III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Desafios Educacionais
A MEDIAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
COLUSSI, Lisiane G1 MERLI, Ana Claudia O. G.2
GT 02 Processo de ensino/aprendizagem das pessoas com necessidades educacionais especiais.
RESUMO
O professor tem um papel fundamental no desenvolvimento dos sujeitos com necessidades educativas especiais, por meio da mediação promove a efetivação da educação inclusiva oportunizando a apropriação do conhecimento e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. O presente estudo, de natureza bibliográfica, tem como objetivo analisar a educação inclusiva a partir da mediação docente. Serão abordados aspectos da legislação, do serviço de apoio especializado na sala de recursos multifuncional e da categoria mediação docente com fundamentação nos pressupostos da Psicologia Histórico-cultural. Esse entendimento percebe o homem como um ser constituído histórica, social e culturalmente nas relações que estabelece durante sua vida. Destaca-se, além destes aspectos da análise, principalmente as reflexões tecidas a respeito do olhar dos profissionais envolvidos com a efetivação da educação inclusiva. A partir disto, inferimos que a atuação mediatizadora docentes do ensino regular, da educação especial e do papel como agentes é o que propicia mudanças por meio de novos olhares e de práticas educativas que visem a inclusão de todos, legitimando a heterogeneidade humana. Conclui-se que a educação inclusiva enfrenta dificuldades para sua efetivação, apontando a bidocência como uma das alternativas para tal, ou seja, o trabalho coletivo entre professor do ensino regular e da educação especial.
Palavras-chave: educação inclusiva; mediação; docência
Mestranda em Educação (Unioeste – campus Cascavel) e Docente do Quadro Próprio do
Magistério (QPM) do Estado do Paraná.)1
INTRODUÇÃO
Um dos temas mais debatidos em educação no Brasil atualmente é a inclusão. No Brasil, em 1961, a Legislação Educacional cita pela primeira vez a educação especial na Lei 4024/61 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e posteriormente na Lei 5692/71. Desde a implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva em 2007 efervesceu o debate de posicionamentos divergentes de toda sociedade com diversos argumentos e movimentos favoráveis e contrários à deliberação desta Política.
Nesse estudo abordaremos a educação inclusiva a partir da atuação mediatizadora dos docentes e do papel que desempenham enquanto agentes promotores de mudanças através de novos olhares e de práticas educativas que visam a inclusão de todos, legitimando a heterogeneidade humana. Dessa forma, repercutindo nas concepções, crenças e valores que norteiam as atividades nas instituições escolares e ampliando as estratégias utilizadas no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais.
O documento do MEC/SEESP (2010), define os objetivos, os alunos e as garantias que a educação especial providencia. Segundo esse documento a educação especial é definida como:
[...] uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular (p. 21).
Conforme a legislação o atendimento educacional especializado é um direcionador e orientador da comunidade educacional à uma educação inclusiva, às mudanças que a escola deve realizar a fim de atender as necessidades sociais dos sujeitos.
A oferta de serviços de apoio complementar e suplementar especializado nas escolas da rede pública de ensino no estado do Paraná, em cumprimento às recomendações de documentos nacionais e internacionais que
direcionam ações para a construção de espaços educacionais inclusivos, organiza-se em Sala de Recursos Multifuncional (SRM), Centro de Atendimento Especializado (CAE), Professor de Apoio a Comunicação Alternativa (PAC), Professor de Apoio Educacional Especializado (PAEE) e Intérprete de LIBRAS.
O serviço de apoio especializado em SRM é definido como um atendimento educacional pedagógico, o qual deve complementar a escolarização dos alunos. Tem o objetivo de apoiar os sistemas de ensino, “[...] realizar o atendimento educacional especializado, disponibilizar os serviços e recursos próprios desse atendimento e orientar os alunos e professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular” (HONNEF, 2012, p. 127).
O trabalho pedagógico, na perspectiva da educação inclusiva, passa a ser articulado entre os professores da classe comum e o professor de educação especial, podendo ser apresentado como uma bidocência. Honnef (2012) esclarece que a bidocência:
[...] apresenta-se como uma nova perspectiva de ensino que tem como princípio o trabalho coletivo entre o professor de educação especial e o professor da classe comum, o que implica compartilhamento de vidas profissionais, concepções e processos [...] o trabalho coletivo entre os profissionais da educação, e que ela seja viável desde que se despenda especial atenção a forma como ela se dará, sendo necessário que professores de educação especial e professores da classe comum estejam dispostos a superar todos os desafios (p. 128).
Diante disso, tem-se verificado a importância e a dificuldade da efetivação deste trabalho articulado, uma vez que demandam pensar sobre o desenvolvimento dos alunos com necessidades educacionais especiais coletivamente.
Dispor-se a superar desafios, pressupõe a necessidade de compreender as mudanças do antigo para o novo cenário educacional que se concretiza com a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). Segundo Beyer (2006):
A inclusão escolar dos alunos com necessidades especiais é um desafio porque confronta o (pretenso) sistema escolar
homogêneo com uma heterogeneidade inusitada, a heterogeneidade dos alunos com condições de aprendizagem muito diversas (p. 81).
A educação inclusiva direciona o olhar para as mudanças que a escola deve realizar a fim de atender às necessidades sociais dos sujeitos. Nesse sentido, compreende a deficiência como uma construção social que deriva dos fatores e critérios que definem um sujeito como diferente/incapaz no grupo social. O professor é a figura central de mediação social para a superação das diferenças individuais na aprendizagem.
A abordagem histórico-cultural volta-se para as possibilidades do sujeito, que se constitui através do outro e nas relações estabelecidas. Diante disso, Rossetto (2009) afirma que “[...] desloca o seu olhar, anteriormente voltado somente ao aluno e suas próprias condições individuais e internas de desenvolvimento, para o campo das relações sociais nos quais ele está inserido (p. 17)”.
Deve-se acrescentar que, para Vigotski, a relação eu-outro é fundamental para a constituição cultural do ser humano. A incorporação dos instrumentos culturais acontece por meio da interação com os outros, é um processo ativo em que o sujeito, de uma maneira particular e individual, se apropria do social, se transforma e atua ativamente na transformação ao seu redor.
Diante disso, tem-se estabelecido o papel fundamental do professor na educação inclusiva quanto aos processos de mediação e para superação das diferenças individuais na aprendizagem. Conforme Rossetto (2009), a atuação mediatizadora do docente envolve “[...] conceber que os processos psicológicos têm sua natureza situada no âmbito das relações culturais, socialmente mediadas (p. 31)”.
Um dos princípios norteadores da educação inclusiva é o de não categorizar os alunos em com e sem deficiência, com e sem distúrbios, com e sem necessidades especiais. O que existem são pessoas que fazem parte da comunidade escolar e que apresentam necessidades diversas (Beyer, 2006).
Alguns encaminhamentos para a efetivação da educação especial na perspectiva da educação inclusiva nos são dados por Honnef (2012) em
pesquisa realizada junto a cinco Secretarias Municipais de Educação no Rio Grande do Sul. A autora ressalta a relevância do “[...] estabelecimento de uma parceria entre o professor de educação especial e o professor da classe comum, para efetivação de um trabalho que proporcione aprendizagem e desenvolvimento aos alunos com NEE (p. 131)”. A aprendizagem dos alunos é o objetivo maior da escola, a organização e a gestão escolar contribuem decisivamente para melhorar a qualidade dessa aprendizagem. A pesquisa revela também a importância de haver frequentes diálogos entre professores e todos os membros da comunidade escolar, com a finalidade de esclarecimentos e reflexões à cerca da educação inclusiva e ao respeito à diversidade.
Outro ponto considerado pela autora reside na “[...] importância do professor de educação especial e sua tarefa, de realizar a formação dos professores frente à educação inclusiva” (p.132). Dessa forma, a atuação do professor especializado nas escolas é o de apoio pedagógico aos professores e de disponibilidade em prestar informações.
A pesquisa de Honnef (2012) observa que a dedicação, o comprometimento e a predisposição dos professores são fatores essenciais para um trabalho articulado entre a educação especial e o ensino comum, o que nem sempre acontece devido a resistência de alguns profissionais, constituindo-se como forma de defesa frente ao novo, ao desconhecido.
OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO
Objetiva-se discutir a mediação docente. Especificamente pretende-se abordar as possiblidades de desenvolver novos olhares em relação à educação inclusiva a fim apresentar alguns desafios e desmistificar o trabalho docente voltado a alunos com necessidades educacionais especiais
METODOLOGIA
O estudo é de caráter teórico-bibliográfico. As análises e discussões aqui apresentadas se consubstanciaram a partir da legislação nacional vigente que orienta a educação inclusiva e dos fundamentos teóricos de Lev
Vigotski(1896-1934) que abordou as necessidades educacionais especiais, chamada de defectologia a seu tempo, desenvolveu ricas considerações que são capazes de subsidiar o trabalho docente ainda hoje
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Educação inclusiva tem exigido uma nova postura dos educadores diante do desconhecido, do singular; o que nem sempre vem acompanhado do acolhimento necessário para prosperar. Nesse sentido, Real e Rossetto (2010, p.100), argumentam, através da metáfora de uma viagem, que “nem todos se dispõem a viajar e há aqueles que preferem os lugares já conhecidos, onde se sentem confortáveis e podem transitar em espaços ordenados, preestabelecidos, com menos possibilidades de ocorrências inesperadas.
REFERÊNCIAS
BEYER, Otto Hugo. Da integração escolar à educação inclusiva: implicações pedagógicas. In: BAPTISTA, C. R. (Org.). Inclusão e escolarização:
múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 73-81.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Marcos
político-legais da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Secretaria de Educação Especial. Brasília: Secretaria de Educação
Especial, 2010.
HONNEF, Cláucia. A gestão educacional da educação especial na perspectiva da educação inclusiva: percepções acerca do trabalho articulado entre professores de educação especial e professores da classe comum. In: COSTAS, F. A. T. (Org.). Educação, educação especial e inclusão: fundamentos, contextos e práticas. Curitiba: Appris, 2012, p. 125-138.
REAL, D. C; ROSSETTO E. Todos a bordo: reflexões sobre uma escola
para todos. Disponível em: <www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/index.php/comunicacao/article/view/181>. Acesso em: abr. 2013. ROSSETTO, Elisabeth. Sujeitos com deficiência no ensino superior: vozes
e significados. Porto Alegre: UFGRS, 2009. Tese (Doutorado em Educação)
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009.
VIGOTSKI, L. S. Obras completas. Tomo cinco. Fundamentos de