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COLETÂNEA PRIMAVERA. Abril C át ed r a Al umn i Medic ina - Professor P into Mac hado Esc ola de Medic ina Univ ersidade do Minho

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Academic year: 2021

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EMENTAS

LITERÁRIAS

C O L E T Â N E A P R I M A V E R A

A b r i l 2 0 2 1

Cátedra Alumni Medicina - Professor Pinto Machado Escola de Medicina

(2)

Coordenação e Concepção: Gil Castro; Nadine Santos; José Manuel Mendes; Cecília Leão Contribuições: Paula Ludovico; Patrícia Monteiro; Helena Ferreirinha;

Alumni Medicina, EMed; MIM-EMed

EMENTAS

LITERÁRIAS

C O L E T Â N E A P R I M A V E R A

A b r i l 2 0 2 1

Apresentamos a Coletânea Primavera | Abril 2021, esperando que a viagem, por cada prato de letras nas suas páginas acrescido de tons de música e cor, comporte uma agradável experiência para todos os sentidos.

Espaço Cultural Artes e Humanidades em Medicina

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Lista de Conteúdos

SUGESTÕES MUSICAIS: "Le Quattro Stagioni", Antonio Vivaldi; "Suite O Lago dos Cisnes", P. I. Tchaikovsky;

“O Quebra-Nozes”, P. I. Tchaikovsky; "Mozart piano concerto No. 20", Maria João Pires;

"Com que voz", Amália Rodrigues; "Tiro ao Álvaro", Elis Regina & Adoniran Barbosa PINTURA: "Almond Blossom" de Vincent van Gogh;

"The Star" de Edgar Degas; "Self-Portrait with Thorn Necklace and Hummingbird" de Frida Kahlo;

"Sleeping" de Paula Rego

APERITIVOS: Agustina Bessa-Luís; Vergílio Ferreira; Eça de Queirós; António Lobo Antunes; Almada Negreiros; Fernando Pessoa

SOPA: "Ilha dos Mortos", José Tolentino Mendonça PRATO DE PEIXE: "Quando", Manuel Alegre

PRATO DE CARNE: "Não sei quantas almas tenho", Fernando Pessoa; "diário - vols. V a VIII", Miguel Torga

PRATO VEGETARIANO: Miguel Torga; "Ao pé de sua criança", Pablo Neruda SOBREMESA: "A Voz", Maria Teresa Horta;

"Estes homens", José Manuel Mendes

DIGESTIVOS: "Ode à Alegria", Friedrich Schiller OFERTA DA CASA: Gil Castro;

Vanessa de Melo Ferreira; Rosé; Rui Nobre Chaves; Ana Teresa Pereira, Joana Arantes, Joana Duarte Rita Teles, Sara Sousa; Petra Fonseca da Silva;

Nadine Correia Santos; Diogo Miguel Soares Caetano RESTAURANTE JOAQUIM PINTO MACHADO

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MÚSICA

“ Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ver um quadro bonito, e ler uma boa poesia”

Johann Goethe

Sugestões musicais

Antonio Vivaldi

"Le Quattro Stagioni", Opus 8 • Camerata Florianópolis

https://www.youtube.com/watch?v=DTTA-EpRWt0

P. I. Tchaikovsky

“O Quebra-Nozes”, Valsa das Flores • Escola Bolshoi Brasil

https://www.youtube.com/watch?v=5zKJhAED-6k

Maria João Pires

"Mozart piano concerto No. 20" • Berlin Philharmonic Orchestra e Pierre Boulez

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Amália Rodrigues

"Com que voz" • Poema: Luís Vaz De Camões • Música: Alain Oulman

https://www.youtube.com/watch?v=oDiMa4Lsd5A “(…)

De tanto mal, a causa é amor puro, devido a quem de mim tenho ausente, por quem a vida e bens dele aventuro. (…)”

Elis Regina & Adoniran Barbosa

"Tiro ao Álvaro" • Composição: Adoniran Barbosa e Osvaldo Moles

https://www.youtube.com/watch?v=caEFyFRc91c “De tanto leva "frechada" do teu olhar

Meu peito até parece sabe o quê? "Táubua" de tiro ao Álvaro

Não tem mais onde fura (…)”

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Almond Blossom

Vincent van Gogh, 1890

https://artsandculture.google.com/asset/almond-blossom/dAFXSL9sZ1ulDw?hl=pt-PT The Star Edgar Degas, 1878 https://www.edgar-degas.net/the-star.jsp PINTURA

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Self-Portrait with Thorn Necklace and Hummingbird Frida Kahlo, 1940 https://en.wikipedia.org/wiki/Self-Portrait_with_ Thorn_Necklace_and_Hummingbird#/media/ File:Frida_Kahlo_(self_portrait).jpg Sleeping Paula Rego, 1986 https://artsandculture.google.com/asset/sleeping-paula-rego/WwHNoUGtU88M8A?hl=pt-PT

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APERITIVOS

“Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.”

Agustina Bessa-Luís

“O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.”

Vergílio Ferreira

“A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.”

Eça de Queirós

“Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto.”

António Lobo Antunes

“Não sei sonhar senão a vida (...) não sei viver senão o sonho ...”

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“Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade, porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas.”

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SOPA

Ilha dos Mortos

José Tolentino Mendonça,

in “A Noite Abre Meus Olhos”, 2006

“Enquanto iluminas a entrada do rio o cobre emudece dinastias sem número por degraus desiguais os mineiros os artesãos, as lavadeiras

lutam pela perfeição, lutam por Deus em galerias remotas

as armas de caça vencidas por ramos e arados

nenhuma morte é tão longa quanto a vida diria quem pela primeira vez

visse debaixo de árvores sombrias o sítio do mar, a porta das constelações cem espantos possíveis

e no espanto uma esperança

o loureiro assinala a todos sua ciência negligenciada

címbalos, manuscritos e coroas

atiradas para o chão como vestimenta de batalha

insígnias do nosso posto de estrela em estrela dão-no sem nós pedirmos

ouvimos até sem querer acima das arestas sombrias a noite clara e os bosques.”

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PRATO DE PEIXE

Quando

Manuel Alegre in “Quando”, 2020

“Os ratos invadiram os computadores vocábulos nunca vistos geram monstros devoram a memória

mastigam liberdade letra a letra não sabem nada mas são omniscientes não podem nada mas são omnipotentes deitam fogo pela boca

têm rabos compridos como chicotes os novos demónios estão possessos viraram a língua de pernas para o ar submundo que já domina o Mundo

mata o passado tapa o futuro envenena a vida mal absoluto (disse Malraux)

tal mi fece la bestia senza pace. Toda a gente twita para toda a gente ninguém comunica.

Clica clica clica.

Aponta o teu retrato e diz: ninguém. Hortênsias azuis nas baionetas

assim desembarcaram soldados poetas. Dois séculos depois canções na praça versos proibidos de boca em boca. Será que poesia é coisa pouca?

Não faças a pergunta. Lembra e passa. Como falar à gente cega e surda? Vírus e besta acima dos humanos a fonte que falava ficou muda.

E o grão Centauro disse: “São tiranos deram no sangue e na pilhagem dura.” O poema é a última conjura.

Eu vi os sem emprego os sem abrigo nas ruas da cidade sob portas fechadas eu vi os que passavam como sonâmbulos trazendo às costas restos de si mesmos o pouco pão o sono a falta a vida

(12)

vi os que buscavam Deus e não achavam ou talvez o trouxessem também às costas

vi máscara sobre máscara e a pele sobre a pele e de tudo o que vi o que doeu

foi ver que se tentou mas que no fundo mais desigual que nunca está o Mundo. Eu sei que pouco vale a poesia

mas sem poesia a vida o que valia?

Como encontrar palavras novas dentro de palavras velhas

a palavra capaz de outra energia e de trazer o raio verde do ocaso às praias anoitecidas de Setembro? Como encontrar de novo a estrada larga e uma estrela-cadente que se apanha à mão? A palavra está presa dentro de si mesma

a linguagem emparedou-se e já não solta o verbo que pode a palavra domesticada

contra o excel o número o falajar?

Libertar a palavra poética de tanta táctica trazê-la ao falar comum onde de súbito irrompe no poema a música do Mundo. Sinais magnéticos cristais antigos as cobras enroladas junto ao corpo animais mitológicos e o peixe e o tigre a própria Lua com seu leite e seu fulgor não sei onde para o fogo nem o tempo posso dizer três vezes a palavra mágica multiplicar o doze pelos trinta

talvez sem querer eu chegue ao nome proibido. Gazelas nos poemas e as altas pernas

das deusas no solstício do Verão

algures os astros se conjugam e o cobre e o ouro. Entre o agora e o nunca

lá onde só se chega não chegando um pouco antes talvez depois quando.”

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PRATO DE CARNE

Não sei quantas almas tenho

Fernando Pessoa

“Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei.

Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: "Fui eu?"

Deus sabe, porque o escreveu.”

poema sugerido por Helena Ferreirinha, SASUM, EM http://arquivopessoa.net/textos/277

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Miguel Torga

in “diário - vols. V a VIII” (ed. D Quixote)

“S. Martinho da Anta, 29 de Outubro de 1995 – O solar da família, térreo, de telha-vã, encimado pelo seu brasão de armas esquartelado, com enxadões em todos os campos… Foi desta realidade que parti, e é a esta realidade que regresso sempre, por mais voltas que dê nos caminhos da vida. É uma certeza de marco com testemunhas, que nunca me deixa desorientado quando quero avivar as estremas da alma. Basta escavar um pouco a crosta da aparência, e aí estou eu na matriz, confrontado.

Há tempos, em Lovios, no Gerês espanhol, depois de conversar com vários habitantes da povoação, interessei-me por um tumor a despontar no pescoço de uma velhota. - É doutor… - informou o meu companheiro. - Que doutor! Ele é como nós!...

E sou. Tudo menos trânsfuga da minha classe. Nasci povo, povo continuo, e povo quero morrer. A burguesia compra-me algum suor e alguns livros, mas é confiado na subversão do seu poder que vivo. Alias, quer profissionalmente, quer literariamente, ainda é quando ponho as mãos e molho a pena nas chagas e no sangue dos meus que dou o melhor de mim. Foi na clínica rural que me senti médico a sério, e cuido que as coisas mais válidas que escrevi sabem a terra nativa que trago agarrada aos pés. «Envergonhado de representar o ingrato papel de cronista dum mundo que nem me pode ler», como um dia confessei, é nele que acredito, é ele que me inspira e é por ele que luto.

Conheço-lhe os defeitos, sei que são falsíssimos os quadros bucólicos das moleirinhas líricas e dos pastores de avena, e nem me quero lembrar dos torcegões que é capaz de dar à verdade a manha dum honrado cavador… Mas, além de

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ser uma tolice esperar que a condição humana faça distinções, procuro compreender a causa de certas dessas mazelas. Melhor fora que milénios de servidão, de fome, de ignorância e de logro não criassem desconfiança, inveja, mesquinhez e aviltamento! Resta saber se, iluminado por outro sol, o panorama seria o mesmo, e se, apesar de tudo, não é o único que dá esperanças… Pelo que me diz respeito, apenas a olhá-lo consigo descortinar sentido e futuro à vida. E quando aqui chego, embrulhado na cultura e no diploma –que de resto, só me ajudaram a consciencializar o meu caso -, é o bilhete de identidade passado pela tal camponesa galega que me deixa bater sem constrangimento à porta do ninho. Nem o dono que me manda entrar, nem os vizinhos que, curiosos, espreitam dos seus buracos, me podem estranhar. Sou como eles…”

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PRATO VEGETARIANO

Miguel Torga

in “Cântigo do Homem"

“Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida Mo consente.

Mas a minha aguerrida Teimosia

É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino. E vão lá desdizer o sonho do menino Que se afogou e flutua

Entre nenúfares de serenidade Depois de ter a lua !”

Ao pé de sua criança

Pablo Neruda

https://www.pensador.com/frase/NTUyOTU1/ “O pé da criança ainda não sabe que é pé, e quer ser borboleta ou maçã.

Mas depois os vidros e as pedras, as ruas, as escadas,

e os caminhos de terra dura

vão ensinando ao pé que não pode voar, que não pode ser fruta redonda num ramo. Então o pé da criança

foi derrotado, caiu na batalha,

foi prisioneiro,

condenado a viver num sapato. Pouco a pouco sem luz

foi conhecendo o mundo à sua maneira, sem conhecer o outro pé, encerrado, explorando a vida como um cego.”

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A Voz

Maria Teresa Horta in "Anunciações", 2016

“Da tua voz o corpo o tempo já vencido os dedos que me vogam nos cabelos e os lábios que me roçam pela boca nesta mansa tontura em nunca tê-los... Meu amor

que quartos na memória não ocupamos nós se não partirmos...

Mas porque assim te invento e já te troco as horas

vou passando dos teus braços que não sei

para o vácuo em que me deixas se demoras

nesta mansa certeza que não vens.”

Estes homens

José Manuel Mendes

in "Rosto descontínuo", 1992

“estes homens abrem as portas do sol nascente

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conhecem os íntimos latejos da cal as soltas águas os fermentos as uvas os cílios discretos do pão amam as urzes e as fontes o suor dos fenos

a febre moira de um corpo de mulher

estes homens partem a pedra

com martelos de solidão (os olhos abismados nos goivos

da lonjura)

erguem as paredes as janelas crepusculares

as esfaimadas antenas das cidades: céu de cimento; baba remota

do cansaço estes homens

tamisam as cores: viajam nos navios pescam no cisco das pérolas

do vidro

são garimpeiros de uma esponja de coral

moldam nas forjas as sílabas secretas do ferro

afeiçoam os seixos e o linho o bafo marítimo

das palavras estes homens

dizem casa com dezembro nas veias

(19)

ternura com a sede de uma seara grávida

assobiam comovidos contra as sombras trazem na algibeira

o trevo rugoso das cantigas estes homens: guardadores de cabras e de mágoas de espantos e revoltas servos emigrantes contrabandistas

soldados andarilhos do mar carabineiros da má sorte trepadores das sete colinas levantam por maio

os cantis do lume: voz de musgo concha entreaberta

estes homens

(pátria viva; horizonte de prata

à flor da bruma)

modelam nos andaimes do tempo

o oiro (medular) da liberdade”

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DIGESTIVOS

Ode à Alegria

Friedrich Schiller

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hino_%C3%A0_ Alegria

"Oh amigos, mudemos de tom! Entoemos algo mais agradável E cheio de alegria!

Alegria, mais belo fulgor divino, Filha de Elíseo,

Ébrios de fogo entramos Em teu santuário celeste! Teus encantos unem novamente O que o rigor do costume separou. Todos os homens se irmanam Onde pairar teu voo suave.

A quem a boa sorte tenha favorecido De ser amigo de um amigo,

Quem já conquistou uma doce companheira Rejubile connosco!

Sim, também aquele que apenas uma alma, possa chamar de sua sobre a Terra.

Mas quem nunca o tenha podido Livre de seu pranto esta Aliança! Alegria bebem todos os seres No seio da Natureza:

Todos os bons, todos os maus, Seguem seu rastro de rosas. Ela nos dá beijos e as vinhas Um amigo provado até à morte; A volúpia foi concedida ao humilde E o Querubim está diante de Deus! Alegres, como voam seus sóis

Através da esplêndida abóboda celeste Sigam irmãos sua rota

(21)

Abracem-se milhões de seres!

Enviem este beijo para todo o mundo! Irmãos! Sobre a abóboda estrelada Deve morar o Pai Amado.

Vos prosternais, Multidões? Mundo, pressentes ao Criador? Buscais além da abóboda estrelada! Sobre as estrelas Ele deve morar.”

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OFERTA DA CASA Poemas O louco e eu Gil Castro, EMed “Ele fica a ver-me passar

indiferente à minha existência. eu

seguia inacabado o louco sou Eu.”

Vanessa de Melo Ferreira, Alumni Medicina, EMed

“Procurei-te por todo o lado e não te encontrei

Perguntei às ondas do mar por ti, mas elas não te trouxeram

Clamei por ti aos ventos,

mas eles só retribuíram o meu eco desesperado

(23)

Subi à serra mais alta,

mas não te avistei Pedi ao rio que corresse na tua direção,

mas ele só me conduziu à imensidão do

oceano vazio de ti Quis que as flores me trouxessem o teu cheiro, mas cada seu aroma só realçava a solidão

Procurei-te por todo o lado e finalmente te encontrei

Porque procurei no sítio onde sempre estiveste e de onde nunca desaparecerás - Dentro de mim”

Tempo

Rosé,

Alumni Medicina, EMed

“Insensato, O momento,

Em que ouço o vento Sentada, sem sentimento À espera que passe.

(24)

E passa, e corre,

Pelo cabelo que não se move, Chove.

Agora faz frio, Sorrio.

Ao perceber que o vento Nada mais é que o tempo, Que segue, pleno de brio. Vi-o”

Chuva de Abril

Rui Nobre Chaves, Alumni Medicina, EMed

“Chove lá fora Mãe, é abril, o mês das chuvas doces Doce foi também o tempo

em que foste mãe, sem que eu soubesse o que era ser,

quando tu tanto te deste

e eu tão pouco te guardei

(de tão pequenas que eram

as algibeiras da minha alma)

(25)

Que ingratidão Mãe ser maiúscula para quem não te sabe ler Mas um dia aprenderei a ler e escreverei

as minhas memórias - todas elas -

com letras maiúsculas - como o teu nome – que ingratidão, ser filho, Mãe.”

À distância de um clique

Ana Teresa Pereira, Joana Arantes, Joana Duarte Rita Teles, Sara Sousa, Estudantes MIM-EMed 2020/2021, 2º ano

“Distantes, mas perto

Através de um ecrã, é certo, Mas resistimos e assistimos Às aulas de domínios… O covid tudo levou

Mas a nossa esperança não abalou Um dia vamos voltar

E os nossos colegas abraçar!

Medicina legal, cuidados paliativos, genética, Voluntariado médico e bioética

Tudo aprendemos, Porém, nada vivemos! Não baixamos a cabeça, Continuamos a lutar! Torna-se difícil acordar,

(26)

Mas a esperança permite-nos continuar Unidos somos mais fortes,

juntos iremos voltar!”

(Poema inspirado pelas sessões de Domínios Verticais que, nas palavras das autoras, ilustra as dificuldades pandémicas)

Petra Fonseca da Silva

Estudante MIM-EMed 2020/2021, 1º ano

“Finda a Batalha do Ensino Secundário, Apressam-se os soldados

No alistamento para a Grande Guerra do Ensino Superior.

Após cuidadoso e demorado processo de seleção,

Juntam-se os génios em Braga, Reúnem-se “os escolhidos”, Forma-se o “Batalhão”.

Entre eles: pensadores, curiosos, líderes, artistas,

Vindos de longe e vindos de perto, De terras distantes e vizinhas. Cem soldados, um objetivo. E na confluência das vontades, Sobe o Batalhão ao Monte Olimpo.

Numa marcha altiva e de passo bem marcado, Apresentam-se perante os Deuses da Medicina Para proclamar em tom uníssono:

“Somos a próxima geração! Queremos ser Médicos!

(27)

Inicia-se a recruta. O treino é exigente,

As condições, por vezes, inóspitas,

Os desafios colocados ao corpo, à mente e à psique incessáveis.

O tempo passa.

Formidáveis inimigos surgem:

Gestão do tempo, gestão do conhecimento, autonomia.

A certeza desparece para dar lugar à dúvida. As vontades esmorecem-se.

O fedor a receio e angústia intoxica o Batalhão.

Eventualmente, os soldados adaptam-se. Uns analisam o inimigo e elaboram novas estratégias de defesa,

Outros escolhem utilizar armas rudimentares da Batalha anterior.

Uns sobrevivem com ferimentos ligeiros a severos,

Outros não têm essa sorte e ficam para trás. Terminada a batalha e derrotado o inimigo, Os soldados aproveitam a noite para descansar,

Sabendo que, pela manhã, uma nova batalha e um novo inimigo os aguardam.

Dificuldades aparecem, desparecem e reaparecem.

A cada novo confronto, múltiplas lacerações e egos feridos.

É impossível escapar ileso, Mas os ferimentos curam-se. Entre destroços, feridos e baixas, Surge espírito de camaradagem. Criam-se laços.

Outrora esporádicas, atitudes de interajuda e partilha

(28)

Passam a ser recorrentes.

Fazem-se as preparações para o renascimento da esperança.

No decorrer da luta pela sobrevivência à recruta,

E por uma oportunidade na batalha final da Grande Guerra,

Os soldados apercebem-se que não combatem sozinhos.

Ao seu dispor têm Veteranos: Homens e mulheres,

Mestres das artes da Medicina, Soldados de muitas batalhas,

Sobreviventes da Grande Guerra do Ensino Superior,

Fornecedores de orientação aos que a solicitam.

Por isso, enquanto soldado do Batalhão, Servir-me-ei da minha coragem, resiliência e espírito crítico,

Apoiar-me-ei nos meus camaradas e veteranos,

Adaptar-me-ei em todas as batalhas, Enfrentarei todos os inimigos.

Renovo a minha esperança, E reacendo a minha vontade! Pois, inabalável

Permanece em mim uma única certeza: Finda a Grande Guerra,

Juntar-me-ei ao Deuses do Monte Olimpo Para proclamar:

“Faço parte da nova geração! Sou Médica!

Estou aqui,

E cumpri o compromisso!”

(Poema escrito no seguimento da atividade “Prática Reflexiva - a integração”)

(29)

Narrativa

Águas

Nadine Correia Santos, EMed

“Foi a ribeira. Não o ímpeto do movimento. Não a vontade. Não o desbarato. Não o nós. O eles. Foi a ribeira. Vibra no correr desvairado de ir cheia. Chamou! Que fazer? E a roupa ensopada, e as galochas despropositadas, no culminar do salto. Foi a tontura das varas no despenar das oliveiras, no desabrigar da azeitona. Na noite antes tinha-se também bailado. Aquelas voltas na cozinha que era a entrada daquela casa no monte do mau cabelo, da torre, dos coelheiros. O desbravado. O espaço polvilhado por troncos e cúpulas. Pelo forno e a lareira e o lume. O cheiro do fumo. O ofusco. E as vãs telhas. O vento que insistia em abundar e em penetrar camadas. Pele, músculo, osso. Tudo chamava e entorpecia e enlouquecia. Tudo gritava. E eram-se dois, e tinham-se seis anos vividos. E tudo era possível. O lençol húmido da manhã que derretia e rompia o inerte. As frieiras nas mãos ardentes. Não, geladas! Tudo quente demais ou frio demais. E tudo entrava nos sentidos e tudo apelava ao giro, ao tonto, à perdição. Passado o poço, passado o cultivo, no caminho para a ribeira, desenraizava-se tudo. Foi a ribeira. Ensurdeceu. A escada empinada, a perna partida. Aqueles gritos. Tem de se ir! Quem nos cuida? Mas voltou-se. Lamente-se o gesso. Os pulmões que sangravam, vibravam. Lamente-se o gato no peito. O reverberar de tudo. Tudo inundava. As águas, o viver castigante do extenso percorrido. Mas voltava-se, voltava-se sempre. Chamava. Apelou o salto. Saltou-se.

(30)

Galgou-se lá de cima para o frenesim líquido. De que serviam as botas, as calças, as malhas. Encobrimentos contra as vontades, a idade, o torpor e destempero. Rejubilem-se do feito que chorarão mais tarde! Dispam-se! Sentem-se aí! Ai que fazer! O lume, ateiem o lume! Parados d o i s n o g i r o c i r c u n d a n t e , c i r c u l a n t e , d o s ainda entontecidos por tudo aquilo. Eles ali. Centrados. Gelados. Despojados. Envoltos em si. Amansados do vivido. Do que foi, libertos. Naqueles campos a que se voltava, voltava sempre.”

Literatura e aprendizagem

Diogo Miguel Soares Caetano,

Estudante MIM-EMed 2020/2021, 1º ano

“A Literatura faz-nos viver mais e, citando C.S. Lewis, “ao ler, torno-me milhares de outras pessoas e ainda assim continuo a ser eu”. De facto, permite-nos conhecer não só outras pessoas, diferentes opiniões e novas histórias, mas também completa-nos com autoconhecimento e conhecimento sobre o que nos rodeia. Para muitos, a leitura pode ser uma simples forma de evasão, mas será sempre mais do que isso.

Ninguém pode negar a importância da leitura, quer em termos intelectuais, quer na nossa forma de viver. Na verdade, na leitura deparamo-nos, muitas vezes, com personagens que nos fazem recordar alguém que conhecemos e, quem sabe, alguém que idolatramos ou abominamos. Imaginemos agora que, numa história, uma das personagens é muito semelhante a alguém que não conseguimos suportar no nosso quotidiano. Será que isso significa, forçosamente, que

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não o iremos apoiar no seu percurso? Que apenas lhe desejaremos o pior para, de certa forma, podermos imaginar o que seria um final infeliz para o nosso conhecido? Não! Não, porque a personagem da obra vive uma vida que não é a nossa, rodeada de pessoas que nos são completamente estranhas e numa sociedade, possivelmente, diferente. Por isso, a definição daquilo que é moralmente aceitável será diferente daquela que temos na nossa vida pessoal. Aí, seremos, inevitavelmente, nós mesmos. Sendo assim, nada nos garante que, nessa obra, não apoiemos o personagem, pois, ao longo da leitura, estamos a conhecê-lo verdadeiramente, isto é, o que ele pensa e o porquê das suas ações, o que não conseguimos fazer no nosso dia a dia.

Numa leitura, podemos, igualmente, encontrar alguém com quem nos identifiquemos de tal forma que, na história, o vemos a agir como se fôssemos nós mesmos. Esta, como todas, será uma obra rica em aprendizagem e, neste caso, dar-nos-á uma maior autognose, porque aprenderemos como nos devemos posicionar perante diferentes situações, passaremos a ter uma ideia daquilo que aconteceria, se fizéssemos algo, e compreenderemos quais as vantagens e desvantagens de fazer algo que sempre quisemos ou receámos fazer.

A literatura é isto mesmo: conhecimento e aprendizagem. A nossa vida não seria tão rica sem a leitura, uma vez que, ao lermos, vivemos várias vidas e continuamos a ser nós. Mas podemos ter a certeza de que, depois de cada obra lida, depois de cada vida vivida, nunca seremos os mesmos, pois aprendemos.”

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Restaurante Joaquim Pinto Machado

As Ementas Literárias foram uma criação do Professor Pinto Machado – Mentor e Obreiro da Escola de Medicina e do seu Curso de Medicina - que ao longo de vários anos promoveu dentro da comunidade desta Escola o gosto pela literatura nas suas diferentes formas de expressão. As artes e humanidades, sendo uma componente fundamental na cultura e enriquecimento pessoal de todos, e em particular do ato médico, merecem ser promovidas no ambiente académico, de muitas formas sendo a literatura uma delas!

A literatura, na prosa e na poesia, encerra todo um potencial da mente humana, as suas emoções, os seus medos, as suas paixões, alegrias e tristezas. Pela escolha cuidada dos textos o Professor Pinto Machado foi ao longo dos anos servindo com paixão pratos de letras para que todos fôssemos preparando o terreno para receber a semente do humanismo (34 edições, entre a criação até 2007)

Em Abril de 2018 reabrimos o Restaurante Joaquim Pinto Machado com a edição periódica de 4 Ementas Literárias por ano – Primavera, Verão, Outono e Inverno. Apresentamos desta vez a edição Coletânea Primavera | Abril 2021, esperando que

a viagem, por cada prato de letras nas suas páginas acrescido de tons de música e cor, comporte uma agradável experiência para todos os sentidos.

Espaço Cultural Artes e Humanidades em Medicina

Cátedra Alumni Medicina-Professor Pinto Machado | Escola de Medicina, Universidade do Minho

“ Nada do que é humano... me é estranho enquanto médico! ”

Joaquim Pinto Machado (1930-2011)

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