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ECLI:PT:TRP:2015: TBGDM.A.P1.91

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ECLI:PT:TRP:2015:3234.13.4TBGDM.A.P1.91

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2015:3234.13.4TBGDM.A.P1.91

Relator Nº do Documento

Márcia Portela rp201510283234/13.4tbgdm-a.p1

Apenso Data do Acordão

28/10/2015

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação confirmada

Indicações eventuais Área Temática

2ª Secção . Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I - As perícias médico-legais no âmbito do processo civil são em regra singulares.

II - As perícias médico-legais colegiais apenas podem ser determinadas pelo juiz, de forma fundamentada, não constituindo faculdade das partes.

III - No caso de perícia colegial, os peritos não são nomeados ao abrigo do disposto no artigo 468.º, n.º 3, CPC, mas sim nos termos do artigo 27.º da Lei 45/2007: são realizadas pelos médicos do quadro do Instituto ou contratados nos termos definidos naquela Lei (n.º 1) ou por docentes ou investigadores do ensino superior no âmbito de protocolos para o efeito celebrados pelo Instituto com instituições de ensino públicas ou privadas (n.º 2).

Decisão Integral:

Apelação n.º 3234/13.4tbgdm-A.P1

Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. Relatório

Na acção de condenação emergente de acidente de viação, que lhe move B…, C… – Companhia de Seguros, S.A., requereu a realização de uma perícia colegial para avaliação do danos corporais e rebate profissional da sinistrada A., indicando o seu perito médico.

Foi proferido despacho indeferindo a sua pretensão com fundamento no artigo 21.º da Lei 45/2004, de 19 de Agosto.

Inconformada, apelou a R., apresentando as seguintes conclusões:

«1. O douto despacho recorrido, salvo o devido respeito, não decidiu correctamente, não podendo a recorrente concordar com tal entendimento.

2. A ora recorrente requereu que a perícia médica se realizasse em moldes colegiais, nos termos do disposto no artigo 468.º, n.º 1, b) do Código de Processo Civil, tendo nomeado, desde logo, o seu perito médico.

4. Ora, face ao disposto na alínea b), do nº 1 e do nº 2, do artigo 468º do Código de Processo Civil, basta que uma das partes requeira a perícia colegial, para que esta deva ser ordenada pelo Mº Juiz.

5. O nº 3, do artigo 467º do C.P.C., dispõe que as perícias médico-legais são realizadas pelos serviços médico-legais ou pelos peritos médicos contratados, nos termos previstos no diploma que as regulamenta, mas sem prejuízo da faculdade de qualquer das partes requerer a perícia nos termos mencionados e com referência ao citado artigo 468º, nº 1, alínea b) e nº 2 do C.P.C.

6. Aliás, tal resulta do nº 1 do artigo 467º do C.P.C., o qual dispõe que “A perícia é requisitada pelo Tribunal a estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado (….) sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.” (sublinhado nosso).

7. E o artigo seguinte – o artigo 468º - na alínea b) do nº 1, prevê, precisamente, a faculdade de qualquer das partes requerer a realização de perícia colegial.

8. Deste modo, o facto de a lei impor que a prova pericial se realize nas delegações ou gabinetes médico-legais, não exclui que alguma das partes possa requerer que a mesma se realize em moldes colegiais.

9. Com efeito, resulta do disposto no artigo 2º, da Lei 45/2004, de 19 de Agosto, que a

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médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal, apenas se verifica quanto às perícias singulares, pelo que qualquer das partes, se assim o entender, pode requer a realização de perícia colegial. 10. Assim, como no caso aqui em apreço, a ré requereu que a perícia se realizasse em moldes colegiais e nomeou, desde logo, o seu perito, o Mº Juiz “a quo” deveria ter deferido tal

requerimento, no estrito cumprimento dos referidos preceitos legais, devendo, quer o autor, quer o Tribunal, proceder à nomeação dos respectivos peritos.

11. O Mº Juiz “a quo”, ao proferir o douto despacho recorrido, indeferindo a realização de perícia colegial, violou o disposto no artigo 468º, nº 1, alínea b), do Código de Processo Civil, bem como o disposto no artigo 2º, da Lei 45/2004, de 19 de Agosto devendo, por isso, ser revogado tal

despacho e substituído por outro que admita a realização da perícia, em moldes colegiais, com intervenção de peritos nomeados pelas partes e pelo Tribunal.

Termos em que deve ser concedido provimento ao presente recurso, revogando-se o douto despacho recorrido e substituindo-se por outro que admita a realização da perícia, em moldes colegiais, com intervenção de peritos nomeados pelas partes e pelo Tribunal.

Assim se fará JUSTIÇA»

Não foram apresentadas contra-alegações. 2. Factualidade relevante

A factualidade relevante consta do relatório. 3. Do mérito do recurso

O objecto do recurso, delimitado pelas conclusões das alegações (artigo 684.º, n.º 3, e 685.º A, n.º 1 CPC), salvo questões do conhecimento oficioso não transitadas (artigo 660.º, n.º 2, in fine, e 684.º, n.º 4, CPC ), consubstancia-se em saber se é admissível a realização de perícia médico-legal colegial a requerimento da parte, indicando as partes um perito cada, sendo o terceiro indicado pelo tribunal.

O tribunal recorrido entendeu que não; a apelante defende que sim.

A apelante faz assentar a possibilidade de requerer uma perícia médico-legal colegial na

conjugação dos artigos 467.º e 468.º, n.º 1, alínea b), Código de Processo Civil, a que pertencerão todas as disposições em indicação de origem.

Nos termos do artigo 467.º, n.º 1, A perícia, requerida por qualquer das partes ou determinada oficiosamente pelo juiz, é requisitada pelo tribunal a estabelecimento, laboratório ou serviço oficial apropriado ou, quando tal não seja possível ou conveniente, realizada por um único perito,

nomeado pelo juiz de entre pessoas de reconhecida idoneidade e competência na matéria em causa, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.

E a alínea b) do n.º 1 do artigo seguinte dispõe que a perícia é realizada por mais de um perito, até ao número de três, quando alguma das partes, nos requerimentos previstos no artigo 475.º e no n.º 1 do artigo 476.º, requerer a realização de perícia colegial.

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Bastaria, assim, o requerimento de uma das partes para ser determinada a perícia colegial.

No entanto, não se pode ignorar o preceituado no n.º 3 do artigo 467.º, que impõe que as perícias médico-legais sejam realizadas pelos serviços médico-legais ou pelos peritos médicos contratados, nos termos previstos no diploma que as regulamenta.

Com efeito, o objecto da perícia requerida são as lesões sofridas por uma sinistrada em

consequência de um acidente e as inerentes incapacidades de que ficou portadora, não sendo questionado a qualificação da perícia como perícia médico-legal.

Contrariamente ao que sustenta a apelante, este normativo não é compaginável com o

estabelecido na alínea b) do n.º 1 do artigo 468.º, supra transcrita: o n.º 1 do artigo 467.º, relativo às perícias em geral, é que remete para o artigo 468.º; já o n.º 3, relativo às perícias médico-legais, remete para legislação especial — a Lei 45/2004, de 19 de Agosto, que aprova o Regime Jurídico das Perícias Médico-Legais Forenses.

Dispõe o artigo 2.º, n.º 1, desta Lei que as perícias médico-legais são realizadas, obrigatoriamente, nas delegações e nos gabinetes médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal.

De acordo com o n.º 2 deste preceito, excepcionalmente, perante manifesta impossibilidade dos serviços, as perícias referidas no número anterior poderão ser

Realizadas por entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto.

Preceitua o n.º 3 do mesmo artigo que, nas comarcas não compreendidas na área de actuação das delegações e dos gabinetes médico-legais em funcionamento, as perícias médico-legais podem ser realizadas por médicos a contratar pelo Instituto nos termos dos artigos 28.º, 29.º e 31.º da

presente lei.

O n.º 4 deste artigo contempla situações que, pela sua especificidade, não possam ser realizadas pelo Instituto, suas delegações ou nos gabinetes médico-legais:

As perícias médico-legais solicitadas ao Instituto em que se verifique a necessidade de formação médica especializada noutros domínios e que não possam ser realizadas nas delegações do Instituto ou nos gabinetes médico-legais, por aí não existirem peritos com a formação requerida ou condições materiais para a sua realização, poderão ser efectuadas, por indicação do Instituto, em serviço universitário ou de saúde público ou privado.

O n.º 5 deste artigo estabelece que sempre que necessário, as perícias médico-legais e forenses de natureza laboratorial poderão ser realizadas por entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas pelo Instituto.

Destes normativos se extrai o papel preponderante do Instituto Nacional de Medicina Legal em matéria de exames médico-legais: ou os realiza directamente, ou indica as entidades terceiras a quem deve ser cometida a realização desses exames.

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Sublinhe-se que nos termos do artigo 1.º, n.º 3, do Decreto-Lei n.º 166/2012, de 31 de Julho, que aprovou a Lei Orgânica do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, no âmbito da sua missão e atribuições, o INMLCF, I. P., tem a natureza de laboratório do Estado e é considerado instituição nacional de referência.

E bem se compreende que assim seja.

O Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 133/2007, Pamplona de Oliveira, apela à discussão e votação na generalidade da Proposta de Lei n.º 127/IX/2 [DAR I Série n.º 99/IX/2 2004.06.24], de que resultou a Lei 45/2004, para explicar as perícias médico-legais deverem obrigatoriamente ser deferidas ao Instituto Nacional de Medicina Legal:

"[...]

A definição de novos critérios e regras que devem presidir à actividade pericial surge também da imperiosa necessidade de conformar a medicina legal em Portugal à evolução das condições tecnológicas e científicas, cuja dinâmica moderna, poderá afirmar-se, atinge uma velocidade cada vez maior. Tratando-se de uma área técnico-científica especializada, pressupõe conhecimentos não acessíveis à generalidade dos cidadãos, entidades ou profissionais, pelo que se revela

particularmente importante acautelar a imparcialidade da actividade pericial, por um lado, e garantir a qualidade e rigor científicos por outro. Pretende o Governo com a presente proposta assegurar a dignidade e a qualidade das perícias médico-legais e forenses, cometendo ao Instituto Nacional de Medicina Legal atribuições e responsabilidade no domínio da creditação e controlo da realização de perícias médico-legais. [...]

Atente-se que o Instituto Nacional de Medicina Legal consiste numa instituição com natureza

judiciária, encontrando-se os peritos abrangidos pelo segredo de justiça bem como por um especial dever de sigilo profissional. [...]

A responsabilidade decorrente da actividade pericial desenvolvida ao abrigo das atribuições legais cometidas aos serviços médico-legais preserva a autonomia técnico-científica dos peritos, mas determina a obrigatoriedade de respeito pelas normas, modelos e metodologias periciais em vigor a nível nacional, assegurando desta forma a harmonização pericial do ponto de vista técnico e

procedimental. [...]

Por outro lado, estabelece-se a regra da obrigatoriedade de as perícias médico-legais serem

realizadas nas delegações e nos gabinetes médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal e as situações em que, excepcionalmente, as perícias poderão ser realizadas por entidades terceiras, públicas ou privadas, contratadas ou indicadas para o efeito pelo Instituto de Medicina Legal." E continua aquele acórdão:

«Em suma, as sucessivas alterações legislativas visaram acompanhar a evolução tecnológica e científica na área das perícias médicas e, pressupondo que a exigida especialização não era acessível à generalidade da actividade médica, assumiram o objectivo de maximizar a qualidade e rigor científicos do meio de prova, garantindo simultaneamente uma especial protecção da

imparcialidade dos peritos.

E é significativo que as perícias médico-legais tenham passado a ser deferidas com exclusividade aos serviços de medicina legal quando estes serviços se encontravam organizados por forma a

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garantir um elevado padrão de qualidade científica e absoluta imparcialidade da actividade pericial, e que, simultaneamente, o legislador tenha vedado aos intervenientes processuais a possibilidade de nomearem consultores técnicos para acompanhar as perícias médico-legais executadas

naqueles serviços».

Do exposto resulta uma patente intenção do legislador em concentrar as perícias médico-legais numa entidade imparcial e altamente especializada.

São essas mesmas características que justificam o regime estabelecido no artigo 21.º, n.º 1, da Lei 45/2004: os exames e perícias de clínica médico-legal e forense são realizados por um médico perito.

O n.º 2 deste artigo excepciona os exames de vítimas de agressão sexual, que podem ser

realizados, sempre que necessário, por dois médicos peritos ou por um médico perito auxiliado por um profissional de enfermagem.

O disposto no n.º 3 deste artigo, que afasta o seu n.º 1 relativamente a exames em que outros normativos legais determinem disposição diferente, não se reporta a exames referidos na lei processual civil, porquanto estes estão contemplados no n.º 4, onde se lê:

Dado o grau de especialização dos médicos peritos e a organização das delegações e gabinetes médico-legais do Instituto, deverá ser dada primazia, nestes serviços, aos exames singulares, ficando as perícias colegiais previstas no Código de Processo Civil reservadas para os casos em que o juiz, na falta de alternativa, o determine de forma fundamentada.

Daqui resulta claramente que:

— as perícias médico-legais no âmbito do processo civil são em regra singulares;

— as perícias médico-legais colegiais apenas podem ser determinadas pelo juiz, de forma fundamentada, não constituindo faculdade das partes.

E, no caso de perícia colegial, os peritos não são nomeados ao abrigo do disposto no artigo 468.º, n.º 3, CPC, mas sim nos termos do artigo 27.º da Lei 45/2007: são realizadas pelos médicos do quadro do Instituto ou contratados nos termos definidos naquela Lei (n.º 1) ou por docentes ou investigadores do ensino superior no âmbito de protocolos para o efeito celebrados pelo Instituto com instituições de ensino públicas ou privadas (n.º 2).

Em síntese, a perícia requerida pela apelante tem de ser feita no INML, por um único perito. Neste sentido, veja-se os acórdãos:

— Relação do Porto, de 2012.12.13. Amaral Ferreira, www.dgsi.pt.jtrp, proc. 1518/11.5TBVLR-A.P1; de 2010.02.04, www.dgsi.pt.jtrc, proc. 201/06.8TBMCD.P1; 2009.06.09, Anabela Dias da Silva, www.dgsi.pt.jtrp, proc. 13492/05.2TBMAI-B.P1;

— Relação de Coimbra, de 2015.03.03, Moreira do Carmo, www.dgsi.pt.jtrc, proc. 450/12.0TBSCD-A.C1; de 2011.11.15, Artur Dias, www.dgsi.pt.jtrc, proc. 194/09.0TBAVZ-450/12.0TBSCD-A.C1; de 2007.07.10, Regina Rosa, www.dgsi.pt.jtrc, proc. 423/03.3TBCNT-A.C1;

— Relação de Guimarães, de 2014.06.05, Jorge Teixeira, www.dgsi.pt.jtrg, proc. 400/12.3TBVLN-A.G1; de 2014.03.13, Paulo Duarte Barreto, www.dgsi.pt.jtrg, proc. 203/12.5TBVLN-400/12.3TBVLN-A.G1;

2014.03.20, Helena Melo, www.dgsi.pt.jtrg, proc. 2016/12.5TBBCL-A.G1; 2014.02.20, Raquel Rego, www.dgsi.pt.jtrg, proc. 3098/12.5TBVCT-A.G1; 2014.02.27, Edgar Gouveia Valente,

www.dgsi.pt.jtrg, proc. 1156/13.8TBBRG-A.G1; de 12013.04.18 Isabel Rocha, www.dgsi.pt.jtrg, proc. 1053/10.9TBVVD-A.G1; de 2012.05.08, Maria Catarina, www.dgsi.pt.jtrg, proc.

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Improcede, pois, a pretensão da apelante. 4. Decisão

Termos em que, julgando a apelação improcedente, confirma-se a decisão recorrida Custas pela apelante.

Porto, 28 de Outubro de 2015 Márcia Portela

Maria de Jesus Pereira Rui Moreira

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