Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3 1
Geografia e Anarquismo: A Educação Libertária no início do Século XX em São Paulo.
Amir El Hakim de Paula AGB-Seção São Paulo e-mail: elhakim@usp.br
Resumo
A oficina tem como proposta pensar a geografia e as práticas educacionais anarquistas no início do século XX. Para tal êxito buscamos compreender como Reclus e Kropotkin, geógrafos e anarquistas, contribuíram na implementação das escolas modernas em Barcelona e de que forma essas ações influenciariam a criação desses espaços em São Paulo.
Além disso, discutiremos a preocupação constante desses autores (principalmente Reclus) com o ensino de Geografia, visto que predominava então nas escolas tradicionais, uma visão geográfica eurocêntrica bem como promotora tanto do militarismo quanto do nacionalismo.
Introdução
Os estudos que relacionam a pedagogia libertária ou anarquista com a Geografia ainda são escassos.
Muito embora a ciência geográfica tenha como um dos principais expoentes o anarquista Reclus, são poucos os trabalhos que procuraram discutir a influência desse autor na formação de uma Geografia Escolar mais crítica, divergente daquela praticada no final do século XIX e início do século XX.
Junto com Reclus, Kropotkin, ainda que pouco comentado, foi um geógrafo de grande importância1 e colaborador das primeiras experiências educacionais anarquistas. Ambos estiveram presentes no Comitê Para o Ensino Anarquista reunido em 1882, que teve como proposta a supressão de três práticas, muito habituais nos estabelecimentos de ensino da época (e que de certa forma persistem): a disciplina artificial e coativa, sem ligação com a vida do educando; os programas de ensino formais e por fim, as classificações que incentivam a competição, a inveja e o rancor entre os alunos.
1Os trabalhos realizados por Kropotkin na Sibéria e na região do rio Amur foram de grande importância,
tendo o geógrafo sido premiado com a medalha de ouro pela Sociedade Geográfica Russa. Além dessas expedições, não podemos esquecer os estudos acerca da evolução das cidades, bem como, da
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Essas propostas apresentadas no encontro por esses geógrafos , mas por outros cientistas e pedagogos (como Paul Robin) seriam aplicadas nas primeiras escolas libertárias da Espanha, quando o educador Francisco Ferrer y Guardia abriria a Escola Moderna de Barcelona em 1901.
Essa proposta de ensino rapidamente se espalhou pelo mundo, chegando ao Brasil em 1912, quando foi inaugurada em São Paulo a Escola Moderna nº 1, sob a direção de João Penteado.
No caso brasileiro, as escolas libertárias estiveram ligadas ao nascente movimento operário e serviam principalmente á instrução dessa classe, visto que o ensino público era muito escasso e o particular, inacessível.
Desta forma, em vários momentos, foram acusadas de fomentarem a luta de classes e o ateísmo, sendo constantemente atacadas pela polícia, principalmente em movimentos de grande vulto, como a Greve Geral de 1917.
Um dos grupos que mais a combatia era a Igreja Católica. Por meio do seu jornal A Gazeta do Povo em 19/02/1910 descrevia-as como “o ninho de anarquismo de onde saíram os piores bandidos prontos a impor suas idéias, custasse embora o que custou. Ora, uma tal casa de perversão do povo vai constituir um perigo máximo para São Paulo. E é preciso acrescentar que não somos só nós os católicos que ficaremos expostos à sanha dos irresponsáveis que saíssem da Escola Moderna”. (Apud RODRIGUES, 1992:69).
Apesar dessas experiências terem sido efêmeras (na Espanha, seu fundador foi condenado á morte em 1909), foram de grande importância na questão pedagógica, visto que se preocuparam com uma educação integradora, libertadora e que buscasse uma sociedade mais livre e igualitária.
Objetivos
Temos como principal objetivo discutir a importância das escolas libertárias surgidas no início do século XX, mas também como a disciplina Geografia era ministrada nessas instituições.
Por meio dos trabalhos de Reclus e de Kropotkin, procuraremos demonstrar como esses dois geógrafos entendiam a educação e qual foi a influência deles na Escola Moderna.
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É reconhecidamente notório por aqueles que estudam a pedagogia libertária, a intensa relação entre o fundador dessas escolas (Francisco Ferrer) e os geógrafos-anarquistas. Entretanto, poucos são os trabalhos que demonstram qual a real influência que esses autores legaram á pedagogia libertária.
O principal boletim da escola moderna de Barcelona, chegou a receber artigos de Reclus2, no qual relatavam como a Geografia, enquanto naquele momento ciência a serviço do Estado e da burguesia, poderia ser ministrada, pensando especificamente nas classes menos privilegiadas.
Nesse sentido, a Oficina procurará também discutir quais as implicações do método racionalista na educação, abordando principalmente as técnicas de ensino existentes para o aprendizado de Geografia.
Isso porque, uma das principais formas de abordar essa disciplina eram as saídas ao campo. Tinham o objetivo de discutir com os aos alunos as transformações que o entorno da Escola sofria, os conflitos sociais existentes na cidade, as guerras,o patriotismo, etc.
Muitas dessas saídas foram comentadas, no caso paulistano, no jornal estudantil “O Início” 3, tornando-se também importante fonte de estudo do cotidiano escolar.
Metodologia
As discussões propostas se desenvolverão com o auxílio de uma bibliografia baseada em fontes primárias (jornais operários, boletins da escola moderna e de seus alunos), livros, teses e dissertações acerca do tema.
Dentre os principais autores que de alguma forma balizam essa oficina temos, Francisco Ferrer e seu trabalho sobre as escolas modernas; Tolstoy e seu trabalho sobre a Escola de Yasnaya Poliana; os Boletins da Escola Moderna de Barcelona ( disponíveis na obra principal de Ferrer) e da Escola Moderna de São Paulo ( disponíveis no Cedem-Unesp), entre outras fontes jornalísticas do movimento operário brasileiro do início do século XX.
2 No Boletim n° 6, Reclus escreveu um texto chamado “LA ENSEÑANZA DE LA GEOGRAFÍA” sobre
como poderia ser dada essa disciplina tendo o Racionalismo como método.
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Dirigido e redigido pelos alunos, este jornal visava divulgar trabalhos escritos, fornecer informações de atividades sociais, debater a conjuntura nacional e internacional, registrar e rememorar as datas e fatos relevantes do movimento operário.
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A oficina necessita de alguns recursos tecnológicos como forma de melhor apresentar os tópicos a serem discutidos. Desta forma solicitamos a presença de um datashow (para a apresentação dos slides em power point), uma televisão e um Vídeo Cassete, pois apresentaremos o filme “ Escolas Modernas” de Carlo Romani, ainda não digitalizado (por isso a necessidade de um vídeo cassete e não um DVD player).
A dinâmica da Oficina se iniciará com a apresentação do Professor e dos interessados.
Posteriormente serão discutidas as diferenças entre a Escola Tradicional e a Educação Libertária, apontando inclusive um pequeno histórico acerca das práticas anarquistas em educação (Escola de Tolstoi, Encontro Libertário de1882 e as Escolas Modernas de Barcelona e São Paulo).
Finalmente demonstraremos como Reclus e Kropotkin ajudaram na formulação dessa pedagogia, bem como na discussão do conteúdo de Geografia.
Depois da discussão inicial, exibiremos o filme proposto de 20 minutos e realizaremos um debate com os participantes.
Bibliografia
CALSAVARA, Tatiana da Silva. A Experiência da Escola Moderna em São Paulo. Dissertação de Mestrado: Faculdade de Educação, USP. São Paulo, 2004.
GUARDIA, Francisco Ferrer y. La Escuela Moderna. Tusquests Editor. Barcelona, 1978.
LUIZETTO, Flavio. Utopias Anarquistas. São Paulo: Editora Brasileinse,1987.
MONES, Jordi . Ferrer Guardiã y La Pedagogia Libertaria: Elementos para um
Debate. Barcelona: Icaria Editorial S.A,1980.
Jornais
Boletin da Escuela Moderna. Editor: Francisco Ferrer y Guardiã, Barcelona,1906-1908. Boletim da Escola Moderna. Editor: João Penteado, São Paulo,1918-1919.
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