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Reflexões sobre a representação feminina negra (cabelo Afro) como identidade e afirmação racial

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Academic year: 2021

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Reflexões sobre a representação feminina negra (cabelo Afro) como

identidade e afirmação racial

SILVA, Thaylla Giovana P. da Silva¹

ZARBATO, Jaqueline Ap. Martins ²

Grupo de Reflexão Docente n. 12 – Ensino de História e Patrimônio Cultural:

possibilidades didáticas

Resumo:

Esse trabalho faz parte da pesquisa “Patrimônio histórico-cultural material e imaterial nas cidades de Mato Grosso do Sul e seu impacto histórico-cultural: cultura regional e formação de um sistema de preservação a partir da educação patrimonial” o qual está sendo desenvolvido na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Assim, tem-se como objetivo desse trabalho produzir reflexões que possam ser utilizadas nas aulas oficinas em escolas públicas de Campo Grande – MS, com a vertente sobre a contribuição cultural das mulheres negras. Ao analisarmos historicamente, o cabelo afro resiste contra a lógica hegemônica, a valorização dos traços negros fortalece não apenas a autoestima, mas o movimento social. O “Black Power” recebeu notoriedade na década de 1960 nos Estados Unidos, marcado pelo partido dos Panteras Negras, com sua chegada no Brasil em 1970, o crespo foi conduzido lentamente a ser chamado de “cabelo da moda” portanto os alisamentos e cultura de branqueamento passam a ser confrontados. O cabelo afro e as tranças nagôs são considerados uma das maiores resistências nos traços negros, não são apenas fios, volumes e texturas, aceitar abrir o Black é automaticamente se aceitar e reconhecer-se como pessoa preta ou até mesmo com traços negroides, o cabelo afro carrega ancestralidade e cultura. O objetivo desse trabalho é problematizar como a mídia interfere na construção de identidade da mulher negra, reforçando estereótipos de beleza e sexualização de seu corpo, no livro “Quem tem medo do feminismo negro?” No livro “Quem tem medo do feminismo negro?” a autora Djamila Ribeiro, intitula o último capítulo de “A mulata globeleza: Um manifesto” relatando como a mídia durante o período de carnaval utiliza a mulher negra apenas como um corpo atrativo reforçando a visão da “mulata” brasileira, sendo o termo em si uma problemática, pois a palavra mulata deriva-se de mula no espanhol, ressaltando o cruzamentos entre espécies, indicando a mestiçagem de maneira pejorativa para se referir aos negros de pele clara, os critérios de seleção para tornar-se globeleza são parecidos com a forma que os senhores de engenho utilizam para escolher suas escravas, devem ser esteticamente “bonitas” e possuir um corpo com curva, sendo os critérios para se tornar globeleza parecidos com os que os senhores de engenho utilizam para escolher suas escravas, devem ser “bonitas” e ter um corpo com curvas, sendo assim torna-se essencial a problematização e contextualização sobre como a mídia interfere na construção da imagem e identidade da mulher negra desde a infância, influenciando em sua autoestima. A mídia aprisiona o corpo da mulher negra somente ao espaço de erotização e lucro comercial, as representando para o exterior como mulheres “quentes” e sensuais por natureza, enfatizando a imagem do Brasil como país que valoriza a miscigenação, todavia a sexualização vendida ao exterior em sua maioria ressalta mulheres de pele negra clara com corpos exuberantes, dando vazão ao termo “mulata de exportação” extremamente presente nos comerciais de carnaval e de cervejas, as negras de pele retinta mesmo com mais visibilidade e poder de fala atualmente, raramente conseguem protagonizar novelas e se destacar por seu talento, em novelas e minisséries principalmente da emissora Rede Globo pessoas negras ocupam grande espaço somente atuando como escravos, em determinadas

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novelas estimula-se uma perspectiva romantizada entre senhores de engenhos e suas escravas, ressaltando uma suposta paixão carnal que posteriormente se tornaria “amor” proibido entre o senhor e sua escrava.. A mulher negra na escravidão é retratada com supostos “benefícios” presumindo que seu trabalho era vinculado somente aos afazeres domésticos, entretanto a maior parte de escravos e escravas trabalhavam na lavoura podendo iniciar desde a infância, todavia a exploração da mulher foi além de seu limite físico corporal, também pode ser estipulados pelos abusos sexuais sofridos, os maus tratos podiam variar de acordo com as atitudes de seus senhores, tanto a mulher quanto o homem escravos eram tratados como propriedade, porém quando era conveniente explorar a mulher na lavoura, o senhor a enxergava como um ser desprovido de gênero e quando se tratava de abusos sexuais eram reduzida a condições de fêmeas. “Na propaganda vigente, “mulher” se tornou sinônimo de “mãe” e “dona de casa”, termos que carregavam a marca fatal da inferioridade. Mas, entre as mulheres negras escravas, esse vocabulário não se fazia presente.” (DAVIS, 2016, p.30) As mulheres estavam sujeitas não somente a punições com açoites, mas ao estupro, sendo justificado através da erotização do corpo da mulher negra, considerado exótico e provocativo. Nas últimas décadas o discurso racial adquiriu visibilidade nos noticiários, imprensa e atualmente nas redes sociais, após vinte anos de ditadura militar no Brasil que censurou, perseguiu e limitou informações midiáticas, em 1985 inicia-se movimentos voltados a liberdade de imprensa, que poderiam enfim tratar de assuntos como “a situação de pessoas afro-brasileira pós abolição da escravatura” gerando discussão social. A mídia contemporânea possui grande responsabilidade na construção da identidade feminina e negra no Brasil, a liberdade individual se choca diversas vezes com mensagens machistas, misóginas, racistas e sexistas em revistas, comerciais, outdoors, novelas etc, a imagem feminina passou a ser utilizada como mercadoria, enfatizando uma exposição erótica para atrair o público masculino, enquanto o homem é retratado como uma figura de viril e detentor de poder econômico a mulher é vista como um ser submetido, que deve submeter-se ao homem. Com o surgimento dos meios de comunicação midiáticos (revistas, jornais, programas de TV, redes sociais etc.) criou-se novos modos de influenciar a maneira da mulher se enxergar diante a sociedade moderna, a publicidade utiliza-se do corpo feminino para direcionar a atenção do consumidor aos produtos comercializados, entretanto a diferenciação entre a hipersexualização do corpo feminino branco e negro ocorre através da análise sobre o espaço ocupado por cada mulher dentro da sociedade, levando em consideração os privilégios de classe social e étnico-racial. Nesse trabalho será utilizado comerciais, notícias e revistas, que retratam a mulher negra como alvo, o principal objetivo desse projeto é a realização de aulas oficinas em escolas públicas de Campo Grande - MS com temáticas sobre o corpo da mulher negra, baseando-se na Lei 10639/2003 que inclui a obrigatoriedade da “História e cultura Afro-brasileira” no currículo oficial da rede de ensino, conscientizando jovens negras sobre cultura e autoestima, compreendendo seu espaço na sociedade ocidental que baseia seus padrões de beleza no europeu.

Palavras-chave: Cabelo Afro feminino, identidade, patrimônio imaterial.

1. Corpo feminino negro e suas relações sociais e históricas

A proposta desse artigo inicialmente baseia-se no estudo sobre como as mulheres negras são diariamente vítimas de sexualização de seu corpo que por diversas vezes é estigmatizado apenas como “exótico”, sendo assim torna-se essencial a problematização e contextualização sobre como a mídia interfere na construção da imagem e identidade da mulher negra desde a infância, influenciando em sua autoestima. O processo de sexualização da mulher negra no Brasil é construído ao longo da história, inicialmente deve ser considerado a relação de objeto

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3 por seus senhores sendo tratadas como fonte de prazer masculino, as mesmas foram

responsabilizadas por despertar o desejo, justificando os atos de seus senhores como invitáveis diante da sensualidade da escrava.

[...] uma exploração mais apurada desse dinâmico e multidimensional sistema de uso da propriedade escrava que enfoque os direitos de propriedade dos senhores sobre a sexualidade escrava é essencial para o entendimento econômico, psicológico e social dos mecanismos de acumulação que emergiram da escravidão como o modo de (re)produção. além disso, os contornos de uma investigação e exposição como essa são particularmente relevantes para qualquer jornada discursiva e antológica sobre a mulher escravizada, cuja integração no mercado econômico continua em grande parte pouco explorada devido 114ao limitado desenvolvimento de uma abordagem que desvende as implicações de gênero nos estudos das relações entre senhor – escrava. (BECKLES, 2011. p 241)

. O caso de Sarah Baartman retrata com clareza o estigma sobre o corpo da mulher negra, estudos apontam que sua origem provinha da Província Oriental do Cabo da África do Sul e mesmo sendo analfabeta supostamente assinou um documento sob influência do dono da casa em que trabalhava, afirmando que viajaria fazendo espetáculos, assim tornou-se conhecida como “Vênus Hotentote” sendo exibida em jaulas, foi ridicularizada e considerada selvagem por possuir nádegas, genitália e lábios grandes, seu corpo foi utilizado como palco para teorias racistas, após seu falecimento seus órgãos foram exibidos no Museu do homem em Paris.

[...] A história de Baartman se passou há séculos, mas esse estigma ainda recai sobre nós, negras. Atualmente vemos um canal influente como a Rede Globo que, por quase trinta anos, expõe mulheres negras nuas a qualquer hora do dia ou da noite no período de Carnaval, negando -se a nos representar para além desse lugar de exploração dos nossos corpos no resto do ano. (RIBEIRO, 2018. p 406)

Ao problematizarmos questões referentes ao corpo feminino negro, antes se faz necessário a compreensão sobre “O que é um corpo feminino?” e “Como o corpo feminino da mulher cis negra é visto na sociedade?”. No livro Vigiar e Punir Michel Foucault afirma que desde a época clássica o corpo tem sido alvo de poder sujeito a limitações, obrigações e deveres a partir de suas relações sociais e estatais, o corpo dócil se submete e a disciplina o torna útil e forte economicamente, as práticas disciplinares, repetitivas e de poder, demonstram claramente o

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4 corpo sujeito a manipulação, o corpo dócil é um resultado de termos econômicos e obediência

política.

Judith Butler aborda em seu livro Problemas de gênero o conceito de “mulher” como uma problemática central, assim como Foucault, Butler sustenta a teoria presente em corpos dóceis afirmando que questões jurídicas geram proibições, padrões de moralidades e condutas a serem seguidas, portanto o sujeito está à mercê da opressão tornando-se também um produto manipulado pelo poder, segundo Butler o feminismo deve possuir como pauta primordial discorrer o processo de produção da “mulher universal” que foi legitimado por estruturas de poder e não deve-se buscar a causa da dominação feminina para que não se fortifique meios de exclusão dentro do feminismo (BUTLER, 2003, p. 19) as normas se aplicam a produção de identidades de gênero e sua performance, enfatizando a obrigatoriedade da heterossexualidade ao se expor publicamente como homem ou mulher, ao se adequar aos padrões sociais seus comportamentos passam a ser ligados a masculinidade e feminilidade, as condutas performativas surgem a partir da condição imposta no modo de agir ligados ao gênero.

O exemplo que menciona para ilustrar a crítica como performance é o da drag queen. A drag perturba a coerência do sujeito “mulher” ou “homem” porque confunde comportamentos associados ao masculino e ao feminino em uma mesma performance. Quando um corpo biologicamente identificado como masculino cumpre as normas sociais da feminilidade, a expectativa de coerência entre a dimensão prescritiva da identidade de gênero e sua realização é frustrada. (CYFER, 2015, p. 47)

No livro O segundo sexo: fatos e mitos vol.1 a autora Simone de Beauvoir descreve a condição das mulheres sintetizando problemas como a mulher não ser reconhecida como sujeito, mas sempre como o outro, “Se quero definir-me, sou obrigada inicialmente a declarar: Sou mulher.”(BEAUVOIR, 2016, p.11) a mulher sempre aparece como negativo, portanto sua condição é singular e relacionada ao erro. Em Beauvoir, ser o segundo sexo é uma condição subjetiva e ambígua, pois se relaciona com questões naturais e culturais, a problemática central não é apenas a corporificação, mas a relação do corpo submetido aos tabus. A mulher a partir do olhar masculino é definida como matriz reprodutora, o termo “fêmea” limita a mulher em seu sexo, sendo utilizado de maneira pejorativa, hostil e inferior, permanecendo a perspectiva de um ser estigmatizado, passivo e não desenvolvido, em um mundo que pertence aos homens os

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5 salários mais altos, reconhecimento e prestígio, recusar ser o “outro” significa renunciar as

vantagens de se submeter a essa aliança e assumir um papel de luta buscando o direito de fala e justificar sua existência por si própria. “Hegel estima que os dois sexos devem ser diferentes: um será ativo e outro passivo, e naturalmente a passividade caberá a fêmea” (BEAUVOIR,2016, p. 37)

Se a mulher se enxerga como o inessencial que nunca retorna ao essencial é porque não opera, ela própria, esse retorno. Os proletários dizem “nós”. Os negros também. Apresentando-se como sujeitos, eles transformam em “outros” os burgueses, os brancos. As mulheres, salvo em certos congressos que permanecem manifestações abstratas, não dizem “nós”. Os homens dizem “as mulheres” e elas usam essas palavras para se designarem a si mesmas: mas não se põem autenticamente como Sujeito. (BEAUVOIR, 2016, p.15)

A imprensa feminina influi diretamente no cotidiano de uma mulher, a mídia não mostra a mulher negra como ideal, mas sempre a mulher branca de classe média com traços europeus, reforçando padrões de beleza impostos, os meios de comunicação entrelaçam diversas vezes o racismo e o sexismo. Mulheres crespas possuem dificuldade em se sentirem bonitas, pois a mídia reforça o cabelo liso como padrão, relacionando o cabelo cacheado/crespo com elementos racistas, como sujo, “ruim”, associando a palha de aço, fazendo com que essas mulheres se sujeitem a alisamentos químicos ou mantendo preso e controlando o volume durante boa parte da vida, a mídia condiciona a mulher negra a precisar sempre da aprovação branca e ocidentalizada para sentir-se bem com si mesma, sofrendo discriminação a racial e gênero. O corpo feminino negro é alvo de sexualização desde a infância, “Mulher negra não é humana, é a quente, a lasciva, a que só serve para sexo e não se apresenta à família. Também é o grupo mais estuprado no Brasil, já que essas construções sobre seus corpos servem para justificar a violência que sofrem.” (RIBEIRO, 2018, p.340).

2. Aulas oficinas: compreendendo e reconstruindo a identidade negra

utilizando o cabelo afro como afirmação racial

Outra propaganda com conotação racista pertence a marca popular de palhas de aço Bombril, que cometeu um grave equívoco no conceito de exaltação feminina, a marca lançou uma campanha denominada de “Mulheres que brilham” e uma de suas ilustrações continha o desenho de uma mulher com cabelos crespos e a frase “mulheres que brilham – Bombril”

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6 associação do cabelo crespo com a palha de aço é frequente pela mídia e principalmente no

cotidiano das mulheres cacheadas/crespas, que por vezes são reprimidas e humilhadas por não possuírem um cabelo liso que remete a textura padrão dos cabelos de pessoas brancas, desde a infância mulheres negras são coagidas e influenciadas a alisarem seus cabelos, diversas situações como falta de representatividade midiática e preconceito racial faz com que as crianças não associem seus cabelos como bonitos e queiram desde muito cedo se encaixar no padrão para elevar sua autoestima, a Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial considerou o conteúdo racista e a empresa esclareceu que não houve intenções de associar o cabelo ao produto e suspendeu a campanha para evitar mais repercussões negativas.

Figura 2 – Campanha da Bombril, 2012.

Fonte: Mulheres que brilham – Google imagens

Segundo a Lei 10639/2003 o ensino de “História e cultura Afro-brasileira” torna-se obrigatório no currículo oficial da rede de ensino particular e pública brasileira e foi estipulada em 2003 durante o mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A origem histórica e composição étnico-cultura do povo negro no Brasil é extremamente complexa e conturbada,

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7 diversas partes do continente americano, aprender sobre a importância dos negros e sua

trajetória, é compreender sobre nossas origens, cultura e ancestralidade, aflorando o debate sobre a construção identitária do país e de seus indivíduos. O alvo principal das aulas oficinas são jovens negras de escolas públicas em Campo Grande – MS, com o intuito de conscientizar sobre cultura e autoestima, para que compreendam e reivindiquem seu espaço na sociedade ocidental que padroniza seus estereótipos de beleza em mulheres brancas e europeias. A oficina deve ser iniciada com uma breve roda de conversa sobre vivências cotidianas e se já foram alvos de preconceitos dentro da instituição escolar e fora dela, expondo suas noções particulares sobre padrões de beleza e se em algum momento foram inferiorizadas socialmente, posteriormente serão abordados tópicos como “O cabelo da mulher negra e estéticas capilares” refletindo sobre como a mídia influencia na forma que nos enxergamos diante os padrões de beleza, debatendo sobre aceitação e como o cabelo afro ressalta questões de resistência política, afirmação de identidade, autoestima e o papel fundamental do feminismo negro para que o cabelo afro seja uma pauta com visibilidade nos movimentos atuais, deve-se ressaltar como as redes sociais e blogs são importantes para espalhar informações sobre cuidados para manter um cabelo natural saudável, permitindo novas representações de mulheres negras como figuras públicas.

A reflexão sobre o racismo dentro do âmbito escolar deve ser pautada , entendendo que a sala de aula não é um ambiente isolado, mas um espaço de relações sociais, onde os estudantes se enxergam como sujeitos dentro da sociedade, o convívio entre crianças negras, miscigenadas e brancas deve ser problematizado a partir de como a criança negra constrói a imagem de si mesma a partir dessas relações, se faz necessário discutir como que pessoas negras são estigmatizadas apenas por característica físicas dentro das instituições escolares, sofrendo discriminação, marginalização e “piadas” sobre seus cabelos, tamanho do nariz e apelidos racistas.

Devido a vários preconceitos sofridos, as crianças vão construindo uma imagem negativa de si por não se enquadrarem nos padrões de beleza exigidos pela sociedade. Então, desde muito pequenas são estimuladas a aderirem os padrões de beleza e modelos a serem seguidos esteticamente por meio da mídia e até mesmo por parte de colegas da escola e da própria família. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2017, p.163)

A baixa autoestima negra é resultado da insatisfação com suas características físicas impulsionada na maioria das vezes pelo preconceito sofrido durante a infância e ensino básico, ir

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8 à escola torna-se um desafio para crianças e jovens de pele negra e cabelos afro, pois são

desvalorizadas diariamente, com decorrer dos anos internalizam uma visão negativa a respeito de si mesmas, desejando serem brancas para se adequarem aos padrões e não sofrerem preconceitos, passando a não reconhecer positivamente suas identidades étnicas-raciais. A oficina deve conter uma “oficina de turbantes” para que haja um interação direta com os estudantes, compreendendo como o cabelo afro pode ser usado de diversas formas, sendo uma maneira de problematizar como o turbante faz parte da cultura afro-brasileira, africana e também oriental, compreendendo que não é apenas um acessório estético, mas um elemento cultural presente entre as religiões e grupos.

5. Considerações finais

Ao finalizar este artigo, compreende-se a necessidade de desconstruir desde o ensino básico a ideia de que pessoas negras e suas culturas são inferiores, o estereótipo de beleza que a mídia reforça, causa uma construção de identidade negativa em jovens de pele negra que adquirem diversos danos em sua autoestima e relações sociais, no decorrer desse artigo foi discutido e problematizado questões de como a mídia sexualiza o corpo das mulheres negras utilizando-se de comerciais de marcas de roupas e cerveja e a forma que essa repercussão reflete na vida diária da mulher negra que desde a escravidão no Brasil até os dias atuais sofre de assédios físicos e morais, tornando seus corpos estigmatizados como objeto de desejo sexual e mercadoria. Ao contextualizar o corpo da mulher negra como alvo de erotização, fica evidente que a educação promovida dentro das escolas devem enfatizar um ensino que respeite as diferentes, garantindo o direito a igualdade, porém respeitando as individualidades de cada aluno, diminuindo cada vez mais ataques racistas, instruindo seres humanos tolerantes e menos racistas.

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Referências

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