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Júlia Bezerra Lucas Reginato FUNK. A batida eletrônica dos bailes cariocas que contagiou o Brasil. Realização:

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Academic year: 2021

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Júlia Bezerra • Lucas Reginato

FUNK

A batida eletrônica

dos bailes cariocas que

contagiou o Brasil

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© Júlia Bezerra e Lucas Reginato Diretor editorial

Marcelo Duarte Diretora comercial Patty Pachas

Diretora de projetos especiais Tatiana Fulas

Coordenadora editorial Vanessa Sayuri Sawada Assistentes editoriais Mayara dos Santos Freitas Roberta Stori Assistente de arte Mislaine Barbosa Diagramação Elis Nunes Preparação

Beatriz de Freitas Moreira Revisão

Carmen T. S. Costa Impressão Loyola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Bezerra, Júlia

Funk: A batida eletrônica dos bailes cariocas que contagiou o Brasil / Júlia Bezerra, Lucas Reginato. – 1. ed. – São Paulo: Panda Books, 2017. 160 pp.

ISBN: 978-85-7888-623-3

1. Música. 2. Funk (Música) – Rio de Janeiro (RJ) – História. 3. Música popular – Brasil – História. I. Reginato, Lucas. II. Título.

16-36243 CDD: 782.42164098115 CDU: 78.067.26(811.5)

2017

Todos os direitos reservados à Panda Books. Um selo da Editora Original Ltda.

Rua Henrique Schaumann, 286, cj. 41 05413-010 – São Paulo – SP Tel./Fax: (11) 3088-8444 edoriginal@pandabooks.com.br www.pandabooks.com.br

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Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Original Ltda. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei no 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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SUMÁRIO

Introdução, 7 James Brown

O rei do funk invade o Rio, 15

Michael Jackson

Uma criança no trono do pop, 31

Rio de Janeiro

Leonel Brizola estava de volta, 37

Grandmaster Raphael

Melôs no estúdio em Inhaúma, 45

Marlboro

Campeão das picapes, 59

Cidinho e Doca

Amigos e irmãos na Cidade de Deus, 75

Mr. Catra

Entre o morro e o asfalto, 93

Tati Quebra-Barraco

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Marcinho

Funkeiro também ama, 133

Guimê

Pouco dinheiro e muita ambição, 147

Referências bibliográficas, 157 Agradecimentos, 159

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INTRODUÇÃO

A comunhão de povos das mais diversas origens fez do Brasil no século XX um fantástico laboratório de ritmos e melodias. Dos sambas de escravos recém-libertos na Bahia à colorida música eletrônica de indígenas no Pará, canções tristes e alegres narraram a vida nacional para quem qui-sesse ouvir. Nos anos 1960 e 1970, em São Paulo, egressos da bossa nova carioca agitaram uma nova cena que daria origem ao termo MPB. Na década de 1980, a periferia do Rio de Janeiro foi invadida pelo funk norte-americano de James Brown e acabou recriando o estilo por completo. Os anos 1990 ficaram marcados por testemunharem o en-contro do rock e do hip-hop com o maracatu no Recife, resultando em uma mistura que ficou conhecida como manguebeat. Esses três movimentos foram escolhidos para compor uma coleção de livros que homenageia a riqueza e a diversidade da música brasileira. Neste volume, você irá conhecer a história do Funk, ritmo carioca que, apesar de altamente popular em diversas camadas sociais, é constan-temente depreciado por preconceitos de todo tipo, resquí-cios de nossas desigualdades.

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Existe o funk e existe o funk. Em qualquer lugar do mundo, funk é James Brown, George Clinton, Sly Stone. No Brasil é Guimê, Catra, Valesca Popozuda. Lá é elé-trico; aqui, eletrônico. Quem escuta uma coisa e outra sabe logo que são bem diferentes. O funk gringo tem ar-ranjos sofisticados e instrumentos orquestrados; no Bra-sil o funk é batidão e a crua melodia dos MCs. Como uma coisa se transformou na outra? Como essa palavra, uma gíria para mau cheiro no século XVIII e um estilo de música nas jam sessions da década de 1950 em Nova Or-leans, se transformou nessa batida que se ouve por todo o país, em qualquer boate de subúrbio, na trilha sonora da novela, nos carros que incomodam os mais velhos pela madrugada afora?

Essa transformação se deu no Rio de Janeiro. Não de uma só vez, nem por uma só pessoa, como as pági-nas deste livro pretendem demonstrar, e também não no Rio de Janeiro que algum desavisado possa imaginar, como Leblon ou Copacabana. Pense no gigante Rio de Janeiro, no subúrbio infinito de gente trabalhadora, na Baixada Fluminense, nas comunidades que abraçaram os morros da cidade.

Os brasileiros estavam sob as rédeas de um governo autoritário enquanto James Brown alcançava seu auge no fim da década de 1960. Com a promessa de evitar uma revolução comunista, tal qual Cuba em 1959, os militares derrubaram João Goulart com o apoio de grande parte

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da população e a bênção indelével dos norte-americanos, para quem o território era estratégico ao projeto de capi-talismo globalizado.

Como foi de praxe nos regimes ditatoriais do sé-culo XX, a propaganda exercia grande influência no território brasileiro. Sem a legitimidade da escolha do povo, eram necessários mecanismos sociais, da censura oficial às aulas de moral e cívica, para consolidar o sen-so comum de aceitação das ordens hierarquicamente superiores e valorização de um nacionalismo liberal e antissoviético em tempos de Guerra Fria. Os produtos culturais são poderosos nesse contexto. James Bond era certamente mais conhecido que Macunaíma ou An-tônio das Mortes, e Os Beatles só não eram reis das paradas porque a Jovem Guarda tratou de abrasileirar o pop rock branco.

Esse vetor cultural trouxe ao Brasil o funk de James Brown em um momento agitado nos Estados Unidos, em que líderes como Martin Luther King lutavam por direitos civis. Nas rádios e nos programas de televisão do Rio de Janeiro o soul brother number one estava à altura de demais popstars da música e de Hollywood, mas a inten-sa produção de outros soul brothers, dispersos em tantos guetos e selos independentes no vasto território norte--americano, não constava no catálogo que as gravadoras multinacionais ofereciam em poucas lojas de discos da zona Sul carioca.

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Mesmo assim, a música negra derivada do jazz e do rock estimulou uma cena surpreendente: por toda a peri-feria urbana, e com muita força na Baixada Fluminense, festas de garagem durante a década de 1970 evoluíram para espaços comunitários, quadras de futebol e de blocos carnavalescos, até reunir milhares de pessoas em concorri-dos bailes promoviconcorri-dos por equipes de som cada vez mais numerosas. O funk se tornou negócio não de engravata-dos no centro da cidade, mas de jovens entusiasmaengravata-dos a fim de curtir mais um fim de semana.

Garotos com vinte e poucos anos, no máximo um di-ploma de segundo grau na mão e parcos recursos familiares – que poder de investimento havia para realizar essa cena? Um gravador doméstico de fitas cassete poderia armazenar as músicas que as ondas de rádio traziam, mas no mercado concorrido que se formou a qualidade sonora dos discos era uma exigência do consumidor. Proprietários de equi-pes de som, e principalmente os primeiros DJs, tinham de apertar os bolsos para comprar um disco.

Discos importados vinham em pequena quantidade para as discotecas mais privilegiadas e se tornavam obje-to de cobiça por obje-toda a cidade. Alguns DJs guardavam todo o ganho de uma noite para investir em um disco novo, outros trocavam os ônibus por longas caminhadas a fim de engordar o cofrinho. Ali estava a velha lei da oferta e da demanda. Não seria mais barato eles mesmos importarem os discos?

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Quem tinha amizade com comissários de bordo em rotas para Miami, Nova York ou Los Angeles certamente levou vantagem. Dez discos que viessem na pequena ba-gagem deles valiam uma fortuna. Ou então poderiam ir alguns deles mesmos à terra do Tio Sam. Tony Minister, produtor da equipe Super Quente, e o DJ Carlos Macha-do, de Niterói, foram alguns dos que arrumaram as malas para caçar futuros hits.

As primeiras viagens foram difíceis. Conversar em inglês era um desafio e tinham pouca informação para encontrar as lojas que valiam a pena frequentar. Distri-buidoras que ficavam em subúrbios das grandes cidades, sobrados escondidos no centro, lojas especializadas em música soul, enfim, endereços valiosos foram conquista-dos, um a um, pelos jovens desbravadores.

Algumas dessas vezes trouxeram de trezentos a qua-trocentos discos na bagagem, a multa na alfândega sempre valeu a pena. No contato com outros agitadores da cidade acabavam por ditar moda, pois canções pouco conheci-das mesmo nos Estados Unidos se tornavam sucessos no Brasil. Os encontros na casa de alguém, normalmente às segundas-feiras, serviam para que os DJs soubessem das novidades, discutissem os bailes mais quentes do fim de semana e, principalmente, transacionassem os discos.

O escambo envolvia escalas de valores subjetivos. O entusiasmo do povo que frequentava os bailes determi-nava o que era mais barato ou mais caro, e se um disco

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que viesse em pouca quantidade se tornasse um sucesso era logo tachado como “artigo de luxo”. A crescente in-tensidade do mercado forçou os comerciantes a saírem de suas salas de estar para se posicionarem em locais pú-blicos, no centro da cidade: esses locais eram conhecidos como malódromos.

Há quem diga que eram chamados assim porque os vendedores colocavam as malas com os discos no chão, mas outra versão diz que é pela presença de muitos “ma-las” mesmo, no sentido popular do termo, gente que fala-va muito mais do que comprafala-va ou vendia, até porque os discos, na maioria das vezes, estavam em sacolas de papel de supermercados, não em malas... O importante é que o comércio informal tomou calçadas da cidade e se tornou ponto de encontro e distribuição da música funk que vinha dos Estados Unidos.

O primeiro malódromo nasceu na década de 1980 diante da galeria Maçom, na rua Sete de Setembro, capi-taneado por figuras de relevo na efervescente cena black como os agitadores Funk Gil e Peixinho. A chegada de novos curiosos e empreendedores, como Tony e Machado, fez do largo da Carioca, a cem metros apenas, indo pela rua Uruguaiana ou pela Gonçalves Dias, o novo point.

Aos pés do convento de Santo Antônio, o largo ga-nhou esse nome graças ao rio Carioca que passava por ali, tendo sido esta a primeira fonte de água potável para os cariocas. O largo foi o coração da então capital federal por

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quase um século, centro nervoso de uma paisagem que cresceu sem limites, subindo o morro e cobrindo a baía de Guanabara. Na década de 1980 esse ponto do centro era um alvoroço, percurso de trabalhadores engravatados, comerciantes informais, desempregados com a CLT nas mãos. Assim, a confusão do malódromo foi naturalmente acolhida pelo caos da praça pública.

Os comerciantes de discos também tinham suas es-tratégias de marketing. Luis Carlos “Garotinho” Nasci-mento, produtor musical da Tropical FM, rádio pioneira a se dedicar exclusivamente à black music, recebia com exclusividade algumas cópias que chegavam do exterior. Se ele anunciava no ar que tal música era lançamento, logo estava alguém no malódromo atrás daquele disco...

A fama do malódromo não demorou a extrapolar os limites do Rio de Janeiro. De norte a sul do país, jovens apaixonados por música negra passavam dias na estrada atrás das canções. Na Baixada Santista os discos faziam sucesso estrondoso, e mesmo da cidade de São Paulo, onde o hip-hop teve mais aceitação que o Miami bass, vinham garotos interessados em atualizar o repertório. No Rio de Janeiro essa agitação cultural foi apelidada de Black Rio.

As reuniões dançantes de gente humilde, com enormes cabeleiras e roupas mirabolantes, não eram exatamente vistas com bons olhos por órgãos como o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) do

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governo militar e a Secretaria de Segurança do Estado, que por mais de uma vez intervieram em bailes da ci-dade. Havia um quê de subversivo naquela música de graves fortes, refrãos cantados em coro, intrinsecamen-te politizada.

Mesmo à margem, o funk evoluiu no Rio de Janei-ro para se tornar o funk do Brasil. A inesperada história de como uma coisa se transformou na outra é o que vem a seguir.

Referências

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