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Sessão de solene do Feriado Municipal
12 de maio de 2017
Intervenção do Senhor Reitor, Prof. Doutor Manuel António Assunção
É habitual e é apropriado dizer-se, embora nem todos pensem e reajam assim, que as distinções não se pedem, não se recusam, simplesmente, agradecem-se. Começarei portanto por aí, pelo agradecimento. Faço-o em meu nome próprio e, com igual ênfase, em nome dos dois outros homenageados que desde já congratulo e com quem partilho a honra deste momento: a Renault Cacia e o Sr. António Norberto Correia.
A presença da Renault em Aveiro já ultrapassou o marco das três décadas e meia. A sua importância pelas dinâmicas que vem induzindo, pelo volume de exportações de que é responsável, pelo novo investimento que recentemente começou a fazer, entre outras coisas aqui já aduzidas, é, indubitavelmente, credora do reconhecimento da região e de todos os Aveirenses. Outro tanto se pode dizer a propósito do
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valor de Norberto Correia que, a par do seu trabalho nesta cidade, soube granjear reputação a nível nacional através da dedicação ao Escutismo e com ela prestigiar, em muito, o nome Aveiro. Estou assim eu boa companhia, sobre isso não restam quaisquer dúvidas. E, por isso mesmo, quero felicitá-los, expressamente, pela justa atribuição de que foram alvo.
Sobre mim, deixem-me recorrer a José Ortega y Gasset, aliás, muito citado mas raramente na plenitude daquilo que escreveu: "yo soy yo y mi circunstancia y si no la salvo a ella no me salvo
yo". A circunstância que me permite estar aqui hoje é,
sabemo-lo bem, a Universidade de Aveiro. Só por ela posso compreender este galardão que, tão generosamente, a Câmara Municipal me atribui. Só pelo trabalho que, há exactamente quarenta anos, venho dedicando para a salvar -leia-se, para a tornar melhor, com mais qualidade, mais competitiva e sustentável, com mais impacto- posso aceitar o foco que esta sessão faz hoje incidir sobre mim. Um foco sob o qual coloco,
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igualmente e sem exceção, todos os Reitores que me precederam.
É pois do reconhecimento à Universidade de Aveiro que se trata aqui e agora. Aliás os três considerandos subjacentes à outorga não deixam dúvidas a esse respeito. O que me agrada, sobremaneira. A UA tem um projecto vai para o número bonito de 44 anos. Com pioneirismo na oferta de formações no panorama nacional; com investimento, logo na fase inicial, para uma investigação de qualidade, condição sine qua non no garantir um bom futuro de uma instituição universitária; cuidando do ambiente físico e do ambiente humano, com um Campus que é um museu aberto da melhor arquitectura portuguesa contemporânea e promovendo uma cultura de informalidade, de diálogo, de democracia; uma Universidade virada para fora, desde o primeiro momento, com preocupação pela relação com a indústria, com os serviços, com as
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autarquias, com a região, com a sociedade no seu todo, na integralidade económica, social e cultural desta.
Somos valorizados, nacional e internacionalmente, por critérios objetivos; e temos um impacto crescente no que nos rodeia: no emprego directo onde, conjunta e precisamente com o nosso co-galardoado Renault Cacia -o que quero aqui sublinhar- asseguramos cerca de 3000 postos de trabalho; mas também no fomento do emprego, pela qualidade e pertinência da formação que ministramos, pelos mais de mil e quatrocentos estágios que organizamos, pelas empresas que ajudamos a criar, pelos projectos -totalizando várias dezenas de milhões euros- de Investigação, Desenvolvimento e inovação com indústrias locais que levamos a bom porto; aspecto em que este ano tem sido particularmente fértil. Educação e formação, projectos inovadores, criação de riqueza, melhor qualidade de vida andam sempre aliados, de braço dado. Por isso, de igual modo, sobreleva o nosso impacto directo no desenvolvimento
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nas suas múltiplas cambiantes. Impacto, ainda, que se quer crescente através dos instrumentos que temos sabido criar em estreita harmonia com parceiros locais e regionais: planos estratégicos ou de acção, a Fábrica de Ciência Viva, a Orquestra Filarmonia das Beiras, a Incubadora de Empresas da Região de Aveiro, o Ecomare, o Parque de Ciência e Inovação, o memorando de entendimento para a área da saúde, todos determinantes para o nosso futuro coletivo.
Outrossim, agrada-me o que esta distinção contém de simbólico na relação Universidade-Cidade; e no que ela traduz, já não só no assumir por esta da importância da UA, mas na própria apropriação por Aveiro da sua Universidade, fazendo dela e vivendo-a como verdadeiramente sua. Com as suas dinâmicas, com os seus eventos -anualmente mais de 100 com estatuto internacional-, principalmente, com os seus estudantes -1500 dos quais estrangeiros- força motriz de muitos acontecimentos marcantes, animadores da cidade e elemento
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de mudança sem igual. Há muitas coisas a fazer em conjunto e vamos certamente cumpri-las: na frente da saúde, já mencionada; no transformar Aveiro num laboratório vivo, antecipando o futuro na dimensão digital e noutras; na promoção integrada de Aveiro Cidade com a sua Universidade, também. Trata-se de acções múltiplas de contínuo reforço positivo que é a maneira de ganharmos todos: no pleno respeito pelo espaço de cada um, porém cultivando os valores da preocupação pelo bem público, do trabalho em complementaridade e da lealdade. É isso que, naturalmente, está a acontecer e para o qual o contributo -muito empenhado e consciente do que está em causa- do Presidente Ribau Esteves tem sido assinalável. Muito do bom que vem ocorrendo, cada vez com maior intensidade, tem a marca dele e a UA e o seu Reitor estão-lhe gratos. Ao que junto, porque é verdade, a maneira franca, cordial e amiga com que as relações pessoais -sempre tão importantes- têm decorrido. Também é por aqui que passa a singularidade da nossa
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cooperação universidade-região, absolutamente única no panorama nacional
Permitam-me uma nota pessoal que muito gostei de ver referida e onde me sinto irmanado com o Sr. Norberto Correia: a da promoção da cidadania activa. A par da comunicação de ciência, melhor dizendo do seduzir e formar para a compreensão pública da ciência e da tecnologia, tão essencial a variadíssimos títulos, e do incentivar à fruição e ao envolvimento com a cultura, nomeadamente através da música, deixem-me, todavia, acrescentar uma terceira componente: a do desporto e, em particular, o ciclismo que constitui outra das minhas grandes paixões.
Este cidadão está a ponto de somar 44 anos totalmente dedicados à causa pública, tantos quantos a UA tem de vida, uma coincidência, para mim, feliz. Naquele facto, sim, sinto muito orgulho e, por aí, reconheço uma pequena fatia do valor
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que resolveram atribuir-me. É que não quero pôr-me demasiado na posição de não merecer o galardão; até porque conheço as palavras do comediante Jack Benny que num momento similar reagiu nos seguintes termos: "eu não mereço este prémio, mas se vamos a isso, também não mereço a artrite que tenho". Eu não tenho, ainda, artrite mas tenho uma tendinopatia e sei lá mais o quê. Venha pois a medalha e estaria a falar de um facto alternativo se dissesse que não fiquei contente.
É tempo de terminar. Nos responsáveis máximos desta autarquia deposito um reiterado obrigado, de mim, da Renault Cacia e do Sr. Norberto Correia. O Sr. Presidente Ribau Esteves, sabedor do meu ser e do meu sentir alentejanos, repetia-me há uns anos atrás que eu já era Ilhavense, por causa da cidade onde resido, vai para bastantes anos. Todavia, é verdade: nunca renegando aquelas raízes e aqueles amores, tão profundos, sinto-me, não diria dos sete mas de
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bastantes costados, de coração dividido, já há muito também devotado entusiasta da Ria, dos seus recantos e da sua vida selvagem, desta “terra com horizonte” que lhe dá o nome, já há muito também, inequivocamente, Aveirense.