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Granuitlca ou Teorla das Valencias.

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Academic year: 2021

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ABSTRACT:

This paper presents some considerations about the Valency Theory. focusing the syntactic valency and its divulgation by German linguists. Special attention is given to the Portuguese linguist, Mario Vilela. who, inspired in the German scholars. offered a systematic classification of the Portuguese verbal valency.

Entende-se por valencia a capacidade do verbo ou

de

qualquer

outro

elemento de admitir facultativa ou obrigatoriamente uma determinada quantidade de

complementos oracionais (actantes

I

argumentos

I

"lugares vazios") para formar

constru~oescompletas, quer do ponto de vista sintatico, quer do semftntico.

o

termo valencia deve ser, entiio, considerado a partir desses dois pIanos:

0

sintatico e

0

semftntico,em fun~iioda rela~iiode paralelismo e de interdependencia em

que se encontram.

Como bem disse

0

precursor dessas ideias, Lucien Tesniere (1959) em seu

estudo

Elements de Syntaxe Structurale,

a Sintaxe tem por objetivo tornar possfvel a

expressiio da Semantica. Essas duas faces da valencia estiio intimamente unidas,

correspondem-se mutuamente, mas niio de forma isomorfa. Dois verbos podem

apresentar a mesma valencia semftntica e, no entanto, possuir valencias sintaticas

diferentes, sendo

0

contrarlo tambem vatido - ha verbos que possuem a mesma valencia

sintatica, e valencias semftnticasdistintas.

Tesniere, instigado por essa no~iio de valencia e suas implica~oes, chegou a

uma teoria que denominou Granuitlca ou Teorla das Valencias. Nesse contexto,

garante ao verbo a condi~iio de elemento central da frase, fazendo, com essa postura,

cair por terra

0

aspecto mais arraigado da Gramatica Tradicional e da Gramatica

Gerativa, a divisiio bipartida da frase em, respectivamente, sujeito e

predicado, e

sintagma nominal e sintagma verbal (SN

+

SV).

A validade da teoria tesneriana deve-se ao fato de niio restringir suas

coloc~oes e analise aos aspectos morfossintaticos da lfngua. Essa teoria ultrapassa-os,

vai

alem da mera elenca~iio de regras, exce~oes, formulas -

0

seu objetivo e

trabalhar com

0

verbo do ponto de vista da sua pertinencia; niio priva

0

falante de

(2)

A teoria valencial foi definitivamente introduzida no dmbito lingiHstico gra~as a a~iio de H. Brinkmann, J. Erben e P. Grebe, que se empenharam em aplicar os conceitos referentes a essa teoria na lfngua alemii. Com essa atitude, a Gramatica das Valencias passou a ter a sua aplicabilidade e funcionalidade comprovadas. No entanto, quem primeiramente se referiu a esse termo foi 0 lingiiista holandes de Groot, num estudo intitulado

Structurale Syntax,

durante muito tempo desconhecido em fun~iio da dificuldade representada pela lfngua materna do autor (Liberato Martinez, 1981).

A teoria de Tesniere, uma vez introduzida na Alemanha, desenvolveu-se em dois enfoques. Havia urn grupo de lingUistas, dentre eles Brinkmann, Erben, Heringer, que aplicava 0termo valencia apenas aos verbos, e outro grupo, cujos representantes eram Helbig, Schenkel, Engel, etc, estendeu essa capacidade aos substantivos, adjetivos e, especificamente em alemiio, as preposi~oes, alem dos verbos. Apesar dessa diferen~a de alcance do emprego do termo valencia, a concep~iio dos alemiies refletia urn consenso: concordavam com a exigencia de zero, urn ou mais complementos obrigat6rios por natureza, dos quais urn ou outro podia ser facultativo se se considera 0 fen6meno de varia~iio valencial) e de implica~oes contextuais. Esse conceito liga-se, assim, diretamente a no~iio de valencia sintatica e semdntica do verbo.

Vale lembrar que niio se aplica a valencia sintatica aos complementos de frase, os chamados por Tesniere circunstantes, que trazem informa~oes exteriores e desnecesslirias para a significa~iio do verbo. Pode-se recorrer a uma clara distin~iio se se pensar em:

Pedro comprou vdrios livros num sebo em Assis.

Nesta frase, os unicos complementos do verbo siio "Pedro" e "vmos livros", os demais elementos constituem circunstantes, portanto, desprovidos de rela~iio com a valencia do verbo.

Partindo dessa perspectiva, os lingoistas alemiies formularam suas listas de complementos, lan~ando miio da letra

g

(inicial de Erganzung, ou seja, complemento, em alemiio) para representa-los.

Essa realidade pode ser constatada no quadro comparativo dos complementos oferecido por Liberato MartInez (1981 : 37):

Engel Erben Heringer Grebe RalllEngel/ Glinz Flaming Rail

Eo E) E) sujelto complemento elemento sujelto

nominAtivo b4sico

E) E4

~

objelo complemenlO elemonto objoto acuaativo

acusativo acuaativo meta.flm

~

~

E4 objelo genitivo complemento elemento objeto genltivo

I!CIlitivo oartitivo

E3 E3 E3 objoto dativo complemento olemonto de objoto dativo

dativo IncUnacln

E4 Es objOlo complemento objeto preposlclonal

nrennsicional oreooslcional

(3)

de lugar, dc silUa~Ao silUativol adverbial

tempo, causa, particula dc limitada (local, modo

modo (cm parte) silUa~Ao instrumental)

E

6

E

adv complemcnto dc complemento detennina~Ao

lugar de dir~Ao dirccional em uniAo

nrcdlcativa IImitada

E,

E

6

E

6 Dominativa e complemento elcmento de predlcativo

acusativo de nominal (em nominativo iguaJdade substantivo

iouaJdadc ou acusativo \

E

s

E

adj adjctivo complcmcnto de complemcnto particula de predicativo

predicativo modo qualificativo iguaJdadcl adjctival

elemenoo situatiYO

E

g

---

constru~Ao (infinitiYo) compiemcnoo yerbatiyo infmitiyo

---Infmitiya dcoendente

Com as coloca~oes tesnerianas e com a leitura de autores alemiies, Mario Vilela desenvolve uma classifica~iio sistematica e aplicavel a nossa Hngua materna, no que diz respeito aos aspectos morfo-sintaticos.

Considera 0elemento verbal 0centro gerador da ora~iio, ao qual se ligam os actantes, tambem chamados complementos pelos germanistas. A partir daf, surge a no~iio de valencia Quantitativa - hli verbos sem actantes e verbos com urn, dois, tres e quatro actantes. Conforme a sua necessidade, 0verbo e nomeado, pois, como avalente

(Ventava.), monovalente (0 garoto sorria.), bivalente (A empregada lavou a lou~a.),

trivalente (A professora recebeu flores dos alunos.) e tetravalente (Paulo traduziu 0

livro do espanhol para 0alemiio.).

Levando em conta a referencia da valencia sintatica quanto

as

propriedades dos argumentos dos verbos, depara-se com a presen~a de varios tipos de actantes: a valencia Qualitativa. De acordo com a orienta~iio geral de Vilela, esses actantes, que se relacionam com 0 verbo, podem ser representados pela letra maiuscula

A

(actantes), acompanhada de elementos numericos. A lista de actantes e a seguinte:

At- corresponde ao sujeito tradicional (niio traz marca preposicional e geralmente ocupa a posi~iio anterior ao verbo).

o

estudante depende dos pais para concluir os estudos.

A

r

corresponde ao complemento direto tradicional, quando for transformavel em sujeito da voz passiva.

o

medico aplicou um anestesico no paciente,

A3- complemento indireto tradicional, quando permite a pronominaliza~iio e, quando nominal, vem regido por uma marca preposicional (!Lou para).

(4)

A4-

complemento preposicional com preposi~ao fixa~,.!!, em ...), sem possibilidade de ocorrer pronominaliza~ao; a preposi~ao nao depende do complemento, e sim do verbo.

A auxiliar de enfermagem precisa do medico.

As- actante locativo; qualquer indica~ao de lugar com ou sem movimento.

Venho de Sao Paulo. Pedro mora em Sao Paulo.

A6- complemento modal.

Correu tudo hem na cirurgia.

A7- actante temporal, precedido pela marca para, de, desde ...

A prova foi marcada para amanha.

As- complemento de quantidade (medida, peso, dura~iio, pre~o ...). Ocorre com freqil8ncia com verbos do tipo de durar, pesar, medir, custar.

A cirurgia durou cerca de cinco horas.

A9- corresponde ao agente da passiva tradicional.

o

dclistafoi atropelado pelo caminhao.

AlO- actante predicativo de complemento direto tradicional e tambem os nomes predicativos de verbos bivalentes .

o

povo elegeu Barbosa prefeito.

Quanto

a

estrutura interna de cada complemento, vale ressaltar que

hl1

actantes que se restringem

a

forma adverbial ou equivalente (As, ~, A7),

a

forma de um sintagma nominal ou adverbio de quantidade (As), a urn sintagma nominal preposicionado ou equivalente (A9), e a urn adjetivo ou equivalente (AJO). Alem da forma de sintagma nominal, podem ocorrer por meio de outras estruturas, como frases completivas, constru~oes infinitivas, interroga~ao indireta, e pronomes em geral, 0AI e

A

z,

sem ressalvas, e A3e ~, se se desconsiderar a interrogativa indireta.

P6de-se perceber atraves das observa~oes realizadas que a Teoria das Val8ncias trabalha em fun~ao dos aspectos pertinentes, funcionais da Hngua. Nomeia urn elemento essencial, 0verbo, teoriza e aplica essa teoria a partir desse elemento, sem 0 qual a frase niio poderia ocorrer.

Esse procedimento de cunho objetivo, concreto deve-se primeiramente aos estudos do franc8s L. Tesniere, e

a

a~ao dos germanistas que atuaram, como tudo indica, na divulga~iio e aperfei~oamento dos conceitos tesnerianos no mundo lingtiistico.

Gra~as a esses estudos, a Teoria das Val8ncias atingiu, por sua coer8ncia e funcionalidade, a Lingua Portuguesa, atraves dos estudos de Mario Vilela, e vem conquistando lingtiistas de vacias nacionalidades.

(5)

363 No tocante

a

Ungua Portuguesa, ha, ainda, a urg~ncia de se propagar essa proposta na gradua~ao, como se vem fazendo entre alunos e professores da P6s-Gradua~ao, para que os graduandos, futuros profissionais da lingua, se conscientizem da necessidade de urn re-pensar 0t6pico sintaxe gramatical, mais pautado na observa~ao da lfngua.

E

preciso que tomem conhecimento de que ha outros meios mais eficazes de se entender a lingua e de ensina-Ia.

*

Este trabalho faz parte de uma Sessao de Comunica~oes Coordenadas, Teoria das VaMncias; foi elaborado para 0XLV Seminano do GEL.

1 A varia~iio de val~ncias ocorre quando 0 verbo apresenta varios significados correspondentes a diferentes estruturas relacionais. - Cf. VILELA, M. Gramatica de

VaMncias: Teoria e Aplicafiio. Almedina, Coimbra: 1992, p. 61.

2Niio e possfvel aplicar 0 conceito de val~ncia aos verbos ~ e estar, ja que eles nao possuem valor semfuttico em si, ou seja, correspondem a verbos copulativos. A condi~ao desses verbos pode ser comprovada com as seguintes frases: Voce e agradavel, que equivale a Voce agrada; 0 mesmo com A rosa esta murcha e A rosa murcha I

murchou.

RESUMO: Este trabalho pretende fazer algumas considerafoes acerca da Teoria das VaMncias, no que se refere

a

vaMncia sintatica e a sua divulgafiio grafas

a

afiio de lingiiistas alemaes. Merecem especial atenfiio os estudos de Vile la, que, de acordo com essa nova perspectiva, trouxe uma classificafiio sistematica e aplicavel ao portugues.

LIBERATO MARTINEZ, M. (1981.). Los complementos preposicionales segun la gramatica dependencial del verbo: Estudio Contrastivo aleman- espanol. (Tesis Profesional). Mexico: Facultad de Filosoffa y Letras - Universidad Nacional Aut6noma de Mexico.

TESNIERE, L (1959). Elements de Syntaxe Structurale. Paris: Klincksieck. VILELA, M e BUSSE, W. (1986). Gramatica de Val€ncias. Coimbra, Almedina. VILELA, M. (1992). Gramatica de VaLencias: Teoria e Aplicafiio. Coimbra, Almedina.

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