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RESUMO. Palavras- chave: Cara da Mãe; Mitologia pessoal; Mitodologia em Artes; Iemanjá ABSTRACT

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Academic year: 2021

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SILVA, Janaina Gomes da. IEMANJÁ: A mistura alquímica de mitologias pessoais no processo do espetáculo Cara da Mãe. Recife: Universidade Federal do Pernambuco;

Mestrado; orientação de Luciana Lyra. Atriz e bailarina.

RESUMO

Propõe-se nesse artigo refletir sobre a Mitodologia em Arte, conceito/prática cunhada pela Profa. Dra. Luciana Lyra (2011), como um meio de transpor aspectos do inconsciente individual do artista para propostas cênicas/corporais, tendo como exemplo a experiência do espetáculo de dança Cara da Mãe, do Coletivo Cênico Tenda Vermelha (grupo composto por artistas mulheres de Recife/PE). Esta comunicação tem como objetivo desvelar aspectos da mitologia pessoal da bailarina criadora Janaina Gomes, a partir da experiência do procedimento Alquimia dos Elementos inserido na Mitodologia em Arte aplicada ao processo do espetáculo. O objetivo deste trabalho, baseia-se em refletir sobre o surgimento do mito de Iemanjá através do procedimento mitodológico e aprofundar os desdobramentos deste mito guia a partir da perspectiva estética do corpo e da dança deste orixá, mediante o encontro com as movimentações coreográficas realizadas pela bailarina no espetáculo Cara da Mãe.

Palavras- chave: Cara da Mãe; Mitologia pessoal; Mitodologia em Artes; Iemanjá ABSTRACT

The purpose of this work is to discuss about the concept named Mythodology in Art coined by PhD Luciana Lyra (2011), as a way to transpose the individual and unconscious aspects of an artist to symbolic body experiences of performing arts, considering the experience of the artists on the dance show Cara da Mãe (Mother’s Face), by Coletivo Cênico Tenda Vermelha (a group of women artists from Recife/PE). This communication aims to unveil dancer Janaina Gomes’s aspects of personal mythology, through one of the methods of the Mythodology in Art Alchemy of the Elements, applied to the artistic experience of the show. Moreover, this study reflects on the appearance of Iemanjá myth by the analysis of mythological procedures as it allows further knowledge about the aesthetic perspective of the body and dance of this myth, upon encountering the choreographic movements performed by the dancer in the show Cara da Mãe (Mother’s Face).

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Keywords: Cara da Mãe (Mother’s Face); Personal mythology; Mythodology in Art;

Iemanjá.

“Eu saliva, eu lágrima, eu mar, eu sangue, eu secreção, eu líquida, límpida, diluída... Sensação de choro, peito apertado. Respira Janaina que o mar serenou quando ela pisou na areia... Eu mar e mundo. Bato sobre pedras, escorrego na areia, habito dentro de mim com a gravidade que há na lua. Com a densidade do menino dentro da barriga. Azul, azul, azul. Eu, o azul e o branco, as pedras, o sal e a areia. Espuma que flutua”. Janaina Gomes (cadernos de ator)

Dou inicio a esses escritos chamando atenção para meu nome. Janaina, e os vários significados simbólicos que carrega. Cresci ouvindo músicas e tentando buscar histórias sobre o nome que me foi destinado. Procurei seus significados e sempre essas investigações me levavam ao mar. Rainha das águas, sereia do mar, Iemanjá.

Ao perguntar sobre os motivos que levaram a escolha do nome que me foi dado de nascença, mãe afirma que a escolha se deu pelo fato dela ter tido uma boneca negra, responsável pelas horas de brincadeiras solitárias que segundo ela, era chamada por Janaina desde o primeiro instante em que a viu. Esperei no mínimo ouvir alguma história sobre sereias encantadoras e aventuras marítimas. Mas não, Dona Ceça com tranquilidade me conta de onde vim.

Era tarde. O mito já havia se instaurado no meu imaginário infanto-juvenil e eu prontamente me identifiquei com as histórias, com a água, com o sal e com a figura de Iemanjá. Janaina me soa como um acalanto e eu passei a devotar minha fé, a essa mulher, mãe, senhora do mar e de mim.

Não é o conhecimento do real que nos faz amar apaixonadamente o real. É o sentimento que constitui o valor fundamental e primeiro. A natureza, começamos por ama-la, sem conhecê-la, sem vê-la bem, realizando nas coisas um amor que se fundamenta alhures. Em seguida, procuramo-la em detalhe, porque a amamos em geral, sem saber porque. A descrição entusiasta que dela fazemos é uma prova de que a olhamos com paixão, com a constante curiosidade do amor. E se o sentimento pela natureza é tão duradouro em certas almas, é porque, em sua forma original, ele está na origem de todos os sentimentos. É o sentimento filial. Todas as formas de amor recebem um componente

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do amor por uma mãe. A natureza é para o homem adulto, diz-nos Marie Bonaparte, “ uma mãe imensamente ampliada, eterna e projetada no infinito. Sentimentalmente a natureza é a projeção da mãe. Especificamente acrescenta Bonaparte: “ O mar é para todos os homens, um dos maiores, um dos mais constantes símbolos maternos”(Bonaparte apud Bachelard, 2013)

Cara da Mãe, nasceu de um vislumbre, de uma anunciação. Era chegada a hora de conectar a visão com os fatos inexplicáveis que rodeiam o por vir de dias e dias. Surgiu em mim a urgência de falar sobre mãe. Ela que estava e era o ser mais perseverante e grandioso que pudesse lembrar nessa existência, estava se pronunciando como necessária para o meu fazer/ pensar arte.

Mãe que se projetava em meio a devaneios em forma de teatro e dança anunciou: - vais ter um filho de carne, osso e coração! E assim aconteceu. Depois de trinta dias se fez real o presente que estava contido no imaginário. Agora grávida, redonda e com a beleza de Afrodite exalando pelos poros, pressupus que essa era uma necessidade vital, falar sobre mãe e agora sobre filho porque o que eu era (filha) expandiu-se em matéria materna. Agora não mais eu recebia colo, precisava preparar-me para doar o meu.

No percurso de uma jornada duas companheiras de luta e labuta na arte se aproximam. Mulheres parideiras iguais a mim e a tantas outras que se despem de humano e se tornam animalescas. Provoquei, indaguei e pus um pouco de entusiasmo na proposta que eu fazia a elas. Já tinha até nome o rebento gerado pelo meu devaneio maternal. Cara da Mãe foi o nome escolhido. Aceitaram e disseram sim prontamente para as minhas provocações e indagações. Ana Luiza Bione e Íris Campos grávidas e redondas tanto quanto eu.

Desse movimento de inteireza e amor gerou-se o Coletivo Cênico Tenda Vermelha com a proposta de integrar o feminino e o sagrado nas práticas cotidianas e artísticas. Dali surgia um grupo, ali existiam mães grávidas e redondas com filhos de carne, osso, coração e ideias no ventre.

A busca, era por uma parteira que nos ajudasse a dar a luz a nosso filho em comum, o espetáculo. Foi quando em um curso promovido pelo SESC Pernambuco, me deparei com a Mitodologia em Arte e a Artetnografia, conceitos cunhados e desenvolvidos pela profª Dr.ª

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Luciana Lyra1. No mesmo instante, atentei-me para os caminhos que me levaram até o conhecimento dessa forma de pensar uma criação artística e no mesmo dia convidei Luciana para nos guiar nesta empreitada.

A Mitodologia em Arte lida com forças pessoais que movem o atuante na relação consigo mesmo e com o campo artetnografado, num processo contínuo de retroalimentação (Lyra, 2012). A artetnografia traduz-se pelo cruzamento complexo gerado do encontro entre artistas e comunidade, entre eus e alteridades (Lyra, 2012). Diante de nossa busca se mostrava aos poucos o percurso que estávamos buscando enquanto intérpretes- criadoras.

A Mitodologia em Arte é dividida em três tipos de procedimentos. Os ritos de partida, os ritos de realização e os ritos de retorno. Para chegar em minha mãe Iemanjá, me remeto ao rito de partida, ou rito preparatório. Nele estão contidas as vivências mitodramáticas e os ritos pessoais.

Foi na alquimia dos elementos que houve o encontro. Eu e o mar misturado alquimicamente a partir dos movimentos que se delineavam pelo corpo. O nome que me cabe torna-se aqui uma das mitologias pessoais que me compõem e essa relação afetuosa reflete diretamente na criação de movimentos para o espetáculo Cara da Mãe. Coube a Janaina, a boneca negra de minha mãe e a mim o rito de passagem necessário para compartilhar a experiência da maternidade.

Oh Janaina quando estou feliz eu choro. Oh Janaina deixa eu dormir no teu colo!

1 Atriz, performer, dramaturga, diretora e professora de Teatro. Docente do Departamento de Artes Cênicas, Educação e Fundamentos da Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São Paulo. Docente visitante e Pós doutoranda em Artes Cênicas, pelo Programa de Pós graduação em Artes Cênicas da UFRN. Pós-doutora em Antropologia, pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), é também Mestre e Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas (IA/UNICAMP-SP). Especialista em Ensino da História das Artes e das Religiões pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ainda possui o título de Bacharelado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP-PE). Atuou como docente da graduação em Artes e da pós-graduação lato sensu da Universidade Guarulhos (UNG), da graduação em teatro e pós-graduação lato sensu da Faculdade Paulista de Arte (FPA), em São Paulo, e também foi mestre da Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT). É integrante do grupo de pesquisa em Antropologia, Performance e Drama (NAPEDRA-USP), do grupo Poéticas Atorais (UNESP), do Terreiro de Investigações Cênicas (UNESP) e do grupo ÍMAN (Imagem, mito e imaginário nas artes da cena) (UFG). Atua na Companhia de teatro OS FOFOS ENCENAM, da Cooperativa Paulista de Teatro e dirige seu próprio estúdio de investigação UNA(L)UNA - PESQUISA E CRIAÇÃO EM ARTE. Atualmente encontra-se em formação no Método Feldenkrais de educação somática pelo Feldenkrais International Trainning.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: Ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo- SP, Martins Fones; 2013.

JOSSO, Marie- Christine. Experiência de vida e formação; Tradução de José Claudio, Júlia Ferreira. Natal- RN, EDFRN; Paulus, 2010.

LYRA, Luciana de Fátima Rocha Pereira de. Da artetnografia; máscara-mangue em

duas experiências performáticas. 2013. Relatório (Pós doutorado em Antropologia),

FFLCH, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo-SP, 2013. (não publicado)

_________________________________Guerreiras e Heroínas em processo: Da

artetnografia à Mitodologia em Artes Cênicas. 2010. Tese (Doutorado em Artes),

Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas-SP, 2011.

____________________________. Guerreiras: texto teatral e trilha sonora

original. Recife-PE, Brascolor editora, 2010.

____________________________. Mitodologia em Artes Cênicas: Diretrizes, pressupostos, princípios e procedimentos para criação. Artigo publicado no livro “ Da Cena Contemporânea, da Associação de pesquisa e Pós- Graudação em Artes Cênicas. 2012.

MARTINS, Suzana. A dança de Iemanjá Ogunté sob a perspectiva estética do

corpo. São Paulo, Martins Fontes; 1999.

TURNER, Victor: O Processo Ritual: estrutura e antiestrutura. São Paulo, Vozes, 1966.

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