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RESENHA. ANTUNES, Ricardo. A Rebeldia do Trabalho: o confronto operário no ABC paulista: as greves de 1978/80.

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Academic year: 2021

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ISSN: 2236-3173

RESENHA

ANTUNES, Ricardo. A Rebeldia do Trabalho: o confronto operário no ABC paulista: as greves de 1978/80.

Ulisses Pereira Ribeiro1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste texto é analisar de forma crítica a primeira parte da obra de Ricardo Antunes, A Rebeldia do Trabalho: o confronto operário no ABC paulista: as greves de 1978/80. Esta obra foi publicada em 1988 e concebida a partir dos resultados da tese de Antunes.

Ricardo Antunes é professor de Sociologia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas e seu livro, A Rebeldia do Trabalho, trouxe uma discussão relevante, tanto para a academia, quanto para sindicatos e leitores interessados na temática da relação capital/trabalho no sistema de acumulação capitalista.

ANÁLISE DO TEXTO

O sentido imanente das greves, em análise neste texto crítico, tem como objeto de estudo as três paralisações feitas pelo operariado metalúrgico do ABC paulista no triênio 1978/1980, fatos a partir dos quais o autor buscou captar o sentido imanente das greves, suas causalidades e seus componentes teleológicos. Para a consecução deste objetivo, Antunes optou pelo procedimento analítico, com a finalidade de identificar as categorias fundamentais presentes nos processos de greves.

A ideia do autor de desenvolver o trabalho nasceu no final da década de 1970, quando concluía seus estudos do mestrado, sobre a consciência de classe do operariado brasileiro. Enquanto refletia sobre o passado, pois seu estudo de

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mestrado atinha-se aos anos 1930, percebeu que, durante os anos 1978 a 1980, reemergia, de forma intensa, o movimento operário no País, particularmente a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista.

O texto A Rebeldia do Trabalho tem tom polêmico, propondo-se a debater e criticar as principais teses que antes abordaram a ação operária nos setores industriais de ponta e os protestos grevistas do final dos anos 1970. Caracteriza-se também pela sua filiação a análises sobre o movimento operário no Brasil, centrada na perspectiva ampla das relações entre classes sociais e na relação destas com o Estado.

O autor aponta os fatores históricos concretos que impediram o movimento operário de 1978-1980 de superar alguns limites. Sua análise deixa nítido que a dinâmica dos movimentos era centralmente condicionada pela possibilidade de o Estado intervir nos sindicatos, afastar e cassar dirigentes.

O livro lança o desafio que coloca de um lado os operários, ao negar a empresa e o capital, negam o governo ditatorial e sua política econômica. De outro lado, está o desafio de os operários continuarem lutando, pois saíram vitoriosos da repressão da fábrica e da pressão do Estado, fazendo valer o poder das classes trabalhadoras.

No que concerne ao título, percebe-se relação com conteúdo desenvolvido no livro e abrangência adequada. O método de análise utilizado é coerente com o tema discutido e o autor o utiliza com propriedade.

Antunes tinha consciência de que foi prioritariamente através da greve que se expressou o ressurgimento social e político do movimento do proletariado brasileiro. Neste sentido, resolveu estudar as greves no Brasil dos anos 1978 a 1980, com a finalidade de entender o significado do ciclo grevista desencadeado pelo proletariado metalúrgico do ABC paulista naquele triênio, quando ocorreram três significativas paralisações. O autor pretendia apreender a efetividade das greves metalúrgicas, suas causalidades e componentes teleológicos, significados e desdobramentos.

No que concerne ao sentido imanente das greves, tema central da primeira parte do livro, o autor tratou em três capítulos de analisar cada uma das três paralisações do triênio 1978/1980. No primeiro capítulo, Antunes discutiu as greves

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que iniciaram em maio de 1978, eclodindo primeiro na fábrica da Scania e, posteriormente, em outras fábricas do complexo metalúrgico da indústria automobilística. Conforme o autor, o destaque no processo de greve foi a espontaneidade operária.

Esse movimento de massas marcou o ressurgimento no Brasil das reivindicações, mediante ação grevista, depois de uma década de resistência operária. Para se ter idéia da dimensão das paralisações, vale mencionar que as mesmas atingiram 150 mil operários.

As greves iniciaram com o cruzamento dos braços por parte dos operários e paralisação das máquinas, sem se recorrer a piquetes. Essa manifestação foi motivada, especialmente, pela precarização das condições de salário e de trabalho, e, segundo Antunes, assumiu nítida dimensão política, questionando a base material do poder político. Nesse sentido, esse movimento “Apontou o atraso político dos partidos e aflorou a importância política do movimento sindical.” (ANTUNES, 1988, p. 36).

Para o autor, o grande avanço ocorrido a partir das greves de 1978 tem a ver com a consciência espontânea que o proletariado metalúrgico passou a ter. No entanto, seria obtido um avanço maior, se as lideranças nas greves metalúrgicas tivessem pautado suas ações de forma nitidamente consciente.

No segundo capítulo, Antunes destaca o confronto operário, que evoluiu para uma greve geral na metalúrgica. No momento, março de 1979, destacava-se a preparação para a campanha salarial. A singularidade da Greve Geral metalúrgica, de 1979, estava no caráter espontâneo do trabalhador combinado com a existência da liderança ativa do sindicato operário de São Bernardo.

Além disso, essa greve foi precedida de uma orientação política, cientificamente elaborada, segundo Antunes. Havia uma dimensão orgânica presente no movimento grevista, constituída por meio da realização de exuberantes assembléias plebiscitárias, composta por milhares de trabalhadores; constituição de fundo de greve; realização de piquetes; ação da comissão de salários por meio da articulação das lideranças com as bases nas fábricas; e presença do sindicato como instrumento de organização do movimento.

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destacando-se a resistência e os limites da greve geral metalúrgica deste ano. Chama a atenção o título da segunda seção deste capítulo, o capital e o trabalho preparam-se para o novo embate.

Segundo Antunes, as greves que aconteceram no final de 1979 e início de 1980 desmistificaram e desnudaram a propositura da nova política salarial. O pólo mais combativo do movimento sindical percebeu o caráter essencialmente negativo da política salarial do governo, entendendo que os reajustes que seriam feitos retirariam o direito conquistado de negociar melhores salários e condições de trabalho diretamente com os patrões. Segundo a política, somente seria possível negociar salário aumento de salário com base no crescimento da produtividade da empresa. A questão para o sindicato era como medir esse indicador.

Apesar da não aceitação dos sindicatos e da luta operária mediante deflagração de greves, com respaldo jurídico-legal, o governo avançou sua tática de enfrentamento das greves, através da intervenção nos sindicatos operários, visando quebrar a centralidade sindical, dentre outras ações repressivas. Somou-se a isso a não aceitação das negociações por parte das empresas e demissão das lideranças das greves. Nesse sentido, segundo Antunes, o capital e seu Estado político buscaram desestruturar o núcleo mais avançado do proletariado brasileiro.

O desfecho da greve geral metalúrgica de 1980, diante da opressão do Estado e do capital, foi negativo, de modo que as reivindicações essenciais dos operários não foram atendidas. Segundo Antunes, foi uma inegável derrota política do movimento operário.

Porém, para o autor, fica uma importante lição das greves realizadas no triênio 1978/1980: a derrota em 1980 coloca para o proletariado a necessidade de tematização das questões envolvidas na consecução das greves deste ano, no entanto, é importante valorizar os múltiplos e riquíssimos ensinamentos extraídos das vitórias de 1978 e 1979.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO E REPERCUSSÕES POLÍTICAS

Em A Rebeldia do Trabalho, Ricardo Antunes procurou determinar as categorias fundamentais encontradas no fenômeno social da greve, buscando

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revelar os nexos existentes entre os processos efetivos de greve e suas manifestações ao nível da consciência do proletariado.

Antunes defendeu a tese de que foi através das greves dos anos de 1978 a 1980 que se manifestou o ressurgimento social e político do movimento do proletariado brasileiro, num contexto de uma ditadura militar e uma conjuntura econômica que apresentava dificuldades importantes.

Esse fato colocou o Brasil no limiar de uma nova era e revelou personagens políticos que, em pouco mais de duas décadas depois, assumiram a Presidência da República. Tais personagens promoveram políticas de inclusão social de milhares de pessoas, com aumento do emprego e da renda, acesso a crédito e a bens antes inacessíveis ao proletariado.

Porém, infelizmente, alguns desses personagens renderam-se a condicionantes formais e informais impostos pela forma de funcionamento do sistema político do país, que para se manterem no poder associaram-se a grupos políticos tradicionais e adotaram estratégias que, atualmente, são motivos de diversas ações judiciais.

Percebe-se, atualmente, que o proletariado está ficando cada vez mais órfão de liderança política capaz de representar seus interesses, que possa evitar a crescente precarização do trabalho e das formas de vida. O proletário deve se manifestar com a devida intensidade, observando as experiências positivas do passado, de modo que sejam efetivadas estratégias de ação que tenham força contra a superexploração do trabalho e a concentração dos resultados deste.

Novas lideranças são necessárias!

REFERÊNCIA

ANTUNES, Ricardo. A Rebeldia do Trabalho: o confronto operário no ABC paulista: as greves de 1978/80. São Paulo: Ensaio; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988.

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