Sustentabilidade
Antonio Castelnou
Introdução
Entre as décadas de 1960 e 1970, com o DESPERTAR
ECOLÓGICO (tomada de consciência ambiental)
passou-se a denominar de ecológica ou eco-arquitetura a prática construtiva que defende o uso de materiais e
técnicas que não agridam o meio ambiente.
A partir dos anos 1980 e 1990, começou-se a considerar
sustentável toda ARQUITETURA que produzisse edificações e espaços urbanos adaptados às condições
bioclimáticas, reduzindo o desperdício energético, os riscos ecológicos e os impactos socioambientais.
Em termos sociais, políticos e econômicos, o termo
SUSTENTÁVEL
(sustainable; sostenible;
durable) estaria relacionado ao que limita o crescimento
em função da dotação de recursos naturais, da tecnologia aplicada na utilização (uso e consumo) destes e do nível efetivo de bem-estar da coletividade.
Deste modo, pode-se dizer que uma sociedade é
SUSTENTÁVEL quando ela é capaz definir seus padrões de produção e consumo, suprindo as necessidades do presente sem comprometer a
Despertar Ecológico
O pensamento ambiental evoluiu a partir do segundo pós-guerra, devido aos danos causados e ao
desenvolvimento econômico, promovendo o surgimento dos primeiros órgãos e ações políticas. Porém, foi na década de 1970 que
o DEBATE ECOLÓGICO
cresceu, graças a uma série de crises ao mesmo tempo em que se
iniciavam conferências da ONU.
Green Office Building
(2003/04, Concepción,Chile)
O ECOLOGISMO acabou encontrando força junto ao advento da Contra-Cultura e do Informalismo, que apresentaram ao mundo comunidades alternativas, embasadas no desejo de se abandonar um modelo de vida dominante. Architect Studio (1985, West Country GB) David Rea (1945-) Hippie comunity
Os arquitetos
neovernaculares passaram a
propor o resgate de materiais naturais (terra, madeira, pedra,
etc.) e práticas arcaicas (vernáculas), antes menosprezadas pelo
modernismo.
Já os regionalistas
procuraram conciliar passado e presente, fazendo versões
atualizadas de técnicas
tradicionais, além de estratégias alternativas de captação e
conservação de energia.
Severiano Mario Porto (1930-)
Pousada da Ilha de Silves AM (1979)
Mesquita (1948/50, N .Gourna, Egito) Hassan Fathy (1899-1989)
De 05 a 16 de junho de 1972, houve a Conferência
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Homem – CNUMAH, em Estocolmo (Suécia), onde se traçaram os direitos da família humana a um
meio ambiente saudável e produtivo, estabelecendo-se um programa de ação mútua.
Na época, várias crises
abalaram o sistema energético mundial, na maior parte
fundado na energia elétrica obtida de combustíveis
fósseis por meio de
termoelétricas, o que passou a ter de um alto custo
ambiental. Isto fez com que se iniciasse a pesquisa por
fontes energéticas alternativas. Gás natural 22% Petróleo 41% Carvão 24% Nuclear 6% Renováveis
(hidr., eólica, solar, etc.) 7%
CONSUMO GLOBAL DE ENERGIA
Em 1981, com a
descoberta do buraco na Camada de Ozônio,
intensificou-se a
preocupação ambiental, assim como os debates em relação ao
EFEITO-ESTUFA, o que fez nascerem novas
correntes de arquitetura ecológica, preocupadas
principalmente com o clima e a poluição.
Aparecia a designação
ARQUITETURA
BIOCLIMÁTICA, a qual propunha uma ação criativa de edificações que se adequassem ao clima local e à iluminação e ventilação naturais, preocupada
principalmente com a redução ou até eliminação do uso de
energia elétrica em prol de novas – e alternativas – fontes
energéticas (eólica e solar) .
Thomas Herzog (1941-) Regensburg House
(1977/79, Alemanha)
Hotel des Thermes
(1996, Dax França)
Eco-Village
(1986, Findhorn Escócia)
Diane Gilman (1945-98) & Robert Gilman (1945-)
Andrew Yeats
David Jonhson Ecohouse
(1990, EUA)
Thomas York Environmental Education Center (2000,Canadá) Gordon Campbell
Paralelamente, a
ARQUITETURA
ALTERNATIVA defendia o reaproveitamento de resíduos
e/ou materiais de “segunda mão”, incorporando produtos industrializados e prolongando
sua vida útil, o que requeria a pesquisa de locais para a compra de materiais, assim
como reprocessamento.
LOT-EK Architects
Puma City Shipping Container Store
(2006/08, N. York EUA)
Advanced Green Builder Demonstration
(1994/97, Austin TX)
Design Coalision
Taylor House, Shorewood Hills
(1990/92, Wisconsin )
Paper House (1995, Lake Yamanaka,
Yamanashi, Japão)
Shigeru Ban (1957-) Paper Church
(1995-2005, Kobe, Japão)
Denomina-se EARTHSHIP
BIOTECTURE a prática ecológica baseada na
reutilização de materiais de origem urbana (garrafas PET,
latas, pneus, cones de papel, etc.), os quais são aplicados na
construção sem ter havido seu reprocessamento.
Trata-se da reapropriação criativa, a qual se tornou comum em áreas suburbanas
ou em locais de despejo
descontrolado de resíduos. Earthship Residence
(2010, Porto Príncipe, Haiti)
Recycled Plastic Bottle Igloo Building
Recycled Glass Bottle Buddhist Monastery (Bangkok, Tailândia)
Earthship Comunity (1980, Taos, New Mexico) Michael Reynolds (1951-)
Movimento Ambientalista
Em meados dos anos 1980, a visão dos ecologistas radicais foi confrontada por cientistas (humanistas
críticos), os quais passaram a defender que
CONSERVAÇÃO AMBIENTAL e
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO
não eram incompatíveis, mas sim mutuamente dependentes.
Nascia assim o AMBIENTALISMO, que recusa a teoria dos limites físicos, dizendo que não era o crescimento que deveria ser limitado, mas sim a
ideologia do passado, passando a defender o equidade social e uso de tecnologias “limpas”.
Em 1987, a CMMAD divulgou seu diagnóstico, através do RELATÓRIO
BRUNDTLAND, que fez
um balanço do
desenvolvimento mundial até então, com prós e contras. Esse documento, publicado
com o título Our common future (Nosso futuro comum),
apresentou pela primeira vez o conceito de
SUSTENTABILIDADE.
Gro Harlem Brundtland (1939-)
Primeira-Ministra da Noruega Presidente da CMMAD (ONU)
Isto fez nascer a ECO-TECH
ARCHITECTURE, que
propõe o emprego da alta tecnologia (arquitetura
inteligente) para contornar os problemas ambientais,
minimizando os impactos por meio de sistemas autogestores
e computadorizados, sempre priorizando a eficiência.
Jean Nouvel (1945-))
Institut du Monde Arabe
(1981/87, Paris França)
Fondation Cartier
Para os ambientalistas, pode-se minimizar os impactos sobre a natureza, utilizando a
TECNOLOGIA, através de estratégias de projeto e
sistemas autogestores, acreditando que, para haver
progresso, é necessário que algo seja perdido, sendo
preciso correr riscos.
Ecohouse (1989/91, Breisach , Alem.) Thomas Spiegelhalter Brian MacKay-Lyons (1954-)
New Scotia Coast House (1984/86, Canadá)
A principal diferença entre ecologistas e
ambientalistas está no fato dos primeiros vetarem qualquer tipo de crescimento, enquanto os segundos
defendem que este é necessário para superar, por exemplo, a pobreza nos países não-desenvolvidos.
Enquanto o ECOLOGISMO defende a conservação
do capital natural como condição da sobrevivência humana, limitando o crescimento dos países ricos
(economia ecológica), o AMBIENTALISMO
considera tais recursos escassos, mas, acredita que se manipulados com cuidado, permitiriam um
desenvolvimento sustentável com melhor distribuição de renda (economia ambiental).
Green Architecture
Nas décadas de 1990 e 2000, cresceram as discussões sobre as
questões ambientais em todo o planeta, multiplicando-se os congressos e eventos mundiais. Difundiu-se o conceito de
sustentabilidade socioambiental
e implantou-se Sistemas de
Certificação Ambiental, fazendo
nascer a GREEN
ARCHITECTURE.
Jean-Marie Tjibaou Cultural Center (1992/98, Nouméa, Nova Caledônia)
Em 1992, no Rio de Janeiro,
ocorreu, com a participação de 175 países, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
CNUMAD, ou Cúpula da
Terra (RIO-92), que marcou a
discussão ambiental por:
Criticar o modelo vigente
de desenvolvimento
(interrelação entre problemas
sociais e ambientais);
Apontar para a necessidade
de medidas tecnológicas e legais (Agenda 21 Global).
NÍVEL ECONÕMICO NÍVEL AMBIENTAL NÍVEL SOCIAL nível de vida produção ecológica consciência ambiental DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL QUALIDADE DE VIDA SUSTENTÁVEL A aplicação da AGENDA 21 pressupõe um planejamento do futuro com ações de curto,
médio e longo prazos, (re)introduzindo uma idéia
esquecida de que se pode – e se deve – planejar, estabelecendo um elo de solidariedade entre nós e nossos descendentes, as futuras gerações: Pense globalmente, aja localmente
Em 21 de junho de 1993, em
um congresso em Chicago, a
União Internacional dos
Arquitetos – UIA, em conjunto
com o American Institute of
Architects – AIA, estabeleceu
a Declaração de
Interdependência para um Futuro Sustentável, que coloca
a sustentabilidade como sendo o centro de responsabilidade profissional, convocando todos
os profissionais para a prática de uma arquitetura sustentável.
GREEN ARCHITECTURE Habitat sustentável ECONÔMICA funcional e barata SOCIAL universal e segura AMBIENTAL eficiente e ecológica
Em 1996, aconteceu a
Conferencia das Nações Unidas sobre
Assentamentos Humanos
(Istambul, Turquia), na qual se defendeu a criação
de CIDADES
SUSTENTÁVEIS,
reforçando a condição de que a questão ambiental permeia a questão urbana
em todo o planeta.
Istambul, Turquia
São Paulo, Brasil
Essa última conferência, conhecida como a Cúpula
das Cidades, criou a AGENDA HABITAT,
enfatizando a questão urbana ambiental ao definir a
sustentabilidade como princípio e os assentamentos humanos sustentáveis como objetivo mundial.
Ballard Library
(2002/05, Seattle WA, EUA)
De lá para cá, muitas conferências ocorreram,
como a Rio+10 (2002, Johannesburg, África do Sul) e a Rio+20 (2012, Rio de Janeiro), que procuraram
fazer um balanço dos
resultados obtidos tanto pela
AGENDA 21 como pela
AGENDA HABITAT, em que se constatou muitos
avanços, mas também graves retrocessos.
Real Goods Solar Living Center (1997/98, Hopland Cal. EUA)
Na última década, a arquitetura sustentável voltou-se para uma corrente que busca conciliar a tradição e as possibilidades modernas, em
especial através da aplicação de tecnologias “limpas”,
buscando a eficiência energética, a adequada
especificação de materiais e a proteção da natureza.
Robert Trickey House (2006/07, Honolulu HW)
Craig Steely Architects (1989-)
Gypsy House (2005/06, Berkeley CA)
Para a Green Architecture, a
SUSTENTABILIDADE
implicaria em como desenvolver métodos
ambientalmente corretos de produção e consumo, que garantam a integridade dos ecossistemas, a qualidade de vida e a preservação cultural
e ecológica, através de
certificação ambiental.
Richmond City Hall
(1990/94, Virginia EUA)
Hotson Bakker Boniface Haden – HBBH Ian MacDonald Architect Inc. (1984-) House in Mulmur Hills
Leitura Complementar
BRUNDTLAND, G. H. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro:
CMMAD: Fundação Getúlio Vargas, 1991.
CAPRA, F. A. Teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.
CORRADO, M. La casa ecológica: manual de arquitectura
bioclimática. Barcelona: De Vecchi, 1999.
FOLADORI, G. Limites do desenvolvimento sustentável.
Campinas: Imprensa Oficial SP, 2001.
GAUZIN-MÜLLER, D. Arquitectura ecológica. Barcelona:
Gustavo Gili, 2002.
YEANG, K. Projectar com la naturaleza. Barcelona: Gustavo
Gili, 1999.