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A prática docente em Educação Física: uma aproximação com a Pedagogia Dialógica *

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Academic year: 2021

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A prática docente em Educação Física: uma aproximação com a Pedagogia Dialógica*

Ivan Gimenes de Lima; Luiz Gonçalves Junior

Introdução e Revisão de Literatura

Em observações feitas no início do ano letivo de 2005 em aulas da 5ª série do ensino fundamental, durante os jogos e brincadeiras, constatou-se que os(as) alunos(as) apresentavam dificuldade em elaborar e/ou desenvolver os mesmos de forma autônoma, ficavam aguardando a fala do professor, demonstrando certa insegurança e necessidade para apoiar suas idéias.

Percebendo isto, decidimos trabalhar de modo dialogado, estimulando-os a compartilhar a palavra conosco e mesmo entre eles, buscando desenvolver criatividade e autonomia. Voltamo-nos principalmente a construção de jogos e brincadeiras, de maneira descontraída e alegre, e ao mesmo tempo compromissado e respeitoso.

Entendemos que o(a) educador(a) deve estimular a curiosidade, participação e autonomia com os(as) alunos(as), pois dessa forma desenvolverá a sua própria curiosidade, educando-se também. Compartilhar fundamental para o desenvolvimento pessoal e do grupo, nos possibilitando o contínuo vir a ser, já que somos seres incompletos e inconclusos, conforme nos aponta Freire (2005a, 2005b), Merleau-Ponty (1996) e Sérgio (1999).

Como educadores, devemos ter esperança de que podemos ensinar e produzir em conjunto, devendo-se “trocar o falar para pelo falar com” (FREIRE, 2005b, p.28) os nossos(as) alunos(as), para superar e resistir aos obstáculos com perseverança e alegria.

Freire (1996) nos alerta para não sermos muito convictos de nossas certezas, e que o conhecimento atualizado pode surpreender o que já é existente, por isso, o(a) professor(a), deve ter o hábito de pesquisar freqüentemente, pois para o(a) professor(a)

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Referência: LIMA, Ivan Gimenes de; GONÇALVES JUNIOR, Luiz. A prática docente em educação física: uma aproximação com a pedagogia dialógica. In: 4º CONGRESSO CIENTÍFICO LATINO-AMERICANO DE EDUCAÇÃO FÍSICA / 2º CONGRESSO LATINO-LATINO-AMERICANO DE MOTRICIDADE HUMANA: EDUCAÇÃO FÍSICA, CULTURA E SOCIEDADE: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E INTERVENÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO COTIDIANO DA SOCIEDADE BRASILEIRA, 2006, Piracicaba. Anais... Piracicaba: UNIMEP/FACIS, 2006. v. 1. (CD-ROM).

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não se tornar obsoleto é imprescindível a progressão social e principalmente capacitação profissional, propagando assim suas descobertas aos alunos(as), fazendo com que a curiosidade deles(as) dirija-se do senso comum ingênuo, partindo do “saber de pura experiência feito” à "curiosidade epistemológica" (p.32), obtida com criticidade e criatividade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997), é um documento que traz interessantes contribuições para a Educação Física, sugerindo aos professores(as) atenção para com as atitudes dos(as) alunos(as) em relação à: cooperação, discutir e analisar os conflitos, aceitar opiniões diferentes, respeito a cultura, entre outros. Nesse sentido, colaborando com o enfoque pretendido neste trabalho.

Voltando-nos a Freire (1996), o qual observa que, o bom senso do professor deve orientá-lo a “respeitar a autonomia” (construindo conhecimentos e deles desfrutando), a “dignidade” (na autenticidade de seu saber) e a “identidade do educando” (seu mundo vivido é o pano de fundo interativo, de seu conhecimento adquirido) desenvolvida com criticidade e criatividade.

Para Freire (1996) “ensinar é um ato de re-conhecer o que já foi aprendido, ou seja, reconhecer em seu conhecimento o conhecimento dos educandos” (p.81), assim, ensinar deve ser um ato criador, crítico e não mecânico, pois se expressa na curiosidade de professores(as) e alunos(as) em ação.

O educador(a) questionador(a) refaz constantemente seu ato cognoscente, na cognoscitividade dos(as) educandos(as). Eles(as) são investigadores dos conteúdos propostos e em diálogo com o professor, o qual é um investigador crítico também e apresenta o conteúdo ao educando como objeto de sua admiração. Na medida que isso ocorre, “o educador deve se refazer em suas admirações para aí então integrar-se a uma re-admiração, de modo que já havia admirado” (FREIRE, 2005b, p.80).

Objetivo

A partir do trabalho desenvolvido em aulas regulares de Educação Física Escolar com crianças de 5ª série do ensino fundamental em escola particular da cidade de Nova Odessa (interior de São Paulo) com aulas inspiradas na Pedagogia Dialógica de Paulo

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Freire, resolveu-se observar o desenvolvimento dos alunos quanto a autonomia, particularmente na organização e realização de jogos e brincadeiras.

Metodologia

Foram desenvolvidas aulas regulares de Educação Física Escolar com crianças de 5ª série do ensino fundamental em escola particular da cidade de Nova Odessa (interior de São Paulo) ao longo de um ano letivo, mediadas por uma aproximação inicial de trabalho com a Pedagogia Dialógica de Paulo Freire, sendo, para efeito deste estudo, observadas de modo participado (registradas em diário de campo) 3 aulas realizadas próximas ao final do ano.

Para tais registros ocorreram as seguintes dinâmicas: na primeira aula, o jogo “pular cela”, de modo geral apresentado por nós, teve a participação dos(as) aluno(as) em algo já experimentado pela maioria deles(as), na qual aqueles(as) que conheciam variações distintas apresentava para os(as) demais; na segunda aula, os(as) alunos(as) trouxeram brincadeiras propostas que o pai, a mãe ou o responsável brincava, após aqueles(as) realizarem pesquisa pessoal junto a estes(as); e, por fim, a terceira voltou-se então para as brincadeiras do cotidiano dos(as) alunos(as), que eles(as) mais gostavam e brincavam, sendo que eles(as) as apresentavam para os(as) colegas. Nesta última aula, os(as) alunos(as) decidiram levar skate, patins, patinete e bicicleta para a escola. Deve-se ressaltar que Deve-se combinou previamente entre todos(as) que os jogos apreDeve-sentados em aula, deveriam ser executados por todos(as) os(as) alunos(as), mas no caso de alguns(mas) deles(as) não conseguirem esta participação efetiva, os(as) colegas deveriam ajudá-los(as) ao aprendizado.

Estas três aulas foram registras em diários de campo, com o objetivo de observar se ocorreu desenvolvimento da autonomia dos(as) alunos(as) em relação a situação descrita (na introdução) no início do período letivo.

Segundo Bogdan e Biklen (1994) o diário de campo “é o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (p.150).

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(...) as notas de campo consistem em dois tipos de materiais. O primeiro é descritivo, em que a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local, pessoas, ações e conversas observadas. O outro é reflexivo – a parte que apreende mais o ponto de vista do observador, as suas idéias e preocupações. (p.152).

Resultado e Discussão

Todas as aulas se iniciaram com alongamentos em que todos(as) dispostos(as) em círculo sugeriam exercícios e realizavam conjuntamente.

Na 1ª aula se realizou jogo proposto por nós, conhecido como “pula cela” - no qual um(a) aluno(a) flexiona seu tronco e levemente seus joelhos, enquanto os(as) demais, batendo levemente a mão nas costas dele(a), saltá-o(a) com as pernas afastadas. Nesta aula, apesar da proposta inicial ter sido nossa, os(as) alunos(as) fizeram diversas propostas de incremento a atividade.

Em dado momento, a turma se dividiu em 5 grupos, e cada um apresentava o que já sabia referente ao “pula cela”, para outros dois(uas) colegas que não conheciam dada variante do jogo ou tinham receio de executar a atividade. No desenrolar da atividade, observa-se que um aluno adotou certa liderança com muita autonomia e então, fez questão de ensinar dois colegas que apresentaram maior dificuldade na realização. Quando eles aprenderam, ele se voltou para os outros grupos, levando sua cooperação. Uma aluna ensinada por ele conseguiu executar a atividade, mas em seguida caiu e ficou com receio de tentar outras vezes, mas ele foi solidário e perseverante fazendo com que ela voltasse a brincar com todos(as).

Alguns desses(as) alunos(as) vieram até nós relatando a postura do seu(ua) colega, que estava ensinando-os, dizendo que não iriam fazer ou conseguir fazer, já outros, diziam que o(a) colega deles não tinha muita paciência para ensiná-los e que não estava dando atenção à eles(as).

Ao final da aula, todos sentaram em círculo e relataram como se sentiram. Alguns(mas) adoraram ser alunos(as) de seus(uas) colegas pois acharam que tinham mais liberdade para reclamar do comportamento deles(as) e outros não aderiram muito bem a idéia pois não viam muita seriedade em ter um(a) colega de classe lhe explicando algo.

Já aquele aluno que mais se destacou no papel de “professor” alegou que adorou explicar/ensinar, pois viu seus(uas) “alunos(as)” dizendo que não conseguiam e

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momentos depois estavam executando a atividade. Disse também se sentir muito seguro para ensinar/explicar a brincadeira de “pula cela”, pois a conhecia muito bem. Por outro lado existiram aqueles(as) que não gostaram de ser “professores(as)”, pois realmente sentiram impaciência com os(as) que não conheciam a atividade.

Na 2ª aula nossa observação voltou-se para a execução de jogos e brincadeiras realizados pelos pais, mães ou responsáveis em suas infâncias, possível graças a pesquisa feita pelos(as) alunos(as) como tarefa de casa previamente combinada. Todos(as) trouxeram variadas descrições de atividades. Cada um(a) escolheu um jogo ou brincadeira para transmitir aos colegas.

Ao longo desta aula observou-se que vários(as) alunos(as) não estavam muito satisfeitos(as) com o que os pais, mães ou responsáveis faziam quando tinham as idades deles. A partir daí, propusemos que os(as) alunos(as) poderiam alterar as atividades para que elas fossem mais atrativas para eles(as), o que com desenvoltura fizeram, alterando principalmente algumas regras, nos permitindo observação da evolução da autonomia destes(as). Destacamos ocorrência de variações do pega (pega ajuda, pega-pega corrente e pega-pega-pega-pega cego com música), mãe-da-rua (com arcos no chão) e da amarelinha (caracol e macacão). Variações estas, algumas já existentes, outras novas, que foram misturas a outras brincadeiras de modo bastante criativo e dialogado.

Ao final desta os(as) alunos(as) deveriam então propor como seria a próxima aula. Então, com muita alegria um aluno nos questionou: “já que hoje trouxemos as brincadeiras dos pais, agora seria hora de trazermos atividades que gostamos e praticamos”. Mais do que depressa, nos colocamos a disposição para saber o que queriam. Foi então que se propuseram a trazer para escola patins, patinete, bicicleta e skate, sendo estas brincadeiras que eles(as) gostam na atualidade.

Obtivemos o consentimento da direção da escola e os alunos trouxeram seus “brinquedos” para a escola na 3ª aula. Nesta, tivemos uma conversa inicial com os(as) alunos(as) na sala de aula sobre o que iríamos fazer com os brinquedos. Houve questionamento dos(as) alunos(as) que não tinham habilidades com os brinquedos, de o que iriam fazer, ao que propuseram que os que sabiam executar as atividades explicariam/ensinariam aos que tinham pouca habilidade.

Já na quadra os(as) mais hábeis pegaram alguns cones e os dispuseram com espaço aproximado de um metro e meio um do outro, pedindo para que os(as) menos hábeis fizessem deslocamento em ziguezague entre os cones, com os variados “brinquedos”.

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Dois dos alunos eram muito habilidosos com o skate, um deles foi o que mais ajudou os(as) demais colegas, mas o outro se interessou mais em expor suas habilidades e pouco colaborou com ensinamentos. Porém, no fim da aula, o aluno ajudante acabou se juntando ao não-ajudante.

De qualquer modo todos(as) os(as) alunos(as) desfrutaram, pelo menos, um pouco de cada atividade, havendo maior interesse demonstrado pelo skate.

Todos(as) gostaram tanto das práticas que o tempo passou desapercebido por eles(as) e mesmo por nós. Entre eles(as) combinaram que iriam brincar em uma pista de skate em um outro dia e horário, nos ficando claro o envolvimento com a atividade e o desenvolvimento da autonomia para além dos muros escolares.

Considerações Finais

Podemos dizer, com base nos registros em diário de campo, que com a valorização nas aulas de Educação Física dos conhecimentos dos(as) alunos(as) provenientes de ambientes externos ao contexto educacional, ou seja, seus “saberes de experiência feitos” (FREIRE, 2005b), promovemos maior participação, envolvimento e generosidade destes(as) para com os(as) colegas no ambiente escolar, bem como desenvolvimento da criatividade e da autonomia, elemento este central de investigação nesta nossa pesquisa.

Acreditamos, como Freire (2005b), que o ato de educar envolve necessariamente o de educar-se, sendo necessária a afetividade, a humildade, o gosto pelo ensinar e aprender, a busca incansável pela competência e pela esperança engajada na transformação nossa (somos seres inconclusos), da educação e do mundo.

Entendemos que nossa experiência e pesquisa foi uma aproximação inicial com a introdução das idéias de Paulo Freire nas aulas de Educação Física, e que há necessidade de experiências de trabalhos e estudos mais prolongados, efetivos e aprofundados, nossa e de outros colegas educadores(as).

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Bibliografia

BODGAN, Robert; BIKLEN, Sari. Notas de campo. In: ______. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto (Portugal): Porto Editora, 1994. p.150-175.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC / SEF, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 41ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005a.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 12ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005b.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

SÉRGIO, Manuel. Um corte epistemológico: da educação física à motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

Referências

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