Políticas Públicas e
Protagonismo da Sociedade Civil
José Mario Brasiliense Carneiro Oficina Municipal São Paulo, 26 de novembro de 2020
Estrutura do encontro
1. Pessoa, comunidade, sociedade e massa na perspectiva da fenomenologia de Edith Stein.
(Antropologia Filosófica - 24 slides)
2. Solidariedade, subsidiariedade, sustentabilidade e a participação da sociedade civil.
(Ensino Social Cristão - 03 slides)
3. Dos movimentos sociais às organizações da Sociedade Civil: a experiência da Oficina Municipal.
Judia Filósofa
Discípula de Edmund Husserl Ateia
Convertida ao Catolicismo Monja Carmelita
Mártir em Auschwitz Canonizada
Santa Teresa Benedita da Cruz
EDITH STEIN
(1891 - 1942)
EDITH STEIN (1891-1942
)
• Sensível, inquieta e inteligente.
• Tinha uma exigência profunda de verdade e clareza – percorreu o caminho da interioridade.
• Unidade entre experiência de vida e reflexão sistemática, que é própria do método fenomenológico.
• Pensamento original decorrente de alguém que viveu a partir “da própria alma” – pensamento marcado pela sua singularidade.
• Stein demonstra que não há cisão entre autoconhecimento e conhecimento do mundo.
Edith Stein foi capaz de
articular várias dimensões
para compreender o que
é o ser humano
Filosofia
Pedagogia
Teologia
Uma visão integral da pessoa humana
Beata Chiara Luce
(1971-1990)
Diferentes tipos de vivências
• Vivências corpóreas – percepção, o registro das sensações e os instintos em geral. Involuntárias.
• Vivências psíquicas – reações de atração ou repulsa,
emoções. Vivências que nos acontecem sem participação da vontade.
• Vivências espirituais – capacidade de refletir, avaliar,
tomar decisões de forma livre e consciente. Poder dizer “eu”. Voluntárias.
A vivência da empatia (ou entropatia
)
• Husserl: o mundo externo objetivo só pode ser conhecido de maneira intersubjetiva, ou seja, por um grande número de indivíduos que conhecem e que fazem entre eles uma troca cognoscitiva recíproca.
• O que você vê e vivencia? O que eu vejo e vivencio? • Esta experiência intersubjetiva é denominada empatia. • Husserl não chegou a descrevê-la com a mesma precisão
Doutorado com Edmund Husserl sobre o
tema da Empatia (Einfühlung)
“Na primeira parte, amparada em
algumas anotações tiradas do curso
de Husserl, examinei o ato da
empatia como um modo particular
de conhecimento. Sobre essa base,
abordei um tema que sempre me
interessou especialmente e que
depois me ocupou em todos os
meus trabalhos posteriores:
a constituição da pessoa humana”
Empatia e singularidade
• Vivência sui generis que acompanha a percepção. • A vivência da empatia permite reconhecer
imediatamente o outro como um alter ego (um tu) semelhante e ao mesmo tempo diferente de mim.
• Singularidades distintas Exemplo: a sala vazia.
Exemplo: reações de medo ou fascínio das crianças diante dos animais.
A vivência de Edith Stein como
enfermeira da Cruz Vermelha
I Guerra Mundial na Áustria
(1915)
O relato sobre um ferido de guerra
“Chamou a minha atenção sobretudo o paciente mais grave. (…) A doença [tifo] tinha se manifestado nele com
inusitada violência. Tinha a boca sempre cheia de uma baba misturada com sangue. Irmã Loni me ordenou
limpar-lhe a boca com um lenço cada vez que eu passasse. Por este favor ele me agradecia sempre com o olhar (…)
Não podia falar (…) Diante de seu leito, o médico e as enfermeiras falavam dele como se ele não compreendesse
nada. Mas, dos seus grandes olhos brilhantes eu via que estava plenamente consciente e
escutava ansiosamente cada palavra.”
Empatia: reconhecer um semelhante
• O olhar, gestos revelam o interior da pessoa: medo, alegria, amor, angústia, dor, prazer ...
• Possuímos a mesma estrutura humana: nos
reconhecemos no outro – mas não nos colocamos em seu lugar.
• Não podemos viver o que o outro vive: cada um é único e vive originalmente sua vida.
• Mas compreendemos sua vivência com base na nossa experiência e no diálogo!
A diferença entre empatia, simpatia e antipatia
• Empatia: reconheço o outro, suas emoções, atitudes, semelhança...
≠
(diferente de)• Simpatia: gosto do outro, atração (sim-patos)
• Antipatia: não gosto do outro, resisto a ele(a), repulsa (anti-patos).
• Pathos é uma palavra grega (πάθος) que significa "sofrimento, paixão, afeto“ (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos
EMPATIA E VIVÊNCIA COMUNITÁRIA
“
Pensar um indivíduo humano isolado
é uma abstração.”
(STEIN 2000, p.187)
A comunidade é parte da estrutura humana
O ser humano nasce como indivíduo e membro.
“A sua existência é existência em um mundo, a sua vida é vida
em comunidade (...)
... e estas não são relações exteriores que aderem a um ser existente em si e por si mesmo...
mas a inserção em uma totalidade mais ampla que faz parte
da estrutura do ser humano”.
Visão personalista dos agrupamentos humanos
O fato associativo humano, na verdade, está
substancialmente ligado a uma visão
personalista que, uma vez descoberta em nível
individual é, em seguida, redescoberta nos
laços intersubjetivos ou interpessoais.
Distinção entre os agrupamentos humanos
•
Pela qualidade das relações humanas.
•
Pelo grau de abertura das pessoas.
•
Pelas dimensões implicadas: corpo, psique e
Os três os tipos de agrupamentos sociais
•
MASSA, SOCIEDADE e COMUNIDADE.
•
Há uma inter-relação entre as diferentes
formas de agrupamento.
•
Não existe uma forma de associação pura.
•
Fazemos parte ou nos inserimos nos tipos
Massa
• Prevalece a dimensão psicofísica.
• Aglomerado de pessoas, de indivíduos isolados movidos
por contágio psíquico: torcida de futebol, shows, situação de incêndio...
• Não há motivação nem uma tomada de posição
consciente, próprios da dimensão espiritual.
• Prevalece a impulsividade e a sugestionabilidade (no
sentido da disponibilidade a acreditar em determinadas realidades ainda que os motivos “razoáveis” apontem para a direção contrária).
Massa é a base para os regimes totalitários
No interior de uma multidão de homens que estão em contato sensível entre eles (...) passam e se consomem inúmeras
sugestões e influxos de excitação que tolhem da pessoa o silêncio, a autonomia de reflexão e de ação, de forma que,
dentro de uma multidão, os impulsos mais fugazes crescem até se tornarem uma avalanche a favor das impulsividades mais
exageradas, enquanto as funções superiores, refinadas e críticas são como que suspensas. (SIMMEL apud STEIN,1999b, p. 268)
Base para os regimes totalitários que apostam na gratificação psíquica – a massa necessita de um guia (e não um líder) que lhe aponte o que fazer (consciência rebaixada).
Sociedade
• Todas as dimensões da pessoa estão implicadas, mas há uma finalidade objetiva que intermedia as relações. • É constituída artificialmente em torno de um objetivo
comum, uma finalidade finita, e seus membros podem ser substituídos.
• A sociedade (...) lembra uma máquina projetada e
construída para determinado fim ao qual ela se adequa com progressivas melhoras, que se obtêm modificando algumas partes ou introduzindo novas.
Comunidade
• Ideal superior de convivência humana.
• Se origina da relação recíproca entre os sujeitos.
• Todas as dimensões estão implicadas. As relações abrangem toda a vida das pessoas.
• Ligações orgânicas e gratuitas orientadas por um núcleo de sentido comum.
• É comparada por Stein a um organismo, a uma personalidade individual, com suas características próprias, constituídas a partir da vivência pessoal de cada membro.
Comunidade, Sociedade, Governo e Estado
• Na comunidade a pessoa vale pelo que é.
• Na sociedade vale pela função, pelo volume do capital que
investe, pela mais ou menos idade, pela hierarquia etc.
• Diferença entre ser e fazer (utilitarismo).
• Na comunidade a pessoa é insubstituível. Na sociedade é
substituível.
• Governo: precisa ser sempre? O governo passa. • O Estado tem que existir sempre? O Estado pode
permanecer e pode dar origem a uma comunidade estatal.
• Comunidade povo (nação) – pertencimento – base para a
A sociedade a serviço da vida comunitária
•As leis, os contratos, as corporações,
sociedades e associações só tem sentido na
medida que servem para a manutenção de
uma vida comum (comunitária).
•A sociedade deve sustentar a vida comunitária
quando a natureza humana falha, garantindo a
sua continuidade.
VIVÊNCIAS COMUNITÁRIAS
COM SENTIDOS DIVERSOS
Se originam de atitudes e sentimentos
pessoais recíprocos: casamento, amizade...
Surgem dos vínculos originários: famílias, povos... Baseiam-se em uma orientação comum a um âmbito de valor: comunidade científica, artística, religiosa...
Estrutura do encontro
1. Pessoa, comunidade, sociedade e massa na perspectiva da fenomenologia de Edith Stein.
(Antropologia Filosófica)
1. Solidariedade, subsidiariedade, sustentabilidade e a participação da sociedade civil.
(Ensino Social Cristão)
3. Dos movimentos sociais às organizações da Sociedade Civil: a experiência da Oficina Municipal.
PRINCÍPIOS DO ENSINO SOCIAL CRISTÃO
28
Balizas e referências para vida pessoal e social Princípio é um ponto de partida
Uma referência ao longo do percurso
Subsidiariedade
Solidariedade Dignidade
Princípios dinâmicos da ação social
Sustentabilidade (sinodalidade)
DIAGONAL DA
SUSTENTABILIDADE
OU SINODALIDADE:
VOO ASCENDENTE
E TRANSCENDENTE
EM ESPIRAL
Estrutura do encontro
1. Pessoa, comunidade, sociedade e massa na perspectiva da fenomenologia de Edith Stein.
(Antropologia Filosófica)
1. Solidariedade, subsidiariedade, sustentabilidade e a participação da sociedade civil.
(Ensino Social Cristão)
3. Dos movimentos sociais às organizações da
Sociedade Civil: a experiência da Oficina Municipal. (Sociologia)
Construção de institucionalidade social
Instituição – sociedade civil organizada
Movimento - grupo
Bandeira
(ideia ou sonho compartilhado)Organizações sociais
= Grupos intermediários
Associações de Pais e Mestres (escola, educação, cultura)
Grêmios Estudantis
(representação dos jovens)
Associação de Bairro (território-habitação-infraestrutura)
Associações eclesiais (religião, assistência e promoção)
Associações culturais, educacionais e esportivas
Organizações sociais para
defesa de direitos,
cooperação e advocacy:
Sindicatos (trabalho, criação, produção)
Clubes de serviço (corporações, comércio, intercâmbio)
Associações de advocacy (defesa de causas, “ONGs”)
Partidos Políticos (mudanças nas estruturas, ordem política)
Espaços de participação direta da sociedade civil
• Partidos Políticos (Diretórios Municipais): são elementos de
transição fundamentais do âmbito social (privado) para o âmbito público (estatal)
• Plebiscito e referendo: instrumentos de consulta • Ação Civil Pública: defesa de direitos
• Leis de Iniciativa Popular (ex.: “Ficha Limpa”)
• Conselhos Municipais (“ante sala” do Parlamento) • Audiências públicas (ex.: Plano Diretor)
Participação Indireta
• Voto à cada 2 anos – alternadamente – Eleições Municipais e Eleições Estaduais/Federais
• Acompanhamento dos mandatos (ex.: Voto Consciente) • Moções e abaixo assinados online
• Câmara de Vereadores – Agenda Municipal; primeira “casa” de diálogo democrático; iniciativas legislativas pelo bem comum das comunidades locais;
• Assembleia Legislativa – Agenda Estadual; políticas estruturais de investimento; Desenvolvimento Social, Ambiental e Econômico.
• Câmara dos Deputados – Agenda Federal difusa • Senado Federal – Agenda Federal dos Estados
Ementa:
A proposta da segunda aula será apresentar
uma experiência de ação pública realizada
por uma organização social de interesse
público que realiza as suas atividades com
base nos princípios e orientações do ESC.
O palestrante irá destacar a importância
destes princípios no modus operandi da
entidade, bem como, o impacto nos
Apresentação
Institucional OM
NOSSA HISTÓRIA
• Nasce em 2002 das atividades da Fundação Konrad
Adenauer voltadas ao fortalecimento da Democracia, Estado de Direito e Federalismo .
• Inspirador: Konrad Adenauer (1876-1967), Chanceler da Alemanha (1949/63) e Ex-Prefeito de Colônia (1917/33), defensor do princípio da subsidiariedade e da autonomia local
(Gemeindeselbstverwaltung).
• Referência nacional: Franco Montoro (1916-1999), Governador do Estado de São Paulo (1983/86) que defendeu as bandeiras da participação democrática e da descentralização federativa.
Parcerias com Fundações e Institutos
OBJETIVOS:
Fortalecer a Democracia e o Estado de Direito;
Formar cidadãos, políticos e gestores;
Fortalecer estruturas de governança
(consórcios intermunicipais, câmaras técnicas etc.);
Aperfeiçoar e consolidar políticas de Estado;
Princípios, missão e visão
Cidadãos e gestores constroem juntos cidades mais humanas. MISSÃO VISÃO Formar cidadãos e gestores para a boa gestão pública local. PRINCÍPIOS Dignidade Bem comum Subsidiariedade Solidariedade SustentabilidadeFormação política para democracia participativa Boa gestão pública municipal
Nova cultura de planejamento e gestão para resultados Intercâmbio de experiências e boas práticas
ESCOLA DE
PREFEITOS
Formação de Gestores da
Educação
Participação das comunidades escolares Melhoria nos índices do IDEB
Implementação participativa de Planos Municipais de Educação
Qualidade das políticas municipais de Educação Infantil e Fundamental Gestão orientada para resultados
Implementação de projetos de impacto regional Integração e intercâmbio de boas práticas
Economicidade no processo de compras públicas
Formação em Consórcios Intermunicipais
Perguntas orientadoras para os grupos
Como você vê a complementaridade entre os conceitos de comunidade e sociedade na perspectiva da fenomenologia de Edith Stein?
O papa Francisco disse na encíclica Evangelii gaudium (2013) que o tempo é mais importante que o espaço.
Os processos devem ser iniciados e certamente levarão a algum tipo de progresso graças ao dinamismo vital.
Como você percebe os princípios da solidariedade,
subsidiariedade, sustentabilidade dinamizando a participação da sociedade civil?