONCELOS BORGES MARTINS (ADVOGADO(A))

COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE ASSOCIADOS DO ARAGUAIA E XINGU - SICREDI ARAXINGU (REU)

ANDRE DE ASSIS ROSA (ADVOGADO(A))

QUIMICA AMPARO LTDA (REU) SANDRO RICARDO LENZI (ADVOGADO(A))

THIAGO CHIAVEGATTO IADEROZA (ADVOGADO(A)) BANCO TOPAZIO S.A. (REU) HARRISSON FERNANDES DOS SANTOS (ADVOGADO(A)) BANCO TRIANGULO S/A (REU) WILLIAM CARMONA MAYA (ADVOGADO(A))

SANREMO S/A (REU) RITA PERONDI (ADVOGADO(A))

REI ALIMENTOS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA (REU) SIRLEI CABRAL MORAIS (ADVOGADO(A)) TRIUNFANTE MATOGROSSENSE ALIMENTOS LTDA (REU) ALAN CARLOS ORDAKOVSKI (ADVOGADO(A)) BOMBRIL S/A (REU) NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES registrado(a)

civilmente como NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES (ADVOGADO(A))

IRMAOS DOMINGOS LTDA (REU) José Sebastião de Campos Sobrinho (ADVOGADO(A)) ROBERTO ZAMPIERI (ADVOGADO(A))

DEYCON COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA (REU) AMANDA PEGORARO (ADVOGADO(A)) JONATHAN CLOVIS CIELO (ADVOGADO(A))

AGRITEX COMERCIAL AGRICOLA LTDA (REU) CAMILA SCHNEIDER GARCIA SALAMONI (ADVOGADO(A)) PASTIFICIO ARAGUAIA LTDA (REU) ANA LUCIA DA SILVA (ADVOGADO(A))

LATICINIOS BELA VISTA LTDA (REU) SAMI ABRAO HELOU (ADVOGADO(A))

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GOIASMINAS INDUSTRIA DE LATICINIOS LTDA (REU) THAIZA NOVOA TEIXEIRA (ADVOGADO(A)) FELIPE CARDOSO DA FREIRIA (ADVOGADO(A)) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO

(CUSTOS LEGIS)

REINALDO CAMARGO DO NASCIMENTO (ADMINISTRADOR(A) JUDICIAL)

REINALDO CAMARGO DO NASCIMENTO (ADVOGADO(A))

MUNICIPIO DE RONDONOPOLIS (TERCEIRO INTERESSADO)

ESTADO DE MATO GROSSO (TERCEIRO INTERESSADO) FAZENDA NACIONAL - MINISTERIO DA FAZENDA (TERCEIRO INTERESSADO) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 34273 743 02/07/2020 16:01 Decisão Decisão

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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO

4ª VARA CÍVEL DE RONDONÓPOLIS

DECISÃO

Processo: 1000614-95.2019.8.11.0080.

AUTOR(A): SUPER MAIS COMERCIO DE PRODUTOS ALIMENTICIOS LTDA

REU: CREDORES, BANCO BRADESCO, COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE ASSOCIADOS DO ARAGUAIA E XINGU - SICREDI ARAXINGU, QUIMICA AMPARO LTDA, BANCO TOPAZIO S.A., BANCO TRIANGULO S/A, SANREMO S/A, REI ALIMENTOS

INDUSTRIA E COMERCIO LTDA, TRIUNFANTE MATOGROSSENSE ALIMENTOS LTDA, BOMBRIL S/A, IRMAOS DOMINGOS LTDA, DEYCON COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA, AGRITEX COMERCIAL AGRICOLA LTDA, PASTIFICIO ARAGUAIA LTDA, LATICINIOS BELA VISTA LTDA, A A DO PRADO & CIA LTDA - ME, COMERCIAL DE ALIMENTOS GLOBO LTDA, DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS ALIMENTICIOS SANTO ANDRE LTDA, GOIASMINAS INDUSTRIA DE LATICINIOS LTDA

Vistos e examinados.

Cuida-se de petição da recuperanda (Id 32815598) onde requer a prorrogação do período de blindagem até a decisão que homologará o plano de recuperação judicial ou até a deliberação definitiva acerca do plano, em assembleia geral de credores; além de autorização para a apresentação de um novo plano de recuperação judicial, sob o argumento de que fora afetada pela crise econômico financeira vivenciada em razão da pandemia da Covid-19, com impacto direto em todos os números considerados no plano anterior.

DECIDO.

DA PANDEMIA DA COVID-19 E OS PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.

Como é de conhecimento público, aos 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde publicou declaração de pandemia em relação ao novo Coronavírus – COVID-19, que já infectou vultoso número de pessoas e as acometeu de forma severa e drástica, resultando em elevadíssimo número de mortes por todos os países e notório colapso nos sistemas de saúde; em nosso país, também atingido pela disseminação do vírus, o estado de calamidade foi declarado pelo Decreto Legislativo nº 6 de 20 de março de 2020.

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A datar de tais documentações, e ante o cenário trágico que rapidamente se alastrou por todo o mundo, os órgãos públicos e a iniciativa privada, em diversos setores, passaram a estabelecer e adotar inúmeras medidas tendentes a evitar maior proliferação de contaminação do vírus, tais como o distanciamento social, a restrição da circulação de pessoas, a proibição de aglomerações, o fechamento do comércio e atividades econômicas não essenciais, além de tudo o mais que se mostrasse efetivo a evitar o contato humano e preservar a saúde da população.

No âmbito do Poder Judiciário o contexto não foi outro e, de modo igualitário, o Conselho Nacional de Justiça, os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça e os Juízes Diretores dos Foros sem demora baixaram vários Atos, Resoluções e Portarias regulamentando as medidas temporárias de prevenção ao contágio pela COVID-19, dentre elas o teletrabalho (home office), o fechamento das portas dos prédios dos Tribunais e Fóruns, e a suspensão dos prazos processuais.

E, ante todo este cenário, mesmos os olhos mais leigos já concluem que a pandemia

desencadeada pela Covid-19 e a adoção de tantas medidas restritivas impactou rigidamente o âmbito das atividades econômicas, cujos efeitos atingiram diversos setores e resultaram em maior enredamento para o cumprimento de obrigações, visto que o distanciamento social e a quarentena repercutem diretamente no funcionamento das empresas e na manutenção dos empregos.

Indiscutivelmente, dentre as empresas afetadas, o holofote destaca aquelas que já estavam atravessando um processo de recuperação judicial e empenhando esforços para a reestruturação das dívidas e manutenção de sua função social; o que certamente motivou a dispensa de cuidado específico pelo órgão jurisdicional que, preocupado em propiciar subsídios legais na obtenção de apoio jurídico e econômico para a continuidade da luta pelo soerguimento empresarial, buscou orientar a condução do processo com vista a garantir os melhores resultados possíveis diante da situação de excepcionalidade e agravamento da crise, principalmente para salvaguardar os postos de trabalho e a geração de renda.

Nesse panorama, o Presidente do Conselho Nacional de Justiça, Ministro Dias Toffolli, expediu a Recomendação Nº 63, de 31 de março de 2020, que “Recomenda aos Juízos com competência

para o julgamento de ações de recuperação empresarial e falência a adoção de medidas para a mitigação do impacto decorrente das medidas de combate à contaminação pelo novo coronavírus causador da Covid-19.”

Dita recomendação traz em seu bojo orientações de notória perspicácia e relevância, tendentes a fomentar o movimento da economia, impedir atos que se revelem lesivos às empresas em recuperação judicial e possibilitar justa adequação à nova realidade financeira mundial, sempre voltada à manutenção do funcionamento da fonte produtiva.

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texto visa propiciar respaldo jurídico aos juízes que queiram fazer algo para preservar a empresa; e que é preocupante, num período como este, que se siga à risca o que está na lei, sob pena de muitas delas irem à falência. (www.folha.uol.com.br/mercado - 31 de março de 2020, 20h16)

Nesse contexto, tem-se que a essência da Recomendação espelha exatamente o posicionamento com que este Juízo sempre tem buscado conduzir os processos de recuperação judicial que por aqui tramitam, no sentido de flexibilização das decisões para preservar as atividades econômicas viáveis, buscando auxiliar as empresas em recuperação judicial durante a turbulência econômica momentaneamente enfrentada.

Sob tal norte, tendo em conta o consequente agravamento da crise pela pandemia, revela-se indispensável a contribuição judicial para a concessão de importante fôlego às empresas que vivenciam a situação excepcional que ora se afigura, mediante a relativização das sanções previstas na Lei 11.101/2005, visto que eventuais descumprimentos podem ser decorrentes das medidas de distanciamento social e de quarentena.

O propósito atual maior é, mais do que nunca, a manutenção dos empregos em prol do interesse coletivo, o que só poderá ser assegurado com a continuidade das atividades empresariais; de modo que todos e quaisquer atos com poder de impedir, ainda que minimamente, o desempenho e o funcionamento das sociedades em estado de dificuldade deverão ser duramente combatidos, pois de nada serão úteis para a coletividade, para o regular funcionamento da economia brasileira e para a sobrevivência das famílias no momento de pandemia.

Pertinente consignar, por fim, a existência do Projeto de Lei 1397/2020, que prevê a alteração de diversas regras da legislação falimentar de modo adequar a situação das empresas em dificuldades econômicas à nova realidade ostentada pelo setor da economia em razão da pandemia, de modo transitório, durante o período pelo qual perdurar a calamidade reconhecida pelo governo federal.

No mais, desnecessário serem tecidos outros acréscimos sobre a conjuntura emergencial em que se insere o Brasil e o mundo, muito menos com relação à premência da conjunção de empenho tendente a obstar maior propalação do coronavírus, de modo a contribuir para o encolhimento da sua repercussão em todos os setores.

Nesse contexto jurídico e social, passo a analisar os pedidos formulados pela recuperanda, baixando a realidade à situação processual específica dos autos e considerando que ainda permanecemos sob a vigência de medidas de isolamento social, sem previsão de quando poderá haver retorno da normalidade.

01 – DA AUTORIZAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE NOVO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.

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Sustenta a recuperanda, em breve resumo, que o impacto que a crise da pandemia da Covid-19 lhe causou afetou de modo drástico os números considerados no plano de recuperação judicial que apresentou, de modo que defende a necessidade da revisão do seu teor e requer, portanto, autorização judicial para a apresentação de novo plano.

Da análise dos autos é possível verificar-se que o plano de recuperação judicial da recuperanda foi juntado ao processo em data de 07/02/2020 (Id. 28997403), não tendo ainda sido publicado em edital.

Acerca da natureza jurídica do plano de recuperação judicial, a renomada doutrina ensina que “O

plano de recuperação — judicial ou extrajudicial — é um negócio jurídico e, por conta disso, é evidente que pode ser repactuado”. (SCALZILLI, João Pedro; SPINELLI, Luis Felipe; TELLECHEA, Rodrigo. Recuperação de empresas e falência: teoria e prática na Lei 11.101/2005. São Paulo: Almedina, 2018).

No trato da Lei 11.101/2005, o plano deve ser apresentado no prazo assinalado e, posteriormente, caso seja objetado por algum credor, deverá ser levado a votação em assembleia, quando poderão ocorrer deliberações e ajustes na proposta inicial.

Portanto, inclusive no próprio texto frio da lei, inexistem óbices para a alteração do plano de recuperação judicial inicialmente apresentado; sendo que a jurisprudência admite amplamente que o devedor apresente, antes da assembleia ou no seu curso, aditivo ao plano de recuperação proposto, tendo em vista a alteração das premissas econômicas que o fundamentaram.

Para ilustrar:

“Recuperação judicial. Realização da assembléia geral de credores antes do término do prazo do art. 55 da Lei 11.101/05. Prazo que se destina à aferição da ausência de impugnações ao plano. Plano da devedora que já era objeto de impugnações, deslocando o exame para a assembléia geral de credores. Plano aprovado com aditivo. Desnecessidade de prévio conhecimento da modificação. Eventual vantagem a um dos credores que é objeto de análise da assembléia geral dos credores, e não do juiz da recuperação. Recurso não provido.” (TJSP; Feito não especificado 9025570-25.2006.8.26.0000; Relator (a): Boris Kauffmann; Órgão Julgador: Orgão Julgador Não identificado; Foro de Jundiaí - 4ª. Vara Cível; Data do Julgamento: N/A; Data de Registro: 12/12/2006).

Evidente, deste modo, a possibilidade de ser autorizada a repactuação dos planos ao longo do processamento de uma Recuperação Judicial. No que tange, especificamente, à modificação unilateral do plano apresentado, entendo pertinente a análise da situação concreta de cada processo, sendo inconteste que, em alguns casos, pode não haver outra alternativa senão a alteração do plano, em face da inviabilidade de cumprimento nas condições antes apresentadas.

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Na hipótese em exame, tem-se que a recuperanda apresentou o seu plano de recuperação judicial em data anterior à deflagração da pandemia da Covid-19 e suas nefastas repercussões para o setor econômico; com a sobrevinda de todo o contexto social causado pelas medidas restritivas, inegavelmente o panorama econômico sobre o qual se alicerçou o plano foi abruptamente alterado, de modo que a possibilidade da sua remodelação está em consonância com os desafios impostos pela conjectura social vivenciada.

A adoção de medidas de isolamento social, como o fechamento do comércio para o público, dentre outras, por si só já permite concluir que a recuperanda foi afetada por drástica redução de venda; de sorte que a estratégia que se visava empreender para o soerguimento empresarial agora precisa ser revista e adequada à nova realidade experimentada, haja vista o obrigatório distanciamento social e a imprevisão de retorno à normalidade.

É premissa inquestionável que a clausura das pessoas em suas casas resultou em rigorosa diminuição na circulação de riquezas no setor empresarial, financeiro e consumerista, afetando de modo direto e indireto todo o nível pertencente a este nicho de mercado. Consequentemente, o caso é de superveniência de fato inevitável de força maior, que autoriza a recuperanda a revisão do plano de recuperação judicial que antes apresentou, calcado em bases fáticas que atualmente já não existem mais.

Negar-se o pedido da recuperanda, e obrigá-la a manter o plano originalmente apresentado, significaria colocar em risco a conservação da unidade produtiva e o próprio pagamento dos credores, o que vai de encontro com a finalidade legal do instituto, principalmente quando o diligente Administrador Judicial mensalmente nos informa que a empresa é viável.

Pertinente a transcrição das palavras do MM. Juiz de Direito Dr. Paulo Henrique Stahlberg Natal, no Processo Digital 1004884-18.2017.8.26.0533, citadas na doutrina que segue:

“Na verdade, a requerente busca antecipar-se ao mal maior ao requerer a suspensão do plano, precisamente para evitar a caracterização do inadimplemento. Não faria sentido lógico, portanto, aguardar-se uma situação mais aflitiva e grave inadimplemento para somente a seguir invocar o inadimplemento fortuito das obrigações. Há, destarte, num juízo de ponderação entre os princípios envolvidos, a saber, interesse dos credores versus preservação da empresa, a prevalência deste último, sobretudo diante do cenário de excepcionalidade, onde as medidas de quarentena e distanciamento social impactaram diretamente e negativamente no funcionamento da matriz produtiva respectivos empregos”. (Pandemia, crise econômica e Lei de Insolvência / João Pedro Scalzilli, Luis Felipe Spinelli, Rodrigo Tellechea 1. ed. | Porto Alegre, RS | Buqui, 2020).

Ademais, nos termos da Recomendação do CNJ, é possível inclusive que a empresa que tenha seu potencial financeiro afetado pela crise apresente um novo plano de pagamento a credores,

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com prazos e condições que levem em conta os efeitos da redução e/ou paralisação das atividades econômicas.

Leia-se:

“Art. 4º. Recomendar a todos os Juízos com competência para o julgamento de ações de recuperação judicial e falência que podem autorizar a devedora que esteja em fase de cumprimento do plano aprovado pelos credores a apresentar plano modificativo a ser submetido novamente à Assembleia Geral de Credores, em prazo razoável, desde que comprove que sua capacidade de cumprimento das obrigações foi diminuída pela crise decorrente da pandemia de Covid-19 e desde que estivesse adimplindo com as obrigações assumidas no plano vigente até 20 de março de 2020”.

Também há projetos de lei tratando do assunto, dos quais destaco:

“Art. 12. Fica autorizada a apresentação de novo plano de recuperação judicial ou extrajudicial, tenha ou não sido homologado o plano original em juízo, com direito a novo período de suspensão previsto no art. 6º da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, limitado ao período referido no art. 11 desta Lei, sujeitando-se o plano aditado à aprovação pelos credores nos termos do procedimento específico.

§ 1º Em relação ao plano aditado, será considerado tanto para cálculo de montante a pagar, quanto para cômputo de votos o crédito originalmente detido pelo credor, deduzido dos montantes eventualmente pagos no cumprimento do plano anteriormente homologado.

§ 2º O plano de recuperação aditado poderá sujeitar créditos posteriores ao anterior pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, com exceção dos financiamentos ao devedor realizados mediante expressa anuência do juízo da recuperação judicial” (DPL 1397).

O caso em voga não se trata de pleito de modificação de plano de recuperação judicial já aprovado, como preveem os textos alhures transcritos; entretanto, nem por isso, a normativa deixa de ser aplicável, uma vez que, se a superveniência de fato inevitável e de força maior autoriza a revisão do plano já aprovado, com maior razão pode ser autorizada a modificação de plano que ainda não foi nem publicado.

Para arrematar, colaciono trecho de notável deliberação proferida recentemente pelo MM. Juiz Titular da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo, Dr. João de Oliveira Rodrigues Filho, no processo 1110037-15.2016.8.26.0100:

“Precisamos adaptar o processo de recuperação judicial ao seu objeto (benefícios sociais da empresa descritos no art. 47 da lei) e aos seus sujeitos (credores que devem discutir os rumos da atividade e o devedor que deve ter a oportunidade de demonstrar a viabilidade da empresa), justamente para que a lei de insolvência consiga ter plena aplicabilidade nesta situação de anormalidade ocasionada pela pandemia do COVID-19”.

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(https://www.conjur.com.br/2020-mai-11/recuperanda-usar-valores-leiloes-manter-operacao).

Ante tal, diante da situação extraordinária e imprevisível gerada pela pandemia e das orientações contidas na Recomendação do CNJ, DEFIRO O PEDIDO formulado pela recuperanda, a fim de autorizá-la mesma a apresentar aditivo ao plano de recuperação judicial.

Considerando que ainda estamos submetidos as medidas de isolamento e distanciamento social, sem previsão certa para o retorno da situação de regularidade e sem possibilidades de se dimensionar os reais impactos dos efeitos da pandemia no setor empresarial, para evitar que o plano a ser apresentado venha a reclamar por nova readequação em curto lapso temporal, CONCEDO O PRAZO DE 60 DIAS para que o aditivo seja apresentado.

De revés, registro que o prazo ora concedido poderá ser dilatado ou encurtado, em qualquer momento processual, tudo a depender do comportamento da recuperanda e das circunstâncias relacionadas aos efeitos da pandemia da Covid-19.

02 – DA PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE BLINDAGEM.

Com relação ao pedido de prorrogação do prazo de blindagem, após detida análise dos autos, tenho que o pedido formulado pela devedora comporta deferimento, haja vista que, conforme nota-se do andamento processual, a empresa tem atendido todas as determinações judiciais e as previsões da legislação pertinente, de forma que não deu causa ao retardamento do feito.

Inicialmente cumpre consignar que, acerca do prazo de blindagem, a Lei nº 11.101/2005 é forte em assentar que o interregno de 180 dias não poderá ser prorrogado.

Vejamos, in verbis:

“Art. 6º. A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

(...)

§ 4º. Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial”.

Porém, há que se registrar que tanto a doutrina como a jurisprudência têm mitigado o rigor desse prazo, em homenagem aos princípios basilares de preservação da empresa.

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Nesse sentido, o entendimento do STJ:

“CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DO TRABALHO E JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ADJUDICAÇÃO DO BEM, NA JUSTIÇA TRABALHISTA, DEPOIS DE DEFERIDO O PEDIDO DE PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DESFAZIMENTODO ATO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. (...) 2- De acordo com o entendimento deste Tribunal Superior, admite-se a prorrogação do prazo suspensivo das ações e execuções ajuizadas em face da sociedade em crise econômico-financeira, previsto no art. 6º, § 3º, da Lei n. 11.101/2005. (...).” (STJ – Segunda Seção – CC 111614/DF – Relatora: Exma. Ministra Nancy Andrighi– Julgado em 12/06/2013).

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. JUÍZO DO TRABALHO E JUÍZO DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS. PRAZO DE 180 DIAS PARA A SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES AJUIZADAS EM FACE DA EMPRESA EM DIFICULDADES. PRORROGAÇÃO. POSSIBILIDADE. ADJUDICAÇÃO, NA JUSTIÇA DO TRABALHO, POSTERIOR AO DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 1 - O prazo de 180 dias para a suspensão das ações e execuções ajuizadas em face da empresa em dificuldades, previsto no art. 6º, § 3º, da Lei 11.101/05, pode ser prorrogado conforme as peculiaridades de cada caso concreto, se a sociedade comprovar que diligentemente obedeceu aos comandos impostos pela legislação e que não está, direta ou indiretamente, contribuindo para a demora na aprovação do plano de recuperação que apresentou. 2 - ... . AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO”. (STJ – Segunda Seção – AgRg no CC 111614/DF – Relatora: Exma. Ministra Nancy Andrighi– Julgado em 10/11/2010).

O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, em recentes decisões, perfilhou pela mesma vereda:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - PERÍODO DE BLINDAGEM (ART. 6º, § 4º DA LEI N. 11.101/2005) – PRORROGAÇÃO – MITIGAÇÃO DO STAY PERIOD -POSSIBILIDADE, DESDE QUE O ATRASO NÃO OCORRA POR CULPA DA RECUPERANDA –– DECISÃO ULTRA PETITA – NULIDADE NESSE PONTO –RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) O prazo do período de blindagem estabelecido no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005 pode ser mitigado quando demonstrado que o atraso não se deu por culpa da recuperanda”. (N.U 1016739-87.2019.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 19/02/2020, Publicado no DJE 21/02/2020).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL – SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES EM DESFAVOR DAS RECUPERANDAS – ART. 6.º, § 4.º DA LEI 11.101/05 – PRORROGAÇAO DO PRAZO DE BLINDAGEM – POSSIBILIDADE – EXTENSÃO DO PRAZO ATÉ REALIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES A SER REALIZADO NO PRAZO MÁXIMO DE 90 (NOVENTA) DIAS – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. De

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acordo com o firme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é admitida a prorrogação do prazo de que trata o art. 6º, §4.º da Lei n.º 11.101/05, o qual dispõe que, deferido o pedido de Recuperação Judicial, inicia-se o prazo de blindagem de 180 (cento e oitenta) dias, no qual ficam suspensas todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive seus coobrigados. Não há que falar em reforma da decisão singular que elasteceu o prazo de blindagem até a realização da assembleia geral de credores e consignou que o ato assemblar deverá acontecer no prazo de noventa dias, haja vista que a demora na marcha processual para a continuidade do procedimento de recuperação judicial não foi ocasionada por ato voluntário das Recuperandas”. (N.U 1013129-14.2019.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, CLARICE CLAUDINO DA SILVA, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 18/12/2019, Publicado no DJE 22/01/2020).

“Agravo de instrumento - RECUPERAÇÃO JUDICIAL – SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES EM face DA RECUPERANDA – ART. 6.º, § 4.º DA LEI 11.101/05 – PRAZO DE BLINDAGEM – PRORROGAÇÃO ATÉ DELIBERAÇÃO FINAL DOS CREDORES – POSSIBILIDADE – DECISÃO REFORMADA – RECURSO PROVIDO. É admitida a prorrogação do prazo de que trata o art. 6º, §4.º da Lei n.º 11.101/05, o qual dispõe que, deferido o pedido de recuperação judicial, inicia-se o prazo de blindagem de 180 (cento e oitenta) dias, no qual ficam suspensas todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive seus coobrigados. A morosidade das ações de recuperação judicial em face das diversas fases e prazos a serem cumpridos, é admissível a prorrogação até deliberação final dos credores sobre o plano de recuperação”. (N.U 1011955-04.2018.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 13/11/2019, Publicado no DJE 21/11/2019).

Deste modo, tendo em conta a complexidade do processo de recuperação judicial e a ausência de culpa da devedora no retardamento do feito; considerando que, conforme mensalmente tem relatado o diligente Administrador Judicial, a devedora está dando continuidade às suas atividades empresariais de forma satisfatória, mostrando-se empenhada com a recuperação; e tendo em conta que o Administrador Judicial está desempenhando seu encargo de forma transparente, contribuindo para que tudo caminhe a contento, indubitavelmente o pedido de prorrogação do prazo de blindagem comporta deferimento.

No mais, valioso consignar ainda que a prorrogação do ‘stay period’ é uma das medidas previstas na Recomendação 63 de 2020 do CNJ, editada em função da crise gerada pela pandemia da Covid-19, e que sugere a prorrogação sempre que for necessário o adiamento da assembleia geral de credores, estendendo-se o ‘stay’ até homologação da deliberação da assembleia geral de credores.

Atente-se:

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recuperação empresarial e falência que prorroguem o prazo de duração da suspensão (stay period) estabelecida no art. 6o da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, nos casos em que houver necessidade de adiamento da realização da Assembleia Geral de Credores e até o momento em que seja possível a decisão sobre a homologação ou não do resultado da referida Assembleia Geral de Credores”.

Nesse contexto, razoável a prorrogação do ‘stay period’, valendo o registro, uma vez mais, que a recuperanda não deu causa ao retardamento da marcha processual e de que o caso evidencia a configuração de evento externo e imprevisível, cujo impacto econômico, sobretudo para as empresas em processo de reestruturação de seu endividamento, dispensa maiores considerações.

O acolhimento do pedido da recuperanda, neste âmbito, corresponde a uma necessidade de dar à empresa em processo de recuperação judicial a garantia de que seu patrimônio não será objeto de constrições até que haja retorno da normalidade, que a mesma possa readequar seu plano, e que seus credores possam votá-lo com segurança.

Assim, DEFIRO o pedido formulado, prorrogando o prazo de blindagem da devedora até a decisão sobre a homologação, ou não, do plano de recuperação judicial.

DEMAIS DETERMINAÇÕES.

DETERMINO que a Administração Judicial continue a realizar a fiscalização das atividades da empresa recuperanda, nos termos da lei, de forma virtual ou remota; e que dê continuidade à apresentação dos relatórios mensais de atividades.

DETERMINO que a Sra. Gestora providencie o imediato cumprimento da determinação judicial contida no item 03 da decisão de Id. 31769584.

Intimem-se a todos desta decisão.

Notifique-se o Ministério Público.

Cumpra-se, expedindo o necessário e com as cautelas de estilo.

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