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A CONSTRUÇÃO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL IMPÉRIO: Imigrantes, estrangeiros e o conceito de missão

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A CONSTRUÇÃO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL IMPÉRIO:

Imigrantes, estrangeiros e o conceito de missão

Arthur Victor Gonçalves Gomes de BARROS* Antes de analisarmos a construção do protestantismo no Brasil Império é necessário analisar alguns fatos que ocorreram durante o período colonial, em que observamos duas invasões estrangeiras e nelas os primeiros movimentos de protestantes no Brasil, embora, com a expulsão dessas invasões o protestantismo só seria novamente pregado no Brasil no século XIX. Desde a sua colonização, o Brasil era uma nação de hegemonia católica. Apesar disso, era a coroa portuguesa quem exercia o poder da Igreja. Logo, como afirma Alderi Souza de Matos (2011: 2), sugere que a colonização do Brasil foi uma ação conjunta entre a Igreja e a Coroa Portuguesa, onde a última tinha a maior participação no que diz respeito ao custeamento de despesas, fornecimento de transportes (navios) para a colônia e construção de igrejas; além disso, tinha o direito de nomear bispos, recolher dízimos e interferir na vida da igreja.

Outro fator que nos remete há esse tempo é a efervescência que vivia a Contra Reforma. Além de proteger a colônia da ameaça de piratas e corsários, a Igreja e a Coroa tinham que se preocupar com os invasores que provinham de países protestantes, como a França (uma parte) e a Holanda. Como afirma Antonio Gouveia de Mendonça:

A Igreja Católica teve que se desdobrar para não permitir que outros grupos cristãos, e ainda em plena efervescência da Reforma, aqui se estabelecessem de modo a pôr em risco a sua proeminência (MENDONÇA, 2008: 37).

Devemos levar em conta que segundo Matos houve dois tipos de catolicismo no Brasil colônia, como afirma Matos:

Em primeiro lugar, havia a religiosidade dos colonos, escravos e senhores de engenho, centrada na “casa grande” e caracterizada pela informalidade, pequena ênfase em dogmas, devoção aos santos e Maria e permissividade moral. Ao mesmo tempo, nos centros urbanos havia o catolicismo das ordens religiosas, mais disciplinado e aliado com Roma (MATOS, 2011: 3).

Mesmo com essa preocupação em proteger o Brasil não só das ameaças piratas como também dos protestantes, não impediu que houvesse duas invasões ao território nos séculos XVI e XVII. Das duas invasões, apenas uma tinha o interesse de fundar uma colônia protestante no Brasil, que nesse caso os huguenotes franceses que estavam fugindo da perseguição religiosa na França. Já os holandeses tinham como meta exclusiva a invasão no ponto de vista econômico, visando o comercio do açúcar, entretanto não impediu que professassem sua fé.

1. As invasões francesas e o primeiro intento protestante da América do Sul

* Graduando em Licenciatura em História pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (FUNESO). E-mail:

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Algumas das invasões que ocorreram no Brasil Colônia foram palcos das primeiras implantações do Protestantismo no Brasil sendo a primeira, com os franceses, no ano de 1555. A expedição de Villegaignon tinha como objetivo instituir uma colônia francesa no Brasil que levou o nome de França Antártica. Essa colônia serviria como refugio para os protestantes huguenotes, que sofriam perseguições na França. Para eles, o Brasil era uma espécie de paraíso, onde podiam manifestar seus cultos livremente. A ideia de “paraíso” citada anteriormente remete à visão que os huguenotes tinham com a sua permanência na colônia. Assim os huguenotes acharam um “lugar em que poderiam, pela pregação do Evangelho, reconstituir o cristianismo em sua pureza original” (MENDONÇA, 2008: 38).

Villegaignon, apesar de católico, mostra uma simpatia com os protestantes a ponto de “escrever ao reformador João Calvino, em Genebra, na Suíça, pedindo pastores e colonos evangélicos para sua colônia” (MATOS, 2011: 4). Em 1557 chega uma segunda expedição liderada pelos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier. Esse grupo em 10 de março de 1557 “realizou o primeiro culto protestante da história do Brasil e das Américas” (idem).

Por partes dos huguenotes houve uma preocupação em relação aos índios, entendendo-se uma espécie de atividade missionária, porem eles não demonstravam interesse na fé cristã logo os huguenotes concluíram que os índios estariam na classe dos não eleitos (MATOS, 2011: 5).

Alguns fatores contribuíram para que a missão francesa não vingasse no Brasil dentre os quais podemos citar as desavenças entre Villegaignon e os calvinistas em relação aos sacramentos “os significados dos elementos da eucaristia e a manutenção de elementos católicos, o sal e o óleo, juntos com a água do batismo” (MENDONÇA, 2008: 39), além da resistência portuguesa, resultando assim na expulsão dos franceses em 1560. “A França Antártica entrou para a história como a primeira tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América Latina” (MATOS, 2011: 5).

2. Os holandeses, uma tentativa mais séria da implantação do protestantismo na Colônia

“A mais séria e duradoura tentativa de implantar uma civilização protestante no Brasil foi no Período Holandês, quando reformados se estabeleceram no Nordeste com toda a sua organização eclesiástica à moda genebrina1” (MENDONÇA, 2008: 39). A priori, a expedição que resultou na Invasão Holandesa do ano de 1630, em Pernambuco, visava apenas o monopólio do açúcar, resultando assim na expansão colonialista e capitalista da Companhia das Índias Ocidentais.

No Brasil os holandeses lançaram sua primeira invasão no ano de 1624 na capital Salvador, onde permaneceram durante um período de um ano. Em 1630, na segunda invasão, tomaram Olinda e Recife e em cinco anos tomou posse de grande parte do nordeste brasileiro. Durante sete anos (1637-1644) João Maurício de Nassau fora administrador de Pernambuco.

Embora Nassau fosse tolerante com os católicos, a ação dos protestantes junto aos ingleses e franceses que moravam no Recife resultou na organização da primeira igreja. Além dos invasores procuraram aprender a língua nativa, para assim ampliar a sua doutrina aos portugueses, negros e indígenas.

Durante o período holandês no nordeste brasileiro, “Os holandeses criaram sua própria igreja estatal nos moldes da Igreja Reformada da Holanda. Durante 24 anos de dominação, foram organizadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios e um sínodo” (MATOS, 2011: 5). A constituição de um Sínodo é a característica da implantação de uma doutrina protestante,

1Calvinista

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Consoantes às normas reformadas foram organizadas duas classes (Presbitérios2), uma no Recife e outra na Paraíba, e, unindo ambas, o Sínodo3, o primeiro a ser instituído no Brasil. Com os consistórios (conselhos) das congregações locais, estava implantada, de modo completo, a organização eclesiástica calvinista (MENDONÇA, 2008: 40).

As igrejas possuíam uma boa assistência com relação a pastores e auxiliares, “As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores (predicantes), além de pregadores auxiliares (proponentes) e outros oficiais” (MATOS, 2011: 5). Além de atuar em ações missionárias junto a indígenas, com “planos de um catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de pastores indígenas” (idem).

“As leituras das Atas Clássicas e Sinodais mostram como a Igreja Reformada holandesa no Brasil era caracteristicamente puritana e rigorosa na disciplina” (MENDONÇA, 2008: 40). “Ordem e silêncio próximos aos locais de culto, santificação absoluta do domingo com a proibição do trabalho e de diversões, interdição de juramentos, praguejamentos e duelos lembraram a Genebra dos tempos de Calvino4”.

Nassau deixa Recife em 1644 por algumas divergências com a Companhia das Índias Ocidentais. No ano seguinte, portugueses e brasileiros começam a revolta contra os invasores que resultam na expulsão dos holandeses de Pernambuco em 1654. A restauração portuguesa de 1649, fez com que o os vestígios dos protestantes reformados no Brasil desaparecessem.

Durante o século XVIII o Brasil ficou praticamente isolado. Neste sentido, apenas funcionários da Coroa tinham permissão para a entrada na Colônia, pois havia um interesse da Coroa de manter pessoas ligadas à nova religião fora do seu território. Vejamos o seguinte exemplo:

Em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa entrasse no Brasil a não ser a serviço da Coroa ou da Igreja. [...] Em 1800, o Barão von Humboldt foi impedido de entrar na Colônia, pois o governo português informou à sua representante no Pará que Humboldt podia influenciar o povo “com novas ideias e falsos princípios”. Isso naturalmente, por que o barão procedia de país protestante (MENDONÇA, 2008: 41).

Até a vinda da Família Real não existiram mais protestantes no Brasil. Porém, a política adotada por D. João VI com a abertura dos portos às nações amigas, permitiu que os protestantes começassem a se estabelecer no Brasil. A maioria dos que vieram em 1808 era formada por viajantes que formavam as tripulações dos navios ingleses. Os tratados de Aliança e Amizade e Comércio e Navegação, facilitaram para que o protestantismo fosse aparecendo novamente no cenário nacional, gerando um impasse com a Igreja Católica, o que não impossibilitou que os protestantes fossem distribuindo suas Bíblias e praticando seus cultos dentro de normas legais muito restritivas no Brasil. Muitas dessas manifestações eram apenas para os estrangeiros que estavam de passagem pelo Brasil.

É interessante destacar que, nessa época existiam dois tipos distintos de protestantismo no País. O protestantismo de imigração, que foi oriundo das imigrações durante parte do século XIX, principalmente de alemães, suíços e estadunidenses (provenientes dos estados do Sul), e possuem uma característica de comunidades religiosas apenas para membros estrangeiros. Já o protestantismo de missão gerou totalmente o oposto e, como o próprio nome indica, era voltado

2Presbitérios: 3. Na Igreja protestante, a corporação dos presbíteros. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1988.

3Sínodo: 2. Assembleia de rabinos ou de ministros e pastores protestantes. Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. São Paulo, Editora Saraiva, 1997.

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para fazer o proselitismo entre os brasileiros. Esse tipo de protestantismo é caracterizado pelas missões norte-americanas no século XIX.

3. As missões protestantes no Brasil império e a consolidação protestante no início da República (1808-1892)

Até 1822, os protestantes, que em sua maioria eram imigrantes ou viajantes de passagem pelo Brasil, vinham praticando seus cultos da forma como permitiam as normas estabelecidas por D. João em 1810. Essas normas concediam amplos privilégios aos imigrantes de qualquer nacionalidade ou religião. Apesar de uma relativa abertura no campo religioso, ficaram restritivos alguns pontos, como afirma Mendonça:

Continuavam, no entanto, as restrições quanto aos lugares de culto, à construção de templos e ao proselitismo5. Também os cemitérios, administrados com exclusividade pela Igreja Católica, permaneciam defesos aos não católicos, o que criou para os protestantes situações muito difíceis para o sepultamento de seus mortos (MENDONÇA, 2008: 43).

Essas normas, além de garantir uma proteção aos imigrantes, também possibilitou que a Igreja Católica assegurasse sua hegemonia, embora se visse ameaçada6.

A liberdade de distribuir Bíblias por agentes das sociedades bíblicas estrangeiras, e a chegada e estabelecimento das missões protestantes constituíram um fator de grande importância à estratégia de penetração protestante no Brasil.

Com a Independência, em setembro de 1822, surgiu à necessidade da vinda de imigrantes europeus para o Brasil, e muitos deles provinham de países protestantes, como Alemanha e Suíça. Na Constituição de 1824, os protestantes ganharam certa liberdade religiosa, entretanto, a religião Católica é assegurada como oficial do Império. Durante o período imperial os protestantes enfrentaram varias restrições, entretanto, gradativamente, até a Proclamação da República a hegemonia Católica foi caindo e os protestantes foram se consolidando no cenário nacional. Essa tolerância possibilitou assim que até o fim do século XIX estivessem implantadas, todas as denominações históricas7 do protestantismo (MENDONÇA, 2008: 44). Devemos nos lembrar de que os protestantes se aproveitaram dessa tolerância para poderem assim distribuir suas Bíblias. Segundo Mendonça:

Os distribuidores de bíblias encontraram simpatias e facilidades por partes de membros das várias camadas da sociedade que manifestavam boa vontade em recebê-las. [...] A distribuição de bíblias não se limitou a grandes cidades, onde por certo o potencial de leitores era mais significativo. Entrou pelas áreas rurais , em que ao contrário, poucos eram os que iam lê-las, porque poucos eram os alfabetizados. Houve porém resultados. A distribuição de bíblias como fator estratégico importante da penetração do protestantismo [...] (MENDONÇA, 2008: 44).

5Proselitismo: 1. Zelo ou diligência em fazer prosélitos. Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. São Paulo, Editora Saraiva, 1997.

6Nesse sentido, devemos observar o contexto histórico que estava surgindo no mundo. Como afirma Matos (2011: 6), desde o século XVIII, os movimentos que estavam crescendo na Europa (iluminismo, maçonaria, liberalismo políticos e os ideais democráticos americanos e franceses) vão influenciando os intelectuais, políticos e religiosos no Brasil. Esses assuntos vão ter dois efeitos importantes na área religiosa que são o enfraquecimento da Igreja Católica e a abertura do Protestantismo.

7 Entendesse por denominações históricas as Igrejas Congregacional, Presbiteriana, Metodista, Batista, Luterana e Episcopal.

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O século XIX foi marcado pelo esforço dos protestantes na consolidação da sua religião, ou em outras palavras, a busca pela liberdade e legalidade. Só em 1890, com um decreto republicano da separação da Igreja do Estado é que os protestantes “asseguram o seu reconhecimento e proteção legal” (MATOS, 2011: 7). Assim podemos dizer que,

...vencendo gradativamente as dificuldades nos últimos quarenta anos do Império, os protestantes, tanto imigrantes como os brasileiros que aderiram, espalharam-se bastante pelo território nacional, embora nunca chegassem a ser parcela significativa da população(MENDONÇA, 2008: 45).

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3.1 Os imigrantes e o protestantismo

Segundo Boanerges Ribeiro, “ao iniciar-se o século XIX não havia vestígio de protestantismo” (1991: 15 apud MATOS, 2011: 8). As “liberdades de consciência” instituídas por D. João VI, permitiram que em 1816, o capelão anglicano Robert C. Crane se descolasse para o Brasil. Em 26 de maio de 1822 fora inaugurada no Rio de Janeiro a primeira capela anglicana. Outras foram sendo inauguradas nas principais cidades.

O que podemos destacar desses imigrantes8, é que sua assistência religiosa era apenas para eles. Isso fica bastante claro quando Mendonça (2008: 45) informa que “Os anglicanos e alemães foram sempre nesse período comunidades fechadas que não tiveram origem missionária, mas se constituíam em capelanias de assistência religiosa aos imigrantes”. Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil em 1824 e logo se estabeleceram no sul do País, em Nova Friburgo. Os imigrantes possuíam escassa assistência religiosa:

Os primeiros imigrantes alemães, entre 1824 e 1857, tiveram escassa assistência religiosa por intermédio de pastores; leigos faziam o papel dos pastores, sem poderem contudo realizar os atos privativos dos agentes oficiais da religião, principalmente os que se referiam aos sacramentos (MENDONÇA, 2008: 45). Essa falta de assistência religiosa resultou em 1864, que os luteranos se organizassem através de uma forma particular de vida religiosa: “Por falta de ministros ordenados, os primeiros luteranos organizaram sua própria vida religiosa. Elegeram leigos para serem pastores e professores, os pregadores-colonos” (MATOS, 2011: 9).

Foi com essa preocupação que um comitê organizado em Barmen começou a enviar pastores e missionários para atenderem as necessidades religiosas dos imigrantes no sul do País: “Todavia, na década de 1850, a Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do Brasil e começaram a enviar-lhes missionários e ministros. Isso criou uma igreja mais institucional e europeia” (MATOS, 2011: 9).

Em 1868 foi organizado pelo Reverendo Hermann Borchard o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul e, em 1886, foi organizado pelo Reverendo Wilhelm Rotermund o Sínodo Rio-Grandense, que para Matos (2011: 9): “se tornou modelo para outras organizações similares. Até o final da II Guerra as igrejas luteranas permaneceram culturalmente isoladas da sociedade brasileira”.

3.2 As missões protestantes divulgam a nova religião entre os brasileiros

A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (S.B.B.E.) e a Sociedade Bíblica Americana foram responsáveis por divulgar a mensagem da nova religião aos brasileiros. Essas sociedades tinham como meta a distribuição de Bíblias em todo o mundo. Every-Clayton (1998: 17) mostra que “em 1821 a S.B.B.E. enviou 100 Bíblias e 700 Novos Testamentos em português e espanhol para a América do Sul”. Havia duas traduções da Bíblia para o português, a protestante realizada pelo Reverendo João Ferreira de Almeida e a católica do Padre. Antônio Pereira de Figueiredo. A distribuição de Bíblias foi importante para o trabalho missionário, fazendo parte de sua estratégia. O protestantismo, conhecido como a “religião do livro” (MENDONÇA, 2008: 143), tem como base a leitura da Bíblia e os Livros de Cântico. A distribuição de Bíblias, principalmente nas áreas rurais, fazia parte da estratégia. Mendonça diz que,

por outro lado, sendo o protestantismo a religião do livro, deve ter surgido logo um severo embaraço para os missionários: o analfabetismo do segmento da sociedade que lhes oferecia espaços para a tarefa conversionista, o dos homens

8“[...] americanos, suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses e especialmente alemães e suíços, de tradição luterana e reformada” (MATOS, 2011: 8).

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livres e pobres da população rural. Os protestantes têm como postulado básico de sua fé que é a leitura da Bíblia, por si só, não somente instruir os indivíduos na religião, mas é instrumento de conversão. O próprio culto protestante exige a leitura, pois que os seus materiais litúrgicos são a Bíblia e o livro de hinos. Para atender a tal necessidade, os missionários colocaram ao lado de cada comunidade uma escola. Estas foram às escolas paroquiais, alfabetizadoras e elementares (MENDONÇA, 2008: 143-144).

Por hora, entendemos que os protestantes se utilizaram da educação para converterem e alfabetizarem novos membros. “A introdução da educação protestante na sociedade brasileira deu-se concomitantemente à pregação dos primeiros missionários: com a organização das primeiras igrejas já se implantaram também as escolas paroquiais” (MENDONÇA, 2008: 144-145). Compreendendo que “as escolas paroquiais foram instrumentos necessários para a implantação e permanência do protestantismo em qualquer lugar” (idem: 149).

Das denominações que começaram o trabalho missionário no Brasil a primeira foi os Metodistas. Tendo à frente os missionários Fountain E. Pitts, Justin Spaulding e Daniel P. Kidder formaram a primeira Escola Dominical no Rio de Janeiro e atuaram como capelães da Sociedade Americana dos Amigos dos Marinheiros. Kidder foi um dos principais nomes do protestantismo no Brasil, responsável por distribuir Bíblias em território brasileiro. James C. Fletcher também se empenhou nesta atividade.

Fletcher tinha uma grande preocupação com as questões da escravidão e educação brasileira. Essas mazelas “precisariam ser retiradas antes que o proselitismo surtisse efeito considerável” (SEIXAS, 2010: 335). É importante frisar que a construção do protestantismo no Brasil se deu em torno de uma discursão entre católicos e evangélicos. Os problemas sociais que existiam no Brasil, segundo Mariana Ellen Santos Seixas (2010: 335) eram “em decorrência de sua dependência de séculos de instituições ligadas à Igreja Católica” e ainda segundo ela “a restauração e a imersão do Brasil no rol das sociedades modernas estariam sujeitas à atuação de entidades ligadas ao protestantismo”.

Até o ano de 1855 “o protestantismo no Brasil era constituído quase que unicamente de estrangeiros” (MENDONÇA, 2008: 46). No ano citado chega ao Brasil o missionário escocês Robert R. Kalley que, “fugindo de violenta perseguição religiosa na Ilha da Madeira [...] e começou em Petrópolis atividade proselitista em português” (idem).

Das contribuições de Kalley podemos destacar a fundação da primeira Escola Dominical em Petrópolis (1855) e a fundação, em 1858, da Igreja Evangélica Fluminense, sendo Pedro Nolasco de Andrade o primeiro membro brasileiro (MATOS, 2011: 11). Podemos citar também a importância de Kalley na atuação da defesa da liberdade religiosa (idem). Kalley em 1892 organizou na Grã-Bretanha a Help for Brazil Mission, que “incrementou bastante a atividade missionária dos congregacionais” (MENDONÇA, 2008: 47). “O afã missionário norte-americano, iniciado com os distribuidores de Bíblias como Kidder e Fletcher [...] continuou com a chegada do missionário Ashbel G. Simonton [...] em 12 de agosto de 1859” (Idem).

De Simonton podemos dizer que inicialmente enfrentou dificuldades nos três primeiros anos no Rio de Janeiro e em algumas cidades de São Paulo; uma dessas grandes dificuldades era com a língua. Igualmente às outras denominações, organizou a primeira igreja com todos os membros estrangeiros,

eram só dois adeptos, um americano e um português. Chegaram depois outros estrangeiros e, dois meses mais tarde, foi recebido o primeiro brasileiro, Serafim Pinto Ribeiro. A fundação da primeira igreja presbiteriana (Travessa da Barreia, no Rio de Janeiro) deu-se em 12 de janeiro de 1862 (MENDONÇA, 2008: 47-48).

Podemos observar que, assim como Kidder, Simonton mostrava grande preocupação em trabalhar o evangelho com os brasileiros:

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Simonton, provavelmente alertado por Kalley, [...] embora vivendo e convivendo com estrangeiros, mostrava grande preocupação em começar a pregar em português e em não se misturar muito com os seus compatriotas e outros estrangeiros. Sua intenção primordial era envolver-se com brasileiros e conseguir adeptos entre eles (MENDONÇA, 2008: 48).

Assim, pouco a pouco foram sendo fundadas as primeiras Igrejas Presbiterianas no Brasil. Em 1862 no Rio de Janeiro, em 1865 em São Paulo e em Brotas. Desta ultima citada, estava presente José Manoel da Conceição, o primeiro pastor protestante brasileiro. Dentre a fundação das igrejas podemos destacar a criação do jornal A Imprensa Evangélica (1864-1892) e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). Também fundaram em 1870 em São Paulo a Escola Americana (hoje em dia a Universidade Mackenzie) (MATOS, 2011: 11).

Mendonça nos informa que “outro fator favorável à expansão presbiteriana foi o estabelecimento em Campinas, em 1868, da Missão da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos” (2008: 49). Essa missão concentrava imigrantes confederados que haviam fugido da Guerra Civil americana. Esses imigrantes foram acompanhados pelos missionários presbiterianos. O estabelecimento das missões junto aos imigrantes resultou em 1888 a formação do Sínodo do Brasil, que “marcou a autonomia eclesiástica da Igreja presbiteriana do Brasil” (MATOS, 2011: 11).

Por fim, “entre a chegada de Simonton (1859) e o fim do Império, já tinham os presbiterianos mais de cinquenta igrejas, quatro presbitérios, um seminário para preparar pastores nacionais, dois colégios e diversos periódicos” (MENDONÇA, 2008: 50).

Os batistas tiveram como seus primeiros missionários Thomas Jefferson Bowen e sua esposa. Os confederados de “Santa Bárbara serviram de atração para os batistas” (MENDONÇA, 2008: 50). Os primeiros missionários batistas que começaram os trabalhos missionários junto aos brasileiros foram William Buck Bagby, Zachary C. Taylor e suas esposas, que chegaram ao Brasil no ano de 1881. Organizaram junto ao ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque em 15 de novembro de 1882, na Bahia, “a primeira igreja batista nacional, com cinco pessoas – quatro americanos e um brasileiro”.

A última missão a se estabelecer no Brasil fora os protestantes da Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América. Foram enviados para o Brasil no ano de 1889 os missionários Rev. James Watson Morris e Lucien Lee Kinsolving. Em 1890, após um ano do estabelecimento da Igreja, realizam o primeiro culto episcopal na cidade de Porto Alegre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desse artigo tentamos mostra como se deu a implantação do protestantismo no Brasil desde as primeiras sementes no Brasil colônia até o fim do século XIX. É importante lembrar que na fase de implantação do protestantismo no Brasil ele é dividido em dois períodos, os de imigração, que é decorrente das grandes levas de imigrantes europeus e americanos (proveniente do sul) e o de missão que fora introduzido pelas grandes ondas missionárias entre 1835 e 1889, resultando assim na implantação das principais denominações históricas no Brasil.

REFERÊNCIAS

EVERY-CLAYTON, Joyce E. Winfred. Um Grão de Mostarda... Documentando os Inícios da Igreja Evangélica Pernambucana (1873-1998). Recife, Pernambuco: Igreja Evangélica

Pernambucana, 1998.

MATOS, Alderi Souza de. Breve História do Protestantismo no Brasil. Goiana. Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FAIFA, vol. 3, n. 1. 2011.

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MENDONÇA, Antonio Gouvêa de. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

SEIXAS, Mariana Ellen Santos. Protestantismo, Política e Educação no Brasil: A Propaganda do Progresso e da Modernização. Rev. Brasileira de História das Religiões, ANPUH. Paraná, Ano III, n.7, p. 333-345, maio. 2010.

Referências

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