PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL
23ª VARA - JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
SENTENÇA
CLASSE: CÍVEL / SERVIÇO PÚBLICO / JEF
PROCESSO N°: 200534009042278AUTOR(A): JANDIRA UBALDINA SANTOS PITTRO
RÉ(U): UNIAO FEDERALRELATÓRIO
Trata-se de ação ajuizada por servidor inativo objetivando o reajuste
de seus proventos de aposentadoria com a implantação da GDATA (Gratificação de
Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa) no mesmo percentual pago aos
servidores ativos.
A parte Ré contestou.
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
O artigo 40, § 8º, da Constituição Federal prescreve que “é assegurado
o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes em caráter permanente, o valor
real, conforme critérios estabelecidos em lei”.
A Constituição Federal, como visto, garante apenas a revisão dos
proventos de aposentadoria para preservar-lhes o valor real, tendo a Emenda
Constitucional nº 41/2003 alterado a redação do art. 8º, o qual previa que os
proventos de aposentadoria e as pensões seriam revistos na mesma proporção e na
mesma data, sempre que se modificasse a remuneração dos servidores na atividade,
sendo também estendidos aos aposentados e pensionistas quaisquer benefícios ou
vantagens posteriormente concedidos aos servidores em atividade, inclusive quando
429A1F7CE8C06DDA0A5D38288BA2CAB72
decorrentes da transformação ou reclassificação do cargo ou função em que se tinha
dado a aposentadoria ou que tinha servido de referência para a concessão da pensão.
Ressalte-se que, mesmo durante a vigência da redação anterior, o
Supremo Tribunal Federal já havia fixado o entendimento de que “a regra de
extensão aos inativos das melhorias da remuneração dos correspondentes
servidores em atividade não implica a permanente e absoluta paridade entre
proventos e vencimentos, dado que nos últimos se podem incluir vantagens
pecuniárias que, por sua natureza, só podem ser atribuídas ao serviço
ativo.”(ADIN 575-8/PI)
Neste sentido, cite-se ainda Decisão do Ministro Carlos Velloso nos
autos do RE 228814 AgR/SP – 2ª Turma – DJU 27.02.2004 : “Somente as
gratificações ou vantagens concedidas aos servidores da ativa, com características
de generalidade e impessoalidade, é que se estendem aos inativos(...)”.
No caso em espécie, pela própria natureza da Gratificação de
Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa, que é arbitrada de acordo
com a pontuação obtida mediante a avaliação do desempenho individual do
servidor e institucional do órgão ou da entidade a que ele está vinculado,
verifica-se que não era essencial estendê-la aos inativos e pensionistas e
incorporá-la aos respectivos proventos, já que o que se buscava, a princípio, era
o incentivo à produtividade do servidor, de acordo com o interesse público
relacionado à prestação dos serviços.
Todavia, já que o legislador optou por promover as referidas extensões
e incorporações por meio da própria Lei nº 10.404/2002, não o pode fazer criando
discrímem dentro da própria lei, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da
isonomia. Assim, a aplicação dos critérios e parâmetros definidos pelo legislador
para se adquirir o direito à sua percepção pelos inativos deve revelar-se justa e
proporcional.
A Lei 10.404/02, no seu artigo 5º, com redação dada pela Lei nº
10.971/04, dispõe que a GDATA paga ao servidor inativo corresponderá a 30
pontos. Por sua vez, o art. 6º, da mesma Lei que restou inalterado, prevê que para os
servidores ativos não avaliados, a referida gratificação será de 37,5 pontos.
Com o advento da Lei nº 10.971/2004, art. 1º, esse parâmetro ficou
estabelecido em 60 pontos, tanto para os servidores ativos alcançados pelo Art. 1º da
Lei nº 10.404/02, como para os investidos em Funções Comissionadas Técnicas –
FCT e Funções Gratificadas – FG e os ocupantes de cargo em comissão, até que seja
instituída nova disciplina para a aferição de avaliação de desempenho individual e
institucional e concluído os efeitos do último ciclo de avaliação.
Com efeito, é imperioso reconhecer que o pagamento da referida
gratificação aos inativos com base no critério de 30 pontos lhes impõe uma restrição
injustificável já que não foram submetidos à avaliação de produtividade enquanto
ativos - pois a gratificação ainda não existia – e agora tampouco podem ser avaliados
em razão de sua situação funcional.
Ora, se a gratificação é concedida com base na produtividade e não há
como avaliar a produtividade dos servidores inativos, e se foi eleito um parâmetro
para os ativos não avaliados, razão não há para que dito parâmetro também não seja
aplicado aos inativos.
Apreciando a matéria, a Quarta Turma, do TRF 5ª Região, nos autos
da AC 2003.84.00.008195-7, DJU: 30/08/2005, pg. 492, da relatoria do
Desembargador Federal Marcelo Navarro assim decidiu:
ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE QUE TRATA A LEI N.º
10.404/02 (GDATA). SERVIDORES INATIVOS. DIREITO À
PERCEPÇÃO NOS MESMOS CRITÉRIOS ESTABELECIDOS PARA
OS SERVIDORES EM ATIVIDADE NÃO AVALIADOS. SÚMULAS
148 E 204-STJ. JUSTIÇA GRATUITA. SUCUMBÊNCIA AFASTADA.
1.
A
GRATIFICAÇÃO
DE
ATIVIDADE
TÉCNICO-ADMINISTRATIVA INSTITUÍDA PELA LEI N.º 10.404/02, EM
HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA, DEVE SER PAGA
AOS SERVIDORES INATIVOS, OBEDECENDO-SE OS MESMOS
CRITÉRIOS ESTABELECIDOS PARA OS SERVIDORES EM
ATIVIDADE
NÃO
AVALIADOS.
2. O ART. 5.º DA LEI N.º 10.404/02 DISPÕE QUE A
GRATIFICAÇÃO GDATA PAGA AO SERVIDOR INATIVO
CORRESPONDERÁ A 10 PONTOS, ENQUANTO QUE, PARA OS
SERVIDORES ATIVOS NÃO AVALIADOS, A DITA VANTAGEM
SERÁ DE 37,5 PONTOS. LOGO, É RAZOÁVEL A APLICAÇÃO
DESTA ÚLTIMA ALÍQUOTA, DESDE QUE A SITUAÇÃO DOS
APOSENTADOS SE EQUIPARE À DOS SERVIDORES EM
ATIVIDADE AINDA NÃO AVALIADOS, SOB PENA TAMBÉM DE
OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA.
3. JUROS MORATÓRIOS DE 1% AO MÊS, A PARTIR DA CITAÇÃO
VÁLIDA, DADA A NATUREZA ALIMENTAR DA DÍVIDA (SÚMULA
N.º
204-STJ).
4. DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS, VENCIDOS E COBRADOS EM
JUÍZO, APÓS A VIGÊNCIA DA LEI N.º 6.899/81, DEVEM SER
CORRIGIDOS MONETARIAMENTE NA FORMA PREVISTA NESSE
DIPLOMA
LEGAL
(SÚMULA
N.º
148-STJ).
5. DESCABIMENTO DA CONDENAÇÃO DO AUTOR AO
PAGAMENTO
DAS
VERBAS
DE
SUCUMBÊNCIA,
429A1F7CE8C06DDA0A5D38288BA2CAB74
JUDICIÁRIA
GRATUITA.
PRECEDENTE
DO
STF.
6. APELAÇÃO DO PARTICULAR PARCIALMENTE PROVIDA, E A
DA UNIÃO, IMPROVIDA.
Assim, não há como a pretensão da parte autora de ter implementada a
GDATA em seu percentual máximo ser atendida, pois a sua percepção depende de
avaliação de desempenho, não se podendo atribuí-la nem mesmo aos ativos.
Deslindam a questão não só a regra de transição inserta no art. 6º da
lei 10.404/2002, a qual estabelece para os servidores ativos não avaliados o mínimo
de 37,5 pontos como também a do art. 1º, da Lei nº 10.971/2004 que, por sua vez,
elege o valor correspondente a 60 pontos, até que seja instituída nova disciplina para
aferição de desempenho individual e institucional. Tais foram os parâmetros que o
legislador encontrou como os mais indicados para a identificação do “piso”
praticado em relação aos ativos, devendo assim ser estendidos aos inativos, sob pena
de ofensa ao princípio da isonomia.
Da execução do julgado.
Ressalto que, sendo a competência do Juizado Especial Federal Cível
absoluta e tratando-se de matéria de ordem pública (artigo 3
oda Lei 10.259/2001), o
reconhecimento de diferenças derivadas da presente sentença, não pode exceder,
nesta data, a sessenta salários mínimos. Entendimento diverso implicaria frustrar a
regra de competência deste Juizado e desvirtuar a vontade constitucional: a
existência de órgãos e ritos especiais de aplicabilidade restrita às causas cíveis de
menor complexidade (art. 98, I, CF).
Ademais, há que se observar a regra inserta no art. 3º, § 3º, da Lei nº
9.099/95: “A opção pelo procedimento previsto nesta lei importará em renúncia ao
crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de
conciliação”. Com efeito, se o demandante tem um crédito superior a sessenta
salários mínimos – por conseguinte de competência das Varas Federais comuns – e
ingressa nos Juizados, há de arcar com algum ônus decorrente de sua opção. Outra
não será a conseqüência que não a inscrita no preceito em análise.
Importante assinalar que o art. 17, § 4º, da lei nº 10.259/2001 não
altera este entendimento. Este dispositivo refere-se somente aos casos em que, por
motivo superveniente à sentença, o valor da execução ultrapassa o limite da
competência dos Juizados, por exemplo, com a incidência de atualização monetária,
juros de mora, multas e honorários. Não fosse assim, esse comando implicaria a
“revogação” do limite de competência dos Juizados, em um evidente absurdo
hermenêutico: a lei – cumprindo a Constituição – estabeleceria um limite e ela
própria, em parte diversa, encarregar-se-ia de elidi-lo. Cabe ao intérprete, trilhando
vereda diversa, compatibilizar preceitos aparentemente antinômicos e repor lógica e
coerência finalística ao sistema normativo.
No mesmo sentido, a Turma Recursal dos Juizados do DF decidiu:
“PROCESSUAL CIVIL. FGTS. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INEXISTÊNCIA. ILIQÜIDEZ DA SENTENÇA.
I - Não ocorre cerceamento de defesa quando, tratando-se de apenas
direito, a ré é citada para apresentar contestação em 15 dias, tendo-lhe
sido facultado o protesto por realização de audiência, caso fosse
possível a conciliação.
II – Não é ilíquida a sentença que determina a correção das contas de
FGTS, eis que traduz em obrigação de fazer.
III – Por se tratar a competência dos Juizados Especiais Federais
Cíveis matéria de ordem pública, nos termos do artigo 3
oda Lei
10.259, de 2001, a execução do julgado fica limitada ao valor de 60
(sessenta) salários mínimos, seja quanto à obrigação de recompor
as contas do FGTS, seja quanto ao respectivo levantamento.
IV - Honorários advocatícios, estes no percentual de 10% (dez por
cento) sobre o valor da recomposição do saldo da conta fundiária
do(a) autor(a), devidos pela recorrente (Lei 9.099, art. 55, caput). Sem
custas, em razão do art. 3
oda MP nº 2180 – 35, de 24.08.2001.”
(Recurso nº 2003.34.00.700594 – 4, Relatora Juíza Federal Mônica
Sifuentes, Boletim Informativo da Turma Recursal do DF/TO nº 002,
Ano II, Brasília – DF 26.02.2003).
DISPOSITIVO
Isto posto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido
para condenar a parte Ré a calcular a GDATA da autora com a atribuição de 37,5
(trinta e sete vírgula cinco) pontos até o dia de 15 de julho de 2004, data do advento
da Medida Provisória nº 198/2004, convertida na Lei nº 10.971/2004, a partir de
quando deverá ser atribuído 60 pontos, e a pagar-lhe as diferenças daí decorrentes.
As diferenças existentes nesta data ficam limitadas ao valor de 60
(sessenta) salários mínimos. Execução superior a tal valor somente poderá ocorrer
em razão de atualização monetária, juros de mora, multas e honorários advocatícios.
Tais valores devem ser calculados pela parte Ré, com base nas informações insertas
em seu banco de dados, apresentando as planilhas respectivas no prazo de 30 (trinta)
dias após o trânsito em julgado.
429A1F7CE8C06DDA0A5D38288BA2CAB76